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INTRODUÇÃO À MESOPOTÂMIA



Figura 1 -Mapa da Região: Suméria, Babilônia e Assíria representados acima.

OS PRIMEIROS PASSOS SOBRE O ORIENTE PRÓXIMO

Lishtar

Há milênios atrás, as terras baixas e férteis das bacias dos rios Tigre e Eufrates foram a pátria de civilizações que envolveram uma sociedade urbana, rica e complexa. Estas civilizações foram salvas do esquecimento com a descoberta inesperada no século passado de bibliotecas completas em escavações arqueológicas. Milhares de tábuas de argila, inscritas com o sistema de escrita cuneiforme, estavam (e ainda estão) enterradas nas ruínas de cidades milenares, muitas destas tendo sido enterradas quando de saques ou incêndios a estes lugares. Cuneiforme vem do latim cuneos or cunha, uma vez que com um lápis ou caneta feito de junco, caracteres eram pressionados em tábuas de argila. Estas tábuas de argila, em geral secas ao sol e guardadas em estantes de madeira, em geral eram quase sempre queimadas quando uma cidade estava para ser destruída e seus tesouros roubados. Entretanto, argila não é algo valioso para os caçadores de tesouros e ladrões alguns séculos depois, e portanto, até pelo menos o século XIX da nossa era, as tábuas de argila eram deixadas intocadas e assim, salvas para nós e a eternidade. Quando tais tábuas de argila começaram a ter seus exóticos caracteres decifrados, elas revelaram um imenso legado de antepassados que haviam a longo tempo deixado de existir, mas cujas vidas, histórias, alegrias e tristezas, como passe de mágica, poderia começar a desfilar ante nossos olhos.

O ramo da ciência que lida com o estudo das civilizações antigas do Oriente Próximo chama-se Assiriologia, chamado assim em honra do Império Assírio, que foi o primeiro descoberto por arqueólogos franceses nas suas primeiras escavações. Este império agora é conhecido como o Novo Império Assírio, datado do primeiro milênio de antes da nossa era (cerca de 3000 anos atrás).


1. DADOS GEOGRÁFICOS

O termo `Mesopotâmia' é de origem grega, e quer dizer Terra Entre Rios. O nome é usado para as áreas banhadas pelos rios Eufrates e Tigre e seus afluentes, e que compreende as terras do Iraque, Irã e de parte da Síria de nossos dias. Ao sul da moderna cidade de Bagdad, as planícies aluviais destes dois rios eram chamadas de terras da Suméria e Acádia (Ácade) no Terceiro Milênio antes da nossa era, ou a cerca de 5.000 anos atras. Suméria é a região mais ao Sul, enquanto que a Acádia corresponderia à área próxima a Bagdad, onde os rios Eufrates and Tigre estão muito próximos um do outro. No Segundo Milênio antes da nossa era, as duas regiões juntas foram chamada de Babilônia, uma terra quase que totalmente plana. O território ao Norte, entre os rios Tigre o Grande Zab, é chamado de Assíria, e tem fronteira de montanhas.

Regiões Vizinhas: A região contendo a parte asiática da Turquia moderna chama-se Anatólia. Os países ao longo da costa do Mediterrâneo (os modernos Síria, Líbano, Jordânia e Israel) extendem-se para o Leste na direção do deserto sírio e ao Norte na direção da região que será chamada de Siria-Palestina. O Irã moderno é equivalente à Pérsia, e inclui a região sudoeste, que nos tempos antigos era chamada de Elam.

Uso dos rios pelo homem: Desde os tempos pré-históricos, o homem foi atraído pelos dois rios Tigre e Eufrates. O rio Tigre ou Idiglat, que em acádio quer dizer 'rápido como uma flecha', entrava a fundo na terra, mas era de navegação difícil e acidentada. O Eufrates, por outro lado, é caudaloso e regular, fazendo possível a navegação e a construção de canais para irrigação. As chuvas nas montanhas ao Norte possibilitam a agricultura, mas o mesmo não ocorria com as terras baixas da Babilônia, onde a precipitação é baixa e concentrada nos meses de Dezembro a Fevereiro, deixando a terra seca para o verão, quando de primaveras quentes. Sem irrigação, a agricultura seria impossível na região.

Mudança no curso dos rios e da costa: Nos últimos quilômetros ao longo do curso do Eufrates ao Sul, o fluxo cai em cerca de 10 metros. Isto quer dizer que o curso deste rio tem-se alterado de forma significativa ao longo do tempo. As ruínas de muitas cidades famosas da antigüidade, como Eridu, Ur, Nippur e Kish estão agora longe do Eufrates, mas no passado elas estavam situadas às suas margens. Com o correr do tempo, o delta do rio provavelmente ganhou território sobre o Golfo Pérsico. A linha da costa moveu-se para o sul, e lagoas e estuários do passado transformaram-se em terra em nossos dias. A cidade de Eridu, lar do deus das águas doces, da sabedoria e da mágica, Enki (sumério) ou Ea em acádio, estava situada junto a uma lagoa perto do mar e era afamada por seu porto.

