Site hosted by Angelfire.com: Build your free website today!
O Estado de S. Paulo, terça-feira, 14 de setembro de 1999
 
Revelação do blues ainda tem espinhas no rosto

       Uma das principais atrações do Free Jazz Festival, o cantor e guitarrista Jonny Lang tem apenas
                    18 anos e é a antítese dos bluesmen negros tradicionais

      (Escrito por Renan Antunes)

 
      CHICAGO - O próximo Free Jazz Festival (de 15 a 17 de outubro no Jockey Club de São
 Paulo) vai apresentar aos brasileiros uma revelação que ainda tem espinhas no rosto. É o adolescente
 Jonny Lang, cantor e guitarrista de 18 aninhos, último produto de exportação da máquina que é a
 indústria musical americana. Faz shows com a mesma roupa com que anda na rua, usa um surrado par de tênis
 de US$ 20 - mas, no que conta, é bom com uma Fender nas mãos.

      Por enquanto, Jonny só é conhecido entre garotos e na cada vez menor turma de amantes do blues, sua
 vertente. Para um garoto bom de guitarra e voz razoável, já basta para começar a emplacar nos Estados
 Unidos, de onde espera esparramar-se pelas lojas de CDs do mundo todo.

      Na sexta-feira, antes de abrir o show de Jeff Beck no World Music Theatre, num subúrbio de Chicago,
 Jonny teve seu primeiro contato com a imprensa brasileira.

      É o anti-ídolo: calça o tal tênis de 20, meias bege rasgadinhas, uma calça verde-oliva folgadona, jaqueta
 jeans, um boné virado, óculos. De corpo é magrela, branquela, 1,80 m, cabelinho loiro escorrido, olhos mais
 para verdes do que azuis, como informa a gravadora em sua ficha biográfica. Tem algumas espinhas. É tudo,
 menos o retrato dos bluesmen negros tradicionais.

      O garoto é muito afável na conversa, embora não tenha muito o que dizer. Os repórteres querem saber
 como é que tendo sangue alemão, nascido na branca Dakota do Norte, foi cair logo no blues. Diz alguma coisa
 como "sei lá" ou "acontece", seguido de um sorriso tímido. Influências? "Amo Stevie Wonder", responde.

      É bombardeado com outros nomes de gênios do passado, responde com "todos são cool". Não ouve
 rádio. Gosta de Eric Clapton.

      Ben Harper? "Gosh!", uma exclamação significando Deus. Quando alguém pergunta por novas bandas
 de vanguarda nova-iorquinas, o garoto interiorano se revela: "Nunca ouvi falar."

      Como todo adolescente, Jonny só sabe bastante de si mesmo. Seu primeiro disco, independente, aos 14
 anos, vendeu 25 mil cópias. Vem para o Brasil já nas asas de uma gravadora, que decide todos os seus
 passos: "Você sabe, eles fazem as coisas acontecer", diz, resignado. Não tem nenhum expectativa sobre o País
 nem sabe quanto tempo vai ficar: "Acho que apenas quatro dias."

      A gravadora informa que Jonny já recebeu convites para tocar com B.B. King e com os Rolling Stones.
 Na prática, só gravou com Buddy Guy, segundo time.

      O garoto não compõe. Arrisca regravar clássicos como Good Morning Little School Girl, de Sonny Boy
 Williamson. Se deu bem. Já foi apontado pela revista Guitar como "o melhor guitarrista novo dos Estados
 Unidos". A revista Neewsweek aposta nele como um dos que vão influenciar a música do próximo milênio.

      Seu segundo álbum, Wander the World, é mais pop e rock. "Não gosto de música eletrônica", avisa,
 imitando um sintetizador no gogó.

      No show, pouco mais de 4 mil pessoas estavam num espaço onde cabem 32 mil. Os organizadores
 podem culpar o local - nos cafundós de Chicago, às margens de uma rodovia. Público de meia-idade, na certa
 atraído pelo veterano Jeff Beck. Casais quarentões, alguns com filhos adolescentes.

      Jonny sobe no palco para esquentar a multidão. A mesma roupa, exceto que trocou a jaqueta por uma
 camiseta. Um gel arrepia o cabelo, dá um ar buzz no penteado, tirou os óculos. É bastante aplaudido. Não
 exagera. Não inventa. Fica no convencional, mas empolga a massa. Uma garota de no máximo 14 anos, com
 dois pompoms vermelhos pendurados nas trançinhas, toda feliz, grita que ele é o tal, é "the man". Ainda não,
 mas Jonny Lang tem todo o próximo milênio para chegar lá.

--------------------------------------------------------------------------------
Copyright 1999 - O Estado de S. Paulo - Todos os direitos reservados