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...do diário histórico do Testemunho....
 

Para aqueles que lêem minhas palavras, saúdo-vos. Sou o Testemunho, a única entidade eternamente viva nesse mundo. Sou um servo dos Deuses. Minha missão é documentar tudo aquilo que acontece agora, no presente. Nas linhas que se seguem, assino meus últimos relatos.

...Khatarina, um demônio terrível...
...Cinco corajosos aventureiros lutam contra ela...
...Vidas se perdem...
... Um mundo é destruído.
    Uma terra devastada. É o que vejo. Deitados sobre rochas frias, corpos descansam em leitos de sangue, cobertos pelo pó das ruínas, ventilados pela brisa uivante que corta a neblina. Das esplendorosas construções, pouco resta. Algumas parcelas de firmes colunas de mármore evidenciam o holocausto. O pano rasgado de bandeiras, que antes bailavam no mastro de castelos e fortalezas reais, estende-se morto no solo. Tudo está ausente. A vida é apenas passado.
    As vestes dos corpos denunciam uma batalha : capacetes, espadas, lanças e  armaduras. Em meio aos destroços, os vestígios de um trono e, ao lado, uma mancha de sangue de proporções espantosas, o que nos leva a imaginar o tipo de combate que aqui se travou. Foi o combate contra Khatarina.
    Estou em Allansia. Uma terra de inúmeras e belas histórias. Marcada pelo destino, foi lar de seres divinos e amaldiçoados, e terra de heróis inesquecíveis. Seu fim foi selado há poucos anos atrás e o resultado é este que paira diante de meus olhos.
    No entanto, às vezes, a vontade divina submete-se à vontade do destino. Como uma vez disse um filósofo desta terra : “A vida em Allansia é como a água, que se perde em incontáveis voltas de um ciclo eterno.” E ele estava certo. A vida nesse mundo não se acaba, mas se renova.
 
 
A Volta
 

    Parte 1 - Brass Knucle

    Um homem estranho vestindo roupas de metal. Foi o que se disse ter visto na praça central de Winter’s Tale Ville. A notícia se espalhou como vento e, em pouco tempo, um amontoado de pessoas cercava o corpo desmaiado desse homem. Algumas crianças atiravam pedras no pobre e corriam para perto de suas mães. “E se ele ainda estiver vivo?”, era a pergunta que todos se faziam. Não demorou muito para as que as autoridades locais chegassem. Dois guardas puxaram suas espadas para cutucar o corpo. Levantaram-lhe a aba do elmo e sacudiram-lhe como um saco de batatas. Nada. Estava em sono profundo, mas ainda vivo. Um dos homens que estavam ao redor aproximou-se e pediu para olhá-lo de perto. Era Chan d’Or. Curandeiro para uns, bruxo para outros, milagreiro para a maioria.     Observou a face do homem. Estava guardando um temor incrível, mesmo dormindo parecia estar agonizando. Pôs a mão em sua testa e concentrou-se. Sentiu um calafrio e, quando tirou a mão, o homem acordou. E levantou-se pulando e assustado:
    - Quem são vocês? Onde está Khatarina? Eu tenho que matá-la! Minha espada...onde puseram minha espada?!
    - Pare!- grita o velho curandeiro- somos nós que cobramos respostas. De onde vieste, estranho?
    -Eu sou Brass Knucle, de Salamonis. Mas onde está o castelo? E meus amigos? O meu braço...- ele lembra-se do duelo- ...graças a Deus ele está no lugar!
    - Você está delirando homem! Amanheceste aqui, estirado no chão como um pobre bêbado. E com essas roupas rasgadas...mais parece um mendigo.
    - Não sou um qualquer como pensas! Minhas linhagem é nobre! Sou um paladino dignificado pela espada de Salamon I e coroado com a bênção de Deus. Luto pela justiça. Se me encontro em frangalhos é porque lutei. E lutei até a morte...ou, pensando bem, talvez não...- ele olha ao redor.
    O breve discurso do paladino não impressionou muito. As pessoas se entreolhavam e trocavam piadas miúdas sobre o fato. Apenas Chan d’Or permanecia calado, apenas observando.
    - Não sei quem tu és- responde o comandante da patrulha militar que ali estava- mas estás atrapalhando o passeio público. Se não te retirares daqui agora, te boto preso junto com os outros vagabundos! Circulando!
    - Calma, calma - interrompe o velho Chan - eu gostaria de oferecer a este homem a hospitalidade de minha casa. Pode comer e trocar as roupas e depois tratará de sua vida o mais depressa possível, tenho certeza.
    - Serei eternamente grato - responde Brass- Como posso chamá-lo?
    - Chan Weiss Lemington d’Or é meu nome completo, mas não exijo que o decore. Pode apenas me chamar de Chan, como todos.

