O texto a seguir foi transcrito do livro
JOÃO RODRIGUES DA SILVA e SUA
DESCENDÊNCIA, 1o Volume, ano 1952/1953, Editora Gráfica
Guarany Ltda. Rio de Janeiro, de autoria de CARLOS G.
RHEINGANTZ e JORGE GODOFREDO FELIZARDO, com
Prefácio de PEDRO CALMON.
A transcrição do referido texto tem por
objetivo dar seqüência as informações colhidas até o ano de 1951,
aproximadamente, no que diz respeito ao ramo familiar de minha
hepta avó "JOSEFA RODRIGUES DA SILVA",
terceira filha do genearca João Rodrigues da Silva e Antonia dos
Santos Pereira.
O livro original possui mais de 400 páginas
de pura emoção, proporcionada pela fantasia de viajar no tempo
voltando ao século XVII, nos permitindo imaginar como viviam e
quem foram nossos antepassados; qual a importância deles na
história e o quanto contribuiram para que aqui chegassemos.
Agradeço ao Dr. Pedro Alcântara Sacramento
que, além de emprestar, foi o responsável pela restauração e
guarda do que possivelmente seja o único exemplar original
existente, demonstrando claramente seu interesse pela história de
nossa família.
AO LEITOR
Na história a beleza e a verdade devem andar
sempre irmanadas, para que ela atraia e deleite o espírito do
leitor e ao mesmo tempo lhe de tão extatamente quanto possível,
uma noção real dos acontecimentos.
O desejo de realizar obra completa e sem
falhas, é inato no historiador consciencioso e honesto.
Intencionalmente ele procura fugir as formas excessivamente
literárias, para que sua imaginação não o conduza à descrição
fantasiosa dos fatos que incita o leitor, mas empana a verdade.
Os estudos de genealogia, em nosso meio,
ainda não permitema apresentação de um desdobramento completo das
gerações, em mais de dois séculos, sem falha alguma. Os arquivos
de que podemos dispor são incipientes, escassos e incompletos. Por
muitos anos todos os trabalhos históricos dessa naturesa, serão
falhos embora representem uma grande soma de esforços, para
superar os precalços de toda ordem.
O presente trabalho genealógico é uma
tentativa de seus autores, para a descrição completa da
descendência de um casal povoador da América Meridional, que no
desdobramento de suas gerações, durante duzentos e cincoenta anos,
espalhou-se pelas terras daquém e dalém mar.
As pesquisas iniciais para este trabalho
foram feitas nos arquivos do Rio Grande do Sul e por isso houve a
intenção de incluí-lo na genealogia riograndense.
Buscas posteriores feitas nos arquivos da
Curia Metropolitana do Rio de Janeiro, pelo primeiro de seus
autores, trouxeram à luz, valiosissima contribuição para a
história do povoamento da Colônia do Sacramento, a mais meridional
das possessões portuguezas na América, instalada no último quartel
do venturoso século XVII.
O resultado da descoberta desses preciosos
assentamento eclesiásticos, acha-se enfeixado na Revista do
Instituto Histórico e Geográfico do Rio Grande do Sul, de 1951,
sob o título: "Os últimos Povoadores da Colonia do Sacramento",
compreendendo dois períodos, o primeiro de 1690 a 1705 e o outro
de 1735 a 1777, quando, de Portugal, para alí se transferiu, o
povoador João Rodrigues da Silva.
Há assim um hiato de trinta anos,
compreendido entre os dois períodos, sem informações precisas
sobre o povoamento da Praça do Santíssimo Sacramento da Colônia,
que até o presente não se conhece convenientemente, embora a
história genealógica do início do povoamento do Rio Grande do Sul,
na primeira metade do século XVIII, nos revele alguns dos nomes de
povoadores colonistas, daquele difícil período de estabilidade da
possessão portuguesa, no sul do Brasil Colonial.
Muitos daqueles povoadores se tornaram
troncos seculares da familia riograndense, mas no momento não há
possibilidade de se proceder sua ligação genealógica, com as
linhagens portuguesas que lhes deram origens.
