BUMBA-MEU-BOI DO MARANHÃO
Como bem definiu o estudioso maranhense Domingos Vieira Filho, o bumba-meu-boi é o "auto dramatizado, com uma constante temática conhecida, mas que se enriquece cada ano de novos elementos, tendo um elevado poder de comunicação".
Auto popular do Norte e Nordeste brasileiro, drama campesino ligado ao ciclo do gado apresenta no nosso Estado características próprias e admirável desempenho.Enredo
Basicamente em todos os grupos (ressalvadas pequenas diferenças) o enredo (auto) é o seguinte: Pai Francisco- escravo e vaqueiro de confiança de seu amo- o dono da fazenda- é obrigado a furtar e matar o boi de estimação do seu senhor para tirar-lhe a língua, obedecendo aos apelos e "desejos" de Mãe Catirina sua mulher que encontrava-se grávida. Fato consumado, chega ao conhecimento do amo, que enraivecido, manda fazer sindicância através de vaqueiros e índios para descobrir a verdade e o autor do crime. Pai Francisco é, então, encontrado trazido preso e por exigência do amo morrerá no caso não venha a "dar conta" do boi . Segue-se então uma verdadeira pantomima, cujo teor e a finalidade são trazer o animal de volta à vida. Os doutores, pajés e curadores são chamados a intervir e, através de processos mágicos, com a ajuda de Pai Francisco ressuscitam o boi. O boi "urra" novamente por entre o contentamento geral. Pai Francisco é perdoado e os brincantes entoam cânticos de louvor, dançando em volta do animal na comemoração desse milagre da ressuireição.
Etapas
O desenrolar dessa teatralização é subdividido em diversas etapas enunciadas e coordenadas pelas toadas improvisadas pelos cantadores (amos) cuja seqüência é:
Guarnicê- momento primeiro de reunião, agrupamento, preparação para o início da brincadeira.
O lá vai- é uma toada que avisa aqueles que esperam o boi e anuncia o local da apresentação.
A licença ou chegou-é o pedido, a solicitação para apresentar o grupo e seu "novilho".
A saudação- toadas de louvação ao boi e ao dono da casa.
A partir desse instante ter-se-à o desenvolvimento do auto, propriamente dito, que finda com toadas de:
Urrou- momento de alegria e confraternização geral em torno do boi novamente vivo;
A despedida- que corresponde ao final da apresentação, tendo como tema das toadas, normalmente, sentimentos de adeus e de saudade que o boi deixa e leva ao se afastar, cantando e sempre prometendo voltar.Personagens
Os personagens básicos de um bumba-meu-boi maranhense, com pouca variação entre os grupos, estão assim representados.
Amo - é o dono da fazenda e da festa, personifica o senhor, o latifundiário. Veste roupa mais rica e usa apito para coordenar o conjunto;
Rapaz - o vaqueiro empregado mais próximo do amo.
Pai Francisco ( Chico) - vaqueiro da fazenda que na estória desempenha o papel de um vilão hilariante ficando a seu cargo a parte mais humorística da representação dai porque atua sempre em cenas que provocam risos no público.
Mãe Catirina - mulher do Pai Francisco, pivô, da questão. É representada por um homem vestido de mulher e sua participação também é cômica.
Doutores, pajés ou curadores - personagens igualmente engraçados de forma satírica. Em alguns grupos são constituídos por vaqueiros;
Índios e índias - responsáveis pela prisão, totalmente cobertos de penas de ema, são encontrados em bois de sotaque e matraca.
Caipora - boneco enorme que assusta. Pai Francisco sacudindo braços e emitindo sons fantasmagóricos;
Burrinha - existente em alguns grupos, é personagem comum a todo Nordeste. Normalmente apresenta-se à frente do conjunto abrindo passagem entre a assistência;
Cazumbá - encontrados em bois da Baixada. Usa máscaras inventivas e normalmente representando focinho de animais, vestindo bata larga e pintada em cores berrantes e figuras diversas. Tem como função distrair a assistência, para manter a organização do cordão de brincantes;
Vaqueiros ou rajados - compõem o cordão e representam empregados e moradores da fazenda. Variando de sotaque para sotaque, basicamente vestem-se com camisas e calças coloridas, golas e saiotes de veludo, tendo à cabeça chapéus ornamentados com penas ( alguns sotaques), bordados, espelhos, de onde partem longas fitas coloridas;
O boi - personagem central do enredo, é confeccionado em diferentes tamanhos, com armação de buriti coberto pelo 'couro" de veludo ricamente bordado à mão com miçangas, paetês e canutilhos, utilizando como tema os mais originais e interessantes motivos. Tem por baixo da armação um brincante ( o miolo) responsável pela diversificada e criativa coreografia.
Estilos
Os grupos de bumba-meu-boi do Maranhão são subdivididos comumente em sotaques (estilos) característicos, a saber:
Sotaque de Matraca ou da Ilha - mais aberto ao grande público, fácil de identificar musicalmente pela presença de pandeirões e das matracas ( pequenos pedaços de madeira que emitem sons) em grande quantidade.
Sotaque de Zabumba - que se marca pela presença retumbante da percussão rústica sentida profundamente por seus adeptos como se fosse um rufar dos tambores africanos que se ouvem à noite nos terreiros-de-mina, em todo o Estado, aqui enraizados, num relance cronológico que lembra os cultos afro originais
Sotaque de Orquestra - onde se sobressaem instrumentos sonoros como pistons, sax, clarinetes, banjos, entre outros, acompanhados de percussão mais suave que sotaque de Zabumba.
Sotaque de Pindaré - que se caracteriza pelo toque mais leve e suave, tanto dos pandeiros quanto das matracas, ambos menores que os da ilha (São Luís) além de sua riqueza ornamental na exuberância dos seus chapéus.