    E assim Brass Knucle foi levado para uma velha casa, dentro de um pequeno bosque cortado por um longo rio.
    Chegando lá, o paladino contou ao seu anfitrião sua história. O velho a ouviu de olhos arregalados.
    - Mas como você veio parar aqui?
    - É uma coisa que eu também queria descobrir. Agora estou sem armas, dinheiro, não sei onde estou e nem onde estão meus companheiros...é muito estranho.
    - Olha...Brass...se você realmente é quem diz que é, eu posso lhe dar a chance de começar a vida de novo.
    - Eu jamais minto!
    - Tudo bem, tudo bem...Escute. Nesta cidade não existem leis para todos. O povo é dominado por Arthur Lin, o dono de todas as terras por aqui. Ele vive isolado em seu castelo e nunca aparece em público. O motivo é sabido: há muitos anos atrás ele duelou com um plebeu que lhe deixou uma enorme cicatriz no rosto. É claro que o plebeu foi assassinado depois, mas a vergonha foi tão grande que ele nunca mais apareceu. Desde então, seu ódio pelo povo tem aumentado, fazendo-o pagar altos impostos e prestar serviços gratuitos. Para isso ele se utiliza de uma força militar muito bem montada e um poder político enorme. E é nesse ponto que eu queria chegar. Se você conseguir expulsá-lo de Winter’s Tale Ville, você poderá até mesmo ser escolhido como prefeito de nossa cidade. O que me diz?
    - Ajudar um povo necessitado é dever para mim, senhor. Jamais seria capaz de recusar tal pedido. No entanto, não tenho armas para lutar e não sei se posso fazer esse serviço sozinho.
    - Acalme-se. Posso conseguir-lhe armas e um pouco de dinheiro. Não há o que temer. Mas primeiro você deve descansar, e muito. Seu estado é péssimo, suas roupas não servem mais e você deve estar faminto. Coma isto - Chan oferece-lhe uma estranha fruta esverdeada - depois vá dormir. Esse fruto tem alto teor energético. Eu mesmo o plantei. Mas você precisa comer e descansar.- Chan mostra ao paladino uma cama de palha estendida no chão - É aí que você vai dormir hoje. Amanhã vamos dar um jeito em sua vida. Eu vou até a cidade conseguir seu armamento e volto para o jantar.- o velho vai até a porta da casa e a abre. Depois, vira-se e diz:
    - Ah, mais uma coisa. Quanto ao seus amigos, quem sabe você não os encontra mais rápido do que imagina? - e despede-se com um sorriso.
 