Possivelmente a presente genealogia será
publicada em três volumes, que representarão um trabalho
incessante de mais de dez anos em parceria, além do muito já
obtido antes de 1940, pelos autores, nos estudos pacientes do
Povoamento do sul do Brasil.
Dos filhos nascidos do casal de
João Rodrigues da Silva e sua mulher
Antonia dos Santos Pereira somente
seis, cinco filhas e um filho, deixaram, ao que se sabe,
descendentes. A geração das duas primeiras filhas Maria e Josefa,
será objeto deste primeiro volume que ora sai publicado.
O segundo volume tratará da descendência de
duas outras filhas, Francisca e Marcelina, sendo que desta última
procede a familia Vieira da Cunha, de tanta projeção no cenário
político do Rio Grande.
A história genealógica da familia do povoador
João Rodrigues da Silva que ora entregamos ao público interessado
em assuntos dessa natureza, exigiu, além de prolongadas pesquisas,
nas mais diversas fontes, o desenvolvimento intenso de uma grande
correspondência de consultas aos arquivos estrangeiros e aos
descendentes do vetusto tronco colonista.
Dos primeiros o resultado foi relativamente
satisfatório, mas as consultas particulares, por vezes penosas e
repetidas, ficaram muito aquém do que se pode imaginar, em
interesse humano. Essa a razão das falhas que o leitor por certo
encontrará nesta genealogia e por isso seus autores a consideram
uma tentativa, para a realização de uma obra, que a coloque à
altura da nossa cultura e da nossa civilização.
Ao leitor cabe agora a apreciação e
julgamento do esforço expendido neste trabalho e esperamos que
toda a crítica a nos feita, tenha um cunho construtivo e vise os
interesses superiores da história genealógica da familia
brasileira
Rio de Janeiro, 1952/1953
Carlos G. Rheingantz
Jorge Godofredo Felizardo
1 - JOÃO RODRIGUES DA SILVA, tronco deste
estudo genealógico, era natural de Portugal. Nasceu no lugar de
Carvalhais, da freguezia de Santa Eufêmia de Penéia, bispado de
Coimbra, e alí foi batizado juntamente com seu irmão gêmeo MANOEL
aos 21 dias do mês de outubro do ano de Graça de 1696. Foram seus
pais, Manoel Fernandes, que também se assinava Manoel Fernandes
Jião, e dona Isabel Francisca, ambos naturais do lugar de
Carvalhais e casados na igreja da freguezia de Santa Eufêmia de
Penéia a 5 de outubro de 1692.
Devemos estes preciosos dados à gentileza do
historiador português, doutor Alfredo Vieira de Moura Matoso,
residente em Figueira da Fós, que teve a atenciosa lembrança de
copiar os seguintes assentos dos livros daquela paróquia,
recolhidos à Conservatoria de Registro Civil de Coimbra, (Arquivo
e Museu de Arte da Universidade de Coimbra):
"Freguezia de Santa Eufêmia de Penéia,
bispado de Coimbra, Livro de registro de Matrimônios. Em os cinco
dias de outubro da era acima, (1692) recebi em face da Igreja na
forma do Sagrado Concílio Tridentino, a
MANUEL FERNANDES e a ISABEL FRANCISCA, do lugar de
Carvalhais. Foram testemunhas Antonio Roiz Alonso, do Espinhal, e
Manuel Mendes Negrão, do Viavai, desta freguezia, e por passar, na
verdade fiz este assento, que assinei era ut supra (ass) Frei João
Fialho."
"Freguezia de Santa Eufêmia de Penéia,
bispado de Coimbra. Livro de Registros de batismos. Em os vinte e
um de outubro de 1696 batizei a MANUEL,
filho de Manuel Fernandes e de Isabel Francisca, dos Carvalhais.
Foram padrinhos João Roiz, solteiro, do dito lugar, e Antônia
Zuzarte, mulher de Manoel João, da Torre, e para lembrança fiz
este assento que assino, dia mês e ano ut supra. (ass) Fialho".
