- O CICLO DE INANA/ISHTAR
- ADORADA EUSA DO AMOR E DA GUERRA, GRANDE AMANTE E MELHOR AMADA
- 1 - A ÁRVORE DE HULUPU
- Nos primeiros dias, nos primeiros dias,
- Nas primeiras noites, nas primeiras noites,
- Nos primeiros anos, nos primeiros anos
-
- Nos primeiros dias, quando tudo o que era necessário foi trazido à existência
- Nos primeiros dias, quando tudo o que era necessário foi alimentado como devia
- Quando o pão foi cozido nos templos desta terra
- Quando o pão foi provado [por todos] nos lares desta terra
- Quando o Firmamento se separou da Terra
- E a Terra foi separada do Firmamento
- E o nome do homem foi fixado
- Quando o deus do Firmamento, Anu, carregou consigo os céus
- E o deus do Ar, Enlil, carregou consigo a Terra,
- Quando à Rainha das Grandes Profundezas,
- Ereshkigal, foi dado o Mundo Subterrâneo
- para seu reino
-
- Ele zarpou: o Pai zarpou
- Enki, o deus da Mágica, das Artes e da Sabedoria, zarpou para o Mundo Subterrâneo.
- Pequenas lufadas de vento foram lançadas sobre ele
- Grandes chuvas de granizo foram jogadas contra ele
- Avançando velozes feito tartarugas gigantes
- Elas se lançaram contra a quilha do barco de Enki.
- As águas do mar devoraram a proa do barco de Enki como lobos [ferozes]
- As águas do mar jogaram-se contra o barco de Enki como leões [famintos]
-
- Naquela época, uma árvore, uma árvore única, a Árvore de Hulupu,
- Foi plantada às margens do Eufrates.
- A árvore foi nutrida pelas águas do Eufrates.
- Um dia, porém, o Vento Sul soprou e começou a levantar as raízes da
- árvore de huluppu,
- E arrancar seus galhos
- Até que as águas do Eufrates carregaram consigo a grande árvore.
-
- Uma jovem, que caminhava pelas margens do rio
- Arrancou a árvore de onde estava [à deriva] e disse:
- - Vou levar esta árvore até a minha cidade, Uruk.
- - Vou plantar esta árvore no meu jardim sagrado.
- Inana cuidou da árvore com suas próprias mâos.
- Ela assentou a terra ao redor da árvore com seu pé.
- Ela começou a imaginar:
- - Quanto tempo vai passar até que eu tenha um trono de luz para sentar?
- - Quanto tempo vai passar até que eu tenha um leito de luz para me deitar?
- Os anos se passaram; cinco anos, então dez anos.
- Os anos passaram, cinco anos, então dez anos
- A árvore cresceu em espessura
- Mas sua casca não se partiu
- A serpente, que não podia ser enganada por encantamentos ou artes
- Fez seu ninho nas raízes da árvore de hulupu
- O pássaro Anzu e seus filhotes fizeram um ninho nos galhos da árvore
- E a traiçoeira donzela Lilith fez do tronco da árovore de Hulupu o seu lar.
-
- .A jovem que adorava rir, chorou
- Como Inana chorou!
- Mas mesmo assim nem a serpente, o pássaro Anzu ou Lilith deixaram a árvore sagrada.
-
- Um dia, porém, quando um pássaro começou a cantar anunciando a chegada do alvorecer,
- O Deus Sol, Utu, deixou seus aposentos reais,
- Inana então chamou por seu irmão Utu, e lhe disse:
- - Utu, nos primeiros tempos, quando foram decretados os destinos
- Quando nada faltava a esta terra
- Quando o Deus do Firmamento levou consigo os céus
- E o Deus do Ar levou consigo a Terra,
- Quando Ereshkigal escolheu o Mundo Subterrâneo para seu reino,
- Quando Enki, o Deus das Artes, da Mágica e da Sabedoria,
- zarpou para as Grandes Profundezas,
- E o Mundo Subterrâneo ergueu-se para atacá-lo,
- Naquele tempo, uma árvore, uma árvore única, a Árvore de Hulupu,
- Foi plantada às margens do Eufrates.
- O Vento Sul empurrou as raízes da árvore sagrada, quebrou seus galhos,
- Até que as águas do Eufrates carregaram a Árvore de Hulupu.
- Então, eu tirei a árvore sagrada das águas do rio,
- Levando-a para o meu jardim, em Uruk.
- Lá, eu mesma cuidei da Árvore de Hulupu,
- Enquanto esperava pelo meu trono e leito de luz.
