Até o final do século dezenove, o governo protegeu o lucro das exportações de café através de desvalorizações cambiais. Toda vez que o preço do café caía no mercado internacional, o governo desvalorizava a taxa de câmbio. Eram as políticas de valorização do café.
A desvalorização cambial tornava os produtos importados mais caros. Como grande parte dos produtos consumidos nos centros urbanos da época eram importados, aumentava o custo de vida. O governo sustentava o negócio do café arrecadando o imposto inflacionário.
A desvalorização cambial também impedia que o preço do café sinalizasse excessos de oferta através de seu aumento.
Sem a política cambial, um excesso de oferta reduziria o preço do café. Os produtores teriam, então, menos incentivos para produzi-lo e mudariam de negócio.
A partir de 1890, outros países produtores de café reduziram sua oferta no mercado internacional. O Brasil passou a deter quase que o monopólio do negócio internacional. Como no monopólio o produtor tem poder de controlar o preço de seu produto, os lucros aumentaram, estimulando o aumento da produção.
A primeira superprodução de café ocorreu no início do século vinte. Com o aumento da oferta, o preço caiu e a receita dos cafeicultores deveria cair, já que a demanda por café é inelástica. Para proteger os cafeicultores, o governo contraiu a oferta armazenando o produto.
O governo passou a armazenar o café porque não podia mais recorrer às desvalorizações cambiais que levavam a aumentos dos preços dos bens de consumo. As pessoas das cidades não queriam mais pagar o imposto inflacionário e a inflação tendia a aumentar ainda mais.
O programa governamental de compra do café foi instituído em 1906 pelo Convênio de Taubaté. Toda vez que a demanda externa diminuísse, o governo compraria os excedentes. Estas compras seriam financiadas com empréstimos externos. Para pagar os juros destes empréstimos, o governo cobraria uma taxa em ouro sobre cada saca de café exportada. Caso o excesso de oferta persistisse, os governos dos estados produtores deveriam finalmente desencorajar a produção.
Esta política impediu a redução do lucro do negócio do café durante toda a primeira década do século vinte. Ela iria mostrar sua limitação na superprodução dos anos trinta.
Na década dos anos vinte, a economia norte-americana experimentou um período de grande crescimento. Este período foi também o auge da produção e do lucro do negócio do café no Brasil e também uma época de grande crescimento industrial. A partir da década seguinte, a indústria passaria a ser a principal atividade econômica.
Entre 1925 e 1929, a produção de café cresceu em quase 100%, enquanto o volume exportado manteve-se inalterado. Entre 1927 e 1929, os consumidores externos desejavam apenas dois terços da produção. O governo ficou, então, com um terço do café. Mesmo assim, mais pés de café foram plantados.
A demanda do consumidor norte-americano era inelástica em relação à sua renda. O crescimento da economia norte-americana não fez com suas importações de café aumentassem.
A política de contrair a oferta para sustentar o preço alto do café gerou incentivo para que outros países passassem a produzir e exportar o produto.
Com a entrada de novos fornecedores, o Brasil perdeu o monopólio e o preço do café caiu.
Com o início da Grande Depressão nos Estados Unidos em 1929, o governo brasileiro não obteve novos empréstimos para a compra e estocagem do café excedente. Os cafeicultores foram forçados a colocar quase toda a produção no mercado.
Diante da depressão americana e da superprodução, podia-se colher o café ou deixá-lo apodrecer nos pés para interromper a produção.
Deixar o café apodrecer nos pés era inviável, pois isto impactaria negativamente os outros setores da economia que dependiam do café.
A solução (keynesiana) foi colher o café e depois queimá-lo. Entre 1931 e 1939, um terço da produção foi comprada pelo governo e queimada. A renda e o emprego do setor cafeeiro e do resto da economia foram assim mantidos. O valor do café destruído era muito menor do que o montante de renda criado. Graças a esta política, o Brasil não foi atingido pela Grande Depressão. A indústria brasileira até mesmo se expandiu.