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Histórias

 

                   

 

Toda a questão começou quando o Cenourinha, o coelhinho de peluche, encontrou um par de enormes óculos que estavam caídos nuns ramos ao pé da janela. Colocou-os sobre o nariz, ficando a julgar-se muito mais importante que anteriormente... E metendo as patitas nos bolsos, pôs-se a passear pelo jardim.

Ora, como não via bem com os óculos, tropeçou sem querer nuns paus que os outros brinquedos tinham junto para fazer uma fogueira para o piquenique.

Isto causou ao Cenourinha uma grande contrariedade. Por isso resolveu escrever um aviso que dizia: “Não se podem fazer piqueniques no jardim.”

Quando os seus amigos o chamaram para tomar parte no piquenique, o Cenourinha olhou para eles, carrancudo, através dos seus grandes e redondos óculos e disse: “Oh, não! Não se podem fazer mais piqueniques no jardim. Não leram este aviso?”, perguntou ele, de mau humor. Nenhum dos outros bonecos sabia ler e Cenourinha olhou de uma forma tão feroz pelos seus velhos óculos que ninguém conseguiu responder durante algum tempo.

-         Mas sempre fizemos piqueniques dentro do nossa propriedade! – gritou a boneca Lili, desanimada.

Então, todos começaram a falar ao mesmo tempo.

-         Nós temos que fazer o piquenique! – guinchou o rato de corda.

-         Não podeis! Leis são leis! – exclamou o Cenourinha.

-         Não gosto de ordens. – resmungou, ainda, o macaco bananinha.

-         Mas que coisa aborrecida. – queixou-se a boneca Lili, abanando a cabeça encaracolada.

Assim, não puderam fazer o piquenique no jardim, ficando todos os brinquedos muito tristes.

Todos os dias o Cenourinha escrevia novas leis. Aqueles não podiam fazer isto e os outros não podiam fazer aquilo, e assim sucessivamente.

-         O Cenourinha nunca foi tão mau como está a ser agora, depois de encontrar aqueles desprezíveis velhos óculos. – disse o ursinho, com um ar desanimado.

-         Todos queriam passear. – disse o rato. – Poderíamos fazer um belo piquenique!... Mas não se poderá conseguir isso?

-         Talvez nós pudéssemos modificar isto tudo que está a acontecer! O Cenourinha está a ser assim, por causa dos óculos. – pensou a Lili – Mas eu penso que ele dorme com os óculos postos...

-         Isso não faz mal. – disse o bananinha. – Temos que lhe tirar os óculos esta noite.

Logo que a Lua apareceu através da janela, os brinquedos aproximaram-se silenciosamente da cama do Cenourinha e viram-no deitado, com os óculos postos na ponta do nariz.

-         Está  a dormir tão profundamente! – murmurou o ratinho.

Então o bananinha tirou-lhe os óculos, afastando-se depressa, a correr...

Quando o Cenourinha acordou no dia seguinte, sem ter os óculos postos sobre o nariz, tinha esquecido todas aquelas leis que tinha escrito anteriormente e apresentava um ar dócil e gracioso.

-         quer vir ao piquenique, Cenourinha? – perguntou a Lili, sorrindo alegremente.

-         “Piquenique”? – repetiu o Cenourinha. – claro que também vou. Isso nem é pergunta que se faça!

Assim, todos foram fazer um lindo piquenique no jardim e o Cenourinha nunca mais encontrou aqueles velhos óculos.

 

Edições Majora, série 115/20

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