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Parte V
A Pós-modernidade:
Conseqüência da Revolução Gnóstica e Igualitária
Capítulo 1
O que é a Pós-modernidade?
  Por Pós-modernidade  se entende o conjunto de características que demarcam uma nova "Era Histórica", o fim da modernidade do mundo contemporâneo e uma nova maneira de ver e se ver no mundo. Mas não seria, como a maioria dos pesquisadores acredita, apenas uma ruptura com o paradigma da modernidade, surgido com a Revolução Francesa. Ainda mais porque, como demonstrado, se existe uma ruptura paradigmática, ela tem uma causa, uma origem, mediata ou imediata, em fatos que produziram o efeito da mudança.
  Ou seja, a Pós-modernidade foi gerada na Modernidade, assim como a Revolução Francesa o foi no Absolutismo e no Protestantismo ; e a Revolução Russa, por sua vez, na Francesa. A mudança de um "paradigma", para ocorrer, necessita de um processo lento de transformação de valores e costumes.
  Desta forma, a Pós-modernidade representa, por um lado, uma ruptura com a modernidade; mas, por outro, uma simples continuação de um processo transformador que começou antes mesmo dessa Modernidade.
A) Uma Nova Revolução
  Essa nova "Era Histórica" pode ser entendida como uma nova Revolução. Não uma Revolução como o foram a Francesa ou mesmo a Comunista, pois esta atual não afirma que seu ideal (se se pode falar em ideal) é melhor do que os outros, mas que tudo é uma ilusão, não existe nem verdade e nem erro.
  Em outras palavras, enquanto a Revolução Comunista afirmava ser o bem o Comunismo e o mal o Capitalismo, a Pós-modernidade vai dizer que tudo é falso, que não existe bem ou mal e que, portanto, tudo não tem razão de ser e pode ser destruído sem fazer falta ao homem.
  Por outro lado, pode-se afirmar que o principal alvo desta Revolução é, primeiramente, o próprio homem e não a sociedade, que só será transformada depois que o homem já tiver sido. O projeto igualitário comunista teria "fracassado" por querer mudar a sociedade sem ainda ter mudado o homem, a Pós-modernidade, ao contrário, primeiro muda o homem e só depois - e como conseqüência - muda a sociedade. Uma revolução de dentro para fora, como afirmou Marilyn Ferguson.
  Desta forma, o primeiro passo para a Pós-modernidade não seria propriamente uma "tomada de poder", mas sim uma enorme Revolução Cultural, que possibilitaria a "tomada de poder".
B) A Concepção Psicológica
  Mais do que dizer que a sociedade atual não tem razão de ser, porque se baseia em verdades que são ilusórias, a Pós-modernidade acredita que essas "verdades" aprisionariam o homem, que deve ser totalmente livre, e o impede de realizar todos os seus desejos e vontades, coibidos pelas regras morais, pelos valores sociais, éticos e religiosos.
  Em se entendendo o homem com três potências básicas: inteligência, vontade e sensibilidade, consecutivamente em sua ordem natural (por natureza o homem é racional), ou seja, a inteligência governa a vontade que comanda a sensibilidade; a mudança no homem chega a ser mais profunda. A Pós-modernidade não só afirma que a sociedade aprisiona o homem, mas também que ele deve dar mais importância à sua sensibilidade do que à sua inteligência.
  Podemos encontrar a teoria do que foi dito acima totalmente embasada na doutrina de Freud. Resumidamente, Freud afirmava que o "Superego" aprisionaria o "id", local inconsciente onde se encontra a verdadeira personalidade do homem, com seus instintos e vontades livres e que é coibido pelos valores e normas do "superego"  . Cabe, pois, liberar o "id" aprisionado e deixar de sublimar o instinto sexual pela Religião ou pelo trabalho intelectual ( a sublimação seria um processo psíquico pelo qual a energia instintiva sexual é desviada para outros objetos, tais como a cultura e a religião ).
  Percebe-se, claramente, que o homem Pós-moderno vive em procura das sensações, da emoção sem limites, etc. Seria como se a "inteligência’ servisse para justificar a "vontade". Esta, por sua vez, despertada pela busca de sentir algo que traga o máximo de emoções e o mínimo de dor.
  Para exemplificar, peguemos o estilo das danças mais antigas e comparemos com as mais modernas (Rock). Antigamente, o dançarino seguia várias normas que regulamentavam as posições, a maneira de andar, a empostação da coluna, etc. Atualmente, o que importa é se soltar, deixar-se levar pelo momento e pela música e vibrar junto com ela, sem regras ou limites (que seriam o superego).
C) A Concepção Religiosa
  No campo psicológico, a Pós-modernidade é um espelho da teoria de Freud. Já no campo religioso, percebe-se uma forte tendência à gnose e à idéia de "pan", onde partículas divinas (de um Deus impessoal, inconsciente e "escangalhado") estariam por toda parte, exalando energias cósmicas que produzem um bem ao homem, um prazer (sempre a sensibilidade e não a razão). Essas partículas divinas são a fonte do prazer e da sensação. A essência das Religiões passa a ser a busca de harmonia com a natureza e, de forma geral, com o "Pan"
  Como conseqüência da ausência de uma verdade objetiva e de um Deus pessoal, surge a visão ecumênica das Religiões, pois todas chegam a esse "Pan" inicial, na medida que cada um consiga "evoluir" em sua crença. No fim, existiria uma união de todas as Religiões em um ecumenismo gnóstico em que tudo é tolerado, menos a verdade objetiva e a visão de um Deus transcendente. Em outras palavras, o mundo medieval deve ser combatido em nome de uma metafísica antropocêntrica, onde o homem, "igual e livre", reconhece-se como senhor de si mesmo.
  As religiões deixam a doutrina (racional - teológica) de lado e se dirigem às emoções do homem. O objetivo deixa de ser a busca da "Cruz" e da "salvação eterna", como era antigamente; e passa a ser a busca do prazer e da cura de alguma doença corporal. Movimentos pentecostalistas, espiritismo, carismáticos, protestantes de diversas linhas, etc.
  Essas tendências ao panteísmo pode ser vista claramente nesses chamados grupos "alternativos", como os nudistas, que explicitamente afirmam que as roupas atrapalham a sensibilidade deles com a natureza . Ou mesmo em diversas práticas religiosas atuais, como já mencionado na parte anterior deste trabalho.
  Deus deixa de ser pessoal e exterior ao homem, para se tornar imanente. Para "encontrar Deus", devo buscá-lo no meu interior através da meditação (transpessoal, transcendental, etc...) onde está a minha divindade. Em última análise, todos os homens fazem parte de "Deus", todos fazem parte do "todo", do "absoluto" (monismo e panteísmo).
