10) DEGERMAÇÃO
DAS MÃOS
A degermação das mãos é
uma conduta de baixo custo e extremamente relevante no contexto da prevenção
da infecção hospitalar. É preciso, pois, que os profissionais
de saúde sejam alertados e conscientizados sobre a necessidade da
adesão aos corretos métodos para essa prática, uma
vez que a flora (residente e mais freqüentemente, transitória)
pode ser causadora de contaminação e infecção
hospitalar.
A) Métodos
A escolha do método para eliminação
ou inativação dos microorganismos das mãos depende
da flora em que se quer atuar e da situação em particular.
A flora residente não e facilmente removível por lavação
e escovação mas pode ser inativada por anti-sépticos.
A flora transitória, por sua vez ,e facilmente removível
pela simples limpeza com água e sabão ou destruída
pela aplicação de anti-sépticos.
1) lavagem básica das mãos;
esse procedimento objetiva a remoção
da maioria da flora transitória bem como de sujidades células
descamativas, oleosidades, suor, pêlos ,e alguns microorganismos
da
a) abrir a torneira sem encostar na pia para evitar
contaminação da roupa
b) colocar 3a5ml de sabão liquido
nas mãos se o sabão for em barra enxagua-lo antes de usa-lo
c) ensaboar mãos por 15 a 30 segundos não
esquecendo palma , dorso , espaços interdigitais ,polegar ,articulações
,unhas , extremidades dos dedos e punhos
d) enxaguar as mãos , em água corrente
,retirando totalmente a espuma e os resíduos de sabão ,sem
respingar água na roupa e no piso e sem encostar na pia
c enxugar as mãos com papel toalha duas folhas
e, com esse papel toalha, fechar a torneira, desprezando-o no lixo.
É necessário lavar as mãos nas
seguintes ocasiões:
-
Quando estiverem sujas.
-
Antes e após contato direto com o paciente.
-
Antes de administrar medicação ao paciente.
-
Ao preparar materiais e equipamentos.
-
Na manipulação de catéteres, equipamentos
respiratórios e na manipulação do sistema fechado
de drenagem urinária.
-
Antes e após realizar trabalho hospitalar.
-
Antes e após realizar atos e funções
fisiológicas ou pessoais.
-
Ao preparar micronebulização.
-
Na coleta de material para exame propedêutico.
-
Antes e após uso de luvas.
-
Antes e depois de manusear alimentos.
-
Antes de depois de manusear cada paciente e, eventualmente,
entre as atividades realizadas num mesmo paciente.
O sabão líquido deve ser preferido (menor
risco de contaminação). O sabão em barra, se usado,
deve ser pequeno (visando sua substituição freqüente)
e colocado em suporte vazado. A limpeza do dispensador do sabão
líquido deve ser feita semanalmente com água e sabão.
Toalhas de pano ou de rolo devem ser evitadas.
A CCIH deve ser consultada antes da compra de qualquer
material envolvido na rotina da lavação de mãos.
2) Anti-sepsia das mãos:
A anti-sepsia é feita com substâncias
que removem, destroem ou impedem o crescimento de microorganismos da flora
transitória e alguns residente da pele e mucosas, chamados anti-sépticos.
A anti-sepsia direta das mãos pode ser feita
em locais onde a lavagem das mãos não é viável
não estando as últimas sujas com matéria orgânica.
A técnica, nesse caso, inclui fricção de 3 a 5 ml
de anti-séptico por no mínimo 15 segundos em toda a superfície
das mãos. A secagem deve ser natural no caso de Ter sido usado álcool.
Em procedimentos de risco que não precisem
de efeito residual dos anti-sépticos pode-se optar pela lavagem
das mãos com água e sabão, seguida do uso de anti-séptico.
Procede-se desse modo, por exemplo; no preparo da dieta para o berçário,
no preparo de solução parenteral e enteral, na instalação
de diálise, na instrumentação e sondagem de orifícios
naturais, em punções, após tarefa em laboratório,
antes e após curativos.
A escolha entre lavagem simples das mãos,
uso de anti-sépticos e lavagem seguida de anti-séptico deve
basear-se no grau de contaminação, no procedimento a ser
realizado e na importância de reduzir-se a flora transitória
e/ou residente.