Parte 2 - Denny Dragonovich

    A cabeça dói. Os ossos estão totalmente moídos e o coração bate bem lentamente, numa bradicardia torturadora. Consciente, porém, Denny Dragonovich, levanta-se lentamente. “Onde estou?”, pensa. Ele olha ao redor e o que vê é uma cena bastante obscura. Ele se vê em uma rua deserta, escura e fria. Ao seu redor estão poucas e pequenas casas, todas trancadas e silenciosas. Denny esfrega os olhos frenético e não compreende nada: “o que estou fazendo aqui?” De repente, ele ouve um ruído de passos saído das sombras. O ruído aumenta e sua fonte torna-se visível: de trás de um muro aparece um homem corcunda, vestindo um grosso manto de tecido rude e com cheiro deplorável. O homem aproxima-se e mostra-se como uma imagem mais terrível ainda: seus globos oculares são vazios e ao mesmo tempo cheios; cheios de mistério e sombras, que provocam um arrepio indisfarsável em Denny. O corcunda cego ergue lentamente a cabeça e fala:
    - “Eu vim lhe recepcionar. Bem-vindo ao seu novo lar irmão.”
    Dragonovich apavora-se e põe a mão na bainha para sacar a espada. É nesse momento que ele percebe: está totalmente desarmado! O ladino, amedrontado, dá dois passos para trás e ameaça fugir, mas o estranho homem o segura pelo braço e diz:
    - “Não há o que temer. És um de nós. Todos os homens de coragem chegam aqui um dia. Sua hora chegou. Sinta-se honrado por terem te mandado para cá. Eu sou Galgarel, o Cego. Não posso ver mas meus ouvidos me proporcionam mais que os cinco sentidos. Vem comigo. Nossos irmãos nos esperam.”
    Mesmo tentando resistir, Denny acompanha o homem por um longo beco que parece não ter fim.     Finalmente, eles chegam a uma estranha parede de tijolos com várias inscrições no centro. Denny tenta entender, mas desiste: não se parece com nada que ele conheça. Seu “companheiro” toca com as mãos na parede e ela some como pó! “Vamos”-diz o homem.
 
    Denny se vê dentro de uma espécie de catacumba muito espaçosa e com muitas tochas iluminando-a. Ele percebe rapidamente a diferença de temperatura ali dentro. Faz um calor tenebroso!
Andando por mais alguns metros, eles chegam a uma grande sala onde há uma enorme mesa redonda com uma fogueira no centro. Nas paredes, belas pinturas simbolizando dragões. Em torno da mesa, quase vinte pessoas se levantam quando Denny e Galgarel aparecem. Todos vestem togas negras ou vermelhas e têm um olhar frio.
    - “Sê bem-vindo ao teu novo lar, irmão!”- diz um dos homens- “Compreendemos teu estado de perturbação mas, acredite, estás passando por um momento que todos já passaram por aqui. Você está dentro da sede secreta da Irmandade do Wyrm. Aqui, todos tivemos o mesmo destino: fomos sacrificados por dragões, malignos ou não. É claro que não foi apenas a morte que nos fez vir para cá. Somos especiais. Todos aqui estão em fase de transição para o início de uma nova vida. Temos destinos diferentes pela frente, mas em um ponto coincidimos: precisamos encontrar pessoas que foram nossas aliadas na luta pela vida anterior. É por isso que estás aqui. Tu receberás ajuda para encontrar teus amigos. Serás reconstituído e remodelado para viver de novo. Mas tu deves aproveitar com sabedoria a chance que a ti será dada. Não abuse dos poderes que te serão concedidos e jamais traia a confiança te teus parceiros. Não esqueça.”
    Denny Dragonovich é levado até uma sala vazia, totalmente iluminada por velas vermelhas. Lá, ele é despido e deixado por cinco horas. Durante esse intervalo, o ladino sente como se todos os dragões do mundo estivessem lhe bafejando a nuca. O calor é insuportável e seu espírito parece estar sendo arrancado pelas tripas. Ele urra de dor quando sente a chama das velas atravessar sua pele. Em pouco tempo ele cai de joelhos e desmaia, permitindo que seu corpo fosse tomado pelo fogo que enche a câmara.
    Passado algum tempo, dois homens vem recolher as cinzas do corpo de Denny. Eles as colocam dentro de um recipiente de barro e atiram-no na fogueira que se ergue no centro da grande mesa redonda. O fogo se apaga instantaneamente e, no seu lugar, aparece o corpo de Denny, vestindo uma bela toga negra, coberta de pequenas runas vermelhas. Um pouco tonto, ele ergue-se e caminha alguns metros:
    - “O que houve comigo? Estou me sentindo como se tivesse nascido agora...nunca senti tanta energia.”
    - “É porque tu nasceste de novo, irmão! Estás física e mentalmente reconstituído.”
    - “Eu...eu não sei como posso agradecer...”
    - “Não é a nós que deves agradecer, irmão. É a vontade de viver que te faz estar aqui, e a força que te une aos teus companheiros é a verdadeira responsável por teu poder. Agora, só faltam tuas ferramentas.”
    Subitamente, um homem se aproxima de Denny Dragonovich e entrega-lhe uma pequena espada e uma estranha caixa de pedra. O ladino abre a caixa e vê uma grande corda enrolada e um punhal.
    - “É o que tu precisas- diz o homem- para prosseguir em tua jornada. Essa espada te dará um poder de ataque fenomenal. Trate ela com muito cuidado. O resto do material é comum, mas tu, como ninguém, sabe utilizá-lo. Tome isto.- ele põe um estranho medalhão no pescoço de Denny - Ele te protegerá. Agora, você deve ir. Não esqueça dos conselhos que ouviste. Parta em paz, e ache seus amigos.”
    Denny é encaminhado para fora das catacumbas de olhos vendados. Quando se vê livre da mordaça que lhe puseram nos olhos, ele enxerga um lugar diferente de onde a pouco esteve. É um pequeno bosque cheio de cogumelos e seres pequeninos. O dia está claro e o céu é limpo. Ele tenta entender mas logo esquece, quando vê uma silhueta familiar. É um homem loiro de barba e cabelos compridos, vestindo uma armadura parda. O homem sorri. Denny repete o gesto e diz:
    - “Como é bom reencontrá-lo, Jordan Strong!”
 

