Qabalah

Introdução

 

A gnose dos hebreus sempre foi objeto de curiosidade, ultrapassando a filosofia, no que concerne às suas revelações secretas. O objetivo aqui, é dar um esboço de tal doutrina, visto ser complicado até mesmo para os adeptos explicá-la detalhadamente. Essa dificuldade se deve muito em função dos textos, em hebraico e aramaico, extremamente complexos escapando muitas vezes a compreensão. Bom , que é a Qabalah? Literalmente o termo significa "tradição". Historicamente, é outra coisa.Diz-se que Moisés "recebeu a Tora do Monte Sinai" nas "Pirquê Abat". Trata-se da Lei oral que foi transmitida a um grupo de homens: de Moisés a Josué, de Josué aos profetas e dos profetas aos velhos sábios. Na realidade, essa doutrina mísitca, centrada no contato com Deus, é apenas a transmissão de todo um mundo de conhecimentos profundos a poucas pessoas de alto valor. Outra distinção é seu caráter masculino, ou seja, a presença feminina é excluida do meio qabalistico. Já no Templo de Jerusalém somente os homens, os "coanim", presididos pelo sumo sacerdote, o "coen gadol", se dedicavam as práticas religiosas. É verdade que os hebreus tem profetisas: Débora, Hilda e algumas filhas de místicos modernos, como Haiia, profundas conhecedoras do Zóar. Nos rituais da Qabalah, só o sumo sacerdote tem o direito de pronunciar o nome de Deus. Existem vários nomes de Deus dentro da Qabalah, e todos eles são extremamente sagrados sendo que alguns jamais são pronunciados. Para se chegar a Qabalah dos dias de hoje, ouve uma série de transformações e mudanças, podendo ser distinguidas através dos vários tipos de Qabalah existentes. A Qabalah prática e a Qabalah especulativa são duas delas, que veremos mais a frente.

O "Séfer Ietsira"

Essa obra fundamental em seis curtos capítulos foi escrita em hebraico, num estilo muito conciso e obscuro, na Palestina ou Síria, entre os séculos III e IV. Sofreu influência da gnose pagã e cristã. É a primeira obra que revela, sob o aspecto místico, uma concepção filosófica dos elementos construtivos do mundo, sem considerar o elemento étnico-religioso. Seu autor é desconhecido. A criação ou formação do mundo está subordinada aos 10 números elementares, primeiros, chamados Sefirot, e as 22 letras do alfabeto hebraico que representam forças inatingíveis, submetidas a combinações que variam através de toda a criação. As Sefirot não são etapas:"seu fim está no começo e seu começo está no fim". Através delas é que Deus criou tudo. Em resumo, as 10 Sefirot e as 22 letras constituem as 32 sendas místicas da sabedoria com as quais Deus criou o mundo. As 22 letras estão agrupadas assim: 3 letras mães - alef, mem, chin; 7 signos duplos e 12 signos simples.As 3 mães correspondem aos 3 elementos superiores caracterizados pelos sons: o ar, elemento central de onde jorra para o alto o fogo, elemento do mundo celeste e para baixo o elemento do mundo material. Os 7 signos duplos correspondem aos 7 planetas, e os 12 signos simples aos 12 signos do Zodíaco. Essa divisão cosmológica aplica-se ao tempo, ao ano, ao espaço, isto é, ao macrocosmo(olam) e ao organismo humano, o microcosmo(nefeque). Como já dito, o Séfer Ietsira tem um alcance filosófico, mas também se presta à magia e à teurgia, cujo papel está bem determinado na mísitca da "Mercabá". Dá mesmo a entender que nas combinações das letras - empregadas no Talmud e mais amplamente nos símbolos ulteriores da Qabalah - se acha a constituição do mundo. Essa combinação das letras aplicada aos elementos, concebida sob um outro aspecto, desempenha papel importante na doutrina.

