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CRIME E OMISSÃO
Márcio Accioly*
sábado, 08/07/2000
Todas as vezes que ouve falar nos 169 milhões e 500 mil dólares (valor da época), desviados do prédio do TRT de São Paulo, FHC treme nas bases. Ele sabe que, se tudo fosse apurado como deveria, não haveria meio de comunicação capaz de defender a sua permanência no cargo. O ex-secretário-geral da Presidência, Eduardo Jorge, ex-coordenador administrativo e financeiro da campanha de FHC, está atolado nessa história até o pescoço. Faltam cerca de 73 milhões e 200 mil dólares do dinheiro afanado. 94 milhões e 300 mil dólares encontravam-se depositados nas contas de Luís Estêvão, do “empresário” Monteiro de Barros e do juiz Nicolau Lalau. A PF tem o registro de dezenas de telefonemas de Luís Estêvão e do juiz Lalau, para Eduardo Jorge (quando este ainda era secretário do presidente), em misteriosa intimidade.
Todos se recordam da intensa movimentação acontecida nos bastidores, quando o ex-senador foi preso pela Polícia Federal de Brasília. Menos de 24 horas depois, já estava solto. Até mesmo o presidente do Congresso Nacional, ACM (PFL-BA), comentou apressadamente a “arbitrariedade” cometida, assegurando não haver justificativa para a prisão. Se fosse um ladrão de galinha, o ex-parlamentar seria barbaramente torturado em uma das muitas delegacias imundas espalhadas por este país. Mas, como o escândalo envolve milhões e milhões de dólares, compreendem-se privilégios e deferência. Se Luiz Estêvão abrisse a boca, iria comprometer figuras das mais “respeitáveis”. Pessoas louvadas na hipocrisia generalizada. O país exibe sua face mais cruel, sem artifícios, mostrando-se governado por quadrilhas.
Contam-se nos dedos os municípios e governos estaduais onde não se registram roubos e desvios do dinheiro público. Não haveria prisão para tantos, se a legislação fosse seguida ao pé-da-letra. Por isso que sempre se arranja o famoso jeitinho, na cobertura de certas “autoridades”. Num país onde a maioria exibe vistoso rabo-de-palha, tocar fogo na cauda alheia pode causar incêndio catastrófico, multiplicador e incontrolável. A omissão, no entanto, trará prejuízo de igual monta. Enquanto a classe média e parte da elite se movimentam em campanhas ineficazes, querendo dar um basta à violência, prossegue a matança generalizada no dia-a-dia. De janeiro a junho deste ano já foram assassinadas cerca de 20 mil pessoas.
A única maneira de reduzir a violência seria através do investimento no pleno emprego e na educação, ocupando-se os jovens. É impossível governar um país com tanta pornografia, tanta impunidade e desvios não reprimidos. Os meios de comunicação vivem acomodando a realidade, manipulando e dirigindo mentes. O país das novelas é totalmente diferente daquele enfrentado nas ruas, nos desafios do cotidiano. A sociedade teria de se mobilizar, antes de tudo, para exigir o cumprimento das leis, igualdade de direitos e prestação de serviços. Os maiores criminosos estão nos cargos de comando, ditando e impondo regras: doando o país, escravizando o povo e saqueando os cofres públicos. Desconhecer essa verdade é malhar em ferro frio, tapar o Sol com uma peneira. Com essa elite dirigente que possuímos, não nos resta possibilidade de salvação.
*Márcio Accioly é jornalista