-
- Então uma serpente, que não podia ser enganada por encantamentos ou artes,
- Fez seu ninho nas raízes da árvore de Hulupu.
- O pássaro Anzu fez para si e seus filhotes um ninho nos galhos da árvore sagrada,
- E Lilith, a donzela rebelde e morena, fez do tronco da árvore de Hulupu o seu lar.
- Vendo todos eles tomarem conta da minha árvore,
- Eu chorei, ah, como eu chorei!
- Mas mesmo assim nenhum deles deixou a minha árvore.
-
- Utu, o valente guerreiro, Utu o deus Sol,
- Não se prontificou a ajudar Inana.
- [ e ela chorou ainda mais, mas não desistiu]
-
- Quando os pássaros começaram a cantar, anunciando a chegada do alvorecer do outro dia,
- Inana chamou seu irmão Gilgamesh, dizendo:
- - Ah, Gilgamesh, nos primeiros tempos, quando foram decretados os destinos
- Quando nada faltava a esta terra
- Quando o Deus do Firmamento levou consigo os céus
- E o Deus do Ar levou consigo a Terra,
- Quando Ereshkigal escolheu o Mundo Subterrâneo para seu reino,
- Quando Enki, o Deus das Artes, da Mágica e da Sabedoria,
- zarpou para as Grandes Profundezas,
- E o Mundo Subterrâneo ergueu-se para atacá-lo,
- Naquele tempo, uma árvore, uma árvore única, a Árvore de Hulupu,
- Foi plantada às margens do Eufrates.
- O Vento Sul empurrou as raízes da árvore sagrada, quebrou seus galhos,
- Até que as águas do Eufrates carregaram a Árvore de Hulupu.
- Então, eu tirei a árvore sagrada das águas do rio,
- Levando-a para o meu jardim, em Uruk.
- Lá, eu mesma cuidei da Árvore de Hulupu,
- Enquanto esperava pelo meu trono e leito de luz.
- '
- Então uma serpente, que não podia ser enganada por encantamentos ou artes,
- Fez seu ninho nas raízes da árvore de Hulupu.
- O pássaro Anzu fez para si e seus filhotes um ninho nos galhos da árvore sagrada,
- E Lilith, a donzela morena e rebelde, fez do tronco da árvore de Hulupu o seu lar.
- [Vendo todos eles tomarem conta da minha árvore,]
- Eu chorei, ah, como eu chorei!
- Mas mesmo assim nenhum deles deixou a minha árvore.
-
- Gilgamesh, o valente guerreiro, Gilgamesh,
- O herói de Uruk, prontificou-se para ajudar Inana.
- Gilgamesh ajustou sua forte armadura no peito
- A pesada armadura tinha peso de penas para o grande herói
- Ele levantou pesado machado de bronze, o machado {que abre caminhos],
- E colocou-o no ombro.
- [Assim preparado,] Gilgamesh entrou no jardim sagrado de Inana.
-
- Gilgamesh bateu na serpente que não podia ser encantada.
- O pássaro Anzu voou com sua ninhada para as montanhas,
- E Lilith destruiu sua casa e fugiu para um local selvagem e desabitado.
- Gilgamesh então afrouxou as raízes da árvore de Hulupu,
- E os filhos da cidade, que o acompanharam, cortaram os galhos da árvore sagrada.
-
- Do tronco da árvore, ele esculpiu um trono para sua divina irmã,
- Do tronco da árvore, Gilgamesh esculpiu um leito para Inana.
- Das raízes da árvore ela fez um bastão para seu irmão,
- Dos galhos, a coroa da árvore de Hulupu, Inana fez um tambor para Gilgamesh
- O herói de Uruk
-
- 2 - INANA E ENKI, OU A OBTENÇÃO DAS MEDIDAS
SAGRADAS
- Inana colocou a shugurra, a coroa da estepe na cabeça
- Ela foi até os rebanhos de ovelhas, Ela foi até o pastor
- Ela se encostou contra a macieira.
- Quando Ela se encostou contra a macieira, sua vulva era algo lindo de se ver.
- Regozijando-se com sua vulva maravilhosa, a jovem se aplaudiu. Ela disse:
- - Eu, a Rainha dos Céus, irei visitar o Deus da Sabedoria.
- Eu irei ao Abzu, o local sagrado em Eridu.
- Em Eridu, eu prestarei homenagens a Enki, o deus da Sabedoria.