Parte 3 - Jack

    Ele abre os olhos e sofre com a visão borrada. A cabeça parece estar girando. Ao seu lado, algo familiar. O grimoire que tanto tempo o acompanha. Jack levanta-se com dificuldade e suspira fundo.     Não faz a mínima idéia de onde veio parar. É uma espécie de deserto árido, sem vegetação alguma ou qualquer outro sinal de vida. O céu está amarelado e as nuvens parecem carregadas de chuva. O elfo tenta lembrar o que aconteceu mas só tem recordações vagas. Ele abre o grimoire e descobre, horrorizado, que suas páginas estão em branco! Jack atira o livro de magias no chão, furioso. Olhando no horizonte, uma caravana parece se aproximar. Bem mais próxima, ela mostra-se pequena: dois homens calvos de barba branca e uma carroça puxada por um burro.
    - “Olá! - saúda Jack - poderia me informar o nome desse lugar?”
    Os homens param a carroça e um deles desce para falar:
    - “Não és daqui, certo?”
    - “Não. Sou de Silverton. Que lugar é esse?”
    - “Silverton? Já ouviu falar, Molly?”
    O outro homem balança a cabeça negativamente.
    - “Tu estás em Hennfs, estranho; o deserto mais próximo de Kiumor.”
    - “Kiumor? É uma cidade?”
    - “Se vê que tu estás bem perdido...Kiumor é a cidade sede do comércio local. Estamos indo para lá. Queres nos acompanhar?”
    - “Olha...eu mal sei onde estou...não posso me dar ao luxo de recusar sua proposta. Eu os acompanho.”
    - “Suba na carroça, então. Eu sou Tibério e esse é meu irmão Molly.”
    O outro homem sorri, deixando transparecer os poucos dentes que lhe restam.
    - “Não repare no silêncio de Molly; ele é mudo mesmo. Nós somos comerciantes nômades e vamos nos abastecer em Kiumor. E você?”
    - “Bem...até pouco tempo eu estava bem longe daqui, mas, de repente, eu apareci nesse deserto e não faço idéia de como isso aconteceu.”
    - “Puxa, que situação estranha...”
    - “Você me disse que não conhece Silverton. Em que reino estamos?”
    - “Estamos em Al- Shaman.”
    - “Em Al-Shaman?? Então eu voltei para esta dimensão!”
    - O quê?
    - “Ahn...nada. Nada de importante...o senhor não vai me entender. De qualquer forma, não estou em lugar tão estranho assim.”
    A viagem prossegue por mais três horas, até que finalmente chegam em Kiumor. A cidade não é muito grande mas tem bastante movimento. É a sede do comércio da região norte de Al-Shaman. Há muitos vendedores nas ruas e as pessoas caminham apressadas. Tibério vira-se para Jack e diz:
    - “Aqui é o fim da linha, amigo. Se quiser informações sobre qualquer coisa, vá até aquela estalagem ali.- Tibério aponta para uma velha casa - Serão gentis com você, desde que tenha dinheiro. Até!”
    Jack procura pelo saco de moedas no corpo e não encontra. “Droga!”, pensa alto. “Mesmo assim vou tentar.”
    O mago entra na estalagem e dirige-se para o balcão com um sorriso cínico cobrindo o rosto:
    - “Boa tarde, madame. Será que você poderia me informar onde mora o Mago mais próximo?”
    - “Desde quando os elfos começaram a se embriagar com cachaça? Sai da minha estalagem, bêbado!”
    Dois homens agarram Jack pelos braços e, sem dar-lhe chance de reação, arremessam-no pela porta.
“Grande tentativa Jack!”- resmunga sozinho.
    Enquanto Jack se levantava, tirando a terra da roupa, um homenzinho bigodudo e magro se aproxima e fala:
    - “Eu sei do que você precisa e sei onde encontrar. Tchau-tchau!”- e corre em disparada.
    O elfo imediatamente põe-se atrás da criaturinha e, depois de passar por becos e esquinas fachadas, finalmente alcança-o:
    - “Me mostre! Me mostre o que eu preciso baixinho!”
    - “Calma,calma...não fique nervoso. Dê uma olhada nisso.”
    O pequenino tira um envelope do bolso e o entrega a Jack. O mago abre-o e tira uma carta de dentro. A carta diz assim:

    Seja bem-vindo a sua nova vida Jack. Espero que a aproveite bem. Você deve estar bastante atordoado, mas não se preocupe. Você está em Al-Shaman, Reino vizinho a Kulhan, mas em uma época diferente, dentro de uma realidade diferente. Ninguém o conhece aqui. Suas lembranças sobre esse mundo são parte de seu passado que foi parcialmente apagado. Katharina e Nefron não mais existem e sua vida precisa ser recomeçada. Você precisa reencontrar seus amigos e seus estudos de magia devem tomar prosseguimento. Junto com essa carta estou lhe enviando um novo grimoire e dinheiro para viagem. Parta para Kulhan e encontre um vilarejo chamado Winter’s Tale Ville. Tenha uma boa sorte.
                                                                 Felicidades
 
                                                                                               Nicodemus

    Jack recebe um saco de moedas de ouro e um grimoire das mãos do pequeno homem. O mago agradece, sorridente, e parte para Kulhan.
 

Parte 4 - Wotan Z.M.

    Um imenso dragão negro. É a única imagem que passa pela cabeça de Wotan depois que acorda. Ele está de pé no topo de um pequeno morro coberto por uma grama rala. Um vento frio bate em suas costas e ele nota que está sem sua armadura; e também sem qualquer armamento. Lá em baixo, Wotan enxerga um pequeno vilarejo à margem de um longo rio. O rio estende-se até um bosque bastante aberto, a oeste da vila. O jovem paladino resolve descer para encontrar ajuda.
Chegando na vila, Wotan encontra um saco de couro atirado no chão, bem na entrada do bosque. Ele abre o saco e, para sua surpresa, descobre que está recheado de moedas de ouro! “Que golpe de sorte!”, pensa. Mesmo achando tudo que lhe aconteceu muito estranho, Wotan esboça um leve sorriso.
    O vilarejo é pequeno mas bastante limpo e organizado. As casas são feitas de pedra e seus telhados são de feno e madeira. Existe uma única taverna no lugar, que, na verdade, funciona como armazém. Não há letreiro na porta indicando o estabelecimento comercial, mas o paladino repara na freqüente entrada e saída de pessoas. Resolve entrar também.
    Dentro da taverna, várias pessoas estão almoçando, a maioria no balcão pela falta de mesas. Wotan aproxima-se do taverneiro e fala:
    - “Por favor, você poderia me informar o nome dessa cidade?”
    - “Aqui é Winter’s Tale Ville.”
    Wotan franze a testa, não compreendendo como veio parar em um lugar tão desconhecido. Pegando uma moeda do seu saco, ele pede:
    - “Quero algo para comer, por favor.”
    O taverneiro rapidamente lhe serve uma sopa de legumes de sabor detestável, mas bastante quente e fortificante, o que bastava. Enquanto comia, um homem magrelo aproxima-se de Wotan e pergunta:
    - “Armas?”
    - “O quê?”- responde Wotan, sem entender.
    - “Eu perguntei se procura por armas.- o homem estende a mão para cumprimentar- Deixe me apresentar. Sou Ancelmo, o armeiro da cidade. Percebi seu físico e imaginei que fosse um gladiador, apesar de estar desarmado.”
