Genealogia Cearense
(Os mansos possuem o mundo) 1922 - 2010
VINÍCIUS ANTONIUS HOLANDA DE BARROS LEAL nasceu em Baturité, em 16 de outubro de 1922, onde fez os seus estudos primários sob a orientação dos padres jesuítas, daí transferindo-se para Fortaleza, para cursar o Seriado, como aluno-interno do Colégio Marista Sagrado Coração.
Após realizar o propedêutico pré-médico no Liceu do Ceará, em 1943, prestou vestibular para Medicina, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), nela se formando em 1948. Especializou-se em Pediatria no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo em 1959.
Foi médico da Legião Brasileira de Assistência, ocupando o cargo de Diretor de Posto, de 1951 a 1967, e diretor do Departamento de Saúde Materno-Infantil, durante dois anos. Como atividade voluntária e de benemerência, a pedido da Arquidiocese de Fortaleza, foi diretor do Posto de Saúde de Parangaba por oito anos; diretor do Asilo de Menores Juvenal de Carvalho, de 1950 a 1970; e diretor de Patrimônio da Santa Casa de Misericórdia de Fortaleza e mordomo dessa instituição, desde 1984.
Foi professor de Clínica Pediátrica da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, tendo ingressado em 1964, da qual se aposentou , como professor adjunto, em 1987, após profíqua dedicação ao magistério superior, como docente e médico, do Serviço de Pediatria do Hospital Universitário Walter Cantídio.
Em 1960, juntamente com outros colegas, fundou a Sociedade Cearense de Pediatria, da qual foi seu presidente de 1970-1971. Como pediatra de largo conceito, foi examinador do Título de Especialista em Pediatria da Sociedade Brasileira de Pediatria durante cinco anos.
Ex-presidente do Centro Médico Cearense (hoje, Associação Médica Cearense) de 1963-1964, foi também membro da Associação Brasileira de Medicina, da Associação Regional de Escolas Médicas, da Academia Americana de Pediatria e do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará.
Foi sócio efetivo do Instituto Histórico, Geográfico e Antropológico do Ceará, eleito em 20/09/1974 e empossado em 04/12/1974; integrou a Academia Cearense de Medicina, como fundador em 1978, e guindado, posteriormente, a acadêmico emérito; e imortal da Academia Cearense de Letras, admitido em 1984, sendo ocupante da Cadeira 34, patroneada por Samuel Uchoa.
Publicou diversos livros, dentre os quais se sobressaem: “História da Medicina no Ceará” (Prêmio Governo do Estado do Ceará), “Villa Real de Monte Mor, o Novo D’América” (história de seu município natal na época colonial), “A Colonização Portuguesa no Ceará – O Povoamento”, Bumba-meu-boi (Prêmio Leonardo Mota), ainda “Dom Antônio de Almeida Lustosa, um discípulo do Mestre – Manso e Humilde” e Padre Artur Redondo: um modelo de Mansidão e Amor a Deus”, além de extensa produção sob a forma de artigos na imprensa, nos Anais da Academia Cearense de Medicina e na Revista do Instituto do Ceará.
Dedicou-se durante anos ao estudo da formação social do Nordeste brasileiro, debruçando-se, notadamente, sobre os fatos relacionados aos processos do povoamento e da colonização lusitana.
Possuia um amplo acervo de documentos sobre a história eclesiástica no Ceará, fruto de sua intensa atuação como historiador sacro, mercê de sua prática de vida cristã e da esmeralda educação católica recebida, que nutria as suas intervenções como médico, professor, intelectual e cidadão.
Durante décadas, enquanto a saúde permitiu, participou intensamente das atividades encetadas pela Sociedade Médica São Lucas, o que incluía os Retiros Espirituais anuais, pregados, amiúde, pelo Padre Monteiro da Cruz. Como reconhecimento dessa atuação, particularmente por sua gestão na presidência dessa entidade, em dezembro de 2004, foi agraciado com a Comenda Médica São Lucas.
Cônscio de sua responsabilidade de cidadão, foi vereador de Fortaleza, de 1950 a 1954, encerrando prematuramente sua carreira política, perdendo, com isso, o povo fortalezense.