D) O Igualitarismo
  A conseqüência metafísica do igualitarismo é a gnose e, por sua vez, a conseqüência prática da gnose é o igualitarismo. Se todos os homens têm um partícula divina igual dentro de si, apenas se  manifestando ilusoriamente de uma forma  diferente , o resultado é que todos são iguais e devem gozar dos mesmos direitos.
  Dependendo da corrente gnóstica, não apenas os homens possuem a partícula divina que os torna iguais, mas também todos os objetos.
E) A Concepção de "Verdade"
  O igualitarismo gerou, principalmente na Pós-modernidade, a falta de um referencial hierárquico valorativo e, por ausência deste, a convicção de que a verdade e o erro são a mesma coisa. Não existe mais um fundo ontológico nos valores, pois a realidade é uma ilusão, ou como dizem, é o "Maya" (ilusão).
  Quanto mais igualitário é o ideal, mais relativa é a verdade, porque se todos são iguais, porque devo acreditar no que diz o sujeito "A", ou o sujeito "B", porque devo acreditar em um Deus, que é um ser superior e estabelece regras e valores que devem ser seguidos (superego oprimindo o id)?
  O Comunismo, por mais que negasse a existência de uma verdade absoluta (eterna e imutável), afirmava a existência de uma verdade nascida da dialética social e, na sua incoerência, o fato de que o homem não foi feito para ser "explorado" por outro homem.
  Para o Pós-moderno, a única verdade seria a ausência de verdade, o único bem a ausência de bem, e assim por diante. Poder-se-ia dizer que, enquanto houvesse um bem ou uma verdade que fosse outra da exposta acima, o homem teria que sujeitar-se a esse bem ou a essa verdade e, portanto, não teria o grau de "liberdade" e de "igualdade" desejado. E como conseqüência, alguém se diferenciaria e passaria a ser o responsável por dizer qual é a verdade, coagindo os demais a reprimirem seus instintos em função dela, voltando a ditadura do "superego" sobre o "id" (que não deixa de ser uma reprodução da "luta de classes" aplicada, por Freud, à leitura psicológica do homem).
  Não sendo mais transcendente a verdade, ela deixa de ser exterior ao homem, e passa a ser imanente. Cada um tem a capacidade de decidir sobre como viver, o que fazer, e assim por diante. Do mesmo modo como a concepção de Deus se transformou com o advento do Renascimento, a concepção de verdade também mudou. Quando chega a Pós-modernidade, com o seu lado gnóstico, a verdade passa a ser interna a cada homem, não mais exterior e transcendente, pois cada homem possui a verdade dentro de si (panteísmo) e faz parte de um todo (Holos) que se percebe necessariamente no imanente.
Capítulo 2
A Mentalidade Imediatista
  Sendo tudo relativo e ilusório, sem ideologia e ideais verdadeiros, onde o que se deve fazer é libertar os instintos reprimidos e deixar-se levar pela sensibilidade, a Pós-modernidade forma uma mentalidade imediatista no homem. Aproveita-se ao máximo o presente e não se preocupa com o que vem depois, que pode ser a morte.
  O fato do homem Pós-moderno buscar aproveitar a vida (sobretudo o "momento") ao máximo, também é explicável pela teoria de Freud. Segundo este, não existe um fim objetivo para a vida, como pretende a Religião. Existe apenas um propósito subjetivo: acima de tudo experimentar fortes sentimentos de prazer, e secundariamente evitar o desprazer.
  Enquanto a modernidade se baseia no ideal de trabalho (surgido principalmente após a "Revolução Industrial"), que garantiria o futuro, e na racionalidade científica, a Pós-modernidade nega o interesse pelo futuro e procura a sensibilidade ao invés da racionalidade.
  A perspectiva de uma guerra atômica, doenças incuráveis, cataclismas de toda a natureza, etc, tudo isso somado às características doutrinárias antropocêntricas da Pós-modernidade, forma uma "moral da morte" . Essa moral faz que cada um busque viver ao máximo o presente, como se não houvesse amanhã.
Capítulo 3
A Visão Holística
  A Pós-modernidade é uma tendência universal, mas, mais do que isso, ela é fruto de uma visão que se proclama universal ou total (Holos = todo).
  Segundo Pierre Weil, um dos maiores expoentes da gnose e do pacifismo Pós-moderno,
a "abordagem Holística deve .... reagrupar os elementos dispersos ou isolados da totalidade, ou corrigir os efeitos desastrosos das fronteiras criadas por e no espírito dos ‘seres humanos’" .
  Em outras palavras, as fronteiras (desigualdades, diferenças, valores, crenças, países, etc) teriam sido criadas tendo por base uma falsa cosmo-visão, onde os homens são diferentes uns dos outros. Para a Holística, todos formam uma só realidade, o "Holos", que é uma energia cósmica (Panteísmo e Monismo).
  Segundo preceitua a gnose, dever-se-ia resgatar a idéia de comunidade, onde todos sejam iguais (para não haver restrições à liberdade, tanto física  quanto moral) e exista uma consciência comunitária (fraterna) que perceba o "absoluto" (energia cósmica primeira e fonte de tudo) e não o particular e o ilusório. Todos fazem parte de uma energia, de um "todo" (Holos) único, de uma grande massa de seres em evolução, rumo ao auto-conhecimento . Onde não exista uma divisão de trabalhos, especialização, pois tudo é um e um é tudo. Deve haver um mundo de interação, do agir comunitário e não disperso em ilusões de uma "pseudo" civilização que impõe uma moral e um Deus superior. Um mundo sem sectarismo, de qualquer natureza, pois todos fazem parte de uma mesma realidade (Monismo).
  Ora, basta pegar a música "imagine" de John Lennon (que sem dúvida é um dos mitos Pós-modernos). Nessa música, fala-se de um mundo "sem Religiões, sem países, em um mundo onde não exista nada acima ou abaixo de nós, apenas o homem (nada superior ou inferior), nada pelo que matar ou morrer (ideais, lutas, guerras), vivendo a vida em paz (sem ninguém perturbar com moral, ordens, hierarquia, etc). Imagine todas as pessoas vivendo hoje, espero que um dia você se junte a nós e o mundo será apenas um" (holismo).
  É bom lembrar que os Beatles, em 1967, fizeram um curso de "Meditação Transcendental" com o "guru" Maharishi Mahesh Yogi, inventor desta técnica. Inclusive é sensível a mudança que sofreram após o curso: abandono do terno, cabelos crescidos, uso de drogas, etc...