A mudança no curso dos muitos braços do rio teve grandes conseqüências no passado. Um problema ao norte das planícies do sul podia secar muitos braços de rio e incapacitar o sistema de irrigação. Muitas cidades sumérias guerrearam por este motivo.

Delta do Eufrates x delta do Nilo: O Eufrates atinge seus níveis de água mais elevados ao final de Março até o começo de Maio, seguido em algumas semanas pelo Tigre. Em ambos os casos os grãos já estão crescendo alto nos campos. A enchente do rio apenas pode ser usada para agricultura quando os campos estão protegidos por um sistema de barragens, diques e canais. Este aspecto contrasta com o Nilo no Egito. As águas altas do Nilo são resultado das monções de verão da África Central, que atingem seus níveis mais elevados em Setembro-Outubro. O Nilo fertiliza a terra no outono e os grãos podem crescer no início da primavera, quando ocorrem as cheias. Além do mais, o Nilo, alimentado por outros rios ao longo de uma grande superfície, tem um fluxo mais constante e carrega mais sais solúveis e limo para o mar. O Eufrates é mais propenso à salinização do que o Nilo.

Irrigação: O sistema de irrigação foi testado desde tempos muito antigos, ou seja a cerca de 6000 ANTES DA NOSSA ERA. Através de um sistema de diques, barragens e canais, a precipitação das regiões montanhosas do Norte podia ser usada no Sul. Isto exigia um alto grau de organização da sociedade e esforços coletivos para a construção, manutenção, supervisão e ajustes na rede de irrigação. Aguação em demasia e secas limitadas podiam causar quebras no solo e problemas ecológicos sérios. A mudança no fluxo dos rios e a irrigação propriciaram a formação de vilas e cidades. Nosso conhecimento da história da irrigação nesta região, porém, é limitado, devido a dificuldade em se datar as águas e como elas trabalham a terra.


3. CLIMA E MEIO AMBIENTE

Tendo em vista a forma da distribuição do clima e vegetação no Oriente Próximo (quase ausência de chuvas nas regiões desérticas centrais e elevada precipitação nas montanhas que limitam as regiões centrais), a área é chamada de crescente fértil. Por medições com carbono ativo, sabe-se que houve longos períodos de seca afetando a região de 3200-2900, 2350-2000 e a cerca de 1300 ANTES DA NOSSA ERA.

Agricultura: Após 8000 ANTES DA NOSSA ERA o meio ambiente do Oriente Próximo tornou-se substancialmente mais atraente para aglomerados humanos. Atlântico é o período no qual a agricultura se desenvolveu no Oriente Próximo, ao redor do Nilo no Egito e no Vale Hindu na Índia. O uso da agricultura expandiu-se gradualmente para o Norte e o Oeste. O Atlântico foi seguido de um clima de baixas temperaturas e precipitação. Um dos períodos relativamente frios e secos (4000-3000 ANTES DA NOSSA ERA) coincide com a expansão de cidades na Mesopotâmia e a fundação da dinastia egípcia.


4. POVOS

Dois grupos culturais formam os principais elementos na população da Mesopotâmia antes do começo da história e no milênio seguinte (o Terceiro Milênio ANTES DA NOSSA ERA). Estes grupos são os Sumérios e os Acádios. Os dois povos viviam pacificamente juntos e cresceram em simbiose e osmose um com o outro, criando as condições para uma civilização comum e organizada. As fontes mesopotâmicas em todos os períodos parecem estar isentas de estereótipos raciais e conflitos étnicos. Inimigos, tanto em termos de grupos como de indivíduos, podiam ser amaldiçoados e reabilitados, mas isto se aplica mais aos regentes de cidades vizinhas do que para alguém num território remoto.

Sumérios: O povo responsável pelos primeiros templos e palácios monumentais, pela fundação das primeiras cidades-estado e provavelmente pela invenção da escrita (tudo no período de 3100-3000 Antes da Nossa Era) são os Sumérios. Os primeiros sinais escritos são pictográficos, de modo que podem ser lidos em qualquer idioma e não se pode inferir de que idioma eles vieram especificamente. Um pictograma para flecha, por exemplo, quer dizer flecha em qualquer idioma, ex. è . Alguns séculos mais tarde, entretanto, estes sinais foram usados para representar valores fonéticos sumérios e palavras sumérias. O pictograma para uma flecha é agora usado para representar TI, a palavra suméria para flecha, e também para o som fonético TI em palavras não relacionadas com flecha. Portanto, em geral supõem-se que os sumérios foram também responsáveis pelos sinais pictográficos, ou possivelmente junto com (ou com grande influência) dos elamitas. Se os sumérios não são aqueles que na realidade inventaram a escrita, então no mínimo eles são responsáveis por rapidamente adotar e expandir a invenção da escrita para servir às suas necessidades de contabilidade (as primeiras tabelas são predominantemente de natureza econômica).