A Qabalah prática, a profética e a especulativa

A época dos gaonim na Babilônia, que sucedeu ao Talmud, tende ao mesmo tempo para o pietismo contemplativo através do ascetismo, do jejum, da abstinência, das mortificações, para a ascenção ao espaço celestial. Esse estado místico de aspecto quase decadente, vai desabrochar na Alemanha sob o aspecto de magia prática. Os judeus estavam estabelecidos na Alemanha há séculos, particularmente às margens do Reno e na Francônia. Esse impulso deve-se sem dúvida, as perseguições feitas e marcas deixadas pelas Cruzadas no espírito dos hebreus. Nos escritos de Eleazar de Worms encontram-se tratados relativos ao poder mágico e a eficácia dos nomes misteriosos de Deus. Ai se encontram as masi antigas receitas para se criar o "golem", mediante uma mistura de letras e práticas mágicas. A criação do golem era considerada uma experiência sublime, e só muito mais tarde é que toda uma lenda foi criada sobre o tal homunculus. Os qabalistas espanhóis seguriam outro caminho, bem mais filosófico (a Qabalah especulativa), em oposição à Qabalah prática , que caracterizava precedentemente a Escola Alemã.Nesse tempo, aparece uma figura muito importante: Abraão ben Samuel Abulafia, nascido em Saragoça, em 1240, com influências de Maimônides e da Escola Alemã. Esse místico visionário, que se baseia na revelação divina, vê na filosofia e na Qabalah etapas preparatórias da Qabalah profética. Essa profecia só se pode realizar através do estudo dos nomes de Deus. Abulafia recomendava o desapego, pelo exercício, de todos os objetos naturais para se viver na pura comteplação do nome Divino. O espírito, assim preparado, tranformaria-se gradualmente, podendo passar então à etapa da visão profética, onde os mistérios inefáveis do Nome divino e toda a glória de seu reino lhe seriam revelados. A tendência da Qabalah especulativa, de alto alcance filosófico, marca no pensamento judaico uma etapa considerável - coisa que não acontece com a outra tendência, que se limita a ação e a magia. Na alta antiguidade, José e Moisés distinguiram-se por certas práticas que tocam as raias da magia, porém são praticas subordinadas à ação divina, tendo sido realizadas em função de salvar o povo de Israel da fome, da escravidão e da miséria.

O Zóar

Quase toda a doutrina da Qabalah se encontra no Zóar, onde os místicos judeus vêem a obra canônica por excelência. No Zóar as meditações, que se prendem em alegorias místicas, as vezes confusas, tem uma profundidade oculta e encerram idéias penetrantes, sendo dotados de significações surpreendentes. Tais escrituras foram impressas pela primeira vez em 1558, em Cremona, e quase ao mesmo tempo em Mântua. Numerosas edições apareceram em Berlim, Amsterdã, Constantinopla e Varsóvia. Sua autoria é motivo de grandes discussões e controvérsia. A doutrian do Zóar não se apresenta de maneira uniforme, as vezes sendo um emaranhado de pensamentos representados por uma multiplicidade de símbolos dificeis de aprender. A doutrina apresenta um interesse particular para o conhecimento de Deus oculto, En-Sof (O Infinito), ans suas relações com o universo e o homem por intermédio das Sefirot. Do ´ponto de vista metafísico, a doutrina abraça a totalidade.

As Sefirot

Para os qabalistas a atividade do En-Sof se manifesta nos dez atributos fundamentais de Deus, ou as dez Sefirot, que em seu vaivém, transmitem a vida divina. Elas não se situam entre o Um absoluto e o mundo dos sentidos; segundo a doutrina elas são exteriores ao Um. As Sefirot tomam lugar em Deus e permitem ao homem percebê-lo.Sua potência divina, considerada como um organismo místico, permite aos qabalistas servirem-se da forma antropomórfica para esclarecerem os símbolos da Tora, onde a atividade divina está velada. No Zóar seus nomes variam, segundo o aspecto pelo qual os consideramos. As duas imagens que os designam são o homem e a árvore. Essas Sefirot, incorporadas sob vários nomes ao Zóar, estão dispostas em 3 grupos de 3, que foram mais tarde conhecidos pelos seguintes nomes: 1º grupo de 3, olam ha muscal(mundo da inteligência); 2º grupo de 3, olam ha murgaque(mundo do sentimento); e 3º grupo de 3, olam ha mutba'a (mundo da natureza), o que perfaz um total de 9 Sefirot. A décima Sefira, Malcut (reino), encerra o conteúdo das qualidades de todas as Sefirot ou dos seres superiores para transmiti-las ao homem. As Sefirot revelam na mística judaica uma concepção própria e original, se se considerarem as combinações dinâmicas em que se iluminam mutuamente na subida e na descida. Além do mais, o lugar de cada uma delas na hierarquia não é tão rigoroso. Elas representam, em suas flutuações, o processo real da vida divina.

Algumas considerações

Os rosa-cruzes e os franco-maçons utilizam em suas doutrinas as idéias da Qabalah, servindo-se dos termos hebraicos. A interpretação da Qabalah assim adaptada nõa é fiel, talvez nem mesmo adequada. A Qabalah cristã, inspirada na Qabalah hebraica, apresenta no entanto, uma tendência que a distingue de todas as outras:seu eixo é o Cristo. A Qabalah é uma doutrina cheia de mistérios, simbolismos e de dificil assimilação. Porém, se mantém firme nos seus principais objetivos: o entendimento, aproximação e adoração de um único Deus. Quem admite vários deuses só pode ser objeto de repulsa aos olhos de um hebreu místico, educado desde a infância no amor do Deus Único.

By Diego & Priscila

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