Capítulo 4
O Rock
  Não é difícil perceber, com tudo que já foi exposto, a profunda consonância do chamado "Rock‘n roll" e a visão Pós-moderna de mundo. O Rock nada mais é do que a música de uma cultura pós-moderna, onde não existem regras e cada um busca se "soltar" ao máximo.
  Deve-se, como já foi exposto, buscar uma maior interação com a música, que em última análise, também faz parte da energia primeira e ajudaria a sintonizar com o "Absoluto". Os instintos do homem devem ser "soltos" e satisfeitos, deve-se "viver o momento".
  O Pós-moderno deve convencer, através das sensações, que a racionalidade é desnecessária, falsa e secundária, pois cria normas que delimitam a sensibilidade.
  Um exemplo típico do rock pós-moderno é Woodstock, um show realizado para as sensações do homem e onde o que importa é viver o "momento", sem se preocupar com o amanhã (nem com a existência de algo "superior ou inferior ao homem"), um show arquétipo da Pós-modernidade.
A) "Mudville": A Reedição de Woodstock
  Mudville (cidade da lama): palavra preferida da imprensa americana para definir a fazenda Winston.
"O mar de lama que marcou o final de semana na fazenda Winston não foi suficiente para diminuir a felicidade das 350 mil pessoas que passaram pela cidade de Suagerties para acompanhar o festival Woodstock 94. O maior concerto da história do rock em número de ingressos vendidos (190 mil) teve sexo, drogas e até uma histórica guerra de lama entre artistas e público. (...)
"O ecletismo dos shows, tão criticado pela mídia americana, foi a cara de uma era sem cara. Na verdade, os meninos e meninas que acamparam na fazenda Winston curtiram desde o bucolismo de Crosby, Stills & Nash até o som urgente e violento do Nine Inch Nails."
"Se há um ponto onde de fato o Loolapalloza [nome do festival Woodstock 94] não encontra paralelos com nenhum festival é na liberdade de expressão dos movimentos sociais organizados. No estande em prol da legalização da maconha, por exemplo, cigarros de Marijuana foram distribuídos gratuitamente. Tudo a menos de 500 metros do posto policial instalado dentro do Downing Stadium. (...)
O mais procurado dos brinquedos é o chamaleon, duas gôndolas que giram sem parar em cabines fechadas. Do lado de dentro, imagens projetadas passam a sensação de uma batalha interplanetária no mais autêntico espírito da realidade virtual".
"A lama, o lixo produzido por 300 mil pessoas e a chuva constante mataram o sonho de Woodstock e transformaram a fazenda Winston, local que abrigou até ontem o festival, em um verdadeiro caos. (...)
Mas a grande parte do público não parecia se incomodar com os problemas e a atmosfera de paz e amor fez muita gente tirar a roupa como em 69. A fabricação de cigarros artesanais de maconha foi o passatempo predileto do público, que levou a sério o antigo slogam ‘sexo, drogas e rock’ n’ roll’."
  Por outro lado,
"Os ideais de paz & amor ficaram em 1969. Vinte e cinco anos depois a reedição do festival de Woodstock, que começou ontem na cidade americana de Saugerties, tem uma dupla mais preocupante nas cabeças de dezenas de milhares de pessoas acampadas na fazenda de Winston. A preocupação com o meio-ambiente e com a Aids domina a juventude dos anos 90, e os hippies não chegam em massa como no primeiro evento."
"(...) A mística do festival de 1969, entretanto, não foi reeditada. Se há 25 anos músicos e público tinham idéias e objetivos em comum, nos anos 90 a diversidade do pensamento da juventude, egressa do consumismo ‘yuppie’ dos anos 80 e da falta de perspectivas da década de 70, inviabilizou a atmosfera de união que simbolizou o primeiro Woodstock".
  A reedição do festival de Woodstock, ao mesmo tempo em que reafirma a proposta revolucionária de 1969, traz algumas surpresas. A Revolução começa a dar sinais de confusão na mesma medida em que alcança o seu apogeu. Por assim dizer, o caos só prospera na medida em que tenha uma ordem interna que o faça progredir. Quando o progresso da anti-ordem chega a um tal grau que ele se auto-desorganiza, atinge seu apogeu e, paradoxalmente, sua destruição.
  Um fenômeno inteiramente novo consiste em que a atual juventude é, em muitos pontos, mais conservadora do que a de 1969. Como será demonstrado na última parte deste trabalho, existe uma sensível reação tradicionalista à Revolução.
B) A Evolução do Rock: do "Blues" ao Ocultismo
  Será esclarecedor montar um quadro sobre a evolução da Pós-modernidade, em todo o seu caráter místico, de acordo com o desenvolvimento do rock ao longo deste século .
  A história do rock está intimamente ligada às práticas religiosas e musicais da África. Quando os escravos negros foram levados para a América, conservaram muitos costumes praticados durante séculos no seu continente de origem. Com freqüência fugiam à noite, para os bosques e selvas, a fim de praticar seus rituais religiosos ao som dos tambores.
  Para controlar esses rituais, o Município de Nova Orleans, no sul dos Estados Unidos, proibiu em 1817 a reunião dos escravos fora de um lugar chamado Congo Souare. A música popular dos negros, conhecida como "Blues", segundo conta a história do rock, nasceu no "Congo Souare"
  Espalhando-se pelos grandes centros industriais, o "blues" evoluiu, nos anos 40, para algo mais tenso, áspero e estridente chamado rhythm’n blues, vulgarmente conhecido como jazz.
  Depois da sua vitória na segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos entraram num período de prosperidade como nenhum povo tinha visto. O bem estar material convidava ao relaxamento dos costumes, à busca de novas sensações e à ânsia do prazer imediato.
  No fim dos anos 40 aparece o "boogie", um novo estilo de tocar piano. Esse ritmo predispunha o corpo do ouvinte ao movimento e foi a base do "beat" do rock’n roll. (Beat é uma palavra inglesa que significa compasso.)
  Em 1954 surge o filme "Blackoard Jungle" com a música "rock around the clock", cantada por Bill Halley. O rock’n roll é uma combinação do "rhythm’n’ blues" com o "country western", unidos ao novo beat. Foi o radialista Alan Freed, de Ohio, quem popularizou o termo rock’n roll , expressão usada num blues de Robert Johnson, nos anos 20, como sinônimo de fornicação.
  Nessa primeira onda do rock aparece Elvis Aharon Presley, que
"devolveu ao novo ritmo a sensualidade que Haley tinha tirado com seu ridículo pega-rapaz e a batida burocrática. Elvis mexia as cadeiras como um possesso. Orgasmos [sic] dos fãs acompanhavam cada movimento de sua pelvis".