O nome Suméria é derivado do nome babilônico para Sul da Babilônia. Os sumérios chamavam seu país de ken.gi(r) `terra civilizada', seu idioma eme.gir e a si mesmos chamavam de sag.gi 6.ga `de cabeças escuras'. O idioma sumério não é semítico, sendo uma línguagem aglutinante, como finlandês e japonês. Ou seja, este termo é para uma tipologia de idiomas que contrasta com linguagens de inflexão, como os idiomas Indo-Europeus. Numa linguagem aglutinante (ou aglutinativa), as palavras do idioma são compostas por elos que se combinam entre si, em geral em seqüências bastante longas. Em idiomas de inflexão, o elemento básico (raiz) da palavra pode variar, daí ser chamado de inflexão.

Sumério não tem relação conhecida com qualquer outro idioma. Parece haver uma relação remota com os idiomas dravídicos (como o falado pelos Tamis no Sul da Índia). Há evidências de que idiomas dravídicos eram falados no Norte da ìndia, tendo sido deslocados pelos invasores Indo-Europeus ao redor de 1500 ANTES DA NOSSA ERA. O termo 'de cabeça escura' pode significar que os sumérios tenham sido um ramo daqueles que moram hoje no sul da Índia.

Invenções sumérias/Elamitas: os selos cilíndricos: Selos cilíndricos são pequenos cilindros de pedra (2-6 cm) esculpido com desenhos em entalhe. O cilindro era rolado sobre argila para marcar ou identificar tábuas de argila, envelopes, cerâmicas e tijolos. Seu uso coincide com o início do uso de tábuas escritas de argila ao final do Quarto Milênio até o final do primeiro milênio. Tais selos eram usados como assinatura, confirmação de recebimento, ou para marcar blocos de construção.

Pré-Sumérios : A origem dos sumérios é desconhecida. Sabe-se, porém, que os sumérios não foram o primeiro povo da Mesopotâmia. Não estão presentes registros deles antes de 4000 ANTES DA NOSSA ERA, mas na região já havia comunidades com alto nível de organisação. O princípio da agricultura não foi descoberto pelos sumérios. Isto fica evidente através das palavras dos próprios sumérios e do uso destas palavras com relação à domesticação de plantas e animais.

Acádios : (Semi-)nômades do Oriente Próximo. Mesmo na época em que grande parte da população da Mesopotâmia já era sedentária, grandes grupos de gente (nômades) estavam migrando ao mesmo tempo. Nômades vão de um lugar para o outro em busca de pastagens, movendo-se com as estações. Semi-nômades criam seus rebanhos nas proximidades de povoações, em geral exercendo comércio, trocando produtos por outros de fora e tendo todo tipo de interações. Esta característica ainda está prsente no Oriente Próximo de nossos dias. Nômades deixam poucos traços arqueológicos e são analfabetos, portanto não se sabe muito sobre eles por meios diretos. Entretanto, algumas descrições foram registradas pelos sumérios e mais tarde pelos acádios. Alguns destes (semi-)nomads, como indivíduos ou grupos, misturam-se com a população sedentária e tornam-se eles mesmos sedentários. Em termos de crise política ou econômica, eles podem fazer isto pela força, mas adaptam-se rapidamente à civilização corrente, assimilando inclusive o idioma. A influência crescente destas pessoas na sociedade pode ser medida pela mudança nos nomes pessoais. Algumas vezes os nomes são os únicos sinais remanescentes do idioma original. Em novas posições, estas pessoas em geral estimulam maior desenvolvimento cultura.

Acádios, que falavam um idioma semíticom, podem Ter estado presentes na Mesopotâmia desde os tempos da chegada dos sumérios, ou podem Ter-se difundido na região posteriormente. As culturas se misturaram e os dois povos passaram a viver em paz juntos. Nas tábuas de argila sumérias que datam de cerca de 2900-2800 ANTES DA NOSSA ERA encontradas em Fara, aparecem pela primeira vez nomes semíticos (acádios). Estas tábuas se referem aos nomes de reis da cidade de Kish. Kish está situada no Norte da Babilônia, onde, de acordo com a Lista dos Reis Sumérios " a realeza desceu novamente dos céus após o grande Dilúvio". Reis com nomes semitas são os primeiros a reinar sobre Kish depois do Grande Dilúvio. Eles começaram o primeiro período histórico, chamado o Período Dinástico Anterior.

