Por que ocorreu a imigração
estrangeira para o Brasil
? Dentre os países americanos, o Brasil
é um dos que mais receberam imigrantes estrangeiros. Mais do que
ele, somente os Estados Unidos, o Canadá e a Argentina.
A saída de um país é chamada de migração
externa. Quando o deslocamento populacional ocorre dentro das fronteiras
de um país, ele é chamado de migração interna.
O grande crescimento da imigração estrangeira para o
Brasil deu-se do século passado até o início do atual.
Ele é explicado por muitos autores, basicamente por três motivos:
1. para a efetiva ocupação do Sul do país;
2. para o desenvolvimento de uma agricultura voltada ao mercado interno;
3. para a constituição de um mercado de trabalho para
a cafeicultura.
Emigração e imigração
Quando o migrante deixa seu lugar de origem ou de nascimento, ele está
emigrante daquele lugar, não importando se dentro de um mesmo país,
ou se de um país para outro. Agora, quando ele chega ao seu lugar
de destino, ele está imigrando para aquele lugar. Neste caso, também
tanto faz: pode ser de um país para outro ou de uma cidade para
outra de um mesmo país. Em síntese, a emigração
(saída) e a imigração (entrada) fazem parte do chamado
fenômeno migratório.
O fenômeno migratório
no Brasil
No Brasil, o processo migratório pode ser analisado subdividindo-o
em dois momentos distintos, de acordo com o tipo de migração.
O primeiro é o das migrações estrangeiras ou externas,
intensificadas a partir do século passado, e que contribuíram,
pela grande quantidade de imigrantes no país , para o seu crescimento
populacional, principalmente até a década de 20 do nosso
século.
O segundo pode ser datado a partir de 1930, com o aumento das migrações
internas, principalmente das correntes vindas do Nordeste para o Sudeste.
Isso não significa, porém, que não tenha existido
movimentos populacionais importantes dentro do próprio Sudeste,
inter e intra-estaduais. Além disso, fluxos importantes para outras
regiões também ocorreram, como o do Nordeste para o Norte,
na época do auge da extração da borracha na Amazônia.
A sociedade brasileira no século
XIX
A partir de meados do século XIX, a sociedade escravocrata estava
terminando. A Lei de Terras, de 1850, instituiu a propriedade privada da
terra. Foi uma medida que facilitou o término da escravidão.
Com a Lei de Terras só teria acesso à propriedade aqueles
que tivessem como adquiri-la no mercado de terras.
Os negros libertos, não tendo condições para compra-las,
teriam de continuar nas fazendas, trabalhando para os antigos senhores,
os quais estavam liberados dos encargos com o sustento do escravo, acarretados
pelo regime de escravidão.
A imigração e a colonização
do Sul no início do século XIX Ainda em 1806,
antes mesmo da abolição da escravatura, intensificou-se a
imigração estrangeira para o Brasil.
Essa intensificação significa que foi estabelecida ema
corrente imigratória para o Brasil, relacionada às condições
econômicas, sociais e políticas, tanto do Brasil como dos
países de origem desses imigrantes.
A política de imigração e colonização
para o povoamento do Sul vinha se desenvolvendo durante o período
colonial, a fim de garantir a posse do território para a Coroa Portuguesa,
“defendendo” a região dos espanhóis e “protegendo” dos ataques
indígenas o caminho que as tropas com a produção do
Sul deveriam fazer para chegar até São Paulo.
As migrações significam uma redistribuição
espacial da população, que se adapta às condições
ou às transformações econômicas que ocorrem
no espaço geográfico.