- Eu farei uma prece para Enki, o deus das doces águas. .
-
- Quando Ela estava a uma curta distância do Abzu, o local sagrado de Eridu,
- Ele, cujos ouvidos estão [sempre] abertos,
- Ele, que conhece os ME, as leis sagradas do céu e da terra,
- Ele, que conhece o coração dos deuses,
- Enki, o deus da Sabedoria, que tudo sabe,
- Chamou seu servo Isimud.
-
- - Ouça, meu sukkal, a jovem está prestes a entrar no Abzu
- Quando Inana entrar no altar sagrado
- Dê-lhe bolo amanteigado para Ela comer
- Dê-lhe água para refrescar suas orelhas
- Ofereça-lhe cerveja ante a estátua do leão
- Trate-a como uma igual
- Dê as boas-vindas a Inana na mesa sagrada, a mesa dos céus.
-
- Isimud prestou ciosamente atenção às palavras de Enki.
- Quando Inana entrou no Abzu
- Ele deu-lhe bolo amanteigado para comer
- Ele deu-lhe água para beber
- Ele ofereceu-lhe cerveja ante a estátua do leão
- Ele tratou-a respeitosamente
- Ele deu as boas-vindas a Inana à mesa sagrada dos céus..
-
- Enki e Inana beberam cerveja juntos
- Eles beberam mais cerveja juntos.
- Eles beberam mais e mais cerveja juntos.
- Com as taças de bronze da Deusa Mãe Urash cheias até transbordar
- Eles brindaram um ao outro
- Eles desafiaram um ao outro.
-
- Enki, alto de cerveja, brindou Inana:
- - Em nome do meu poder! Em nome do meu altar sagrado!
- Para minha filha Inana, eu darei o Alto Sacerdócio! Divindade!
- A coroa nobre e duradoura! O trono da realeza!
-
- Inana replicou: - Eu os aceito!
-
- - Verdade! A descida para o Mundo Subterrâneo! Ascenção do Mundo Subterrâneo!
- A arte de fazer amor! O beijo do falo!
-
- Inana replicou: - Eu os aceito!
-
- Enki ergueu sua taça e brindou Inana pela terceira vez:
- Em nome do meu poder! Em nome do meu altar sagrado!
- - Para minha filha Inana eu darei o Alto Sacerdócio dos Céus!
- O poder de fazer lamentações! O regozijar dos corações!
- O poder de fazer julgamentos! O poder de tomar decisões!
-
- (14 vezes Enki ergueu sua taça à Inana
- 14 vezes ele ofereceu à sua filha os MES
- 14 vezes Inana aceitou os sagrados MEs)
- Então Inana, levantou-se ante a seu Pai,
- Reconhecendo os MEs que Enki havia-lhe dado:
- - Ele me deu o ME da coroa nobre e duradoura;
- Ele me deu o ME do trono da realeza;
- Ele me deu o ME do cetro da nobreza; Ele me deu o ME do bastão;
- Ele me deu o ME do cetro e da linha sagrados que tudo medem;
- Ele me deu o ME do trono elevado;
- Ele me deu o ME da liderança sobre os rebanhos;
- Ele me deu o ME da realeza;
- Ele me deu o ME da sacerdotisa princesa;
- Ele me deu o ME da divina sacerdotisa-rainha;
- Ele me deu o ME do sacerdote dos encantamentos;
- Ele me deu o ME do sacerdote nobre;
- Ele me deu o ME do sacerdote que faz oferendas de bebidas sagradas;
- Ele me deu o ME da verdade;
- Ele me deu o ME da descida ao Mundo Subterrâneo;
- Ele me deu o ME de ascenção do Mundo Subterrâneo;
- Ele me deu o ME da execução de rituais de luto;
- Ele me deu o ME da adaga e da espada;
- Ele me deu o ME da vestimenta escura;
- Ele me deu o ME das vestimentas claras;
- Ele me deu o ME da arte de fazer amor;
- Ele me deu o ME do beijar do falo;
- Ele me deu o ME da arte da velocidade;
- Ele me deu o ME da fala direta;
- Ele me deu o ME da fala traiçoeira;
- Ele me deu o ME do discurso enfeitado;
- Ele me deu o ME da taverna sagrada;
- Ele me deu o ME do altar sagrado;
- Ele me deu o ME da Sagrada Sacerdotisa dos Céus;
- Ele me deu o ME do retumbante instrumento musical;
- Ele me deu o ME da arte de fazer canções;
- Ele me deu o ME da arte de envelhecer;
- Ele me deu o ME da arte do poder;