    - “Bem, não sou exatamente um gladiador mas, sim, procuro por armas...e outras informações.”
    - “Posso lhe conseguir as duas coisas. Se me acompanhar até minha loja posso lhe mostrar minha mercadoria.”
    Wotan acaba de tomar sua sopa e acompanha o homem.
    Chegando à loja de Ancelmo, o paladino expanta-se com a quantidade de armas, mas nenhuma o impressiona pela qualidade. O armeiro mostra todo o arsenal exposto à venda, inventando qualidades para suas armas que chegam a beirar o ridículo:
    - “Esse belíssimo montante foi-me dado por Arrzhgul Dran’tar, o maior matador de dragões que se conhece. Essa espada já foi diversas vezes banhada com sangue de dragões negros, vermelhos e verdes. É um espetáculo!”- gabava-se Ancelmo ao referir-se a um montante velho, enferrujado e com o cabo retorcido.
    - “É...ahn...interessante.”
    Percebendo a falta de interesse de Wotan, o armeiro para e pergunta:
    - “Escute...você está disposto a gastar quanto?”
    Wotan olha para seu saco de dinheiro e responde:
    - “Não tenho muito dinheiro, mas pago bem se a espada merecer.
    - “Pois bem, venha cá.”- Ancelmo chama o paladino e lhe conduz por uma entrada secreta em baixo de um balcão. É uma escadaria que desce até um porão escuro. Acendendo uma tocha, o armeiro ilumina uma estante que exibe uma belíssima coleção de espadas, machados, martelos e outras armas, todas de alta qualidade.
    - “Agora, escolha à vontade.”
    Wotan examina cada espada que lhe chama atenção. Ele gosta de todas e imagina a fortuna que o armeiro lhe cobraria por uma delas. O paladino pega uma das espadas, um sabre de lâmina azulada e punho ornamentado, e pergunta:
    - “Gostei dessa espada. Quanto vale?”
    - “Humm...não posso lhe vender essa arma por menos de 2000 peças de ouro.”
    Era exatamente tudo que Wotan tinha!
    - “O quê?? 2000 peças de ouro é muito! Por esse preço não compro!”
    - “Ora, sejamos razoáveis...ela vale o que custa.”
    - “Isso é um abuso! Eu achei que fôssemos chegar a um acordo.”
    - “Certo...Que tal então, digamos, 1800 POs?”
    - “1300!”
    - “1600?”
    - “Não!”
    - “1500 e não se fala mais nisso<por favor>!”
    - “Fechado!”
    Wotan embainha sua nova arma e agradece a Ancelmo:
    - “Gostei da sua loja, Ancelmo. Se eu conseguir mais dinheiro venho aqui me abastecer de armas.    Mas, me diga, a quanto tempo estou de Kulhan?”
    - “Kulhan? Ora, você está em Kulhan!”
    - “Estou? Eu não conhecia esta cidade...”
    - “Você deve estar viajando a muito tempo.”
    - “Mais ou menos. Eu preciso voltar para Dinís o quanto antes. Preciso resolver vários problemas e entender o que se passa.”
    - “Bem, se sua pressa é tanta, seria bom você tomar o próximo navio que parte para Dinís. O porto fica a 2 horas de caminhada daqui e a embarcação parte logo mais.”
    - “Obrigado pela informação, Ancelmo. Eu ainda volto aqui para comprar mais armas. Até logo.”
Wotan corre para o porto para partir, já ao anoitecer, para a capital de Kulhan: a cidade de Dinís.

