COMPOSIÇÃO

	E é sempre a chuva
	nos desertos sem guarda-chuva,
	e a cicatriz, percebe-se, no muro nu.  

	E são dissolvidos fragmentos de estuque
	e o pó das demolições de tudo
	que atravanca o disforme país futuro.
	Débil, nas ramas, o socorro do imbu.
	Pinga, no desarvorado campo nu.

	Onde vivemos é água. O sono, úmido,
	em urnas desoladas. Já se entornam,
	fungidas, na corrente, as coisas caras
	que eram pura delícia, hoje carvão.

	O mais é barro, sem esperança de escultura.

    	                 Carlos Drummond de Andrade

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