- Ele me deu o ME da arte da traição;
- Ele me deu o ME da arte de ser direto;
- Ele me deu o ME da pilhagem das cidades
- Ele me deu o ME do fazer lamentações;
- Ele me deu o ME do regozijar dos corações;
- Ele me deu o ME do embuste;
- Ele me deu o ME da terra rebelde
- Ele me deu o ME da arte da bondade;
- Ele me deu o ME das viagens;
- Ele me deu o ME da morada segura;
- Ele me deu o ME da arte de trabalhar em madeira;
- Ele me deu o ME da arte de trabalhar com cobre;
- Ele me deu o ME da arte do escriba;
- Ele me deu o ME da arte do ferreiro;
- Ele me deu o ME da arte de trabalhar o couro;
- Ele me deu o ME da arte do construtor;
- Ele me deu o ME da arte de trabalhar com juncos;
- Ele me deu o ME do ouvido que tudo percebe;
- Ele me deu o ME do poder da atenção;
- Ele me deu o ME dos ritos sagrados de purificação;
- Ele me deu o ME da pena prodigiosa;
- Ele me deu o ME do empilhar de carvões quentes;
- Ele me deu o ME dos rebanhos de ovelhas;
- Ele me deu o ME do leão de dentes amargos;
- Ele me deu o ME do espanto;
- Ele me deu o ME da consternação;
- Ele me deu o ME do reavivar o fogo;
- Ele me deu o ME do braço fatigado;
- Ele me deu o ME da família reunida;
- Ele me deu o ME da procriação;
- Ele me deu o ME do atiçar das disputas;
- Ele me deu o ME do acalmar dos corações;
- Ele me deu o ME dos julgamentos,
- Ele me deu o ME de tomar decisões.
-
- Ainda alto com a bebida, Enki falou a seu servo Isimud:
- - Meu sukkal Isimud, a jovem senhora está prestes a partir para Uruk
- É meu desejo que ela chegue a sua cidade em segurança!
- Inana reuniu as Medidas Sagradas. Os ME foram colocados na Nau dos Céus.
- A Nau dos Céus com as Medidas Sagradas zarpou na direção de Uruk.
-
- Quando a cerveja tinha-se evaporado daquele que tinha bebido cerveja,
- Quando a cerveja tinha-se evaporado de pai Enki,
- Enki olhou ao seu redor, no Abzu.
- Os olhos do rei do Abzu buscaram por toda Eridu.
- O rei Enki olhou por toda Eridu e chamou seu servo Isimud, dizendo;
- - Meu ministro {sukkal] Isimud....
- - Meu rei Enki, estou aqui para servi-vos...
- - O alto sacerdócio? Divindade? A coroa nobre e duradoura?
- Onde estão?
- - Meu rei deu-os todos para vossa filha, meu rei deu-os todos para Inana.
- - A arte do herói? A arte do poder:? Da traição? De enganar?
- Onde estão elas?
- - Meu rei deu-os todos para vossa filha.
- - O ouvido que tudo percebe, o poder da atenção,
- O poder para tomar decisões, onde estão eles?
- - Meu rei deu-os todos para vossa filha.
-
- (14 vezes Enki questionou seu servo Isimud. 14 vezes Isimud respondeu dizendo:
- - Meu rei deu-os todos para vossa filha, meu rei deu-os todos para Inana).
-
- Então Enki falou, dizendo:
- - Isimud, a Nau dos Céus com as Medidas Sagradas, onde está ela agora:
- - A Nau dos Céus está a um cais distante de Eridu.
- Vá! Leve as criaturas enku com você! Que elas tragam a Nau dos
- Céus de volta a Eridu!
- Isimud falou a Inana:
- - Minha rainha, vosso pai mandou-me até vós.
- As palavras de vosso pai são palavras de Estado.
- Elas não podem ser desobedecidas.
- Inana respondeu:
- - O que disse meu pai? O que Enki falou?
- Quais são as suas palavras de estado
- Que não podem ser desobedecidas?
- Isimud falou:
- - Meu rei disse: Que Inana prossiga até Uruk,
- Mas traga de volta a Nau dos Céus
- Com as Medidas Sagradas para Eridu.
- Inana clamou:
- - Meu pai mudou a palavra que deu para mim! Ele violou seu
- juramento, quebrou sua promessa. Com falsidade ele falou alto
- e forte: Em nome do meu poder! Em nome do meu altar sagrado!
- Com falsidade ele mandou você até mim!
