Site hosted by Angelfire.com: Build your free website today!


A Flecha de Austroch




- Parte Três de Três -

Dúvidas. Sempre dúvidas. O conflito na cabeça do jovem alto e cabelos presos, de olhar misterioso e furioso parecia uma guerra de verdade, vinda do passado para acabar com ele de uma vez. Ninguém soubera o que ele queria dizer, por que ele saberia agora? Brados heróicos, desses ele muito sabe, nasciam na sua cabeça, no meio daquela guerra. A velha flecha no centro, motivo de tudo, parecia tão próxima dele, mas o homem de manto ria às suas costas e o homem alto parecia o expulsar da vila sempre. Ao seu redor, seus amigos se matavam.

Fora do bosque, andava em um campo. Dava pra ver o mar que nunca vira, só lera. Poucas luzes se enxergavam. A capa feria as costas de Juo, a capa da Ordem, que servia de aljava e de armadura ao mesmo tempo: mágica da Flecha! Maravilhosa, brilhante, linda, poderosa: fardo pesado! Usa, protege-te, poder tem, felicidade vem: otário! Pela estrada agora vai, foge de tudo, por algo que não existe: espírito fraco!

Por uma pequena estrada andava. A guerra em sua mente parecia não terminar, as zombarias eram gerais, assim como a morte dos seus colegas: ovelhas inocentes que matavam-se mutuamente. Três alternativas tinha: acabar com as zombarias, juntar-se às ovelhas que lutavam ao pé da Flecha ou ir embora, com a Flecha nas mãos. Vingança e morte, fé e trabalho ou nada, simplesmente nada. Que escolheria? Viver no falso, trabalhar no triste verdadeiro ou morrer em glória e vingança?



Sua vida como fora. O trabalho, o sofrimento, os amigos e a fé. A fé, esta a única irreal de todas, mas criadora de todos os outros. Sendo criados pela falsa crença, eram falsos também, bastardos de uma alma sem destino. Desacreditava agora em tudo que sua fé provocara, menos aquilo que o atingira no coração: essas mazelas nunca apagam, só as prazerosas. Não optaria por ignorar o que diz a mente para apenas ignorar outra coisa: as mazelas que não podem ser ignoradas. Voltar? Viver como antes viveu, iniciado em uma perfeição inexistente, criança da vida que ele mesmo criou, inferior pela sua própria vontade? Não... nunca mais!

Parar outra vez... se vingar pela humilhação! Flechas sedentas de sangue... mostrar o que aprendi com a sua educação! Sangue viria... sorriso temporário se formaria. Corrente de ambição... para ele só raiva, sem planos, sem floreios, sem cuidados nem paixão. Assassino que passa a violência que lhe passaram, natureza na reação. Para que resistir? Fera o comanda quando não está são. Morto depois, ele se importa? Sim, tanta vida desperdiçada, uma alma que tantas conjecturas pode fazer não pode se desperdiçar assim, a seguir o que satisfaz a mente de ódio.



Então uma alternativa sobrou. Parecia-lhe correta, apesar de que a emoção e o senso a ser satisfeitos lhe dizerem ao contrário. Juo, nome que agora não mais parecia ser dele, visto tudo o que fez, tudo o que sonhou, parecia indeciso. "Será que mereço?" é a pergunta que por sua cabeça passa, quando vê o litoral. "Será que mereço viver como os outros? Mereço abandonar tudo isto que com zelo adotei? É isto que quero?" perguntava-se, sem respostas. Mas uma dúvida ainda mais incerta lhe passava pela cabeça, inconsciente de seus códigos de moral e conflitos, e deles também impune: "Como duvidara disto?" Ele sabia... sabia mas não queria pensar. Era Magia, a Magia de Austroch. O simples questionar lhe deu poder para possuir o poder da Flecha que por anos almejara, mas este questionar dependeu de sua dedicação. Juo das Brumas agora era a Flecha de Austroch encarnada, e estava livre para ir, pelo litoral que nunca navegara. Livre de si mesmo: livre da Flecha! Perguntado, não mais ele lembra. Se um dia teve um amor, esse amor era por ele mesmo, se protegera com a Ordem, por instinto matara, por filosofia agora desistia. Não foi pela Flecha, foi por ele. Mas, incapaz de se livrar do peso querido Dela, hoje insiste em se chamar de Austroch e dizer que a flecha é sua alma, livre dele mesmo.


Jonathas Tarasconi Torres.