Alguns séculos mais tarde, o primeiro rei acádio, chamado Sargão da Acádia reinou sobre um império que incluía grande parte da Mesopotâmia. Aparentemente, povos que falavam semítico tinham vivido por longo tempo entre os sumérios e gradualmente tornaram-se parte integrante da cultura suméria. Não sabemos muito sobre eles na primeira parte do Terceiro Milênio, porque o idioma erudito era o sumério.

Vizinhos:A Mesopotâmia não tem fronteiras naturais e é difícil de ser defendida. A influência dos países vizinhos é grande. Ao longo de toda história da região, contatos de comércio, baixa difusão de tribos estrangeiras e confrontos militares são uma constante.

Vizinhos no III Milênio

No Leste: Elamitas

No oeste: A cidade de Ebla - A descoberta da cidade de Ebla datada do III Milênio tomou a Assiriologia de surpresa. A extensão da cultura suméria no III Mil~enio não era conhecida, mas não se esperava que ela tivesse avançado tão longe na direção Oeste. Ebla está situada em Tell Mardikh a 65 km ao Sul de Alepo na Siria e parece Ter sido uma cultura urbana na metade do III Milênio no extremo Oeste da Mesopotâmia. O local mostra grandes monumentos, como palácio real e um rico arquivo de tábuas cuneiformes, que atestam uma nova linguagem semítica, chamada Eblaita, diferente e mesmo um pouco mais antiga do que Antigo Acádio.

O arquivo de Ebla tinha cerca de 2100 tábuas de argila, com textos sobre administração, letras, relatórios de estado, exercícios para o treinamento de escribas, , etc. Os textos mostram uma mistura complexa de sumério e empréstimos da tradição local. De ~2600-2350 ANTES DA NOSSA ERA boa parte da cultura suméria tinha sido assimilada pelos escribas de Ebla, que também usavam a escrita cuneiforme para seus relatos. O poder de Ebla dependia da hegemonia política sobre o território local, que envolvia centenas de povoações autônomas, citadas em tábuas administrativas do arquivo. São mencionados tributos em rebanhos (cerca de 6700 animais), lã e grandes quantidades de ouro e prata pagos a Mari, uma importante cidade do Eufrates Central, com quem Ebla deve Ter mantido uma relação de amizade (há relatos de troca de presentes). Conclui-se dos dados que Ebla deve Ter sido um ponto importante de comércio (situada emposição estratégica) entre rotas de comércio igualmente importantes.

Ebla foi incendiada a cerca de ~2350, provavelmente num conflito com Sargão de Acádia, o fundador do primeiro império mesopotâmico. Ela foi reconstruída e floreceu novamente durante o período da III Dinastia de Ur e num período que coincide com o Antigo Período Babilônico. Ela foi finalmente destruída por um rei hitita em ~1600 ANTES DA NOSSA ERA, permanecendo depois como uma pequena povoação.


5. O MUNDO DIVINO

A visão mesopotâmica do sobrenatural é uma mistura de crenças sumérias e acádias. A maior parte da literatura suméria foi escrita por acádios quando o idioma sumério já era um idoma extinto. As idéias religiosas evoluíram com o tempo e uma vez que a maior parte dos textos é datada do Primeiro e Segundo Milênios, não fica sempre claro se estes pontos de vista também refletem opiniões do Terceiro Milênio (ou mais antigas).

O universo era visto como uma estratificação de duas ou três camadas. Em geral, ele era constituído pelo céu (firmamento) e pela terra, ou pelo céu, pela terra e pelo Mundo Subterrâneo. O símbolo para céu, Anu, evoluiu de uma representação pictográfica para estrela. O céu/firmamento é portanto o estrato mais elevado do universo, sendo que tudo o que é alto ou elevando está associado a esta esfera.

Deuses antropomorficos: O universo sobrenatural é povoado por seres divinos, deuses e demônios. Os deuses são antropomórficos, ous seja, são retratados como seres humanos, mas infinitamente superiores em termos de poderes e regalias, sem as misérias humanas, além de serem imortais (mas podem ser mortos por batalhas com outros deuses, como no caso de Tiamat, derrotada por Marduk no Enuma Elish, o mito da Criação babilônico). Os deuses vivem em templos, e são representados por uma escultura. Alguns deuses têm também uma representação como estrela ou constelação nos céus. Os deuses e deusas precisam ser alimentados, têm caráter definido, e podem ser alegres, agressivos, argutos, justos, ambiciosos, misericordiosos, etc.

DEUSES E DEUSAS: O panteon tem deuses e deusas.

