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A Flecha de Austroch



- Parte Um de Três -

A flecha girava na mão de Juo das Brumas, nome de arqueiro de um homem que faz muito já esqueceu seu próprio nome. Era sua vida, aquilo. A flecha, o arco, o olho apertado. Constrastando com a chefia de sua ordem, A Excelsia Arqueria, ele tinha muita emoção ao atirar, lutar para enriquecer esses chefes. Não era homem, era arqueiro. A fogueira se apagara, hora de caçar...

Entortava o arco, com o braço tão tenso quanto a haste do mesmo. Um vento soprava, enquanto Juo testava o arco. Seu companheiro, mais calmo, estendeu-lhe uma garrafa esfumaçenta: "Toma, ' Das Brumas' ." o escuro parecia lhe falar. Outro amigo dedilhava uma melodia ao bandolim. Juo virou-se para ambos, com o vento balançando a capa e as flechas penduradas em uma espécie de capa-aljava. "É nossa vida agora, camaradas. Sim... matar, caçar o inimigo. Para não morrer sem deixar um rastro, nem que de sangue seja, nem que seja feito por flechas e pelo fio da espada. Nem que o rastro seja do nosso sangue. É nossa vida. Vivamos, agora.". Segurou a flecha forte, fazendo as veias de guerreiro saltarem e o punho, também sofrido, tremer.

Era uma colina o cenário. Lá passava a caravana, como que por destino já assassinada. "Assassinos é o que somos, lobos com flechas, matando a própria matilha" pensava Juo. O objetivo para encher os bolsos da Ordem Excelsia agora era matar um rico comerciante que estaria nessa caravana. "Brumas... Joga tuas fumaças e acabemos logo com isso." disse um dos arqueiros, que tinha o nome de Ortheo Tormenta. Brumas apenas balançou a cabeça, dizendo que seria tudo como o planejado: à distância e lentamente. "Ei, Juo! Está acovardando?! Sempre fizemos assim, sempre quebramos as regras, camarada!" Tormenta mostrava o porquê do seu nome pelo temperamento. "Hoje será diferente..." Brumas também mostrava-se misterioso e sombrio como o fenômeno natural que lhe dava nome.

O segredo da Ordem, que se tornava mais poderosa a cada dia, era dar uma fé a habilidosos homens nômades, que antes lutavam apenas por sobrevivência. Esta fé era a Flecha de Austroch, diferente de todas as religiões. Era um artefato que seria dado ao melhor dos arqueiros da Ordem, por meios muito diferentes da nomeações convencionais. Era tudo mentira, a lenda de Austroch era apenas um mecanismo para atrair a atenção dos melhores e dar a eles mais vigor para lutar do que os outros. Só que, indevidamente, a Ordem de Arqueria baseou essa sua lenda em antigos escritos. E se, ela existir? "E se ela existir?!" pensou Juo.

A caravana do burguês vítima da Ordem passava, iluminando a base da colina e acendendo o espírito matador dos arqueiros. O bandolim parou de tocar e o arqueiro levantou. Duas ou três palavras de acordo e o ataque começou a ser executado. Juo ficou em pé, mirando quase que acrobaticamente em um ponto bem acidentado da colina. Ele a usaria para descer rapidamente quando o ataque passasse para abordagem direta, ou seja, depois que fosse lançada a primeira flecha: a dele.



A flecha certa fora escolhida. A caravana se aproximava e Juo aniquilaria o puxador das carroças. O alvo vinha pela estrada, em seu cavalo, a uma distância de onde poucos homens acertariam com um reles arco, ainda mais em um tiro para matar. Contra o vento, as probabilidades e os sentimentos daquele dia, Juo atirou. A flecha voou de seu arco, como se atirada por magia de sua mão, que usava gestos e artifícios da de um mago, quando soltava o fio. O projétil mágico da morte acertou seu alvo. Atingido, o puxador caiu, espalhando sua destruição pelo chão.

O grito da vítima mais parecia um chamado para Juo do que um agonizante pedido de ajuda. Este grito chama outro, que, por sua vez, chama as brumas mágicas do arqueiro, que chamam mais gritos: os dos passageiros da carruagem.

