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Sabes, Leninha, que vou ser um grande lavrador? – dizia o Joãozito
para a irmã.
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Mas se ainda ontem pensavas em ser médico!?
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Isso era ontem – respondeu o João.
– Amanhã tu verás como a nossa vida vai mudar!
E
enquanto ele se balançava no cavalo de pau, a pequenita murmurava: “Mas que
estranha surpresa estarás tu a arquitectar?”
Na
manhã seguinte, o nosso “lavrador”, sempre seguido pela intrigada manita,
foi à coelheira buscar seis coelhinhos e metendo-os num caixotinho, saiu porta
fora direitinho à loja da compadre Malaquias.
Mestre
Malaquias, que parecia estar à espera dele, entregou-lhe, em troca, uma bela
nota de cem escudos e dois caixotes.
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Que vais fazer com esses caixotes? –
perguntou a Leninha.
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Vou construir uma capoeira para as
galinhas que encomendei! – respondeu o João, todo importante.
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Boa ideia! – concordou a Lena. – Tu
montas a herdade e eu fico desde já nomeada tua ajudante.
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Agora vamos semear rabanetes, alfaces e
couves, pois o mestre Malaquias prometeu comprar todas as semanas a minha
colheita.
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Vai ser maravilhoso! – exclamou a
menina. – Toca a trabalhar que se faz tarde.
E
os dois garotinhos começaram logo a
cavar num cantinho do jardim, preparando a terra para as suas sementeiras.
E
foi assim que a herdade começou. Com o dinheiro dos coelhos compraram galinhas
e milho. Dos ovos nasceram pintos e as sementeiras deram belos produtos. E o
senhor Malaquias comprava tudo quanto lhe levavam...
Dia
a dia os lucros aumentavam e os seus mealheiros já estavam mesmo a transbordar.
Um
belo dia, porém, o mealheiro do Joãozito apareceu vazio. Mas no lugar do
dinheiro surgiu na herdade um novo hóspede sob a forma do mais rosado dos
bacorinhos.
–
Agora, sim, és, na verdade, o rei dos
lavradores – disse a Leninha.
Edições
Majora, série 115/5