E por que haverias de querer
minha alma
Na tua cama?
Disse palavras líquidas,
deleitosas, ásperas
Obscenas, porque era assim
que gostávamos.
Mas não menti gozo
prazer lascívia
Nem omiti que a alma está
além, buscando
Aquele Outro. E te repito:
por que haverias
De querer minha alma na tua
cama?
Jubila-te da memória
de coitos e de acertos.
Ou tenta-me de novo. Obriga-me.
(Do Desejo - 1992)
* * *
Colada à tua boca
a minha desordem.
O meu vasto querer.
O incompossível se
fazendo ordem.
Colada à tua boca,
mas descomedida
Árdua
Construtor de ilusões
examino-te sôfrega
Como se fosses morrer colado
à minha boca.
Como se fosse nascer
E tu fosses o dia magnânimo
Eu te sorvo extremada à
luz do amanhecer.
( Do Desejo - 1992)
* * *
Que canto há de cantar
o que perdura?
A sombra, o sonho, o labirinto,
o caos
A vertigem de ser, a asa,
o grito.
Que mitos, meu amor, entre
os lençóis:
O que tu pensas gozo é
tão finito
E o que pensas amor é
muito mais.
Como cobrir-te de pássaros
e plumas
E ao mesmo tempo te dizer
adeus
Porque imperfeito és
carne e perecível
E o que eu desejo é
luz e imaterial.
Que canto há de cantar
o indefinível?
O toque sem tocar, o olhar
sem ver
A alma, amor, entrelaçada
dos indescritíveis.
Como te amar, sem nunca merecer?
(Da Noite - 1992)