  Elvis Presley é conhecido como o rei do Rock’n roll. No seu curto apogeu, foi venerado, teve legiões de fãs até o fim da vida e até depois de morto. Para muitos foi quase um Deus ou, como comenta O Globo:
"Nova York - Para muitos fãs, Elvis Presley não apenas não morreu, como também virou Deus. Literalmente. Acaba de ser criada nos Estados Unidos a igreja presbiteriana do divino Elvis, consagrada à devoção do rei do rock, morto em 1977.
Os fundadores da igreja, Karl Edwards e Mort Farndu, afirma terem sido ordenados padres pelo próprio Elvis. Eles se dizem à espera de milagres e de mensagens do cantor. Até o fim do ano, pretendem lançar ‘o evangelho segundo Elvis’.
Entre os deveres dos fiéis da igreja presbiteriana do divino Elvis estão rezar uma vez por dia virado [sic] em direção a Las Vegas e se alimentar de ‘comidas sagradas’ como carne picada e pudim de bananas, os pratos prediletos do rei do rock. O lugar sagrado dos seguidores da nova religião é Graceland, a mansão onde o cantor vivia em Memphis, no Tennesse."
  A década ainda teria nomes como Litle Richard, Jerry Lee Lewis, Chuck Berry, Buddy Holly, etc.
  Na década seguinte, uma nova onda inundou o mundo a partir da Inglaterra. São os Beatles. Camisa e gravata, maneiras discretas, cantando um rock moderado, quase ingênuo. Evitavam, no princípio, qualquer polêmica moral ou religiosa.
  Posteriormente, já em uma visita aos Estados Unidos, que culminou no Ed Sullivan Show (que tinha apresentado Elvis Presley), John Lenon declarou ao "Eveninn Standard", de Londres a sua conhecida frase:
"A Cristandade vai se encolher, evaporar, desaparecer. Hoje em dia somos mais populares que Jesus Cristo".
  Outro grupo surgia na mesma época, portando-se desde o começo de forma contestatária e irreverente, no estilo de Elvis Presley. Em contraste com os Beatles, os Rolling Stones faziam músicas o mais anti-social possível.
  Nos anos 60 milhares de jovens convenceram-se de que o mundo tinha chegado à aurora de uma nova era. Acreditavam tratar-se de um novo começo para a história da humanidade, baseado na completa rejeição dos valores tradicionais, desde a moral até a religião. Cabelo comprido, indumentária extravagante e uma filosofia permissivista. Era o movimento de contra-cultura hippie, que chegou ao auge em Woodstock. Pouco depois, em Maio de 68, estala em Paris um movimento de estudantes cujo lema "É proibido proibir", expressa a realidade do que é muito mais do que uma simples revolta estudantil. Uma verdadeira revolução anárquica e libertária espalha-se da França para o mundo inteiro.
  O objetivo do rock não era só contestar a sociedade burguesa. Já tinha levantado ídolos e juntado fiéis. Era preciso fazer agora uma experiência mística e transcendental. Esta experiência foram-na buscar, primeiramente, no mundo das drogas.
  Assim como nos anos 50 os temas do rock giravam à volta da velocidade e do sexo, nos anos 60 começaram a falar das drogas: Lucy in the Sky with Diamonds (LSD), Magical Mystery Tour, Stranberry fields forever, Yellow Submarine, etc.
  Mas além das drogas, a música rock começou a descobrir as religiões esotéricas. O grupo californiano "Gratefull Dead", por exemplo, conhecido vulgarmente como o conjunto do rock ácido, durante os seus concorridos concertos, tentava chegar, através da droga, a este mundo misterioso.
  Os Dead, comenta a revista "Musicien", "são capazes de atuar como canais para uma forma especial de energia, que pode transformar uma representação comum num fato transcendental".
  O vazio religioso da música rock do começo dos anos 60 estava a ser substituído, no fim da década, por uma espiritualidade esotérica. Na canção "Tomorrow Never Knows", os Beatles evocam o círculo budista da reencarnação. A esta canção iam chamar "O Vazio", pois tinha sido inspirada nas leituras feitas por John Lenon, sob o efeito da droga, dos livros dos mortos do Tibete.
  A letra diz:
"Desliga a tua mente, descontrai-te e flutua na corrente, não é o morrer, abandone todos os pensamentos, entrega-te ao vazio, está brilhando, está brilhando, para que possas ver o sentido do interior, sendo, sendo."
  Em 1967, os Beatles, e alguns amigos mais íntimos, incluindo Mick Jagger dos Rolling Stones, inscreveram-se num curso de Meditação, durante 10 dias, dado pelo guru Maharish Mahesh Yogi, em Gales.
  George Harrison freqüentava o ambiente Krishna, de Londres, onde escreveu a canção "My Sweet Lord". Jimmy Hendrix compôs, por sua vez, ‘Voodoo Child’.
  Jimmy Page, do grupo "Led Zeppelin", estava fascinado pela vida e obra do mestre do ocultismo e praticante de magia negra, Aleister Crowley, que morreu em 1947, chegando ao extremo de comprar a casa do bruxo situada ao lado do lago Ness, na Escócia.
  O grupo Led Zeppelin foi especialmente acusado de colocar mensagens ocultas em seus discos, que só poderiam ser escutados quando se ouvisse a música no sentido inverso (Backword Masking).
  O primeiro disco a incluir esta técnica de linguagem ao revés foi o álbum branco, dos Beatles, na música "number nine", uma estranha melodia onde John Lenon repete o tempo todo: "number nine, number nine..."; ao contrário entende-se claramente: turn me on dead man... que quer dizer: tocai-me, homem morto..."
  As referências satânicas nem sempre estão ocultas. Os primeiros a ostentá-las foram os Rolling Stones, no álbum "Beguer’s Banquet" com a musica "Simpatia pelo Demônio". Ao som de um tam-tam africano, de uivos e gemidos, Mick Jagger canta:
"permita-me que me apresente. Sou um homem de riqueza e bom gosto. Estou aqui há muito tempo. Roubei a alma e a fé a muitos homens. Estive perto quando Jesus Cristo teve os seus momentos de dúvida e dor. E assegurei-me de que Pilatos lavasse as suas mãos e decidisse o seu destino. Encantado em conhecer-te. Espero que adivinhe o meu nome. Mas o que te preocupa é a natureza do meu jogo. Assim como todo policial é um criminoso, e todos os pecadores santos. Como cara e coroa é a mesma coisa, chamo-me apenas Lúcifer".
