ANCONA - PERFUME DE VIRTUDES ITALIANAS
Ancon Dorica Civitas Fidei |
Olhando
para o mapa da Itália nota-se que a Bota, inchando ao centro, empurra
em direção ao mar um pequeno promontório, e exatamente nesta saliência
surge Ancona, palavra grega que significa cotovelo. O cotovelo nasce do
monte Conero e se estende no mar com um desfile de penhascos que assumem
vários nomes: Trave, Passetto e Gallina. Entre o Passetto e o Porto os
penhascos formam três colinas: Cardeto, Cappuccini (já São Cataldo) e
Guasco (já Cumerio), e ao sul, coroado pelas muralhas da Cidadela, está
a colina Astagno. Como todas as localidades da costeira do
Adriático, Ancona vê o sol se levantando do mar, mas é a única que, por
causa do cotovelo, no verão admira também o por do sol no mar. Sucessivamente chegam os Piceni provenientes
da Sabina. No ano de 387 a.C. uma colônia de Dori (povo de civilização
grega vindo de Siracusa) se estabelece na colina Astagno trazendo um sopro
de civilização mais progredida. Surgem edifícios majestosos e sólidos
e são construídas muralhas de defesa por volta da cidade. O Senado e o povo Romano, no ano 115 d.C., eternizam o acontecimento com o belíssimo Arco Triunfal (O Arco de Trajano), atribuído a Apollodoro de Damasco. Caído o Império Romano, começam as invasões dos Visigoti, dos Vândali, dos Goti de Vitige e dos Goti de Totila e a cidade deve defender-se varias vezes. Quando da chegada dos Longobardi, a cidade é forçada a aceitar sua proteção, mas quando chegam os Franchi, se coloca sob o alto domínio da Igreja, e é nesta ocasião que a região recebe o nome de Marca, do qual deriva o atual nome da região "Marche" de quem Ancona é a Capital. No ano de 848 os Sarracenos ocupam Ancona e a destroem. Forças aliadas conduzidas por Guglielmo Marcheselli d'Este de Ferrara e pela condessa de Bertinoro Aldruda Frangipani, determinam a libertação da cidade. Ancona, que é já uma importante Republica Marinheira, se enriquece com seus afortunados tráficos com o Oriente. Testemunhos esplendorosos desta sua atividade são a Catedral de São Ciriaco, o Palácio do Senado, a Igreja de Santa Maria da Praça, construídos no simples e harmonioso estilo românico. As brigas entre as cidades enfraquecem as defesas de Ancona e isto permite ao Malatesta de erguer a fortaleza de São Cataldo na Colina dos Cappuccini, e sucessivamente ao Cardeal Albornoz de ampliá-la e reforçá-la por obra de Ugolino de Montemarte. A fortaleza é como uma flecha no flanco da liberdade do povo anconitano e serão necessárias muitas décadas de luta para se livrar dela. No ano de 1383 finalmente a fortaleza é expugnada e destruída. Nesta ocasião o Senado de Ancona recebe pelos Priores das Artes e pelos Gonfalonieri de Justiça do povo de Florença o elogio mais caloroso: "Vocês finalmente se livraram, amigos queridos, do jugo que o presídio da inexpugnável fortaleza mantinha sobre sua cabeça! Oh homens que espalham o perfume das virtudes de seus pais! Oh verdadeiros italianos!" Da valentia do povo anconitano são ricas as crônicas. Galeazzo Malatesta, em 1413, tenta um assalto a Capodimonte, mas a pronta e vigorosa defesa repele o inimigo que deixa centenas de mortos e prisioneiros. Entre os valorosos defensores temos que lembrar Ciriaco Pizzecolli, profundo estudioso do mundo antigo e considerado o fundador do estudo da arqueologia. Também Francesco Sforza tenta conquistar a cidade, mas seus espiões são descobertos, colocados dentro sacos com pedras amarradas no pescoço e lançados ao mar. Os cidadãos de Ancona são valentes defensores das pátrias liberdades, mas são também abeis trabalhadores, espertos comerciantes e valentes navegadores. As artes e os comércios florescem e neste período a cidade se enriquece de palácios e obras de arte. O arquiteto Giovanni Pace, constrói a Loggia dos Mercadores, cuja fachada gótica é devida a Giorgio de Sebenico a quem se devem também os portais de São Agostino e de São Francesco, além da fachada do Palácio Benincasa. Outros artistas deixam nobres sinais de seu trabalho: Francesco Martini, os Mestres Pietro e Matteo di Antongiacomo e o pintor Melozzo da Forlì no Palácio dos Anciãos; Marino di Marco Cedrino, um dos arquitetos da Basílica de Loreto, no portal da Igreja da Misericórdia; os pintores Carlo Crivelli, Lorenzo Lotto, Tiziano, em numerosas e maravilhosas pinturas. Sucessivamente Pellegrino Tibaldi pinta o interior da Loggia dos Mercadores, desenha a Fonte das Treze Torneiras e pinta um salão do Palácio Ferretti e Andrea Lilli da Ancona pinta numerosas e apreciadas telas que são ainda conservadas na Pinacoteca Cívica. Com a caída de Rodi a ameaça turca torna-se sempre mais perigosa. O Pontífice Clemente VII se oferece para fortificar a cidade a suas