Culturalmente, a sabedoria é identificada como um conhecimento superior a respeito de questões difíceis da existência e como uma capacidade superior de dar aconselhamentos. Ao tentar defini-la operacionalmente, Baltes e seus colaboradores definem como uma forma de desempenho intelectual altamente especializado e especificam as seguintes características: elevado conhecimento factual e de procedimentos, capacidade de considerar o contexto, capacidade de relativizar valores e circunstâncias e capacidade de levar em conta a incerteza (cinco critérios), em situações-problema envolvendo revisão, planejamento e manejo de vida.
A pesquisa empírica tem mostrado que a experiência acumulada, ao longo do curso de vida, é fator necessário, porém não suficiente, para explicar a emergência de conhecimento identificável como sábio. Os tipos de experiência vivificados no contexto social, a experiência profissional e fatores de personalidade, entre outros que estão sendo investigados na pesquisa internacional, são eventos possivelmente responsáveis pela emergência de comportamento sábio no curso de vida.
Este estudo envolveu a análise dos protocolos obtidos pelo discurso de 20 mulheres (N=20). As idades variaram entre 35 e 82 anos, em uma situação em que um problema foi simulado, envolvendo revisão de vida, visando à identificação de características compatíveis com os cinco critérios de desempenho sábio descritos por Staudinger, Smith e Baltes (1992).
O objetivo principal foi verificar a relação entre a idade e o desempenho intelectual especializado concernente a questões da existência e seus dilemas. A situação experimental comportou a administração de um cartão impresso, contendo a descrição de um dilema de vida a cada participante, sendo que a personagem tinha a idade aproximada dos sujeitos. Estes eram convidados a "pensar alto" sobre as maneiras de solucionar o dilema, que envolvia uma situação de revisão de vida. Ao mesmo tempo suas respostas eram gravadas em áudio. Os procedimentos e critérios de avaliação foram os descritos em um manual desenvolvido por Staudinger, Smith e Baltes (1994). Dois juízes treinados realizaram análise de conteúdo das verbalizações, identificaram as categorias emergentes e atribuíram-lhes pontuação em escala nominal de sete pontos. Além disso, avaliaram a extensão e o tempo dos desempenhos. Os dados também foram submetidos à análise estatística descritiva não paramétrica.
Resultaram as seguintes evidências:
Tradicionalmente, a velhice é considerada como tempo de perdas e decadência. Mesmo as ciências comportamentais basearam-se nessa concepção para a condução da maioria dos seus estudos sobre velhice e envelhecimento. A teoria de curso de vida, que se desenvolveu a partir dos anos 70, de orientação dialética representa uma mudança em relação a este ponto de vista. Esta teoria defende a idéia de que a velhice apresenta um equilíbrio entre ganhos e perdas e que estes podem ser compensados por diversos mecanismos. A sabedoria é apontada como ganho típico da velhice e vista como produto da influência da cultura e da educação. É um tipo de conhecimento especializado, indicador da possibilidade de continuidade do desenvolvimento intelectual na velhice.
1) Dentre os vinte sujeitos, dois apresentaram desempenho identificável como sábio.
2) Não foi observada correlação estatisticamente significante entre idade e desempenho sábio.
3) O grupo como um todo desempenhou-se melhor nos critérios relativos a conhecimento factual e de consideração de elementos do contexto.
4) Houve uma correlação positiva entre a extensão dos protocolos e a duração da fala com o desempenho intelectual.
5) Houve uma correlação positiva entre os desempenhos correspondentes à maioria dos critérios.
6) Os sujeitos que apresentaram melhores resultados atuaram mais na direção de oferecer ajuda e conselho.
7) Os principais temas emergentes no discurso do grupo foram: família e carreira; mudança de rumo da vida após o término da criação de filhos; insatisfação com as escolhas passadas; dependência x independência financeira; dedicação à família como fonte de satisfação pessoal; reflexões sobre a vida passada; diferentes possibilidades de realização pessoal; segurança no lar x insegurança no trabalho e enfrentamento de crises como uma possibilidade de aprendizagem e mudança.
Os resultados correspondem a literatura internacional, mas o tamanho da amostra e o fato de não ser aleatória desaconselham generalizações mais amplas. De modo geral, os resultados sugerem que o desempenho analisado é influenciado por eventos educacionais e pela experiência de vida.
LIVRO: SABEDORIA E REVISÃO DE VIDA: O DESEMPENHO DE UM GRUPO DE MULHERES EM DIFERENTES IDADES.
AUTORA: Drª Leonor Campos Mauad.
Editora da Universidade Estadual de Londrina., 1999.
Contatos: Fone:(27) 3296881 ou lcm.vix@zaz.com.br
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