O anti-séptico de escolha deve ser aquele
que melhor se adeqüe aos parâmetros de ação sobre
a microbiota em questão, tolerância do profissional e custo.
Para o uso hospitalar são mais indicados: álcool glicerinado
a 2% 70Gl (que não resseca tanto a pele e é virucida e tuberculicida),
iodóforos como PVPI e gluconato de clorhexidina.
3) Preparo pré-cirúrgico das mãos
:
É um procedimento que objetiva reduzir o risco
de contaminação da ferida cirúrgica pela remoção
ou destruição dos microorganismos da microbiota transitória
e pela redução ou inativação da flora residente.
Para melhor eficiência do procedimento o profissional
deve : remover TODAS as jóias e relógios, Ter unhas aparadas
e sem esmalte, não podendo ser usada unhas postiças. Escova
duras e reaproveitáveis devem ser evitadas.
O material básico a ser utilizado consta de
:
-
água em pias com acionamento de pé, cotovelo
ou joelho;
-
dispensador de sabão líquido e anti-séptico;
-
porta papel com toalha descartável;
-
escovas individuais e estéreis;
-
compressas estéreis;
-
solução alcoólicas.
O procedimento do preparo cirúrgico das
mãos consiste em :
-
Abra a torneira, sem utilizar as mãos, molhando
as mãos, antebraços e cotovelo;
-
Coloque a solução detergente anti-séptica
e espalhe-a nas mãos e antebraços;
-
Pegue uma escova esterilizada e escove as unhas, dedos,
mãos e antebraços, nesta ordem, sem retorno, por cinco minutos,
mantendo as mãos em altura superior aos cotovelos;
-
Use para as mãos e antebraços o lado da
escova não utilizado para as unhas (no caso da escova ter só
um lado, use duas escovas);
-
Detenha-se, particularmente, nos sulcos, pregas e espaços
interdigitais, articulações e extremidades dos dedos, com
movimentos de fricção;
-
Enxágüe os dedos, depois as mãos,
deixando que a água caia por último nos antebraços
que devem estar afastados do tronco, de forma que a água escorra
para os cotovelos, procurando manter as mãos em plano mais elevado;
-
Enxugue as mãos com compressas estéreis,
que devem vir dobradas em quatro partes, enxugando-se primeiro uma das
mãos e, com o outro lado enxuga-se a outra. Colocam-se estes lados
um de encontro ao outro, de forma a se obter outros dois lados estéreis.
Enxuga-se um antebraço. Vira-se a compressa na sua face interna
e enxuga-se o outro antebraço, desprezando a compressas;
-
Aplique a solução alcoólica do
anti-séptico utilizado, deixando-a secar antes de calçar
as luvas. Essa luva química pode ser dispensável. Caso o
profissional tenha alergia ao iodo, substitua o PVP-I pelo gluconato de
clorhexidina. Não use álcool após o uso dessas soluções,
pois o efeito residual obtido com elas será anulado.
Procedimento retirado de : "Infecção Hospitalar
- Epidemiologia e Controle - R.C. Couto, T.M.G. Pedrosa e J.M. Nogueira
- Editora Medsi - 1997."
Considera-se os iodóforos e a clorhexidina
os agentes microbicidas mais eficientes para degermação pré
- operatória das mãos pois garantem redução
superior a 90% da microbiota transitória.
São sais sódicos (ácidos graxos
+ radicais básicos). Têm ação tensoativa (detergente)
permitindo a retirada pela água de sujidades e microorganismos não
residentes. Sua qualidade depende dos materiais empregados na sua confecção.
Alguns trabalhos recomendam o uso de sabões
mais antimicrobianos para lavagem de mãos. Esse procedimento não
é válido pelo CDC (Centers for Disease Control).
Podem ser definidos como substâncias hipoalergênicas
de baixa causticidade que matam ou inibem crescimento de microorganismos
quando aplicados sobre a pele. Não devem ser usados sobre superfícies
(com exceção do iodo e do álcool que possuem ação
desinfetante).
No âmbito hospitalar os mais utilizados são
álcool etílico, gluconato de clorhexidina e os compostos
de iodo. Perdem sua efetividade sobre influência de luz, temperatura,
pH e tempo.