-
- Mal Inana havia pronunciado estas palavras,
- As criaturas enku pegaram a Nau dos Céus.
- Inana chamou sua serva Ninshubur, dizendo:
- - Vem, Ninshubur, outrora foi você Rainha do Leste.
- Agora, é você a serva fiel do altar sagrado de Uruk.
- Água não tocou seus pés, água não tocou suas mãos.
- Minha sukkal, ministra e conselheira que dispensa sábios conselhos,
- Minha guerreira que luta ao meu
- Salva a Nau dos Céus com as Medidas Sagradas!
-
- Ninshubur fez um gesto como se cortasse o ar com sua mão.
- Ela então soltou um grito de partir corações.
-
- As criaturas enku foram então mandadas de volta a Eridu!
-
- Então Enki. Chamou seu servo Isimud uma segunda, uma terceira,
- uma quarta, uma quinta e uma sexta vez, dizendo:
- - Meu ministro {sukkal] Isimud....
- - Meu rei Enki, estou aqui para servi-vos...
- - Onde está a Nau dos Céus neste momento?
- De cada vez, Isimud dá seis diferentes localizações para a
- Nau dos Céus ao responder ao seu rei e senhor.
- De cada vez, Enki dá a mesma resposta a Isimud:
- - Então vá e mande monstros para capturar a Nau dos Céus!
-
- Isimud mandou os monstros
- Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete vezes
- Para aprisionar a Nau dos Céus.
- De cada vez, mais fortes eram os monstros, mais poderosos.
- Mas uma, duas, três, quatro, cinco, seis e sete vezes
- Ninshubur resgatou a Nau dos Céus para Inana.
-
- Então Ninshubur falou a Inana:
- - Minha rainha, quando a Nau dos Céus entrar pelo Portal de Ningulla de Uruk
- Que as águas altas fluam para nossa cidade,
- Que os barcos maiores velejem rapidamente através de nossos canais!
- Inana respondeu a Ninshubur:
- - No dia em que a Nau dos Céus entrar pelo Portal de Ningulla de Uruk,
- Que as altas águas limpem todos os caminhos,
- Que os anciões dispensem conselhos,
- Que as anciãs ofereçam consolo aos corações!
- Que os jovens mostrem o poder de suas armas,
- Que as crianças riam e cantem,
- Que toda Uruk esteja em festa!
- Que o alto sacerdote dê as boas-vindas à Nau dos Céus com canções,
- e que e ele faça preces grandiosas! Que o rei
- ofereça gado e ovelhas em sacrifício, que ele os regue de cerveja!
- Que ressoem os tambores e tamborins, que doce música seja tocada!
- Que toda a terra proclame o meu nobre nome
- Que o meu povo me cante em canção!
-
- E assim foi feito.
- No dia em que a Nau dos Céus entrou pelo Portal de Ningulla de Uruk
- As águas altas varreram as ruas
- As águas altas fluíram pelos caminhos
- A Nau dos Céus aportou no altar sagrado de Uruk.
- A Nau dos Céus aportou no altar sagrado de Inana.
-
- Então Enki chamou seu servo Isimud pela última vez, dizendo:
- - Meu ministro {sukkal] Isimud....
- - Meu rei Enki, estou aqui para servi-vos...
- - Onde se encontra agora a Nau dos Céus?
- - A Nau dos Céus está no Branco Cais.
- - Vamos! A senhora está fazendo maravilhas lá!
- A Rainha está fazendo maravilhas no Branco Cais
- Inana está fazendo maravilhas no Branco Cais
- Pois a Nau dos Céus está em Uruk!
-
- As Medidas Sagradas foram sendo descarregadas
- E à medida em que as Medidas Sagradas estavam sendo descarregadas
- As Medidas Sagradas que Inana havia recebido de Enki
- Elas foram sendo anunciadas e presenteadas ao povo da Suméria.
- Então mais MÊS apareceram
- Mais MÊS do que Enki havia dado a Inana.
- E estes também foram presenteados para o povo de Uruk.
-
- Inana trouxe as Medidas Sagradas
- Ela trouxe o colocar da roupa no chão
- Ela trouxe encanto
- Ela trouxe a arte de ser mulher
- Ela trouxe a perfeita execução dos ME
- Ela trouxe os tambores tigli e lili
- Ela trouxe os tamborins sagrados.
-
- Inana falou novamente:
- - Onde a Nau dos Céus aportou
- Que seja este local chamado o Branco Cais
- Onde foram apresentados os ME sagrados
- Que seja este local chamado o Cais de Lápis Lazuli.