custas e Antonio San Gallo amplia a poderosa Cidadela na Colina Astagno (1532). A imponente construção marca o fim do livre município de Ancona. As rivalidades e as lutas entre as cidades são sempre mais fortes, em especial Veneza que faz sentir o peso de sua potencia. O pontífice parece assegurar uma suficiente proteção e segurança, e por este motivos o povo anconitano não se opõe ao novo domínio. A cidade conhece um período bastante escuro e deprimido entre o fim de 1600 e as primeiras décadas de 1700. Os comércios marítimos estão quase parados e de conseqüência as industrias quase paralisadas. Felizmente o Papa Clemente XII (Lorenzo Corsini) contribui ao re-nascimento da cidade com sua nomeação a porto franco em 1732 e enriquecendo-a de obras notáveis. O arquiteto Vanvitelli desenha e constrói o Lazareto, projeta a arrumação do porto inteiro, constrói o Arco Clementino, reconstrói a fachada e a Igreja de Jesus. O renascimento econômico permite notáveis restaurações e obras publicas. Em seguida Carlo Marchionni irá construir a Igreja de São Domenico, e seu filho Filippo Marchionni a monumental Porta Pia, em homenagem ao Papa Pio VI. A revolução francesa desperta também na Itália e na cidade de Ancona desejos de liberdade que irão preparar o Ressurgimento Italiano. Em 1797 Ancona é ocupada pelos franceses e dois anos depois pelos austríacos após um duro assedio, mas os franceses voltam a ocupá-la em 1801. Os contatos com os franceses semeiam um fecundo amor de liberdade e a primeira guerra de Independência vê muitos cidadãos nas fileiras dos combatentes. A resistência que a cidade opõe aos austríacos em 1849 é tão forte e valorosa que merece a medalha de ouro ao valor militar. Na segunda guerra de Independência o povo de Ancona acorre em centenas nos campos de Lombardia. A Expedição dos Mil vê em Calatafimi o heroísmo do anconitano Augusto Elia que faz escudo de seu corpo a Garibaldi e recebe uma bala na garganta. O generale Cialdini vence em 18 de setembro de 1860 as tropas pontifícias em Castelfidardo e o vencido general Lamoricière refugia-se em Ancona com poucas dezenas de cavalheiros, mas somente por poucos dias. De fato em 28 de setembro a frota do almirante Persano abre o fogo contra a Lanterna posta no Cais Norte e a fragata Vittorio Emanuele lança uma bordada contra a fortaleza centrando o deposito de pólvoras. A rendição é assinada e o general Fanti entra na cidade em 29 de setembro com as tropas italianas. A primeira guerra mundial vê Ancona em primeira linha, não somente pelo espírito patriótico de seus filhos soldados, mas também pelo bombardeamento subido pela cidade na manha de 24 de maio de 1915, a obra da frota austro-húngara. Vinte quatro navios de guerra, situados atrás da Colina Cardeto e na frente do porto, abrem o fogo ferindo e matando cidadãos inermes e acertando com oito bombas também a Catedral de São Ciriaco provocando danos muito graves. A cidade porém não desmente suas tradições de heroísmo, e exatamente de seu porto partem os lança-torpedos de Rizzo e de Aonzo que torpedeiam a Couraçada austríaca Santo Stefano na frente de Premuda (10 de junho de 1918). Setecentos cidadãos de Ancona caem na guerra de 1915 até 1918, e a cidade reconhecida dedica à memória dos Mortos pela Pátria, na zona do Passetto, um dos mais bonitos monumentos da Itália devido ao arquiteto anconitano Guido Cirilli. A segunda guerra mundial procura novas e imensas destruições. Bombardeamentos aéreos e navais destroem bairros inteiros causando muitos mortos. Notável é a contribuição do povo anconitano às lutas da Resistência. A cidade é terrivelmente destruída, humilhada e afligida e somente 4 mil pessoas permanecem nas habitações em ruínas sob a continua ameaça de morte. Por seus sofrimentos Ancona recebe em 1960 a medalha de ouro ao valor civil. A cidade cresce e se desenvolve e, apesar do terremoto de 1972 e o grande desabamento de 1982, o centro histórico é totalmente re-saneado, nascem novos bairros que possuem o respiro de cidade européia e a Universidade não fica de certo para trás. O terceiro milênio já começou! |
