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Você me pede para falar sobre as minhas emoções. Que maldade! Isso é reviver o passado longínquo, que está trancafiado num velho baú perdido há muito tempo.
Lágrimas antigas fizeram com que eu depositasse nele todos os meus sonhos, esperanças e decepções. A impotência diante do sofrimento, obrigaram-me a jogá-lo no Mar do Norte e sua chave, no Mar do Sul. Seria mais seguro, pensei.
Seu pedido é provocador, arrastando-me, face-a-face, para uma dívida antiga, o resgate. Preciso trazer à tona aquelas desbotadas recordações. Reflito:
- Devo correr esse risco?
Procuro pelo velho baú na imensidão azul. Visto meu escafandro para percorrer as águas gélidas do desterro. Passo pelos corais e cardumes de tuburões. Sinto a ansiedade aumentar. Lá está ele, nas profundezas semi-habitadas do oceano imaginário, cheio de cracas bruxulentas.
Sua carga pesa em minhas costas, fazendo-me curvar o corpo, involuntariamente. O quanto guardei?
Examino seus estragos com pensamentos confusos. Relembro-me do pavor que sentia de um novo sofrimento, mais uma decepção, do adeus às ilusões. Mas, talvez - quem sabe? - haja ainda um pouco daquela antiga alegria.
Diante daquele velho baú, vejo-me perdida e uma pergunta aflora:
- Como abrir seu cadeado?

Angela de Assis