Epitetos(Grego para suplementos): Nos textos, os nomes divinos (e os nomes reais) são em geral acompanhados por uma expressão que dá uma qualidade ou atributo à figura, e isto se chama epíteto, ex. Luiz, o Rei Sol. Um epíteto pode se tornar parte integrante do nome de um deus/deusa. Nomes de muitas divindades podem ser usados como epíteto para outras divindades, adicionando desta forma a qualidade do primeiro ao segundo. Ao longo do tempo, estas duas divindades se fundem numa só personalidade. Não se sabe se um nome usado num epíteto em geral se refere a uma divindade em separado. Outro tipo de processo inverso, no qual a qualidade fica personalizada como a divindade é hipotasis (Grego para "no lugar de"). Em estudos de religião, o termo usado para a personalização é substantização. Qualidades, propriedades e conceitos são personalizadas e representadas como pessoas que falam e tomam decisões.

Epítetos formam uma conexão fixa com o nome pessoal. Enlil, por exemplo, tem um epíteto em "Senhor do céu e da terra", mostrando sua importância no panteon mesopotâmico. Os deuses têm muitos epítetos. A escolha destes epítetos refere-se a qualidades específicas e dominantes da divindade. Ex.: Inana, Rainha do Céu e da Terra, Alta Sacerdotisa dos Céus, Estrela Matutina e Vespertina, etc.

Sincretismo: em geral é a síntese de elementos culturais. Na esfera religiosa, resulta da identificação ou unificação de divindades em diferentes culturas. Isto ocorre em todas as culturas com politeismo. No sincretismo sumério-semítico do Terceiro Milênio, o processo de identificação (unificação) de deuses e deusas já tinha ocorrido antes da maior parte dos registros terem sido escritos. Numerosas Listas de Deuses existem mostrando este fenômeno, e portanto temos dados sobre diferenças entre estes deuses e deusas. O maior número de deuses, entretanto, tem nomes sumérios. Em geral, sincretismo é o resultado de mudanças políticas. Em geral, cada cidade tinha seu panteon, mas quando dominadas por outra cidade com deuses análogos, os dois se fundem num só. A personalidade mais forte absorve as mais fracas, mas mantém seus epítetos. Desta forma, o número de deuses decresceu consideravelmente com o tempo.

PANTEON

Organização: deuses mais importantes são Anu e Enlil: A organização do mundo divino era refletia a organização política da sociedade. Há uma hierarquia, no topo da qual está Anu, o deus do firmamento, e Enlil, o deus do Ar/Atmosfera. Anu e Enlil são os deuses supremos, reins do céu e da terra. No mundo divino, a realeza é compartilhada, como aparece na iconografia e em pedras kudurru, que mostram os limites geográficos no Segundo Milênio. Nas tábuas de divindades, Anu e Enlil aparecem em primeiro lugar, depois seguidos de Enki/Ea, Ninhursag, e três deuses astrais: Sin/Nana (Lua), Inana/Ishtar (Vênus) e Utu/Shamash (Sol). Em figuras, Anu e Enlil carregam 10 pares de chifres, o mesmo emblema para os dois, mostrando que são iguais. Em alguns textos (como no Prólogo do Código de Hamurabi) Anu é o rei dos deuses e Enlil o Senhor do Céu e da Terra.

Assembléia dos deuses: Os deuses tomam suas decisões em Assembléia: nenhum deles estava acima da lei maior da assembléia dos deuses. No mito Enlil e Ninli., Enlil, o maior dos jovens deuses, é levado a julgamento pelos Anunaki por Ter feito mal a Ninlil.

IGIGI e ANUNAKI

Anunaki: É um nome coletivo para os deuses do céu e da terra, e em outros contextos, apenas para os deuses do Mundo Subterrâneo, a mansão dos mortos e da memória ancestral e do julgamento, principlamente após a Segunda metade do segundo milênio. Esta é uma palavra coletiva que vem do Sumério, e significa "descendentes do monarca e rei dos céus" Anu. O conjunto dos deuses é chamado de Anunaki, e existem textos que agregram também "Anunaki do céu e da terra". Algumas vezes faz-se uma diferenciação para indicar a totalidade dos deuses, os Igigi e os Anunaki. Os Igigi, neste caso, são os deuses dos céus, enquanto que os Anunaki refere-se aos deuses do Mundo Subterrâneo.

Igigi: Termo de origem e significados desconhecidos. Terminou por indicar o conjunto dos deuses, e mais especificamente aqueles que ocupavam os céus. O uso do termo pode ser feito com Anunaki, como liberdade literátia. No Épico da Criação, (Enuma elish IV-20) Marduk tem uma pergunta pata os Anunaki, enqunato que os Igigi dão-lhe a resposta (Ee IV-27).

Número dos Igigi e dos Anunaki: Nas tradições mais recentes do Épico Babilônico da Criação, o Enuma Elish, o deus supremo era Marduk, e ele dividiu os deuses e deusas entre os Igigi e os Anunaki, mas os dois termos são usados sem diferenças em outros pontos do texto. O número total deles perfaz 600 (300 Anunaki e 300 Igigi).