O porto dórico è inserido entre os 18 de interesse nacional e o CIPE (Comitê Interministerial pela Programação Econômica) o considera entre aqueles de maior interesse europeu. Sua posição estratégica requer continuas atualizações das estruturas e infraestruturas, ainda mais se o «Corredor Adriático» virá a ser realidade, um dos projetos das redes trans-européias que prevê uma rápida e econômica coligação entre o norte da Europa e o Sul-Leste do Mediterrâneo. Motor da economia local, é estritamente coligado à cidade, a seus acontecimentos históricos e a suas fortunas comerciais. Porto natural de origens muito antigas é compreendido entre os promontórios do Guasco e do Astagno. Elemento fundamental da fundação urbana, determinou a escolha dos Gregos para sua primeira instalação, num lugar que era ideal para o controle das rotas e encruzilhada de culturas. No ano de 115 d.C., com o imperador Trajano, conquistou uma grande importância estratégica e a cidade tornou-se uma ponte para o Oriente e sede de uma base militar pela conquista da Dacia. Nas ultimas décadas tornou-se ponto importante para o fluxo turístico em direção a Grécia e ao Oriente Médio. Estão sendo estudadas iniciativas para estimular os numerosos turistas, para visitar e apreciar a cidade fundada pelos Gregos. Nos terríveis recentes anos da tragédia balcânica, o porto foi base operativa e logística para as ajudas humanitárias e hoje para a missão internacional de paz. Ao lado do porto comercial e industrial está nascendo o porto turístico com modernos serviços pela náutica de recreio. Com seus vinte cinco cais por um total de quatro quilômetros, seus doze quilômetros de trilhos, uma profundidade de até 15 metros, áreas de armazenagem e deposito mercadorias, os grandes silos a torre, os dezesseis canteiros e as duas docas, o porto possui uma pluralidade de funções. De qualquer modo é preciso inserir a realidade portuária dentro de um projeto de respiro europeu e sobretudo operar para uma continua atualização das estruturas. Neste sentido as autoridade locais e os operadores do setor estão já trabalhando. |
Ancona, cidade onde a cultura da hospitalidade tem raízes sólidas e onde o sol nasce e se põe no mar, é a majestosa rainha do Médio Adriático e o dinâmico porto da Europa. Cidade carregada de história, de arte e de cultura, onde antigo e moderno convivem de maneira admirável. Palácios de nobre linhagem, monumentos de intenso fascínio e igrejas com toque românico testemunham um rico passado sem tempo: a esplendorosa Catedral de São Ciriaco que vigia tudo e todos, a magnífica "sala de estar" que é a Praça do Plebiscito (mais conhecida como Praça do Papa), o precioso estilo românico da Igreja de Santa Maria da Praça, a profunda simbologia da Loggia dos Mercadores (obra do insigne mestre Giorgio da Sebenico), os ricos cofres da cultura, as tapeçarias de Rubens conservadas no Museu Diocesano, as obras de Ticiano e de Crivelli hospedadas no Palácio Bosdari, os muitos tesouros do nosso passado que enriquecem o Museu Arqueológico Nacional da região Marche e o pequeno Templo de estilo neoclássico dedicado a São Rocco que marca o centro da criação pentagonal de Luigi Vanvitelli. Cidade cosmopolita, Ancona continua sendo a encruzilhada de pessoas e culturas diversas, e não é por acaso que arte, história, cultura, esporte e turismo são o cocktail que sabe oferecer para quem tem sede de conhecimentos e está com vontade de deixar-se levar por seus encantamentos e por aqueles do Parque do Conero. Com origens pré-históricas e com a significativa presencia Picena na idade do ferro, Ancona representa uma etapa obrigatória para quem atravessa o mar Adriático. Merecida paragem para os mais de oitocentos mil passageiros que transitam neste desembarcadouro escolhido pelos Dori Siracusani no IV século a.C. e que depois foi feito grande por imperadores como Trajano e por Papa clarividentes como Clemente XII. Livre Município que nem as tropas de Barba-roxa conseguiram dobrar, cidade nunca domada, medalha de ouro ao valor civil que nem as terríveis incursões aéreas da segunda guerra mundial conseguiram mortificar. Aqui bate o coração da região Marche, com ricos cofres e tantos tesouros: a Basílica de Loreto, Recanati e seu insigne poeta Giacomo Leopardi, Urbino e seu Ducado, as grutas de Frasassi, os doces e verdes declives do interior , o azul profundo da costeira de Sirolo, Numana e Portonovo. História, natureza e cultura que se juntam ao engenho e à operosidade de quem procurou caminhos diferentes na economia e na frente de trabalho como o pequeno empresariado que é levado a modelo por sua capacidade de estar no mercado de modo dúctil e flexível. É aqui, no coração da região Marche, nesta verdadeira cidade européia que o bem-vindo é daqueles que não se pode esquecer. Os visitantes do terceiro milênio encontrarão estacionamentos controlados na área portuária, "city tour", elegantes e refinadas vitrines para admirar, mercados para ser descobertos, pratos e vinhos generosos a ser saboreados e muitas outras iniciativas promocionais e de acolhimento que as autoridades locais e os operadores econômicos tem preparado. Uma colaboração entre publico e privado de primeira grandeza para um "Welcome to Ancona" a ser levado no coração. Giuseppe
Ulivi* é navegador e historiador |
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