Era casado com D. Idilva de Castro Alves , de cuja duradoura união, marcada por amor e compreensão, resultaram sete filhos: Angela, Virginia, Elizabeth, Fernando, Adriano, Tarcísio e Maria de Lourdes, todos formados e reconhecidos como bons profissionais, em seus respectivos campos de atuação.
Aos braços do Pai, retornou em 13 de abril de 2010, deixando um legado de grande responsabilidade aos seus herdeiros familiares e intelectuais, aos quais cabe dar continuidade à sua preciosa obra.
Por Marcelo Gurgel Carlos da Silva , da Academia Cearense de Medicina
Vinicius Antônius Barros Leal (Baturité 1922/Fortaleza 2010) viveu intensamente as duas paixões de que se ocupou ao longo de sua existência: a medicina e a história. Sem tempo para percorrer todas etapas do itinerário que o marcou atenho-me ao essencial de sua magnífica biografia. Entre os que os que discorreram sobre sua personalidade, a filha Ângela, José Teles, e poeta, que o sucedeu na Academia Cearense de Letras, Murilo Martins, também médico e confrade no Instituto do Ceará, são unânimes em ressaltar atributos de sua personalidade que o descrevem como alguém, educado, atencioso, bem-humorado, dono de uma curiosidade descrita por ela como saudável. Característica que explica seu entusiasmo pela pesquisa em simbiose com a modéstia, resumida pelo jornalista e escritor Daniel Piza em um de seus “aforismos sem juízo”: “Não há maior falta de humildade que a falta de curiosidade”. O médico e o historiador começaram a se constituir em família, no convívio com o avô e o pai, influências cultas na sua formação. A lamparina que o então garoto segurou bem alto para que o avô médico atendesse acidentados em desastre de trem ocorrido em sua querida Baturité iluminou também a vocação precoce do futuro esculápio. Médico formado pela Faculdade de Medicina de Recife em 1948, só em 1954 optou pela especialização em pediatria adquirida no Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, condição adequada ao seu temperamento sensível ao sofrimento das crianças e à angústia das mães ambas muito exigentes de zelo profissional. Se o diálogo do médico com o paciente afigura-se como fundamental para a elucidação diagnóstica e condução terapêutica a impossibilidade óbvia dessa colaboração impõe discernimento e habilidade especiais ao clínico. Como pediatra ocupou múltiplos cargos e funções relevantes no setor público, em instituições privadas, filantrópicas e entidades de classe da especialidade, a Sociedade Cearense de Pediatria que ajudou a fundar e presidiu, o Centro Médico Cearense do qual foi presidente confirmam brilhante desempenho no ofício perfilhado. Sua carreira na medicina culminou com o ingresso no corpo docente de nossa faculdade na área da pediatria cujo conteúdo dominava pelo estudo e a experiência acumulada no exercício continuado da clínica. À época matéria dividida entre pediatria, voltada para moléstias, diagnóstico e tratamento, próprias da infância, e puericultura, esta, focada nos cuidados com a criança, bases para um desenvolvimento saudável. Os catedráticos, como então denominados, eram respectivamente Miranda Leão e José Fernandes, ambos cultos, sendo o segundo filólogo e católico fervoroso. Tendo sido seu aluno não lembro com qual delas cooperou, mesmo quando Ângela evoca em suas memórias domésticas o amor ao magistério e menções frequentes à puericultura.