TEMPLOS

Listas de Templos: Há muitas Listas de Templos. Os mesopotâmicos agrupavam os nomes de templos de acordo com várias classificações (geografia, divindades, etc.). Uma destas listas aparentemente enumera os templos de acordo com uma ordem hierárquica, segundo a importância (fama, cosmologia, ou antigüidade). Uma importante lista de templos é a chamada Lista Canônica de Templos, que enumera nomes de templos babilônicos e é datada de 1200 ANTES DA NOSSA ERA. As listas de templo contém duas ou três colunas, mostrando nome do templo (ex. Casa Branca, Morada dos Céus), depois a descrição com o nome da divindade (ex. templo/casa de Shamash), e finalmente a terceira coluna que contém uma indicação geográfica.

Bibliografia:
A.R. George,`House Most High, The temples of Ancient Mesopotâmia', 1993, Eisenbrauns, Winona Lake, Indiana, ISBN 0-931464-80-3, volume 5 in the series `Mesopotâmian Civilizations' (193p.).

OS GRANDES DEUSES

O termo "Grandes Deuses" é freqüentemente usado em textos. Num amplo sentido, ele se refere aos deuses que fazem parte da grande assembléia. São deuses e deusas importantes, na grande maioria padroeiros de cidades, em geral como casal, deus(a) e consorte, pois deuses e deusas em geral são casados na Mesopotâmia. O número dos grandes deuses em geral é tido como 50. Num sentido mais restrito, os grandes deuses são os sete que decidem os destinos, ou os sete mais importantes na hierarquia mesopotâmica. Estes deuses e deusas determinam o destino dos reis, países, dos homens e da humanidade, e são Anu (Firmamento), Enlil (Ar), Enki/Ea (águas doces, mágica e sabedoria), Ninhursag (Terra, Deusa Mãe), Nana/Sin (Lua), Utu/Shamash (Sol) e Inana/Ishtar (Vênus), Anu,o deus do Céu/Firmamento.

Anu: é o deus supremo dos Sumérios e divide o título de rei do céu e da terra com Enlil. Na mitologia, ele não é uma personagem de muito destaque, não aparecendo em muitos mitos, e quando o faz, não fica muito claro todos os aspectos da sua personalidade. Entretanto, ele e sua consorte Ki, concebidos por mãe Namu, no mito da criação sumério, são os pais de todos os Anunaki e os Igigi, os grandes deuses. Anu era adorado em Uruk, junto com Inana/Ishtar. No epílogo do Código de Hamurabi, ele é chamado de "ancestral de todos os deuses". No Épico da Criação babilônico Enüma elish, ele transfere seu poder para Marduk, e por conseguinte, para Babilônia, a cidade de Marduk. No período Selêucido (331 - 125 ANTES DA NOSSA ERA) Anu é identificado com o deus supremo dos gregos, Zeus.

Enlil, o deus do Ar:"Senhor do Ar/Atmosfera", padroeiro da cidade de Nipur, uma das grandes cidades sumérias e grande centro religiosos. Apesar de Enlil e Anu serem os dois deuses supremos e reis do céu e da terra, é Enlil quem preside a assembléia dos deuses, e que executa as decisões, sendo aquele que de fato exercita a autoridade do soberano. Seu templo é o famoso Ekur (A Casa da Montanha) em Nippur. Este templo é o primeiro da hierarquia de templos segundo as Listas de Templos. Uma das importantes atribuições de Enlil era decretar os destinos da humanidade (reis, pessoas, países, etc.). Os destinos eram determinados na assembléia dos deuses presidida por Enlil. Eles eram basicamente decisões divinas escritas nas Tábuas dos Destinos. O procedimento novamente imita a função do rei, que decreta suas ordens e as escreve nas tábuas de argila. Na mitologia, o caráter de Enlil é de grande importância em muitos mitos: ele é severo, exigente e se comporta de modo autoritário.

Enki/Ea, o deus das águas doces e seu templo no ABZU/Apsû: O deus sumério Enki e acádio Ea é a terceira divindade mencionada nas listas de deuses e como tal aparece com muita freqüencia em ilustrações. Ele é um dos grandes protetores da humanidade, tendo papel central em muitos mitos. Representa muitas qualidades: inteligência, sagacidade e argúcia, genialidade e conhecimentos técnicos, pois Enki é o grande artesão da Mesopotâmia. Enki é o deus das águas doces subterrâneas, chamadas coletivamente de Abzu (acádio Apsu). Estas águas fertilizam a terra. Enki tem uma grande variedade de epítetos. Na iconografia, vêse Enki sentado num trono com duas correntes de água saindo dos seus ombros. Por causa de sua conexão com a água, Enki//Ea também é o padroeiro dos rituais de purificação e da mágica. Ele também é o padroeiro dos exorcistas.