-
- Então Enki falou a Inana, dizendo:
- - Em nome do meu poder! Em nome do meu altar sagrado!
- Que os ME que você conquistou permaneçam no altar sagrado de sua cidade!
- Que o alto sacerdote passe o seu dia entoando cantos no altar sagrado
- Que os cidadãos de tua cidade prosperem!
- Que os filhos de Uruk se regozijem!
- O povo de Uruk é aliado do povo de Eridu
- Que a cidade de Uruk seja restaurada em seu poder nesta grande terra!
-
- 3 - A CORTE DE INANA E DUMUZI
- O irmão falou para sua irmã mais jovem,
- Utu, o deus Sol, falou a Inana, dizendo:
- - Jovem senhora, o linho em flor é lindo,
- Os grãos estão reluzentes nos campos.
- Eu vou pegar alguns para você,
- Eu vou trazer um pouco de linho para você.
- Uma peça de linho é sempre bom de se Ter.
- - Irmão, se você me trouxer o linho, quem irá fiá-lo para mim?
- - Irmã, eu trá-lo-ei já fiado.
- - Irmão, se você me trouxer o linho fiado, quem irá trançá-lo para mim?
- - Irmã, eu trá-lo-ei fiado..
- - Irmão, se você me trouxer o linho fiado, quem irá trançá-lo para mim?
- - Irmã, eu trá-lo-ei trançado.
- - Irmão, se você me trouxer o linho trançado, quem irá tecê-lo para mim?
- - Irmã, eu trá-lo-ei tecido.
- - Irmão, se você me trouxer o linho tecido, quem irá tingi-lo para mim?
- - Irmã, eu trá-lo-ei tingido.
- - Irmão, se você me trouxer meu lençol de noiva,
- Quem irá para o leito comigo? Utu, quem irá para o leito comigo?
- - Seu noivo irá para o leito com você.
- Ele, que foi concebido no Casamento Sagrado. Dumuzi, o pastor!
- Ele irá para o leito com você!
- Inana falou:
- - Não, irmão! O homem do meu coração é aquele que trabalha os campos!
- O agricultor! Ele é o homem do meu coração! Ele junta cereais em grandes pilhas,
- Ele traz grãos regularmente para meus galpões.
- Utu falou:
- - Irmã, case-se com o pastor! Por que não o queres?
- O creme que ele faz é bom, o leite dele é bom.
- O que ele toca, ele faz brilhar. Inana, case-se com Dumuzi!
- Você, que se adorna com o colar de ágata da fertilidade,
- Por que não o queres? Dumuzi irá compartilhar seu rico
- creme com você. Você foi concebida para ser a protetora
- do rei, por que não o queres?
- Inana respondeu:
- - O pastor! Eu não me casarei com o pastor! Suas roupas são
- rústicas, a lã dele é dura. Eu vou me casar com o agricultor.
- O agricultor cultiva o linho para minhas roupas. O agricultor
- planta cevada para minha mesa. Eu me casarei com o agricultor!
- Então Dumuzi apareceu e disse:
- - Por que toda esta conversa sobre o agricultor?
- Se ele der a você farinha, eu lhe darei lã,
- Se ele der a você cerveja, eu lhe darei leite doce,
- Se ele der a você pão, eu lhe darei o mais doce dos queijos.
- Eu darei ao agricultor o creme que me sobrar.
- Eu darei ao agricultor o leite que me sobrar.
- Por que você fala [só] sobre o agricultor?
- O que ele tem que eu não tenho?
- Inana disse:
- - Pastor, se não fosse a minha mãe, Ningal, eu o mandaria embora.
- Sem meu pai, Nana, você não teria teto sob sua cabeça.
- Sem meu irmão Utu...
- Dumuzi falou:
- - Inana, não comece uma briga! Meu pai, Enki, é tão bom quanto seu pai.
- Minha mãe, Sirtur, é tão boa quanto sua mãe.
- Minha irmã Geshtinana é tão boa quanto você,
- Eu sou tão bom quanto seu irmão Utu. Rainha do Palácio, vamos conversar!
- Inana, vamos sentar e conversar: eu sou tão bom quanto Utu,
- Enki é tão bom quanto Nana, Sirtur é tão boa quanto Ningal.
- Rainha do Palácio, vamos conversar!
- As palavras que eles falaram foram palavras de desejo.
- Do momento em que brigaram, surgiu de amantes o desejo.