  Na última apresentação dos Rolling Stones no Brasil, no Hollywood Rock/95, em São Paulo, as manchetes de praticamente todos os jornais trouxeram expressões como:
"Pacto com o demônio", "Demônio da Música", "Simpatia pelo demônio", "Flertando com o diabo", "São Paulo venera o demo", "estive no inferno e voltei", "demônio da música", "os Stones estão mesmo possuídos", "pacto com as entidades do vodu" , etc...
  No fim da década de 70, a revolução do rock dava sinais de estar chegando ao fim dos seus últimos desdobramentos. Depois do "Heavy metal rock", apareceu a onda "punk".
  Casacos sujos e rasgados, camisas esburacadas, cabelos cortados de uma forma extravagante e pintado de cores berrantes, alfinetes atravessando as orelhas, os lábios e as bochechas, coleiras, correntes, etc. A revolta contra toda indumentária. Palavras ininteligíveis gritadas aos microfones e instrumentos tocados o mais rápida e furiosamente possível.
  Máquinas de gelo seco, efeitos luminosos, som ensurdecedor, temas satânicos, etc, tudo forma um ambiente propício para a contestação. Até naqueles que não tomam a sério as invocações satanistas, o horror em relação a Lúcifer (que existia até há algumas décadas), desaparece. Uma autêntica transformação se vai operando.
  É o que mostra André Forastieri, editor da revista "General", em artigo para a Folha de São Paulo:
"(...)Bandidagem, satanismo, militância, drogas, promiscuidade, viadagem - tudo que antes dos Stones queimava a fita de qualquer um, depois dos Stones se tornou obrigatório para todo candidato a rockstar.(...)".
  Já é amplamente sabido que Ozzy Osbourne, ex-cantor principal do Black Sabbath, foi iniciado em ritos ocultistas na própria mansão escocesa do ocultista Aleister Crowley, que agora pertence a Jimmy Page.
  Outra referência satânica se encontra na música "Highway to Hell" (auto-estrada para o inferno), do grupo AC/DC, onde Bon Scott canta:
"... Estou na auto-estrada para o inferno. Não há sinais para parar, nem limite de velocidade. (...) Satanás, estou a pagar as minhas dívidas, tocando num conjunto de rock (...)".
  Outra das suas canções mais conhecidas é "Sinos do Inferno". A letra diz:
"És ainda jovem, mas vais morrer; (...) Satanás agarra-te; sinos do inferno, sim, sinos do inferno; dei-vos emoções que percorrem a vossa espinha; se estás no mal, és meu amigo".
  Ao analisar a evolução do Rock, ao longo dos últimos trinta anos, não é difícil constatar a presença crescente do ocultismo num grande número de conjuntos. Na década de 50, o objetivo era provocar entre os jovens uma revolta sócio-política generalizada contra o "stablishment", e contra todos os valores e princípios tradicionais. No começo dos anos 70, esta revolta tomou ares religiosos e conotações culturais, começando a aparecer referências ao satanismo. Desde então, o ocultismo foi se manifestando cada vez mais no movimento rock.
Capítulo 5
O Pacifismo Consensual Pós-moderno
  Em não havendo pelo que lutar ou o que defender (tudo é relativo, até mesmo aquilo em que eu suponho acreditar), a Pós-modernidade gera uma sociedade pacifista e consensual. Mas não um pacifismo dentro de um princípio superior a todos os homens, e sim um pacifismo onde todos não lutam pelo que acreditam, ou não acreditam no que lutam, pois toda ideologia é falsa.
  Ainda mais que, segundo a Pós-modernidade, cada um tem uma verdade tão verdadeira quanto o outro, mesmo que sejam antagônicas Todo conhecimento é subjetivo e pessoal por um lado, e "comunitário" e impessoal por outro, válido na medida em que serve para a construção da paz entre os homens,  cada vez mais "iguais e livres". Não há uma objetividade de juízo sobre os seres, logo, não há como lutar por coisas incertas, muito menos matar ou morrer por alguma coisa que não vale a pena.
   Diz a Holística que toda "fronteira" é uma ilusão que aprisiona o homem em ideais que são falsos, todos fazem parte de uma mesma energia cósmica. Portanto, eu não devo lutar pelo que acredito, pois, além de ser uma ilusão, é causa de divisões entre os homens, que devem tomar consciência de que são apenas um (Holos) e formam o "absoluto" espalhado em todas as coisas.
  A não-violência é chamada pela gnose de "ahimsa" (termo indú). Um dos seus maiores expoentes, segundo a Pós-modernidade, teria sido Gandhi. Daí o fato de que os maiores arquétipos do homem Pós-moderno são aqueles que pregam um mundo "sem fronteiras" e onde não exista luta por verdades e princípios (que, além de ilusórios, aprisionariam os homens a normas sociais), como, por exemplo, Gandhi, John Lennon, Buda, etc...
  É enormemente conhecido o lema da Pós-modernidade, do hippismo e da Revolução da Sorbonne: "Paz e Amor". A paz em um nivelamento onde ninguém diga o que é certo, onde não existam normas de conduta, nem valores a serem seguidos, muito menos uma moral transcendente. O amor dentro de uma liberalização sem limites, sem fidelidade, sem compromisso.
  Não se trata de buscar a paz dentro de certos princípios, mas de buscar um tipo de meio termo onde todos possam viver conjuntamente na busca de uma harmonia duradoura entre todos os povos e todas as crenças. Daí todo o centrismo que começa a aparecer hoje, fruto da incerteza e da ausência de um referencial hierárquico e valorativo. Centrismo esse que, apesar de ser fruto de uma busca de consenso, não significa um meio termo, mas sim uma radicalização de uma visão ecumênica de mundo.
  Essa tendência ao centro é destacada pelo cientista político Bolivar Lamounier, em entrevista ao Jornal da Tarde:
"... O fato é que os dois lados não acham mais o ‘status quo’ desejável, nem sustentável, portanto cada um abriu mão de posições que defendia antes e convergiu para o centro. Não foi circunstancial a aliança entre o PSDB e o PFL, foi resultado desta confluência de posições."
  Marilyn Ferguson destaca que a formação de um centro é uma tendência mundial, mas não de um centro político-econômico, como crê Bolivar Lamounier, e sim de um centro radical, fruto da visão ecumênica da sociedade:
"A perspectiva política da Conspiração Aquariana é melhor [sic] descrita como um tipo de Centro Radical. Ela não é neutra, de meio-termo, mas apresenta uma visão global."
