Um Martins Borges envolvido na Inconfidência Mineira?
É o que deflui dos chamados Autos da Devassa e da
Sentença que condenou os inconfidentes, em número de 24 pessoas. Segundo o
processo, além dos ideólogos e ativistas da conspiração contra a Coroa Portuguesa,
os outros participantes foram considerados interessados diretos nos benefícios
econômicos e fiscais, que a separação de Portugal acarretaria. Dessa forma, o
nosso Borges, cujo nome todo era José Martins Borges, foi incluído entre esses
interessados diretos. A sentença, datada de 18/04/1792, considerou-o culpado,
sendo-lhe aplicadas as penas de açoite pelas ruas públicas e a de dez anos de
galés, como também a de efetuar o pagamento das custas processuais que lhe
couberam.
Segundo a crônica de Matozinhos,
na época, distrito de São João del Rei, em
22/01/1791, Manoel da Costa Capanema, cidadão daquela localidade, também
acusado de ser participante da conspiração, foi conduzido para o Rio de
Janeiro, juntamente com José Martins Borges e o Alfaiate Vitoriano
Veloso, morador no Bichinho, próximo à Cidade de Tiradentes.
O
Termo da Vila de São João del Rei, à época, limitava-se ao norte, com a área de
Tamanduá, que tinha como um de seus distritos, o de São Francisco de Paula, que
juntamente com outras localidades vizinhas, formavam o berço dos Borges e dos
Martins.
José Martins Borges embarcou para Lisboa, na fragata
Golfinho, no dia 22 ou 24 junho de 1792.
Não
se tem notícia sobre os locais exatos, em que foram aplicados os açoites em
nosso Borges; e nem tão pouco onde lhe foi aplicada a pena das galés. Sabe-se
apenas, que o seu destino era a África.
Há notícias sobre o processo, que
se resumem da seguinte forma:
15/03/1789
- Joaquim Silvério dos Reis apresenta sua carta delação ao Visconde de Barbacena.
04/07/1789 - É encontrado morto em
sua cela, na casa dos Contos, em Vila Rica, o advogado Cláudio Manuel da Costa.
21/04/1792
- É enforcado no Rio de Janeiro Joaquim José da Silva Xavier.
05/05/1792
- São enviados presos para a África os seguintes réus civis da Inconfidência
Mineira: Tomás Antônio Gonzaga, Vicente Viera da Mota, José Aires Gomes, João
da Costa Rodrigues, Antônio Oliveira Lopes, Vitorino Gonçalves Veloso, Salvador
Carvalho do Amaral Gurgel.
22/05/1792
- São enviados presos para a África os seguintes réus civis da Inconfidência
Mineira: José Martins Borges, José de Resende Costa, pai, José de
Resende Costa, filho, Domingos Vidal de Barbosa, João Dias da Mota.
24/06/1792
- Os réus eclesiásticos seguem presos para Lisboa.
24/06/1792
- São enviados presos para a África os seguintes réus civis da Inconfidência
Mineira: Inácio José de Alvarenga Peixoto, Luis Vaz de Toledo Piza, José
Álvares Maciel, Francisco Antônio de Oliveira Lopes.
Não se têm notícias sobre
José Martins Borges, após a sua ida para o exílio. Não se sabe se cumpriu toda
a pena, se morreu por lá ou se retornou ao Brasil.
Para finalizar, é de
ressaltar-se que por galés, denominava-se a
pena dos que eram condenados a remar nas galés. A galé era uma embarcação de
baixo bordo, de vela e remos usados na Idade Média e ainda no século XVI.
Portanto, à época da condenação de José Martins Borges, essa pena, de longa
data, já era cumprida, mediante trabalhos públicos forçados; e que eram
executados por presos acorrentados nos pés.