A cidade de Enki/Ea, Eridu, é uma das mais antigas da Suméria no Sul da Mesopotâmia. Nos tempos antigos, Eridu estava situada junto a um lago ou lagoa perto do Golfo Pérsico, rodeada por juncos, áreas alagadiças e ilhas meio flutuantes, daí a figura das águas doces abraçarem a terra (fazendo-a fértil). O templo de Enki em Eridu é chamado de E-Apsu, e está classificado em quarto lugar nas Listas de Templo. Ele era adorado em muitas outras cidades, como Ur, Babilônia, Borsippa, Lagash, Larsa, Kish, etc.

Na mitologia Enki/Ea é acima de tudo, o deus da sabedoria, das artes e das habilidades manuais. Ele também é o gênio que se esconde por trás de todos os conceitos técnicos. Enki/Ea criou os homens e mulheres (modelados em barro), ajudado pela Deusa Mãe Ninmah. No mito da Criação babilônico, está dito que Enki conquistou o Apsu de um ser chamado Mummu. No templo de Enki, havia oficinas onde se restaurava e fazia ícones e estátuas dos deuses.

Shamash, o deus Sol e a Casa Branca: Sumério Utu. Juntamente com Nana/Sin, o deus da Lua, é um dos deuses mais adorados ao longo da história da Mesopotâmia. Seu nome também se refere ao sol como o astro dos céus. Seu culto, entretanto, não deve ser visto como um culto solar. Shamash/Utu é o mais importante juiz do céu e da terra, sendo que nesta capacidade ele torna-se o protetor dos pobres e desvalidos. Portanto, Shamash é chamado bël dïnim `Senhor da Justiça'. Ele dá, portanto, oráculos que pretendem guiar e proteger a humanidade. Daí Shamash/Utu ser também o protetor das adivinhações, juntamente com Adad. Note-se que como o sol vê tudo sobre a terra, o deus Sol pode vislumbrar então o futuro. Shamash tinha templos importantes em Larsa e Sippar (no Eufrates, a sudeste da Babilônia). Ele reside, juntamente com sua esposa Aya em templos chamados Ebabbar, ou Casa Branca (ou Casa Brilhante.O templo de Utu/Shamash está em sétimo lugar na Lista dos Templos. Ele aparece também como árbitro e juiz na mitologia.

Sîn, o deus da lua: O deus sumério da Lua é chamado Nana, enquanto que para os acádios seu nome é Sin. Ele também representa a lua que brilha nos céus. Entretanto, o culto de Sin não deve ser visto como o culto da lua. Os deuses da Mesopotâmia já podem ser separados de fenômenos da natureza. Nana/Sin é o padroeiro da cidade de Ur, que teve uma posição importante ao longo da história da Mesopotâmia. Juntamente com seu filho com Ningal, Utu, o deus Sol, Nana manteve uma posição de destaque no panteon de deuses mesopotâmicos. Seu templo chamase Ekinugal, "a casa do luar". Este é um templo importante, classificado em sexto lugar na Lista de Templos.

Descendência. Nana/Sin é o pai da deusa do Amor e da Guerra Inana/Ishtar , do Deus Sol Utu/Shamash e do deus do tempo, Adad. Sua esposa é Ningal, a Grande Dama. O luar era considerado extremamente importante. A renovação da lua a cada mês, de brilho crescente a decrescente, para crescer de novo, dá também a Nana/Sin a característica da fertilidade. Foi também o seu aparecimento que possibilitou a contagem do tempo, e os primeiros calendários levavam em consideração principalmente a primeira lua nova da primavera, que marcava o início do novo ano.

Inana/Ishtar, a deusa do Amor e da Guerra: A deusa suméria Inana tem o nome de Ishtar. Originalmente, era a deusa do Amor, a Cortesã Celeste Pelo processo identificado anteriormente como sincretismo, tudo leva a crer que ela era identificada com o planeta Vênus, com o amor e a audência maior deste, a guerra. Inana é uma deusa de grande poder e fascínio, sendo também uma deusa da fertilidade, mas não em seu aspecto maternal, mas erótico e apaixonado.

Inanna/Ishtar é a deusa da cidade de Uruk, juntamente com o deus do firmamento Anu. Seu templo em Uruk é chamado de É-anna (a Morada dos Céus). Pelo menos em cinco outras importantes cidades mesopotâmicas existem templos com o mesmo nome. Inana era a a patrona de Acádia, Kish, Girsu, Mari e Assur. Em cada cidade, ela manifesta diferentes qualidades de sua personalidade.