Quanto a segunda paixão, a história, foi igualmente vitorioso em seus propósitos. Esforçado investigador, persistente, paciente e minucioso reuniu os predicados indispensáveis a um pesquisador consciencioso dedicado a esclarecer dúvidas e desvendar a verdade muitas vezes oculta nos palimpsestos do tempo. Joaryvar Macedo ao recepciona-lo na Academia Cearense de Letras considera-o um “historiador por inteiro, capaz de desvendar mistérios, descobrir documentos e revela-los conseguindo elaborar sínteses por teve a necessária compreensão dos fatos”. Após sua morte a convite de familiares tive ocasião de visitar seu gabinete de trabalho e constatar a forma como organizou alentado fichário, suporte de suas pesquisas, antes do advento das facilidades eletrônicas hoje disponíveis e assim imaginar quanto lhe terá custado em tempo e empenho reunir tão precioso acervo. Tendo sua amada Baturité e o Ceará como palco concentrou sua atenção na história da igreja católica, da medicina, do povoamento do estado e da genealogia. Debruçou-se com meticulosa apuração sobre o povoamento tardio da esquecida capitania e os lances épicos dos colonizadores retardatários fustigados pela aridez do clima e a hostilidade dos nativos. Atuou na imprensa escrevendo em jornais e revistas sobre temas de seu agrado e em periódicos especializados, com destaque para a valiosa obra estampada na tradicional publicação do Instituto do Ceará. Raimundo Girão o apontou como um “escritor que não sabia parar”. Era prolífico, digo eu, por não querer, ou não poder, parar impulsionado por uma tendência inata para a escrita. Dos livros de sua autoria menciono a seguir os três premiados: 1 – “Bumba-meu-boi: uma nova abordagem” (1982) Prêmio Leonardo Mota, 2 – “A colonização portuguesa no Ceará. O povoamento”. Prêmio outorgado pela Sociedade Beneficente Dous de Fevereiro, 3 – “História da Medicina no Ceará”. (1978) Prêmio Governo do Estado do Ceará. Este último, ora lançado ao público, oportunamente reeditado pelo INESP, editora da Assembleia Legislativa, cujo catálogo retrata a preocupação em recuperar, preservar e difundir a memória de nossas instituições políticas, dos movimentos sociais e de seus protagonistas. Por mais de uma vez a demanda agora satisfeita me foi apresentada por interessados que se ressentiam da obra esgotada e clamavam por uma nova edição.
Corria o ano de 1978 quando o Governador Waldemar Alcântara, um dos fundadores da nossa faculdade de medicina e seu diretor por dois períodos, sucessivos instituiu por decreto, a guisa de comemorar os trinta anos de abertura da escola, concurso literário tendo por tema a história da medicina no Ceará. A ele concorreram dois autores sob os pseudônimos de Galeno de Monte-Mor e Simon Mazon havendo a comissão julgadora composta por Osvaldo Riedel, Otacílio Colares e José Humberto Tavares de Oliveira decidido premiar o primeiro recomendando, no entanto, a publicação dos dois dada a qualidade de que se revestiam embora o segundo se ativesse apenas ao período colonial. Identificados os candidatos verificou-se tratarem-se do vencedor Vinicius Barros Leal e de Socorro Nobre ambos médicos pediatras docentes da faculdade homenageada. A publicação dos trabalhos, em decorrência do exitoso certame, tornou-se um marco para o conhecimento dos pródromos e evolução da arte de curar em território cearense. A forma generosa de encarar a história, na introdução que escreveu para a monografia premiada, fez com que prestasse homenagem aos quatro colegas, “heróis, homens extraordinários” que tombaram no combate à epidemia de cólera que grassava em Fortaleza no ano de 1878 assim como recordou outros médicos sobreviventes da grande hecatombe sanitária. Antes do texto do Dr. Vinicius os relatos existentes sobre fatos, instituições e vultos proeminentes da medicina local pecavam por sua natureza fragmentária e incompletude com evidente prejuízo de uma visão sequenciada do curso do processo histórico. Há livros que passam e livros que ficam. Estes são ditos fundadores porque depois deles ninguém escreverá sobre o tema ali abordado sem menciona-los como fonte de consulta e informação. Tal o livro em comento por sua abrangência, precisão, elaboração metódica e anexos que resumem a cronologia de eventos e a menção a personagens neles inseridos. Como cidadão observou nobres valores, cultivou amizades, pai e esposo modelo, profissional idôneo e ético.
Convivi pouco com o Dr. Vinicius, perda sem remédio, guardo dele o semblante tranquilo, o meio sorriso, a postura comedida de nossos esporádicos encontros em eventos acadêmicos. Ficaram também os dois livros que me ofereceu com delicadas dedicatórias. E mais, um exemplar da edição patrocinada pelo governo do estado dedicado de próprio punho, letra miúda bem legível, ao meu pai, aqui reproduzida por conferi-la certo valor histórico decorridos quarenta anos de firmada: “Ao eminente e preclaro colega e confrade Waldemar Alcântara a minha homenagem de consideração respeito e louvor pela iniciativa de ter proporcionado aos médicos cearenses o registro das memórias de nossa medicina. Fortaleza 10 de março de 1979. Vinicius Barros Leal”
Festejar este lançamento é o regozijo dos que esperavam pela segunda aparição da obra retirada da campa do esquecimento onde dormitava sem espargir as luzes do entendimento sobre tantos que se interessam pelo assunto. Que outros, entre os muitos talentos que sobejam em nosso meio, possam dar-lhe necessária continuidade e atualização para gáudio dos adeptos da história da medicina. Honra seja feita a uma vida toda de serviço em prol da medicina e da cultura inspirada nas virtudes cristãs as quais cultivou com inviolada fidelidade.