  Ou seja, o centro revolucionário não é neutro, mas caminha para a radicalização do Processo Revolucionário. Como bem destacou o cientista politico italiano Roberto de Mattei, em seu livro O Centro que nos Conduziu para a Esquerda:
"Neste últimos 50 anos ocorreram transformações das idéias, das mentalidades e dos costumes, que não encontram precedentes na história do país [Itália]. Uma genuína ‘revolução cultural’, que se resume em ‘descristianização’, ‘completa laicização de toda a vida e de todas as relações sociais’, segundo o plano do falecido ideólogo comunista italiano Gramsci, tudo feito ‘graças às omissões, cumplicidades e traições da classe dirigente católica que ininterruptamente governou a Itália no pós-guerra.’
Tal classe elaborou o programa de ‘pleno laicismo’ do Partido Comunista Italiano. Revelou ela assim o significado da definição que De Gasperi dava da Democracia Cristã: ‘Um partido de centro que se move em direção à esquerda’. (...)
Como dizia Gramsci: ‘O ‘Catolicismo democrático’ faz [entre os católicos] o que o Comunismo não poderia: reúne, ordena, vivifica e [os] suicida...’Eles ‘estão para os socialistas como Kerensky para Lenine’.
  O centro radical citado por Marilyn Ferguson é, na realidade, o extremo do consenso ecumênico e gnóstico, onde não há verdade nem erro, bem ou mal.
  Ao mesmo tempo, também existe uma contradição inerente no pacifismo Pós-moderno, pois apesar de pregarem "Paz e Amor", os românticos da Sorbonne levavam isso às últimas conseqüências, num frenesi de anarquismo, violência e terrorismo. Não se trata apenas de defender a paz (uma paz antropocêntrica, poderíamos dizer), mas é necessário que ela seja vencedora, mesmo que para isso alguns usem de violência. É verdade que tanto o uso de violência (Sorbonne) como o não uso de violência (Gandhi) tem como objetivo o mesmo tipo de paz, não uma paz transcendente como era na Idade Média, mas uma paz na vitória de um ecumenismo imanente e Pós-moderno.
Capítulo 6
A Apatia Política e a Crise do Estado
  No campo político-social, a Pós-modernidade se traduz por uma profunda apatia e desinteresse, explicado pela própria ausência de ideais, de verdades pelas quais lutar, de ideologias, de certezas e objetivos. Ao mesmo tempo, a Pós-modernidade possui uma outra característica incompatível com um projeto político, que é o seu lado imediatista; busca-se viver o momento sem se preocupar com o futuro, o que não deixa de ser um efeito da busca de emoções.
  Soma-se a isso o fato de que o mundo moderno não conseguiu cumprir suas promessas, como o paradigma do crescimento econômico infinito, da erradicação das doenças e o prolongamento da vida (até a extinção da morte), etc. Idéias estas presentes tanto no mundo capitalista Pós-Revolução Francesa, como no ideal comunista de progresso e desenvolvimento.
  Escreve o Correio Braziliense, em seu caderno X-Tudo:
"Política, tô fora!
Três anos depois do movimento dos caras-pintadas, os adolescentes cansaram da Política. A cada ano diminui o número de jovens de 16 e 17 anos que se apresentam por livre e espontânea vontade para retirar o título de eleitor. São seis milhões de eleitores (im)potenciais, que podem decidir uma eleição presidencial. Em 1989, Fernando Collor derrotou Lula por 4 milhões de votos de diferença."
  A própria existência de um Estado, com instituições necessariamente baseadas em mando e obediência, vai contra a tendência igualitária e auto-gestionária. Além do mais, as instituições político-representativas, criadas pela modernidade para solucionar seus problemas, parecem não conseguir cumprir sua finalidade. A solução, diriam os Pós-modernos, é destruir os mecanismos de soluções.
  Notícias demonstrando a perda da autoridade do Estado não faltam na imprensa, tanto escrita como falada. Mesmo o surgimento do chamado "Direito Alternativo" ou "Direito Achado na Rua ", serve como indicador de uma nova situação de soberania. Já não é mais o ordenamento jurídico do Estado-nação que impõe uma norma de conduta a todos os seus membros, mas as normas de grupos - até então tido como marginalizados - que formam um novo tipo de ordenamento jurídico, paralelo ao Estado.
  Também não são menos conhecidos os atos internacionais de terrorismo ou mesmo o crescimento do fundamentalismo islâmico, que não concebe fronteiras na sua "Guerra Santa". Escreve Alvin Toffler:
"Quando um aiatolá Khomeini intoxicado de sangue pediu que um mártir assassinasse Salman Rushdie, cujo romance ‘The Satanic Verses’ (Os Versos Satânicos) Khomeini denunciava como sendo blasfemo, ele enviou uma mensagem histórica a todos os governos do mundo. (...)
Khomeini estava dizendo ao mundo que a nação-estado já não era o único, ou mesmo o mais importante, ator no palco mundial.
De maneira superficial, ele parecia estar dizendo que o Irã, que é um estado soberano, tinha o ‘direito’ de ditar o que os cidadãos de outras nações igualmente soberanas podiam ou não ler. Ao reivindicar esse direito, e ao ameaçar exercê-lo com o uso do terrorismo, Khomeini de repente tirou a censura de um nível de preocupação interna e lançou-a no nível de problema global."
  O secularismo é, sem sombra de dúvida, um dos pilares da "democracia moderna". Na mesma medida em que a humanidade caminha para o misticismo, o sistema representativo, que nasceu na Revolução Francesa e no seu "iluminismo", caminha para sua extinção.
  Assim se exprime Marilyn Ferguson:
"Ambos, Capitalismo e Socialismo, tais como os conhecemos, giram em torno de valores materiais. São filosofias inadequadas para uma sociedade tranformada."
  Como evitar o enfraquecimento do Estado se até o meios de comunicação não respeitam fronteiras? Independentemente da ideologia, da tradição ou da cultura de cada povo, a comunicação invade cada país e cada lar. Onde houver uma televisão, um computador ou até mesmo um fax, aí está o mundo, aí está a "aldeia global ".
  Até que ponto um homem, ávido de misticismo e que busca as emoções e o prazer como finalidade da vida,  pode se adaptar a um Estado que foi chamado por Weber de "Racional-legal "?
Capítulo 7
A Civilização da Imagem
  Que papel não exerce, sobre o que já foi dito, apenas a televisão, que causa uma superexcitação da sensibilidade, apagando a vontade e a inteligência? O indivíduo permanece passivo diante das centenas de cenas que se sucedem e, pela velocidade das mesmas, não exercita sua capacidade intelectiva, apenas recebe um universo de sensações desordenadas e imagens que já vêm prontas.