- O pastor trouxe creme para o palácio real
- Dumuzi trouxe leite para o palácio real
- Ele esperou do outro lado dos portais. Ele chamou:
- - Abra a porta, minha senhora. Abra a porta da casa!
- Inana correu para a mãe que havia lhe dado à luz. Ela perguntou:
- - O que devo fazer:?
- Ningal aconselhou-a, dizendo:
- - Minha filha, o jovem Dumuzi irá tratá-la como se fosse seu pai.
- Ele vai cuidar de você como se fosse sua mãe.
- Abra a porta, minha filha, Abra a casa [para ele]!
- A pedido de sua mãe,
- Inana se banhou e se ungiu com óleo perfumado
- Ela cobriu seu corpo com o vestido branco real
- Ela aprontou seu dote
- Ela arrumou as preciosas contas de lápis lazuli ao redor de seu pescoço
- Ela pegou seu selo sagrado.
- Dumuzi esperou (a) com ansiedade.
- Inana abriu a porta para ele
- Dentro da casa, ela brilhou diante dele
- Como a luz da lua.
- Dumuzi olhou para ela alegremente
- Ele aproximou seu pescoço do dela
- Ele a beijou.
- Inana falou:
- - O que eu te digo, que o cantor teça em canção
- O que te digo, que passe do ouvido para a boca
- Que passe do jovem para o ancião
- Minha vulva, minha cornucópia
- A Nau dos Céus
- Está cheia de expectativa como a lua nova
- Minha terra que não foi arada está desocupada
- E quanto a mim, Inana,
- Quem irá arar a minha vulva?
- Quem irá arar meu campo alto?
- Quem irá arar meu solo úmido?
- E quanto a mim, a donzela,
- Quem irá arar a minha vulva?
- Quem irá deixar o gado ficar lá?
- Quem irá arar minha vulva?
- Dumuzi respondeu:
- - Grande Senhora, o rei irá arar sua vulva, eu, Dumuzi, o rei, irei arar sua vulva.
- Inana:
- - Então are a minha vulva, homem do meu coração! Are a minha vulva!
- No colo do rei ergueu-se o cedro
- Plantas cresceram ao seu lado
- Cereais cresceram ao lado das plantas e do cedro
- Jardins floresceram da forma mais exuberante.
- Inana cantou:
- - Ele desabrochou, ele desabrochou,
- Ele é como alface plantada junto à água
- Ele é aquele que meu útero mais adora.
- Meu luxuriante jardim da planície
- Minha cevada crescendo alta nos campos
- Minha macieira que traz frutos em sua coroa,
- Ele é como alface plantada junto à água.
- Meu doce amor, meu doce amor sempre me enternece
- Meu senhor, meu doce amor dentre os deuses
- Ele é aquele que meu útero mais ama.
- A mão de meu amor é mel, seu pé é de mel
- Ele sempre me enternece.
- Meu impetuoso amor que acaricia o meu umbigo
- Ele é aquele a quem meu útero mais ama
- Ele é como alface plantada junto à água.
- Dumuzi cantou:
- - Ah, senhora, teu seio é o teu campo
- Inana, teu seio é teu campo
- Teu campo amplo derrama plantas
- Teu campo amplo derrama cereais
- As águas circulam altas para teu servo
- Derrama-a para mim, Inana,
- Eu beberei tudo o que me ofereceres!
-
- Inana cantou:
- - Faz teu leite doce e espesso, meu noivo.
- Meu pastor, eu beberei teu leite fresco.
- Touro selvage, Dumuzi, faz teu leite doce e espesso
- E eu beberei teu leite fresco.
-
- Que o leite de cabra corra nos meus rebanhos
- Encha meus baldes com queijo doce
- Senhor Dumuzi, eu beberei teu leite fresco.
-
- Meu esposo, eu guardarei os meus rebanhos para ti.
- Eu irei zelar pela tua casa da vida, o armazém.
- O local do brilho e prazer que faz as delícias da Suméria
- A casa que dá o hálito da vida às pessoas
- A casa que dá o pão da vida às pessoas
- Eu, a rainha do palácio, zelarei pela tua casa!
-
- Dumuzi falou:
- - Minha irmã, eu gostaria de ir contigo ao meu jardim
- Inana, eu gostaria de ir contigo ao meu jardim
- Eu gostaria de ir contigo ao meu pomar
- Ei gpstaroa de or contigo até a minha macieira
- E lá eu gostaria de plantar a doce semente coberta de mel.