Por Lúcio Alcântara
DESPEDIDAS DE UM VICENTINO PARA O DR. VINICIUS
Como poderia pressupor que a minha visita ao Vinicius, na tarde do domingo – dia 11 – no Hospital São Mateus, fosse o último adeus, pois apenas dois dias depois, já em seu lar, confortado por seus queridos familiares, partiu para a eternidade.
Imbuído de fé indômita e robusta, alicerçada na solidez granítica de profundos conhecimentos, vivendo plena e estoicamente segundo os ensinamentos do Divino Mestre, calcaste, Vinicius, teus atos nos preceitos evangélicos, onde hauriste forças suficientes para os embates incessantes dos tufões que se desencadeiam no “mare-magnum” da existência.
Foste modelo de batalhador incansável, numa vida de muitas lutas, de dignidade, de amor ao próximo, de insigne historiador e de conselheiro nas horas difíceis.
Não se pode esquecer o teu semblante sereno e acolhedor, a tua alegria de viver, um dom indizível de Deus, o teu entusiasmo, o teu desprendimento, a tua simplicidade, tuas mãos sempre estendidas para doar.
Na longa caminhada de quase 90 anos, cercado por esposa e filhos e tantas outras pessoas, que contigo colaboraram na seara do Senhor, te propuseste a realizar os planos de Deus, tendo como lema: servir!
Fundaste, em 25 de maio de 1988, a Conferência Vicentina Nossa Senhora Mãe da Igreja, aqui representada por vários de seus confrades e que, há 22 anos, vem desenvolvendo uma atividade profícua em prol das pessoas carentes.
Em teu fecundo apostolado, todo ele enaltecido pela abnegação, pelo heroísmo e pelo labor incessante, o espírito filantrópico e altruísta sobrepairou altaneiro, guindando-se nos píncaros, onde são glorificados os apóstolos do bem e da verdade.
Se escultor fosse, esculpiria uma estátua, cujo semblante sereno e acolhedor, espelhasse sempre o teu ideal: as mãos estendidas, prontas para o gesto de um longo abraço, como se quisesse pousar sobre as mazelas deste mundo e transformá-las em quietude e felicidade, num amplexo longo e cristão, que envolvesse todos: os pobres, os esquecidos, os aflitos, os negros e brancos, os necessitados e os abastados. A estátua teria, ainda, uma capa ampla como a de São Vicente de Paulo, mas estranhamente sem botões, para que pudesse ser ofertada, a qualquer momento, sem paga ou recompensa, aos que estivessem tristes, revelassem desânimo e àqueles que tivessem fome ou necessidade de uma palavra amiga.
Vinicius, baluarte da Igreja Católica, baluarte da Sociedade Médica São Lucas, baluarte da Sociedade de São Vicente de Paulo, modelou seus atos nos Santos Evangelhos, e, no ocaso de sua vida, pôde afirmar como São Paulo, em sua segunda carta a Timóteo: “Combati o bom combate. Terminei a minha carreira, guardei a fé”. (II TIM 4,7).
Obrigado Por Narcélio Lima Sobreira (Texto lido pelo autor na Missa de Sétimo Dia do Dr. Vinicius Barros Leal, em 19 de abril de 2010)
Artigos escritos por Vinícius na
O Pensamento Vivo de Vinícius Barros Leal
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VINÍCIUS ANTONIUS HOLANDA DE BARROS LEAL, nasceu em 16 de outubro em Baturité, Ceará, Brasil, filho de JOÃO PAULINO DE BARROS LEAL NETTO e MARIA DOLORES HOLANDA DE BARROS LEAL. Casou-se com IDILVA MOREIRA DE CASTRO ALVES em 30 de dezembro de 1950, filha de PASCHOAL DE CASTRO ALVES e MARIA DE LOURDES MOREIRA DE CASTRO ALVES. Ela nasceu em 6 de fevereiro em Fortaleza, Ceará.
Filhos de VINÍCIUS e IDILVA:
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