Site hosted by Angelfire.com: Build your free website today!

Designer by PSIQUE

Hera continuava com os olhos pregados no rosto de Zeus. Sem dúvida, algo acontecera ao senhor do Olimpo. Mas o que poderia ser?
Zeus, perdido em suas recordações, nem via o olhar de Hera. Apenas procurava adaptar-se às recentes sensações que a existência astral de Métis, em seu interior, provocavam. Era algo indescritível. Nos primeiros dias, podia senti-la perfeitamente distinta de sua própria consciência. Mas com o tempo houve uma fusão, como se a existência de Métis tivesse se integrado totalmente ao seu ser interior.
- Um dia descubro o que aconteceu - pensava Hera, cheia de curiosidade. - Ou talvez ele mesmo acabe por me contar.
De repente, Zeus fez uma careta de dor e segurou a cabeça entre as mãos. Hera esqueceu-se de tudo e aproximou-se dele. Mas, antes que o tocasse, ele deu um grito e levantou-se, cambaleante.
- O que houve, Zeus? - perguntou ela aflita. - Sente alguma dor?
- Minha cabeça! - urrava ele. Minha cabeça! Que dor insuportável! Parece que vai explodir!
E a dor piorava a cada instante. Nervosa, Hera não sabia como ajudá-lo, se é que cabia alguma ajuda, naquele momento.
Zeus gritava e batia com a cabeça nas paredes de pedra, procurando inutilmente um alívio. Até que, com uma pancada mais forte, sua cabeça rachou-se ao meio. Dela saiu uma jovem, incrivelmente vestida de guerreira e laçou aos ares um grito de guerra.

Zeus caiu, desacordado. Hera encostou-se a um canto do aposento e, estupefata, via a jovem realizar no quarto uma dança de guerra.
Por magia dos deuses ou por capricho de um universo ainda em organização, havia momentos em que o futuro e o passado coexistiam e Atena, guerreira que era, foi imediatamente lançada num turbilhão e viu-se lutando ao lado de seu pai, na guerra dos Titãs. Abateu o gigante Palas e esmagou um outro, Encébalo, jogando sobre ele um imenso rochedo. Em seguida, arrastou o imenso corpo inerte até a ilha de Sicília, onde o sepultou. E lá a terra tremia, cada vez que o gigante se movia no fundo de seu túmulo. Depois então Atena retornou sua dança bélica no quarto onde Zeus, desacordado no chão, nem sabia ainda do seu nascimento.
A cabeça de Zeus foi se recompondo e, tão logo a jovem terminou sua dança, ele retomou a consciência e levantou-se com dificuldade.
- Céus! - exclamou, olhando surpreso para a jovem guerreira. - É a filha de Métis! Desenvolveu-se em mim e nasceu das minhas meninges.
Aproximou-se da moça e tocou-lhe a fronte.
- Atena! Seu nome é Atena, minha filha muito amada! Será a deusa das guerras e protegerá as cidades. Mas cuidará também da fertilidade do solo e insuflará a inteligência e a razão em todos os que convocarem seu nome. Olhará pelas artes, pela filosofia, e por todas as atividades do espírito. Filha querida, eu a protegerei sempre, sob o manto do amor.
E houve momentos em que os deuses se exasperavam ante a complacência de Zeus para com Atena.
- Como pode ele ceder a seus pedidos caprichosos? Para ela, nunca tem uma palavra ou gesto de censura.
Mas Zeus apenas sorria e afagava a cabeça altiva da jovem guerreira.


Extraído do livro "OLIMPO, A SAGA DOS DEUSES", de Márcia Villas-Bôas, editora Siciliano.