Como se desenvolveu a colonização
do Sul
Essa política, iniciada no fim do período colonial, com
a “abertura dos portos às nações amigas” realizada
por D. João VI em 1808, só se efetivou depois de 1850, com
a promulgação da Lei Eusébio de Queirós, que
proibia o tráfico de escravos para o Brasil. A imigração
estrangeira fora facilitada por um decreto de D. João VI, que permitia
a estrangeiros o acesso à terra no Brasil. Foi proibida, entretanto
a utilização da mão-de-obra escrava em áreas
de colonização. Pretendia-se garantir a organização
da atividade agrícola em pequenas propriedades, produzindo para
o mercado interno. A compra de escravos demandava grandes investimentos,
incompatíveis com a pequena produção. Além
disso, o capital para essa atividade, subsidiado pelo governo, não
poderia ser utilizado na compra de escravos.
A atuação do poder
público
Dessa forma, você está percebendo que as migrações
nem sempre são espontâneas. O poder público tem importante
participação como agente provocador de fluxos migratórios.
Isso ocorre quando o governo tem interesse em criar condições
para as transformações nas formas de ocupação
e aproveitamento econômico de determinados espaços. Por exemplo
apartir do povoamento de regiões com baixas densidade demográfica,
o governo procura formar a força de trabalho necessária para
o surgimento e desenvolvimento de novas atividades econômicas e ampliar
as possibilidades de acumulação de capital. Ao mesmo tempo,
ele procura atingir outro objetivo, relacionado à efetiva incorporação
desses territórios ao espaço nacional.
A emigração alemã
Os maiores fluxos de imigração estrangeira para o Brasil
datam do fim do século XIX e início do XX. Entretanto, entre
1800 e 1850 formaram-se alguns núcleos esparsos de povoamento estrangeiro,
com açorianos, principalmente, e em menor número alemães
e suíços, distribuídos no Espirito Santo, no Rio de
Janeiro e em Santa Catarina.
No Sul do país, nesse período, a imigração
que mais se destacou foi a alemã. Desde o inicio do século
XIX, a Alemanha vivia um processo de desintegração de sua
estrutura feudal, paralelamente à uma revolução agrícola
: aumento da produtividade das terras com o emprego de menos mão-de-obra.
Ao mesmo tempo, ocorria maior concentração de terras, isto
é, diminuía o números de proprietários e aumentava
o número de terras que cada um possuía. Os pequenos produtores
rurais, os servos da gleba do período feudal, perderam o direito
de trabalhar a terra e de sobreviver com esse trabalho.
Essas são algumas das condições internas da Alemanha
que estimularam a emigração para outros países. Mais
tarde, com a industrialização, ocorreu a ruína da
pequena indústria doméstica dos artesãos, o que era
necessário para formar um exército de mão-de-obra
assalariada para a indústria nascente.
Muitos desses ex-artesãos, para fugir do assalariamento e da
proletarização, preferiram emigrar e tentar a sobrevivência
em outros países, mantendo a sua autonomia relativa na condição
de pequenos proprietários rurais
A imigração alemã
para o Sul
Alguns alemães que migraram para o Brasil , fundaram em l829,
a cidade de São Pedro de Alcântara, em Santa Catarina.
Em 1848, intelectuais alemães da revolução liberal
foram forçados a emigrar. Fundaram em Santa Catarina a Colônia
Dona Francisca, atual Joinville.
Em 1850, é fundada em Santa Catarina, no Vale do Itajaí,
a cidade de Blumenau, recebendo o nome de seu fundador, Hermann Blumenau,
funcionário da Sociedade de Proteção ao Imigrante
Alemão, de Hamburgo.
Como você pode perceber, a heterogeneidade cultural dos alemães
que vieram para o Brasil era muito grande : lavradores, artesões
e intelectuais. A maioria radicou-se no Rio Grande do Sul e, em menor número,
em Santa Catarina e no Paraná.
A política oficial brasileira
para a imigração alemã
Os colonos viriam para o Brasil com a passagem paga, teriam lotes gratuitos
demarcados e subsídios, tanto em dinheiro como em instrumentos de
trabalho.
São Leopoldo foi a única colônia que teve todas
as promessas cumpridas. Os núcleos mais afastados ficaram no mais
completo abandono, sem as mínimas condições de sobrevivência.