A fumaça se espalhava, confundindo e umedecendo os ares. Das Brumas e os outros dois iam na direção das carroças, vendo várias pessoas saindo delas, apavoradas. Mais flechas voaram, duas ou três de cada arco: eram mesmo mestres. Sentinelas das carroças saíam, alertados pela confusão. Nisso um dos arqueiros lançou mão do trunfo dos lobos: uma tocha.



Esse arqueiro gritou, clamando pela proteção de seus companheiros. Segundos depois, pouco podia se ver, com o fogo e o caos tomando conta. Juo achiu o comerciante a ser morto e este, sem chance, foi nocauteado. Muitos dos viajantes haviam fugido, e os lobos da Ordem só teriam chance se despistassem os sentinelas, que eram três para cada um deles. Juo, ao contrário de seus camaradas, percebeu isso e, num pensamento rápido, desengatou a carruagem do comerciante inconsciente e empurrou-a, instintivamente entre fogo e fumaça, para fora da estrada.

Das Brumas escondeu-se, quebrando todos os frascos de fumaça mágica que tinha. Ouviu os sons da batalha e a morte de seus companheiros. Por meio tempo ficou lá, esperando, até que a fumaça, o fogo e o caos baixaram: nenhuma alma viva, só ele e o burguês.



Se houvesse alguém a assistir aquele espetáculo e a saber dos atos do valoroso arqueiro, certamente seria alguém com a mente repleta de dúvidas. Por que Juo teria feito aquilo? Por que, sob a ordem cega de Austroch não morrera junto a seus amigos? Por que não matara o burguês quando tinha oportunidade, em mérito à Flecha de Austroch que jurava por seu sangue existir? A resposta está no passado do jovem.

Uma semana antes do ocorrido aqui relatado, na sede da Flecha em Naolan, Juo passeava pelos corredores enfeitados da Ordem. Ele sempre fora fiel à Ordem, e nunca escondeu seu gosto por lugares escuros e misteriosos. Então, adentrou-se nas partes mais escuras da Ordem, descendo escadas e dobrando corredores como um transeunte incauto. Escutou uma conversa que por nada neste mundo gostaria de ouvir. Uma conversam, maldita, que transformara ele e seus irmãos de Flecha em idiotas, os monges e sacerdotes sagrados de Austroch em burgueses mentiorsos, os treinamentos e as dedicações em perda de tempo e, a mais terrível conclusão, reduzia a Flecha de Austroch em bobagem retirada de manuscritos primitivos.

Para os ouvintes desta história, que ocorreu há anos e anos, isso pode significar pouco ou nada. Nada mais do que o desmascarar de uma ordem antiga, já extinta. Mas, para o desiludido guerreiro, esta descoberta significava muito. Os amigos da Ordem eram os seus únicos companheiros; largaria-os. Os sacerdites eram seus pais; odiaria-os. A Flecha de Austroch, sua única paixão; falsa mas, que faria com ela? A flecha era sua vida, que faria com ela? Sua única esperança de que o sofrimento valera. Deixara tudo para trás, ao pensar. Suas pernas estavam em descompasso com sua alma: ele caminhara muito sem perceber. Então, o acontecimento,, tanto no corpo quanto no espírito: as pernas pararam e o espírito chegou a uma conclusão, os dois se uniram. Percebeu então um grito: era Ortheo Tormenta, o escuro sobrevivera, falando às suas costas. À sua frente, viu um túnel escavado na colina: era o grande momento.

Misticamente unidos, corpo e alma viam e sentiam a mesma coisa. De um lado, seu passado chamava. De outro, o futuro. Podia voltar à sua paixão, falsa, ou abandoná-la. Nenhum dos dois caminhos escolheu: subiu a colina: subiu a colina, saindo da vista de Tormenta. Então, pela primeira vez, resolveu acreditar em si... acreditar que era a Flecha de Austroch. E foi, com a paixão com ele para sempre, que não escolheu o claro ou o escuro. Escolheu as brumas, as brumas de sua imaginação.


Jonathas Tarasconi Torres.