  Afirma o Núcleo de Estudos Psicológicos da Universidade Estadual de Campinas, que realizou um amplo estudo sobre a televisão e a criança:
"A velocidade com que as mensagens são transmitidas e até justapostas, excede normalmente o ritmo necessário à percepção consciente.(...) Também existe o fato, percebido até por leigos, de que a velocidade de apreensão cognitiva de uma mensagem varia de acordo com o telespectador. Na TV isso não é respeitado... (...)
Considerando o telespectador infantil, podemos dizer que a criança, exposta a uma grande quantidade de informações velozmente transmitidas, está sendo lesada em suas oportunidades de desenvolver-se do ponto de vista cognitivo, e tenderá a atrofiar sua capacidade de abertura da percepção, ou, usando a mesma terminologia de Schanchtel (1959), terá dificuldade de desenvolver uma percepção alocêntrica do mundo, adulta, criativa. Por isso os estudiosos dizem que a TV infantiliza e limita a consciência dos telespectadores assíduos. (...)
A repetição [dos clichês pré-fabricados] é uma ilusão de conhecimento porque, à força de limitar a experiência, fecha a percepção do mundo e a reduz a clichês; e, ainda, confina o indivíduo ao prazer infantil do jogo: segurança do sempre-o-mesmo, das regras fixas. Acaba ‘ensinando’ a criança a não ousar. Não responde à sua curiosidade nem a desenvolve. O mundo passa a ser visto como algo que não oferece nenhum desafio ou interesse."
  Não é preciso esperar o futuro para conhecer esses novos jogos de "realidade virtual", onde o indivíduo cria um mundo de sensações muito mais intensas do que as do mundo real. Até que ponto o interesse pela realidade não fica menor, se cada um tem um mundo particular onde não é necessário um esforço intelectual e, sem dúvida, é muito mais atrativo do que o mundo em que vivemos, onde nem tudo é como gostaríamos que fosse? Nesse sentido comenta Daniel Boorstin, em seu livro "The image: or what happened to the American dream":
"Desde que tenhamos tomado gosto pelos encantos do pseudo-evento [eventos criados pela Mídia, mais espetaculares do que os eventos reais], somos tentados a acreditar que eles são os únicos acontecimentos importantes. O nosso progresso envenena as fontes de nossa experiência. E o veneno é tão doce que estraga o nosso apetite pelos fatos simples. A nossa aparente capacidade para satisfazer as nossas exageradas expectativas faz-nos esquecer que elas são exageradas"
  Não é difícil provar o poder que a mídia possui atualmente na sociedade, onde ela é capaz de transformar, em alguns segundos, bandidos em heróis e heróis em bandidos.
  Em um mundo onde todas as instituições começam a ser demolidas, todas as crises e doenças começam a aparecer, todos os valores a sumir, o que resta? Na queda de todos os poderes do Estado e da sociedade, um quarto poder se levanta: a imagem. Mais precisamente do que a mídia em geral, o quarto poder parece ser a imagem, e aqueles que a detém, controlam a Revolução Pós-moderna. A realidade virtual nada mais é do que a concretização do lema da Sorbonne: "imaginação ao poder".
  A principal influência da televisão, todavia, não é apenas o conteúdo do que é transmitido, mas a maneira de transmitir. De forma geral, além de inverter as potências do homem (inteligência, vontade e sensibilidade), a televisão tende a conferir a este uma visão "Holística" do mundo, de uma grande "aldeia global" (sem fronteiras). No mesmo instante o telespectador viaja do Japão à Inglaterra, passando pelo Rio.
  Isso sem falar no que é óbvio, ou seja, que a televisão é hoje o educador de todos, transmitindo valores e, principalmente tendências, para todo um planeta. Se até a cor de um ambiente pode influenciar uma pessoa, qual não será a influência que a imagem televisiva exerce sobre seus teledependentes?
  O próprio fato de a televisão enviar as mesmas imagens, tanto para o pobre como para o rico, tanto para a zona rural como para a urbana, gera uma tendência a eliminar as diversidades regionais, fazendo que todos tendam a ter os mesmos hábitos.
  Escreve Merilyn Ferguson:
"A aldeia global é uma realidade. Estamos ligados através de satélites, viagens supersônicas, 4.000 reuniões internacionais a cada ano... Lewis Thomas observou:
‘Sem esforço, sem pensar por um momento sequer, somos capazes de modificar nossa linguagem, maneiras, música, moral, diversões, até mesmo, no decorrer de um ano. Parece que assim procedemos por um acordo geral, sem votações ou mesmo pesquisas de opinião. Apenas pensamos sobre o que fazer, passamos informações adiante, trocamos códigos sob a forma de arte, mudamos de idéia, nos transformamos.
‘... Em conjunto, a grande massa de mentes humanas em toda a Terra parece comportar-se como um sistema vivo coerente.’ (...)
A Fundação Threshold, sediada na Suíça, declarou sua intenção de facilitar a transição para uma cultura planetária, ‘favorecer uma mudança de paradigma, um novo modelo de universo, no qual a arte, a religião, a filosofia e a ciência conviriam’, e promover uma compreensão mais ampla de que ‘vivemos em um cosmos cujos inúmeros níveis de realidade formam um todo sagrado e único’ ".
  Cada um pensa como quer, dizem os revolucionários. Estranhamente, contudo, todos acabam pensando a mesma coisa. Eis o paradoxo do igualitarismo, que pregou a igualdade e gerou maiores desigualdades, que pregou a liberdade axiológica e gerou a uniformidade monocromática da massificação social!
A) A TV e a Evasão para o Irreal
  Segundo a gnose, tudo que nós vemos é uma ilusão, pois são apenas manifestações aparentes de um todo energético de que o homem faz parte. Tudo é uma imagem, tudo é irreal...
  Escreve o já citado relatório da Unicamp:
"Várias vezes fomos abordados por pais e professores que estavam preocupados com a questão da fronteira entre o real e a fantasia na criança e queriam discutir o papel da televisão enquanto canal de mais fácil acesso à ficção, hoje, e o mais assíduo fornecedor de um imaginário cada vez mais mirabolante."
  A distição entre a realidade e a imaginação, entre o real e o virtual, começa a desaparecer nas crianças teledependentes:
"O imaginário infantil - diz-nos Liliane Lurçat, da revista francesa Esprit - sofre uma invasão de sons e imagens; há um como que efeito de súper-alimentação desse imaginário, fazendo transbordar a função do irreal, a qual submerge a função do real. Transformado em mero espectador, esse sonhador não cria mais as próprias imagens: ele se deixa invadir pelas que lhe são impostas."