"Em o mesmo dia batizei a
JOÃO, filho do dito Manuel Fernandes
e Isabel Francisca, por serem gêmeos. Padrinhos Domingos Carvalho
e Isabel João, da Freixiósa, e por lembrança fiz este assento, que
assinei ut supra. (ass) Fialho".
Cremos que João Rodrigues da Silva veio para
o Brasil como soldado do Destacamento de Pernambuco, passando dalí
para o Rio de Janeiro e para a Colonia do Sacramento, porém disto
não há certeza, a não ser por vagas referências encontradas no
livro "A Colônia do Sacramento" do Coronel Jonatas da Costa Rêgo
Monteiro.
Ja estava radicado na Colônia do Sacramento no ano de 1737, em
que, contando 40 anos de idade, casou-se com Antonia dos Santos
Pereirade 19 anos.
Era sua esposa Antonia
dos Santos Pereira, natural da cidade de Lisbôa, aonde foi
batizada na freguezia de Nossa Senhora da Pena a 13 de novembro de
1718. Filha legítima de Sebastião Pereira e de Páscoa Maria.
Cremos que Antonia tenha nascido a 01 de novembro, dia de Todos os
Santos, e sido batizada com 12 dias de idade, é o que nos faz
supor a composição de seu nome, ANTONIA "DOS
SANTOS" PEREIRA. Seu pai, SEBASTIÃO PEREIRA, natural da
freguezia de São João de Lamares, comarca de Vila Real, no Minho,
e filho legítimo de Manoel Fernandes e de Domingas Gonçalves,
casou-se na freguezia de N.S. da Penha de Lisbôa a 09 de aneiro de
1716, com PÁSCOA MARIA, nascida na freguezia de São Miguel do
Milharado, do Patriarcado de Lisbôa, e filha legítima de JOÃO
ESTEVES e de MARIA LOURENÇA.
Resta-nos dizer que viveram na Colônia do
Sacramento, casados, quarenta anos (1737-1777), tendo sido
deportados para Buenos Aires em junho de 1777, quando da última
destruição e tomada da Praça pelos Castelhanos. No ano de 1778,
viviam ambos em Buenos Aires, porém em 1779 já estavam radicados
no Desterro (hoje Florianópolis), em Santa Catarina onde supomos
terem falecido. ANTONIA DOS SANTOS PEREIRA,
faleceu realmente em Florianópolis (antigo Desterro) como
supunhamos. Devemos a gentileza do genealogista catarinense Sr.
Walter Fernando Piazza, cópia do seguinte assento, comunicado-nos
pelo Almirante L.A. Boiteux.
"Aos dez dias do mês de fevereiro de mil
oitocentos e dois, nesta Villa do Destêrro de Santa Catarina,
faleceu a cinco (sic) de repente ANTONIA DOS
SANTOS, viúva de João Rodrigues da
Silva, natural de Lisbôa, filha de Sebastião Pereira e de
Páscoa Maria/ignorão o mais/ foi seu testamenteiro Manoel da Costa
Fraga; foi encomendada, e sepultada na Capella da Ordem, do que
para constar fis este termo. O Coadjutor Joaquim de Santa Anna
Campos". A Capela acima referida é a da Veneravel Ordem Terceira
de São Francisco da Penitência. Tendo dona Antonia nascido em
Lisbôa em novembro de 1718, faleceu portanto com 84 anos
incompletos.
Deste matrimônio nasceram pelo menos 10 (dez)
filhos:
1.1 - Maria Rodrigues da Silva
1.2 - Manoel Rodrigues da Silva
1.3 -
JOSEFA RODRIGUES DA SILVA (minha hepta avó)
1.4 - Francisca Rodrigues da Silva
1.5 - Marcelina Rodrigues da Silva
1.6 - Feliciana Rodrigues da Silva
1.7 - Bartolomeu Rodrigues da Silva
1.8 - José Rodrigues da Silva
1.9 - Teresa Rodrigues da Silva
1.10 - Miguel Rodrigues da Silva
Nota: A descendência dos demais ramos que
vão aparecer daqui para a frente e, cujas informações também foram
coletadas na mesma época, encontram-se no livro acima citado.