Uma das principais atrações do Free Jazz Festival, o cantor
e guitarrista Jonny Lang tem apenas
18 anos e é a antítese dos bluesmen negros tradicionais
(Escrito por Renan Antunes)
CHICAGO - O próximo Free Jazz Festival (de 15 a 17 de outubro no
Jockey Club de São
Paulo)
vai apresentar aos brasileiros uma revelação que ainda tem
espinhas no rosto. É o adolescente
Jonny
Lang, cantor e guitarrista de 18 aninhos, último produto de exportação
da máquina que é a
indústria
musical americana. Faz shows com a mesma roupa com que anda na rua, usa
um surrado par de tênis
de US$
20 - mas, no que conta, é bom com uma Fender nas mãos.
Por enquanto, Jonny só é conhecido entre garotos e na cada
vez menor turma de amantes do blues, sua
vertente.
Para um garoto bom de guitarra e voz razoável, já basta para
começar a emplacar nos Estados
Unidos,
de onde espera esparramar-se pelas lojas de CDs do mundo todo.
Na sexta-feira, antes de abrir o show de Jeff Beck no World Music Theatre,
num subúrbio de Chicago,
Jonny
teve seu primeiro contato com a imprensa brasileira.
É o anti-ídolo: calça o tal tênis de 20, meias
bege rasgadinhas, uma calça verde-oliva folgadona, jaqueta
jeans,
um boné virado, óculos. De corpo é magrela, branquela,
1,80 m, cabelinho loiro escorrido, olhos mais
para
verdes do que azuis, como informa a gravadora em sua ficha biográfica.
Tem algumas espinhas. É tudo,
menos
o retrato dos bluesmen negros tradicionais.
O garoto é muito afável na conversa, embora não tenha
muito o que dizer. Os repórteres querem saber
como
é que tendo sangue alemão, nascido na branca Dakota do Norte,
foi cair logo no blues. Diz alguma coisa
como
"sei lá" ou "acontece", seguido de um sorriso tímido. Influências?
"Amo Stevie Wonder", responde.
É bombardeado com outros nomes de gênios do passado, responde
com "todos são cool". Não ouve
rádio.
Gosta de Eric Clapton.
Ben Harper? "Gosh!", uma exclamação significando Deus. Quando
alguém pergunta por novas bandas
de vanguarda
nova-iorquinas, o garoto interiorano se revela: "Nunca ouvi falar."
Como todo adolescente, Jonny só sabe bastante de si mesmo. Seu primeiro
disco, independente, aos 14
anos,
vendeu 25 mil cópias. Vem para o Brasil já nas asas de uma
gravadora, que decide todos os seus
passos:
"Você sabe, eles fazem as coisas acontecer", diz, resignado. Não
tem nenhum expectativa sobre o País
nem
sabe quanto tempo vai ficar: "Acho que apenas quatro dias."
A gravadora informa que Jonny já recebeu convites para tocar com
B.B. King e com os Rolling Stones.
Na prática,
só gravou com Buddy Guy, segundo time.
O garoto não compõe. Arrisca regravar clássicos como
Good Morning Little School Girl, de Sonny Boy
Williamson.
Se deu bem. Já foi apontado pela revista Guitar como "o melhor guitarrista
novo dos Estados
Unidos".
A revista Neewsweek aposta nele como um dos que vão influenciar
a música do próximo milênio.
Seu segundo álbum, Wander the World, é mais pop e rock. "Não
gosto de música eletrônica", avisa,
imitando
um sintetizador no gogó.
No show, pouco mais de 4 mil pessoas estavam num espaço onde cabem
32 mil. Os organizadores
podem
culpar o local - nos cafundós de Chicago, às margens de uma
rodovia. Público de meia-idade, na certa
atraído
pelo veterano Jeff Beck. Casais quarentões, alguns com filhos adolescentes.
Jonny sobe no palco para esquentar a multidão. A mesma roupa, exceto
que trocou a jaqueta por uma
camiseta.
Um gel arrepia o cabelo, dá um ar buzz no penteado, tirou os óculos.
É bastante aplaudido. Não
exagera.
Não inventa. Fica no convencional, mas empolga a massa. Uma garota
de no máximo 14 anos, com
dois
pompoms vermelhos pendurados nas trançinhas, toda feliz, grita que
ele é o tal, é "the man". Ainda não,
mas
Jonny Lang tem todo o próximo milênio para chegar lá.
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