  M. Alfonso Erausquin, Luiz Matilla, Miguel Vázquez comentam judiciosamente:
"Já há quem adiante que possivelmente as recordações e vivências infantis da ‘geração da televisão’ estarão constituídas não de experiências pessoais, mas sim de experiências extraídas do televisor. As conseqüências que isto possa ter no sentido da paulatina interferência entre os campos da realidade e a imagem estão ainda por ser determinados, mas já existem testemunhos impressionantes do engalfinhamento dos dois campos, inclusive entre os espectadores adultos. Hoje, o controle sobre a televisão equivale, de certa forma, ao controle sobre a realidade, enquanto que um acontecimento que não comparece à tela de televisão é ‘muito menos real’ do que qualquer outro que receba a consagração da pequena tela."
  A psicóloga Ana Maria Cordeiro Linhares comenta:
"Nada de estranhar, portanto, quando uma apresentadora de televisão é cumprimentada na rua, com intimidade, por alguém que não conhece, nunca viu. É que ela já é conhecida e muito vista, a tal ponto que tornou-se íntima. E íntima no sentido de que penetrou na intimidade do telespectador."
  Por isso perguntam os mesmo M. Alfonso Erausquin, Luiz Matilla, Miguel Vázquez:
"Esse poder de manipulação das imagens e do meio televisivo, que controle não pode chegar a exercer sobre uma criança em pleno desenvolvimento? Sua capacidade crítica, de si pouco desenvolvida, se encontra, ademais, neutralizada pelo fato de que não dispõe de experiências reais e pessoais com as quais contrastar o que se lhe propõe a partir da tela. Isto é algo a que os pais não costumam prestar suficiente atenção, porque crêem que as experiências de suas crianças são equiparáveis às suas próprias. Tampouco nos meios escolares se atenta para esses aspectos. Em geral, com demasiada freqüência, se conclui que uma ‘criança normal’ sabe perfeitamente o que é realidade e o que é fantasia, e faz a distinção sem problemas enquanto vê um programa qualquer na televisão".
B) Realidade Virtual e Isolamento
  Uma das mais antigas obras da civilização, e talvez a mais civilizadora, consiste na arte de conversar. A troca de impressões, o convívio ameno e agradável, a visita cordial de um amigo distante, etc, tudo isso fazia da vida social um deleitável entretenimento. Varandas cheias, ruas repletas de pessoas a conversar, cidades vivas e orgânicas que se desenvolviam na cordialidade do trato social... tudo isso parece que se vai esvanecendo no crepúsculo do século XX.
  Um século onde a velocidade parece ter chegado a extremos inimagináveis, onde a ficção científica se tornou realidade e, no seu paradoxo, onde a realidade parece caber na virtualidade de uma tela de computador ou de televisão...
  A realidade virtual, dentro da qual podemos colocar a televisão, cria um isolamento social, não só porque todos assistiram aos mesmos assuntos na televisão, mas também porque cada um prefere se divertir sozinho em seu mundo particular repleto de emoções sem riscos e onde, é claro, cada um é herói e perfeito no que quer ser.
  Isso vai criando, além de um isolamento, uma crescente indiferença. Enquanto houver água quente na torneira e a televisão funcionar, está tudo bem, o resto tem menos importância, pois o mundo particular de cada um está seguro. Ao mesmo tempo, começa a se fazer da busca de emoções e de fantasias o ideal do homem. Desse mundo interior de ilusões e de fantasias, o homem começa a pensar se tudo que ele vê também não é uma ilusão, um sonho, apenas um teatro de que ele faz parte com algum objetivo ignorado.
  No momento em que a realidade fica menos importante de que a fantasia, ou mesmo começa a se confundir com ela, é o momento em que a gnose começa a crescer. O mundo físico, suas fronteiras, seus dogmas e suas verdades são ilusões (logo, para que ter ideal, para que lutar por alguma coisa, a moral é uma invenção,  a hierarquia é ilógica, etc). O mundo vai, assim, sendo gradativamente levado a buscar uma justificativa metafísica para sua existência, só que agora através do antropocentrismo.
  O isolamento produzido pela Pós-modernidade vai encontrando eco na tecnologia, que facilitando mais ainda a "auto-suficiência" de cada um, cria um mar em volta de uma ilha. O mar da indiferença, na ilha da solidão... O conflito entre o mundo e o "eu", entre a realidade e a fantasia, entre a transcendência e a imanência, tudo se radicaliza na técnica Pós-moderna.
  Escreve o Estado de S. Paulo, do dia 15 de dezembro de 1994:
"Time Warner lança na Flórida [a] TV interativa. (...) Por meio desse sistema, os usuários poderão assistir a 50 filmes, fazer compras nos principais centros comerciais de Orlando, solicitar videojogos e estabelecer contato permanente com vizinhos para troca de informações [isso sem sair de casa]".
  O Caderno de Informática do Correio Braziliense, do dia 30/5/95, traz uma reportagem sobre um seminário ocorrido em Roma, na prestigiosa Universidade Urbana, na qual os psicólogos ali reunidos colocavam em questão os efeitos do computador. Em um determinado parágrafo da reportagem, o articulista escreve:
"Parece evidente que a obsessão pelas novas tecnologias pode levar, sobretudo entre os mais jovens, a uma série de problemas psicológicos como a perda da capacidade de comunicação e de relação com os outros.
Segundo uma pesquisa realizada pelo Centro de Estudos sobre a Família da Universidade Católica, o computador é freqüentemente considerado como uma "pessoa da família" e não como um eletrodoméstico comum".
  Comenta a Revista Veja, na sua edição de 26 de outubro de 1994, em um artigo sobre a Alemanha unificada:
"’Auto-afirmação e autonomia individual são as duas máximas mais importantes da nossa sociedade’, diz a professora e psicóloga Eva Jaeggi, de Berlim. (...) Na época do Socialismo, os alemães-orientais cultivaram uma expressão que se tornou obrigatória para explicar como as pessoas se fortaleciam para fazer de conta que acreditavam no sistema: mergulhavam na ‘sociedade de nichos’, criando um mundo completamente oposto ao exterior. A mesma expressão voltou à moda agora em outra acepção. Boa parte dos alemães parece abominar o apego a qualquer grande corrente política ou ideológica, a não ser a defesa do próprio conforto e lazer. É cada vez maior o número de pessoas que buscam apenas sua felicidade individual criando seu próprio nicho.
Desde 1950 dobrou o número de lares de uma só pessoa..."


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