Parte 5 - Jordan Strong

    Com o corpo em frangalhos e a cabeça confusa, o guerreiro Jordan Strong ergue-se do chão onde estava deitado. Olhando para todos os lados, Jordan não reconhece o lugar, mas percebe estar no meio de um bosque. Ele ouve um rugido saindo dos arbustos e, lembrando do seu último combate, grita:
- “Apareça, Khatarina!”
    Nesse momento, o rugido torna-se mais forte e, de trás de uma árvore, aparece um homem vestindo trapos, com várias cicatrizes no corpo, levando em uma coleira de metal um enorme tigre. O homem gargalha e grita:
    - “Ahhh...tenho um intruso em meu lar então?”
    - “Não sou intruso e não faço nem idéia de onde estou.”
    - “Intruso! Vai pagar com dinheiro teu atrevimento...ou com a vida!”
    - “Não tenho nada, homem. Se quer minha vida, por que não vem pegar?”
    - “Você pediu!”- o homem solta seu tigre que parte para cima de Jordan.
    O guerreiro cai no chão com o impacto, mas logo se recupera e não tem grande dificuldade em imobilizar o tigre. Cruzando os braços em torno do pescoço do animal, como um torniquete, Jordan estrangula o tigre, que cai desacordado.
    - “Agora venha você, covarde!”- grita
    O homem mostra-se tão rude na luta quanto em sua aparência. Ele puxa uma cimitarra das costas e golpeia sem sucesso Jordan Strong. O guerreiro esmurra o nariz de seu adversário e arranca a arma de sua mão. O homem, tonto e quase sem sentidos, puxa uma adaga da cintura, lançando-a contra o peito de Jordan, que desvia facilmente, ao mesmo tempo que crava a cimitarra no pescoço do bandido.
Jordan limpa a cimitarra e a embainha a tiracolo.
    Caminhando pelo bosque sem fazer qualquer idéia de direção ou sentido, J.Strong encontra um pequeno gnomo abaixado no chão, caminhando de um lado para outro.
    - “Algum problema, baixinho?”- fala Jordan
    - “Mais ou menos, mais ou menos. Estou procurando um saquinho de dinheiro que perdi. Se o senhor me ajudar a procurar, serei muito grato.”
    - “Tudo bem. Onde você acha que o perdeu?”
    - “Não sei...Eu estava colhendo cogumelos e ia até a cidade comprar algumas coisas quando deixei cair o saco. Acho que foi por aqui.”
    Os dois passam mais de uma hora procurando pelo tal saco...e nada. O gnomo, cansado de procurar, diz:
    - “Vamos esquecer esse saco. Não agüento mais procurar. Ele não fará falta. Mas agradeço o senhor pela ajuda.”
    - “Ora, tudo bem.”
    - “Vamos até minha aldeia. O senhor é convidado para o jantar.”
    Jordan não recusa a hospitalidade do gnomo (que se apresenta com o nome de Friily) e aceita o convite.
    Durante o jantar, o guerreiro pergunta a Friily:
    - “Amigo, estou meio perdido e não sei direito onde estou. Você pode me dizer o nome desse lugar?”
    - “Bem, o vilarejo do outro lado do bosque chama-se Winter’s Tale Ville. É um povoado insignificante se for comparado com o tamanho de Kulhan...”
    - “Estamos em Kulhan??”
    - “Sim, não sabia?”
    - “Para falar a verdade...acho que não. Eu nem lembro como vim para aqui. Eu estava em Allansia e de repente apareci aqui.”
    - “Allansia? Onde fica esse lugar?”
    - “Ah...é bem longe. Você com certeza não conhece.”
    Depois jantar, Jordan é convidado para passar a noite na tribo de seu anfitrião, convite que não recusa também.
    Na manhã seguinte, o guerreiro agradece a hospitalidade e parte em busca de mais informações, com o objetivo de encontrar seus amigos e tentar entender tudo que se passa.
    Caminhando dentro do bosque, Jordan ouve os passos de alguém se aproximando. De trás de uma grande figueira com as raízes cobertas de cogumelos, aparece um homem alto, vestindo uma bela roupa negra. O guerreiro sorri ao rapidamente  reconhecer um de seus companheiros: Denny Dragonovich.

Renan Lopes

OBS.: As fichas de alguns protagonistas podem ser adquiridas na TITAN's Home Page