A humilhação aparece em C.V, associado à mulher, que é poeticamente descrita como fria, distante, " esplêndida ", " frigida ", sendo portanto, uma humilhação social.

Nota-se também, a presença de uma humilhação social, por vezes, associada à anterior e a uma outra humilhação estética e a da humilhação social em que o poeta parte da sua problemática psicológica particular para uma representação poeticamente elaborada daquilo que o rodeia.

No espaço criado pelo binómio cidade/campo, C.V é considerado essencialmente um poeta de campo – " ele era um camponês que andava preso em liberdade pela cidade ".

A representação da cidade uma imagem cada vez mais pessimista. Pelo contrário, o campo é o espaço de superação dos limites, das humilhações sentimentais, e até certo ponto humilhações sociais.

C.V é considerado um "lírico realista" poeta do quotidiano, Um citadino e burguês. Torna-se realista pois tem uma visão critica de sociedade. Aproxima-se do naturalismo pela pretensão, objectividade e pela fidelidade à "estética do positivismo e do sincero"; utilizando um vocabulário cheio de termos concretos, alguns técnicos e científicos outros da linguagem familiar.

Utiliza abundamente a adjectivação.

Demonstra a 1ª visão impressionista da realidade; baseia-se na sensação.

Por um lado na sua poesia tudo é exacto, sólido, fixo, estável nítido e preciso por outro lado é vago e indefinível ( impressionismo ).

Esta contradição entre o impressionismo e o "desenho do compasso e esquadro" explica-se pois, por um lado estava influenciado pelo materialismo concreto, que em arte daria o naturalismo, por outro lado, a sua sensibilidade pressentia já todo o anti-naturalismo de que o impressionismo é expoente.

Para os parnasianistas a perfeição artística é um fim a atingir, pelo que a linguagem deve primar, pela nitidez pela musicalidade e pela visão plastina.

Cesário é um poeta do quotidiano. A realidade que observa, comove-o impressiona-o Como tal, C.V transfigura, de forma a realidade para que a sua imagem não seja tão crua. Esta constante "fuga" entre a realidade e o sonho, torna-o um poeta deambulante, um transente que passeia na rua e observa com atenção, mas descreve-a de um modo subtil, os modos que lhe mais agrada.

Temáticas:

• poesia do quotidiano
• poesia impressionista
• poesia realista
• oposição campo/cidade
• critica social
• poeta anti-romântico
• poeta da modernidade

• composições poéticas longas
• estrofe preferida é a quadra
• tom prosaico
• novos versos do adjectivo ( sinestesia; hipálage )
• expressividade do verbo
• metáforas inesperadas

As ruas de Lisboa estão infectadas de melancolia : o desejo de sofrer despertado no poeta é "absurdo" porque lhe é imposto racionalmente, por contágio da própria cidade.

A cor que escurece os prédios e as chaminés e que transforma as pessoas numa escura multidão, é caracterizado como monótona e londrina.

A cor " Londrina " de Lisboa relaciona assim, sugestivamente, " as nossas ruas " à cidade monstruosa que se tinha tornado, num símbolo de desespero, de miséria, de opressão da sociedade industrial.

O percurso discursivo do narrador conduziu-o através de uma cidade opressiva pululante, e apodrentada, de um modo crepuscular ( ideia pessimista ) contrário ao da grandeza épica do passado.

Com o acender do gás nas ruas, o desejo absurdo de sofrer despertado pelo anoitecer acentua-se numa melancolia tão profunda que o narrador chega a suspeitar de que padece de uma doença mortal.

Em "Contrariedades", o poeta começa por revelar o seu estado emocional. Este desabafo do poeta faz-nos prever que a realidade que nos vai ser oferecida será condicionada por factores físicos e psicológicos, agitação, ansiedade, dor de cabeça, impaciência.

Depois desta aviso prévio não é de estranhar que aquilo que atrai a atenção do poeta seja uma sociedade corrupta, injusta e decadente, metaforicamente representada tanto pela redacção do jornal que rejeitou a publicação dos poemas como pela vizinha tísica.

O tema é, portanto, a critica de uma sociedade alienada e desumana através da denúncia de atitudes que muito ferem a sensibilidade do "eu".

Neste poema há duas situações paralelas:

O poeta:

• trabalha encurvado sobre a secretária
• fuma 3 maços de cigarros consecutivamente
• a dor de cabeça, resultante dos cigarros e contrariedades
• abafa « desesperos modos »
• vê recusada a publicação dos seus versos

A engomadeira:

• trabalha curvada sobre a tábua de engomar
• engoma incessamente
• a asfixia resultante da doença e da combustão

do ferro de engomar

• o médico « deixou-a ». Morreram-lhe os parentes. « Mal ganha para sopa »

Estrutura interna :

1. Nas duas primeiras estrofes, o sujeito apresenta-se-nos « cruel, frenético, exigente », com dores de cabeça e contrariado.
2. Nas terceiras e quartas estrofes somos já confrontados com uma das causas do seu sofrimento – a miserável situação de uma engomadeira tuberculosa
3. Nas oito estrofes seguintes, deparamos também com uma violenta crítica à imprensa porque um jornal havia recusado publicar os seus versos.
4. 13º e 14º estrofes o poeta foca de novo a miserável condição da engomadeira
5. 15º e 16º estrofes, o poeta parece conformar-se com a sua situação e chega., por momentos, não sem alguma ironia, a deixar-se embalar por um sonho de sucesso
6. Finalmente, na ultima estrofe, assistimos a um paralelo entre a situação do sujeito e a da engomadeira, verificando-se que esta é muito pior

• a adjectivação expressiva é visual sobretudo na parte inicial do texto
• a ironia, sobretudo dirigida à sociedade, que esquece os que mais precisam, e á imprensa que promove medíocres e recusa a originalidade.
• Exclamações é muito utilizada para traduzir emoções ou mesmo uma posição crítica face à realidade.
• A interrogação que muitas vezes, reforça a intenção irónica

O diminutivo final tem um duplo valor por um lado exprime carinho e a solidariedade do sujeito em relação a ela, por outro faz recair na sociedade.