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Um convite `a leitura: elementos narrativos e contextualização

Uma história que merece ser lida, vidas que merecem ser mais valorizadas...É o que remete "O Quinze" que apesar de retratar a seca de 1915, é um livro mais atual do que nunca.

O retrato da vida das pessoas que sofrem essa dura realidade pode ser tirado da obra. A riqueza de seus elementos narrativos é a descrição perfeita para aqueles que tratam a seca como um fenômeno político, sem se preocupar com os seres humanos, principais personagens dessa discussão.

Mas, é também, romance. Aliás, é romance em sua essência. A própria autora, Rachel de Queiroz, é quem diz que, inserir política no contexto da literatura é prostituição.

O fato é que não se pode negar o aspecto social presente nas obras da escritora e, principalmente, nesta. Fato esse, que é característico do estilo literário de seus contemporâneos e amigos.

Sobre a fotografia marcante de um povo que pode ser lida n"O Quinze", nenhum partido político é tomado. Mas a visão do contexto social da seca, com certeza se torna, "criticamente", mais humana.

O crítico Augusto Frederico Schimidt assim definiu a obra de Rachel de Queiroz:

“Livro verdadeiramente brasileiro, livro coerente e claro, livro que consegue manter a forma no mesmo diapasão com o assunto, na mesma simplicidade que os liga admiravelmente. Não há nenhum sentimentalismo na escrita do O Quinze. Constata ele apenas a realidade, sem procurar concluir coisa alguma.”

Enredo:

O livro conta histórias que, sem sombra de dúvida, são reflexos da realidade e fazem parte do cotidiano dos nordestinos que tentam resistir à seca, cada vez mais cruel. Os cenários são narrados com a precisão de alguém que viveu essa realidade, o que deixa os leitores ainda mais maravilhados e, ao mesmo tempo, perplexos com o caráter não fictício do contexto social da obra.

Foco Narrativo

A narração, feita em 3ª pessoa, dá ao livro uma postura imparcial. O narrador não interfere sentimentalmente na descrição dos cenários e dos dramas vividos pelos personagens, o que reforça a postura de constatação da "pura realidade" falada pelo crítico Augusto Schimidt.

Personagens:

Os nomes típicos da época e da região dados aos personagens (Cordulina; Dona Idalina: Chico Bento; Conceição) são mais um indicador da realidade descrita na obra. E os paradigmas pelos quais passam, vão aos poucos delineando a personalidade de todo o povo nordestino, sendo cada personagem um representante do jeito de ser desse povo.

Linguagem:

A linguagem é muito simples, devido às condições do local onde a história se passa o que dá um toque de veracidade muito maior para o livro, que é escrito como se fosse um "diário".

Os diálogos, que dão a esse "diário" um ar de conto, estão escritos em um português coloquial, outra característica que comprova o caráter realístico da obra.

Conclusões e Notas:

A análise dos elementos acima nos permite concluir a "pura realidade" que a obra, no nosso entendimento, se dedica a descrever e sobre a qual o crítico Augusto Schimidt falou tão bem.

O aspecto social presente no livro é extremamente importante para um país tão grande, tão diverso, que tão pouco se conhece.

À Rachel de Queiroz, nos resta pedir desculpas e lamentar as distorções que, por acaso, foram feitas por nós ao refletir sobre este clássico da literatura brasileira que, de alguma forma, nos sensibilizou.

Há quem goste, há quem não goste da obra, mas não se pode negar sua importância ao retratar mais uma faceta deste país tão cheio de diferenças.

Marina Utsch e Emílio Flávio