A poetisa segura sua caneta como quem segura um cálice de sangue;
Sangue de antepassados,
Denso como o petróleo que surge dos restos de tudo.
Ao ingeri-lo, reconhece neste
O seu sangue,
Correndo pelo seu corpo-cadáver,
Santa; amaldiçoada e bendita.
Assim ela se fez poetisa;
E o cálice permanecerá em suas mãos,
Porque em suas mãos se torna digno,
Uma extensão de seu corpo,
Já não mais cadáver.
Agora ela - a poetisa - é toda sangue;
Vida fluindo,
Pelas veias e artérias,
No seu corpo cavernoso.
Se existia algo no antigo cadáver, desintegrou;
Junto com o antes e o depois,
Restou a poetisa,
Um ser acrônico,
Vivida pelo sangue que corre em seu corpo,
Empunhado em seu cálice.
RAPHAELLA PERLINGEIRO