O MERGULHO AO LONGO DOS TEMPOS
Assim não é de estranhar que ligasse estas suas aspirações e cultos religiosos e as figuras dos primeiros mergulhadores, como as dos homens-pássaros, confundem-se com as dos Deuses primitivos e outros personagens secundários que recheiam as lendas dos povos primitivos e, mais tarde, a própria Mitologia.
Encontramos essas figuras lendárias não só na Europa como também na cultura nipónica e na dos povos primitivos da América.
Ovídeo, Aristóteles, Heródoto Pausânias e muitos outros filósofos dedicaram alguns dos seus pensamentos ao mergulho do Homem, quer sob o aspecto de recolha de lendas, quer já no sentido, melhor ou pior aprofundado, do estudo da física e da filosofia do mergulho.
Poderíamos escrever muitas paginas reproduzindo as lendas de Ciana, a primeira mergulhadora de que rezam os relatos do passado e que com seu pai fez perder uma esquadra inimiga cortando as suas amarras, ou os relatos dos mergulhadores de Alexandre, o Grande, dentro de uma caixa de cristal.
A História fala-nos também dos ataques dos mergulhadores de Bisâncio à esquadra de Septímio Severo, dos "mourgons" da marinha francesa, criados por Luís XVIII, dos mergulhadores do Grão-Vizir Mustafá que lutaram contra os turcos e de muitos outros.
Mas é sobretudo a parte científica da História do mergulho que mais nos interessa no sentido de estudarmos a evolução do material actual.
Esta faz-nos voltar para nomes como o de Francis Bacon, grande físico inglês, o de Halley, mais conhecido como astrónomo e pelo seu cometa, o de Papin e de tantos outros.
O sino de mergulho, já conhecido na antiguidade e que poderia ter sido o aparelho em que Alexandre mergulhou, não evoluiu até ao século XVIII, havendo notícias da sua utilização em trabalhos de certa envergadura como, por exemplo, a exploração dum navio da Invencível Armada, em 1655, na ilha de Mull.
Halley, debruçou-se sobre o funcionamento do sino de mergulho, resolveu o problema da renovação do ar que até aí se limitava ao que o sino retinha dentro de si ao ser submerso.
Os franceses acusam o inglês Smeaton de se Ter servido das ideias de Dennis Papin para construir um modelo de sino de mergulho alimentado da superfície mas casos destes iremos encontrá-los ao longo da Historia.
Por volta de 1820 o inglês John Dean inventa o capacete de mergulhador e o seu compatriota Augustus Siebe, dando origem a uma empresa construtora de material de mergulho que ainda hoje se mantém - a Siebe & Gorman, Ltd- criou o primeiro escafandro não autónomo, hoje mais conhecido por "pé de chumbo", baseando-se ao fim e ao cabo no aligeiramento do sino de mergulho.
Em 1865 o engenheiro Rouqueyrol e o oficial da marinha francesa Denayrouze criam o primeiro escafandro autónomo que, tudo leva a crer, serviu de modelo a Júlio Verne para equipar os homens do capitão Nemo nas " Vinte mil léguas submarinas".
Em plena Segunda Guerra Mundial um outro famoso, da mesma nacionalidade, o engenheiro Emil Gagnan, o da Ar Líquido, e o comandante J. Cousteau, da marinha francesa viria a criar e a aperfeiçoar o seu " detenteur" que ainda hoje é usado.
Mais tarde, os japoneses viriam a reclamar a primazia de tal invenção , que teriam realizado nos anos trinta mas mantido em segredo por razões militares. Tal afirmação não será estranhar dado que sempre tiveram um grande adianto tecnológico. Já em 1918 tinham patenteado em Londres o seu " Ohgushis Peerless Respirator ".
De qualquer forma se isso sucedeu repetiu-se apenas o que tantas vezes já tem acontecido em termos de inventos. Duas invenções, surgindo quase ao mesmo tempo, não têm a mesma divulgação e só uma delas torna conhecidas e dá lucro aos seus inventores.
Entre Rouqueyrol Denayrouze e Cousteau Gagnan surgiram outros nomes que se salientam na história do mergulho.
Paul Bert, pai da fisiologia do mergulho, equaciona por volta de 1870 os principais problemas deste ramo da ciência e, em particular, os da descompressão.
Louis Boutan cria um aparelho de circuito fechado e é considerado o primeiro fotografo submarino.
Robert Davis cria em 1911, a partir de uma ideia de Sandala de 1842 e da realização de Flen de 1878, o seu célebre escafandro de circuito fechado. Trabalhando com oxigénio puro ainda hoje, sem grandes variações, é utilizado pelas marinhas de todo o mundo.
Durante a Segunda Guerra Mundial, foi construído pela Siebe na Inglaterra, pela Draeger na Alemanha e pela Pirelli na Itália.
O comandante Le Prieur criou em 1926 o primeiro escafandro autónomo de ar comprimido que permitia estadias relativamente longas debaixo de água.
Em 1929 o comandante Courlieu patenteava a invenção das barbatanas e o americano Guy Gilpatrick, que tanto influenciou Hans Hass e Jacques Cousteau, adaptou para o mergulho velhos óculos da aviação.
Ao seu amigo , o russo Karamarenko é atribuída a invenção da mascara de borracha com vidro plano.
Um escafandro de ara comprimido, bastante evoluído, foi inventado pelo jovem George Commeinhes e adoptado pela marinha francesa em 1937. Commeinhes morreu na guerra, em 1944, enquanto Cousteau e Gagnan iam aperfeiçoar a sua invenção.
Após a II Guerra Mundial começaram a surgir novas tecnologias, muitas delas derivadas do esforço de guerra.
Em 1948 Bollard atinge os 164 metros utilizando misturas de hélio e oxigénio, depois duma série de ensaios realizados na Suécia a partir de 1943.
O matemático suíço Hans Keller estuda as misturas gasosas e pretende atingir os 300 metros.
Na fatídica experiência, na ilha de Catalina, em 3 de Dezembro de 1963, é atingida aquela cota mas Peter Small, seu parceiro de experiências, morre ao fazer a descompressão e o seu amigo Chistopher Whittraker, ao Ter conhecimento do que se estava a passar, tenta atingir a câmara de descompressão situada a sessenta metros de profundidade e desaparece no mar.
Hans Keller mantinha secretas as suas misturas o que não impediu que na mesma altura o Dr. Pierre Cabarrou tivesse atingido com a sua equipa os 250 metros, por seis vezes consecutivas, sem problemas.
Pela mesma altura começava a falar-se do "mergulho de saturação" e a prepararem-se as condições para que, pouco tempo depois, surgissem as experiências Precontinent de Cousteau, e as Sea Lab, americanas, que permitiriam ao homens viver em casa submarinas, sob pressão.
A Comex leva a cabo um programa de mergulhos profundos com um aparato digno dos programas especiais da NASA que resultou em pleno mas que a ia levando à falência.
Praticamente a partir daqui já não é História. È o quotidiano dos artigos das revistas da especialidade, dos jornais, das agencias noticiosas e das redes de televisão.
Aos poucos vamos tomando conhecimento das novidades, especialmente numa época em que a hegemonia do estudo dos problemas relacionados com o mergulho deixou de pertencer às marinhas de guerra e entrou no âmbito da investigação universitária e industrial.
No entanto estamos convencidos de que muitos conhecimentos repousa ainda nos laboratórios das marinhas das maiores potências mundiais e que um dia quando já não tiverem interesse militar, serão divulgadas, contribuindo para a prática do mergulho desportivo e para o enriquecimento da história do mergulho.
Proxima atualização História em Portugal