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FRACASSADOS
BEM-SUCEDIDOS
*Márcio Accioly
29/07/2000
Fala-se que o Brasil não oferece oportunidade e não valoriza ninguém, mas, com freqüência, somos surpreendidos pelo fulgurante sucesso de pessoas despreparadas e com baixo nível de alfabetização. Figuras sem qualificação profissional ou intelectual que, da noite para o dia, ou de governo para outro, ascendem a postos dos mais expressivos. Surgidas do nada, pontificam autoridade, exercendo funções complexas no domínio de intricadas questões. Como o ministro da Reforma Agrária, Raul Jungmann Pinto. Cognominadas de íntegras, essas pessoas só deixam de roer o osso público no bojo de escândalo que se sobreponha aos já conhecidos. Isso não as impede de retornar mais tarde, depois de tudo esquecido, ainda mais fortes. O importante é ser “habilidoso”, virtude que Jungmann Pinto tem provado possuir. Ao assumir o Ministério, a primeira providência tomada por sua excelência foi eliminar o Pinto de sua identificação, marcando presença com pomposo sobrenome: Jungmann.
O ministro Jungmann Pinto só encontra similar no inesquecível personagem, Zelig, fruto de geniais lucubrações do cineasta novaiorquino, Woody Allen. Zelig nunca era a mesma pessoa, metamorfoseava-se como camaleão. Não era simples disfarce não, era metamorfose mesmo. Mudava de personalidade e de compleição, assim como o ministro, dependendo, apenas, do grupo social que freqüentasse no momento. Quando na companhia de turcos ou de armênios, a pele de Zelig ficava escura, o cabelo alterava a tonalidade e a língua e o sotaque seriam o mesmo da maioria dominante. Como o ministro, que, apesar de pernambucano, fala com perfeito sotaque paulista. Durante a Guerra Civil dos Estados Unidos, num encontro matinal com escravagistas do Sul, Zelig argumentou sobre a justeza da escravidão. À tarde, circulando entre tarefeiros e serviçais, defendeu ideais libertários, condenando com veemência a discriminação racial.
Filho de classe média pobre do bairro do Prado, em Recife, Raul Jungmann Pinto sempre foi rebelde e “revolucionário”, combatente da opressão e das desigualdades. Apesar de inculto, não deve ser catalogado como burro, pois, trata-se de impressionante “vivaracho”. No seu tempo de aluno da Universidade Católica, onde não concluiu nenhum curso superior, Zelig, ou melhor, Raul Jungmann Pinto, podia ser visto todas as noites no hall da entrada principal, junto à turma da pichação. Carregava sempre um pincel no bolso, pronto para agir, a mente sonhando com os muros disponíveis. Membro da chamada Juventude Comunista do velho PCB (apesar de nunca ter se filiado), sua dedicação à causa era tão forte que foi espancado, certa ocasião, por um artista plástico conhecido por “Lula Machão”, em virtude de defesa apaixonada que fazia do então deputado federal, Roberto Freire.
Justificava sua não filiação ao PCB à necessidade de poder circular, sem cobrança e sem rotulagem, entre as diversas correntes políticas. Não queria sofrer restrições. Trotskista de salão, dos que carregam o mesmo livro suado e não lido, embaixo da axila, bradava contra o regime autoritário nas oportunidades em que não corresse risco. Por conta dessas ocupações não concluiu o curso de Psicologia e se matriculou no de História. Como também não concluiu esse último, há de se alegar sabotagem militar, com o fito de impedi-lo figurar entre formados. Raul Jugmann Pinto foi seguidor de Roberto Freire, Gregório Bezerra, Miguel Arraes, Marcos Freire, Cid Sampaio e Jarbas Vasconcelos, antes de terminar no colo aconchegante de FHC, na mal compreendida tarefa de entregar as riquezas nacionais e rebaixar o Brasil à vil condição de Colônia.
É inacreditável o poder exercido por tão tristes figuras, na vida nacional, viajando e proferindo palestras, decidindo e liderando sem convicção e sem embasamento, sem idéias e sem leitura. Defendem hoje o que ontem repudiavam com ênfase total. E estão dispostos a negar, o que agora dizem, se a situação mudar outra vez. Com Zelig nós rimos e nos divertimos nas situações absurdas e nas trapaças que sabemos ser fictícias. Já com o ministro o mesmo não acontece. Somos presos à comédia pastelão da pior categoria e a arremedo de “seriedade” que não convence. O poder público brasileiro sustenta-se na miséria e na degradação moral de toda a nação. Porque figuras como Raul Jungmann Pinto, que nada produzem além de mera subserviência, são contempladas com posições e oportunidades absolutamente imerecidas.