Na mitologia, Inana/Ishtar figura em muitos mitos. Ela é sempre independente, sedutora, fascinante e misteriosa, que atrai amantes e amados, corteja o poder, faz reis, torna-se mortal para conquistar de uma vez por todas a imortalidade. Mitos famosos de Inana são: a) A Descida de Inana; b) Inana e Enki; c) Inana e Dumuzi; d) Inana e Sukalletuda; e) Inana e Bilulu, sendo que a deusa também tem um papel de grande importância como a principal oponente de Gilgamesh no Épico do mesmo nome. No começo do II Milênio, ela começou a monopolizar uma série de outras deusas, que seu nome virou sinônimo do Divino Feminino.

Adad, o deus do tempo: O deus Adad (também conhecido como Ishkur) é o deus das condições climáticas, o deus das chuvas e das tempestades. Seu símbolo é o relâmpagom sua voz o trovão. Como nome, Adad também significa chuva (média e torrencial). Com toda provabilidade, deve ser identificado com o deus sumério Ikur. Adad é provavelmente um deus do Norte da Mesopotâmia. Adad confere poder de fertilidade às chuvas e como tal, traz abundância e prosperidade. Adad é o porteiro que guarda as chaves do céu, controlando as águas doces juntamente com Enki/Ea, sendo responsável pela subida dos rios e suas mudanças. Por razões desconhecidas, ele compartilha com o deus Sol Utu/Shamash as responsabilidades de patrono de adivinhações e aplicação da justiça.


5. ECONOMIA, COMÉRCIO E RECURSOS NATURAIS

As planícies aluviais da Mesopotâmia são perfeitas para elevada produção de alimentos. A economia era baseada na agricultura, principalmente no cultivo da cevada. A cevada era usada como meio de pagamento de salários e em rações diárias, sendo também utilizada como a base para a manufatura de uma bebida natural: a cerveja. Outros produtos eram o óleo (de linhaça, de gergelim), linho, trigo e hortigranjeiros. Rebanhos de ovelhas e cabras pastavam nos campos fora da estação. O gado pastava quando havia água suficiente. A produção de lã era extensa, e convertida em peças de tecido. O extremo sul da Mesopotâmia tinha economia diferente, baseada em tamareiras e na pesca.

Nenhum registro em pedra até o final da Idade da Pedra. A região carecia de recursos minerais e de madeiras, que são essenciais para a construção de grandes monumentos e prédios mais resistentes. Ao longo do tempo, os mesopotâmicos tiveram mais e mais necessidade destes materiais, que vinham de longe, ou das florestas do Líbano ou das montanhas do Irã moderno. Estas montanhas eram ricas em minerais, pedras e metais. O que um país não tem, deve tentar conseguir por outros meios, e estes são basicamente, tributo, pilhagem e comércio

Tributo e pilhagem: Há duas formas básicas para se obter os materiais que países necessitam: pela guerra ou comércio. Tais materiais são em geral exigidos como tributo ou tomados por pilhagem após uma expedição de militar. No Épico de Gilgamesh, o lendário rei de Uruk, conta que ele foi até as florestas do monstro Humbaba, e derrotando-o, conseguiu provavelmente a madeira para erguer as famosas muralhas de Uruk. Outro rei famoso, Lugalbanda, pedia por suas vitórias a troca de cereais por pedras preciosas.

Comércio: Expedições militares eram realizadas após a colheita, em geral em base anual em especial no Primeiro Milênio, quando os agricultores podiam tornar-se soldados. Minerais (cobre, estanho, prata, uma pedra preta chamada diorita, etc.) estavam disponíveis em áreas distantes, portanto as campanhas tinham de ser consideradas com muito cuidado para não serem dispendiosas ou deixarem cidades à mercê de outros inimigos. O comércio então começou a ser praticado. Em textos de cerca de 19000 Antes da Nossa Era, parece que o comércio começa a ser executado de forma profissional e capitalista, com negócios sendo realizados por embarcações ao longo do Eufrates e do Golfo Pérsico e caravanas regulares de burros seguindo até Anatólia (Turquia moderna).

Mercadorias. Além de cereais, os habitantes da Mesopotâmia tinham pouco a oferecer. Cereais eram exportados, mas pesados demais para serem carregados por burros por longas distâncias. Materiais importados de outros locais eram novamente exportados, tal qual o estanho, um importante metal para a manufatura do bronze, que provavelmente vinha naquela época do Afeganistão, e era exportado para Anatólia (Turquia), um grande centro da indústria de metais, onde as florestas eram abundantes para fazer funcionar fornalhas. Outras mercadorias eram as tâmaras, óleo de gergelim, e artesanato. A Babilônia tinha uma grande indústria de lanicultora. Peças de 4 a 4,5 metros eram transportadas às centenas a cerca de 1900 Antes da Nossa Era.

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