"MEU NOME É ENÉAS"
"Se, depois de tomar posse na Presidência da República, passado o período de seis meses, ainda existirem crianças nas ruas, abandonadas, sem escola, mendigando, eu e todos os meus companheiros de equipe renunciaremos às nossas funções".
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A Convicção do Outro
26/08/1998
Não é necessário ser pessoa extremamente inteligente e culta nem é, tampouco, indispensável ter lido dezenas e dezenas de livros, entender de filosofia, economia ou coisa que o valha, para constatar essa verdade pura e simples: o Plano Real acabou! Teve gente que lutou a favor e outros que torceram contra, do início ao fim (dependendo dos interesses em jogo), irmanados no igual desconhecimento, pessoas que se desesperaram e se tranqüilizaram e, alguns, que enxergaram esse Plano como verdadeira salvação e milagre. Existe muita gente, ainda, que mesmo na data de hoje sequer percebeu essa realidade nua e crua: o Plano Real acabou! A bem da verdade, deve-se dizer que o milagre durou bem mais tempo do que seria, normalmente, de se esperar, embora o total de resultados desastrosos da irresponsável aventura ainda esteja por vir e ninguém, absolutamente ninguém, seja capaz de dizer, em sã consciência, o que irá acontecer.
Não vamos analisar aqui as falhas do Plano Real, porque esse assunto já está sendo abordado numa outra página (o link para ela, encontra-se aqui e lá em cima, é só clicar no título, "A Farsa do Plano Real" e buscar maiores detalhes), mas falar a respeito da enorme irresponsabilidade dos nossos ditos "governantes" e da chamada grande imprensa, que nada consegue detectar, mesmo aquilo que alcance a dimensão de uma girafa, um elefante ou um dromedário. A maioria dos jornalistas brasileiros, com raríssimas exceções (e coloquemos toda a força no termo, "raríssimas"), padece de qualquer conhecimento intelectual mais aprofundado, limitando-se, unicamente, a repetir chavões e frases soltas, citações que recolhem em alguma perdida orelha de livro, ou "análises econômicas" de muitos dos renomados "vivarachos" que circulam pela praça e vizinhança.
O fato é que, pensar, refletir, constitui-se em doloroso processo. Vez por outra, os jornalões, jornalecos e jornalinhos publicam opiniões dos ex-ministros Delfim Netto e Mailson da Nóbrega, só para citar os mais conhecidos, como se essas pessoas tivessem exercido sabiamente suas funções públicas e não tivessem nada vezes nada a ver com a situação caótica e desesperadora que vivemos e presenciamos. Como se não devessem ser, diretamente, responsabilizados pelos desmandos. Pois, sem nenhuma dúvida, chegou a hora de cobrança da farra do Plano Real. O "governo" que aí se encontra (o candidato Fernando Henrique Cardoso) está mentindo, vigorosamente, porque tenta se reeleger de qualquer maneira. Sabe-se que já tem um pacote econômico, pronto e acabado, o qual irá agravar, ainda mais, o triste cenário de insuportável miséria, mas o nega de maneira veemente. A esperança é a de se reeleger e empurrá-lo, então, goela adentro da nação.
Como é que o candidato FHC afirma, com a cara mais cínica do planeta, que irá "criar sete milhões e 800 mil novos empregos?" Sem mudar essa política entreguista e de brutal dilapidação do patrimônio nacional? Porque não os criou antes? Porque não os cria já, agora, neste exato momento? Simplesmente, porque está mentindo, porque é incapaz de tomar qualquer atitude que beneficie nosso povo, porque não consegue se livrar dos grilhões do compromisso de entreguista que assumiu. Afinal de contas, quem é o atual presidente da República? Pior de tudo, apavorante mesmo, é sua excelência não ser submetido ao menor questionamento, porque os jornalistas que compõem a grande imprensa (repitamos, com raríssimas, raríssimas exceções), nada sabem, nada vêem e nada percebem. A "convicção" exibida pela maioria esmagadora de nossa grande imprensa, deve ser classificada como a "convicção do outro". Eles publicam, e defendem, com todas as forças, a última opinião ouvida, seja ela a do ex-ministro Delfim Netto ou a do ex-ministro Mailson da Nóbrega, ou a de qualquer um outro, porque não estudam, não lêem e não têm capacidade crítica, na absoluta falta de conhecimento.
É mais fácil encontrar um jornalista num bar noturno, bebericando e tomando partido, "vivendo a noite" e discutindo futilidades (ou assegurando, com a mais absoluta das certezas, aquilo que desconhece), do que sentado diante de um bom livro, lendo e exercitando sua capacidade de reflexão, orientando-se para a imprescindível tarefa de melhor esclarecer os seus leitores. Muito pelo contrário, raros são aqueles que conseguem ler alguma coisa, estudar outra língua, num instante em que o mundo caminha para essa nova forma de engodo, que é o da "globalização".
A prática política que vem sendo posta em ação, originada no "wishful thinking" das nações do primeiro mundo, encontra, receptividade costumeira, nos países subdesenvolvidos, devido à vocação colonialista e à pacífica submissão dos que se recusam, de maneira sistemática, a pensar ou exercitar seu justo direito de contestação. A maioria dos jornalistas brasileiros vive da divulgação de velhos chavões, da repetição prazerosa de velhos fracassos, como se a vida estivesse resumida a esse jogo de acomodação e nada de novo fosse capaz de surgir através da pesquisa, da reflexão apurada e do estudo permanente. Falam pela boca dos outros, a dos sabichões, sem idéias próprias. O Plano Real acabou, o país está cada vez mais endividado, a miséria grita nas ruas, através da violência de aterrorizante proporção, mas, infelizmente, os que deveriam alertar e alimentar o debate, estão sem assunto, deserdados de idéias, repetindo antigas fórmulas e velhas poções mágicas de feiticeiros desmoralizados, sem qualquer credibilidade e nem sentido.
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