Os anti-sépticos escolhidos por determinado
SCIH (Serviço de Controle de Infecção Hospitalar)
devem ser aceitos pela Secretaria de Medicamentos da Secretaria Nacional
de Vigilância Sanitária do Ministério da Saúde
(DIMED) - A CCIH deve ser consultada antes da aquisição de
qualquer um desses produtos. Os principais são :
Age por desnaturação de proteínas.
É tuberculicida, virucida, fungicida e Gram - e + . Não é
esporicida. Sua atividade é reduzida em presença de matéria
orgânica. Não deve ser usado em mãos úmidas
e só completa sua ação germicida ao secar. O ressecamento
das mãos por ele causado pode ser minimizado pelo uso de emolientes
junto à solução como glicerina a 2%. Sua ação
é imediata e até três horas após a exposição.
Não possui efeito residual. É indicado para :
-
desinfetar artigos semicríticos e superfícies
fixas;
-
fazer anti-sepsia de mãos após lavação;
-
anti-sepsia de pele antes de venopunção;
-
anti-sepsia de coto umbilical em recém - nascido.
-
clorhexidina (gluconato de clorhexidina)
Rompe a membrana celular de micróbios e precipita
seu conteúdo. É do grupo das biguanidas sendo um bactericida
melhor para Gram + que para Gram -. É bom fungicida mas é
minimamente tuberculicida. Não é esporicida mas age contra
vírus lipofílicos (HIV, CMV, herpes simples, influenza).
Sua ação inicia-se com 15 segundos de fricção
e o efeito residual é de 5-6 horas. Baixa toxidade ao contato causando
ceratite e ototoxidade se aplicado diretamente em olhos e ouvidos (respectivamente).
Tem sua ação anulada por sabão, soro, sangue e detergentes
aniônicos. Deixa manchas em roupas e não deve se posto em
frasco em tampa de cortiça (inativado pelo tanino). É indicado
para :
-
Anti-sepsia em pele e mucosas (solução
aquosa a 4%);
-
Anti-sepsia complementar e demarcação
da pele no campo operatório (solução alcoólica
em álcool 70% de 0,5% de clorhexidina);
-
Degermação de campo cirúrgico e
anti-sepsia de mãos e antebraços no pré - operatório
(detergente líquido + solução aquosa a 4%);
-
Casos de alergia ao PVPI;
-
Em epidemias ou surtos de Staphylococcus aureus para
anti-sepsia de mãos e banho em recém - nascidos.
-
Iodóforos
PVPI (polivinilperrolidona 10% iodo 1%) age penetrando
na parede celular e substituindo seu conteúdo por iodo livre. É
virucida, tuberculicida, fungicida, amebicida, nematocida, inseticida tendo
alguma ação esporicida. É bactericida para Gram +
e -. O efeito residual é de seis a oito horas e necessita de dois
minutos de contato para começar a agir. Deve ser acondicionado em
frascos âmbar exceto solução alcoólicas que
devem ser guardadas em frascos transparentes. É inativado por substâncias
orgânicas não devendo ser usado em recém - nascidos.
Pode ser encontrado como :
-
PVPI detergente (solução detergente) :
degermação pré- operatória (campo e equipe),
ao redor de feridas. Deve ser enxaguado e usado apenas em pele íntegra.
-
PVPI tópico (solução aquosa) :
anti-sepsia em mucosas e curativos, aplicação em feridas
superficiais e queimaduras, etc.
-
PVPI tintura (solução alcoólica)
: luva química, anti-sepsia de campo operatório após
PVPI degermante, demarcação da área cirúrgica.
-
Álcool iodado 0,5 a 1%
É bactericida, virucida, fungicida, tuberculicida
mas não esporicida. É irritante para a pele, não tem
ação residual e deve ser removido após secagem. Deve
ser acondicionado em frasco âmbar.
É usado para o preparo da pele do campo operatório,
e anti-sepsia da pele em pequenos procedimentos invasivos.
Obs : Há ainda uma série de anti-sépticos,
dentre os quais deve-se ressaltar que estão proscritos pelo Ministério
da Saúde : compostos mercuriais, líquido de Dakin, compostos
de amônio quaternário, éter, clorofórmio, acetona.
Voltar para: Introdução
Voltar para: Página
principal