No começo dos anos 80 Alex Polari de Alverga viajou para a Amazônia integrando uma comissão do Cofen(Conselho Federal de Narcóticos) para estudar a Ayahuasca, bebida xamânica tomada ritualmente pelos adeptos da doutrina do Santo Daime na colônia Cinco Mil, em Rio Branco, Acre. Nessa época conheceu o Padrinho Sebastião, líder espiritual e comunitário empenhado em construir a Nova Jerusalém às margens do igarapé do Mapiá, no coração da Amazônia.

Sem críticas construtivas ou destrutivas, dá pra se ter uma noção da loucura que deve ser isso aí...Segundo Alex Polari, as plantas sagradas foram talvez a primeira forma de comunicação do homem com o Ser Divino. A maioria das coisas expostas aqui, vem de um depoimento dado à revista Planeta, visto ser bem difícil achar algo sobre tal tema. Pelo menos, para mim o foi. Ok, vamos lá.

Para conhecer Juramidam é preciso penetrar no segredo do Daime. Mas é a mesma entidade, o mesmo logos crístico que está presente de outras tantas maneiras e já esteve encarnado como salvador da humanidade. O Daime é considerado o veículo, a força presente no vegetal que transporta ao contato com o Ser, e esse Ser é Juramidam.

Daime é um rogativo, "Santo, dai-me!", no sentido de receber aquilo que está dentro dele. É uma bebida preparada a partir de um cipó, a Banisteriopsis caapi, que carrega a força masculina, e das folhas de uma arbustiva, a Psicotrya viridis, elemento feminino que traz a luz, a miração. O uso do Daime é imemorial. Na América pré- Colombiana recebia o nome de Ayahuasca. Na tradição iniciática do Oriente, uma planta de poder chamada Pegano harmala tem o mesmo alcalóide do cipó, a harmina. Ela é apontada como um dos componentes do soma, das escrituras védicas, que falam de uma planta que provocava êxtase e inebriava os deuses. Mas para os adeptos, o mais importante é o culto religioso, consagrando a bebida. É como fazer pranayana ou dedicar uma vida ao serviço de Deus.

A doutrina foi criada por Mestre Raimundo Irineu Serra, um negro de quase dosi metros de altura que nasceu no Maranhão em 1892 e trabalhava nesses seringais da fronteira do Brasil com o Peru. Na década de 20 ele travou contato com a bebida e teve uma revelação. Uma figura feminina, apresentada sob o nome de Clara disse a ele que, apesar de estar tomando uma bebida já conhecida, iria receber uma coisa nova. Pediu que durante sete dias comesse só macaxeira insossa e bebesse chá, pra tomar o Daime e receber a visão. Foi o que ele fez. Teve a revelação. No desenrolar da revelação, a visão foi se apresentando, era a Rainha da Floresta. Na linguagem sincrética, é a Virgem da Conceição, considerada padroeira da doutrina. O primeiro hino que recebeu foi "lua branca", provavelmente numa noite de lua cheia. O Em 1965, Padrinho Sebastião começou a tomar o Daime com o Mestre Irineu. Desde rapaz ele era médium e logo se tornou curador do vale do Juruá. Mais tarde, ele foi morar em Rio branco com a mulher, madrinha Rita Gregório, e lá continuou fazendo trabalho de mesa, curando as pessoas. Em 65, contraiu uma doença que não sabia se era doença mesmo ou feitiço. Foi procurar uma cura e acabou batendo na porta de Mestre Irineu, nessa época curador já famoso. Mestre Irineu fazia trabalhos com o Daime, e sempre tinha uma ou outra questão com a polícia federal, despertando curiosidade a todos. Padrinho Sebastião ficou bom e começou a frequentar o Mestre. Com sua evolução espiritual, o Mestre, ainda vivo, foi passando as coisas para ele. Disse que sua missão era reunir um povo muito grande no Amazonas, dai a colônia dos Cinco Mil. Dois anos após sua morte, ocorrida em 1971, Sebastião organizou a tal colônia, nos arredores de Rio branco, no Acre. Mais tarde reuniu esse povo colhido pelo Daime numa vida comunitária dentro da floresta, Logo correu a notícia de que havia um guru de barbas brancas e uma bebida mágica no meio da mata. O Santo Daime tem uma certa aproximação com os cultos afro-brasileiros, com o espiritismo, com a doutrina sufi e as linhas orientais. Segundo seus adeptos, através dele se obtem a verdadeira gnose, o tão falado auto-conhecimento.

É uma linguagem divina que cada um concatena segundo seu próprio acervo, suas encarnações passadas, sua imaginação. É ainda o baú do consciente da humanidade, que está dentro de cada um de nós. A linguagem da miração segue uma lógica divina que integra tudo: o objetivo, o objeto e o sujeito, a essência, a prática, a reflexão, o conhecimento.

Existem várias igrejas e comunidades daimistas, criadas na maior parte pelo Padrinho Sebastião. Comunidade Céu da Montanha, em Visconde de Mauá, a Colônia dos Cinco Mil, na floresta amazônica, entre tantas outras. Segundo os adeptos, a doutrina é acima de tudo pacifista, e visa, através do convívio em comunidades espirituais, o auxílio ao próximo, no objetivo de encontrar a si mesmo. Definindo melhor: um auxilia o outro com suas visões, um faz parte do processo evolutivo do outro, tentando obter o conhecimento de uma vida em paz, saúde e harmonia.