As vias de acesso não foram abertas, eram constantemente atacadas
pelos índios, não foram construídas escolas, igrejas...
a política oficial, enfim, falhara.
A mudança na política
oficial brasileira
Para que esse fluxo imigratório não fosse interrompido,
o governo teve de mudar sua política de imigração.
Os colonos passaram a arcar com os custos da viagem e da compra dos lotes.
Pretendia-se, assim que a imigração fosse mais selecionada,
que viessem para o Brasil somente aqueles que tivessem condições
econômicas para se estabelecer como pequenos proprietários
rurais.
As companhias de colonização, criadas para promover a
colonização, passaram a comprar terras baratas a partir de
1854, revendendo-as muito mais caras aos colonos. Assim, os proprietários
da companhias enriqueceram rapidamente, enquanto os colonos se endividavam,
não conseguindo sobreviver com a pequena propriedade. Muitos deles
retornaram, então a Alemanha. Algumas colônias, contudo, sobreviveram,
de início precariamente, retornando formas de vida primitivas, já
abandonadas na Alemanha.
Com isso, foi se organizando na Alemanha um forte movimento contra
a emigração para o Brasil, o que forçou o governo
alemão a proibi-la, a partir de 1859.
A imigração
italiana para o Sul Essa corrente intensificou-se depois
que a Alemanha proibiu a imigração para o Brasil. Assim,
o imigrante italiano acabou substituindo o alemão na colonização
do Sul.
Desenvolvimento da pequena propriedade, produzindo alimentos para o
mercado interno continuava como um dos objetivos da colonização
do Sul do país. Como os alemães, os italianos estabeleceram-se
em núcleos coloniais com organização espacial semelhante,
assentada na pequena propriedade.
Os motivos da vinda para o Brasil
Os italianos que migraram para o Brasil perseguiram o sonho de continuar
a sobreviver como pequenos produtores rurais, condição que
não conseguiram mais manter em seu país.
A Itália era um país agrícola bastante atrasado.
A expansão do capitalismo ocorreu principalmente no norte, mas não
conseguiu mudar a situação de pobreza de sua agricultura.
Não possuindo recursos minerais importantes para o desenvolvimento
industrial, como o carvão e o ferro, a Itália teve de se
limitar a uma industrialização mais modesta, baseada na indústria
têxtil. Com isso, a maior parte da mão-de-obra continuava
ocupada na atividade agrícola, tanto no latifúndio do sul,
como na pequena propriedade do norte. A emigração passou
a ser encarada por muitos como a solução para a crise econômica,
social e política.
As colônias italianas em Santa
Catarina
Para promover a imigração, foram criadas as já
mencionadas companhias de colonização e contratadas empresas
comerciais, que introduziam os colonos nos núcleos. Os colonos viajavam
na companhias de navegação italianas, que lucravam muito
com o empreendimento.
Os imigrantes italianos que vieram para Santa Cataria, eram em menor
número. Desenvolveram a policultura e fundaram as cidades de Nova
Trento, Nova Veneza e Uruçanga (veja o mapa a seguir) entre outras.
Essa política de colonização não tinha o apoio dos cafeicultores paulistas, que apenas defendiam uma política de imigração. A colonização italiana do Sul é anterior à “grande imigração” italiana para o estado de São Paulo. Serviu como propaganda para introduzir os italianos na lavoura cafeeira paulistas. Muitos dos imigrantes que foram para São Paulo achavam que estavam se dirigindo para os núcleos coloniais das províncias sulinas.
Conseqüências da
colonização do Sul
O desenvolvimento da pequena propriedade no Sul possibilitou uma divisão
inter-regional do trabalho, com a área cafeeira produzindo para
o mercado externo, enquanto a zona colonial produzia para o interno (gêneros
alimentícios) nas áreas de produção camponesa
do Sul.