-
- Inana falou:
- - Ele me levou ao seu jardim
- Meu irmão, Dumuzi, me levou para seu jardim
- Eu passeei com ele entre as árvores viçosas
- Eu fiquei ao seu lado entre as árvores caídas
- Junto à macieira, eu me ajoelhei, como de costume
-
- Meu irmão veio até mem entoando uma canção
- Ele apareceu dentre as folhas de álamo
- Ele veio até mim no calor do meio dia
- Ante meu senhor Dumuzi
- Eu derramei plantas do meu útero
- Eu coloquei plantas diante dele
- Eu derramei grãos diante dele
- Eu derramei grãos do meu útero.
-
- Inana cantou:
- - Ontem à noite, quando eu, a rainha estava radiante
- Ontem à noite, quando eu, a Rainha dos Céus, estava radiante,
- Quando eu estava radiante e dançando
- Cantando à chegada da noite...
-
- Ele foi ao meu encontro, ele foi ao meu encontro!
- Meu senhor Dumuzi foi ao meu encontro!
- Ele pôs sua mão na minha
- Ele colocou seu pescoço junto ao meu.
-
- Meu alto sacerdote está pronto para os quadris sagrados
- Meu senhor Dumuzi está pronto para os quadris sagrados
- As plantas e ervas estão maduras nos campos
- Ah, Dumuzi, teu viço faz as minhas delícias!
-
- Ela chamou pelo leito, ela chamou pelo leito, ela chamou pelo leito!
- Ela chamou pelo leito que alegra o coração
- Ela chamou pelo leito que adoça os quadris
- Ela chamou pelo leito que faz reis
- Ela chamou pelo leito que faz rainhas
- Ela chamou pelo leito:
- - Que o leito que alegra o coração seja preparado!
- Que o leito que adoça os quadris seja preparado
- Que o leito que faz reis seja preparado
- Que o leito que faz rainhas seja preparado!
- Que o leito real seja preparado!
- Inana estendeu o lençol de noivado por sobre o leito
- Ela chamou pelo rei:
- - O leito está pronto!
- Ela chamou por seu noivo:
- - Meu noivo, o leito está esperando!
- Ele pôz a sua mão na mão dela
- Ele pôz a sua mão no coração de Inana
- Doce é o adormecer de mãos dadas
- Mais doce ainda é o adormecer de corações se tocando.
- Ela se banhou para o touro selvagem
- Ela se banhou para o pastor Dumuzi
- Ela perfumou sua pele com óleo
- Ela molhou seus lábios com âmbar de doce perfume
- Ela pintou seus olhos com kohl]
- Ele esculpiu os quadris dela com suas doces mãos
- O pastor Dumuzi encheu o colo de Inana com creme e leite
- Ele acariciou os pêlos īpúbicos dela
- Ele aguou o útero de Inana.
- Com as mãos, ele tocou na vulva plena
- Ele alisou a nau escura dela com seu creme
- Ele tocou a nau estreita de Inana, enchendo-a com seu leite
- Ele acariciou Inana no leito.
- Então ela acariciou o alto sacerdote no leito
- Inana acariciou o fiel pastor Dumuzi
- Ela acariciou os quadris dele, a força do pastoreio da terra.
- Ela decretou um doce destino para ele.
- Inana, a Primogênita da Lua, a Rainha do Céu e da Terra,
- A jovem e heróica mulher, maior que sua mãe
- Inana, a quem foram dadas as Sagradas Medidas do Céu e da Terra por Enki,
- O deus da Sabedoria, das Águas Doces e da Mágica,
- Inana, a Rainha dos Céus, decretou o destino de Dumuzi:
- - Na batalha, eu te lidero
- No combate, seguro tua armadura
- Na assembléia, sou tua advogada,
- Na campanha, sou tua inspiração
- Tu, o pastor escolhido do templo sagrado
- Tu, o rei, o fiel provedor de Uruk
- Tu, a luz do grande templo de Anu
- De todas as formas te acho capaz
- Para caminhar de cabeça erguida nos corredores elevados
- Para sentar sentar no trono de lápis lázuli
- Para cobrir tua cabeça com a coroa sagrada
- Para vestir roupas longas no teu corpo
- Para colocar os trajes da realeza
- Para carregar a clava e a espada
- Para guiar em linha reta o arco e a flecha
- Para colocar a funda no ombro
- Para correr na estrada com o cetro sagrado em tua mão
- E usar as sandálias sagradas nos teus pés
- Para brincar no seio sagrado como berloque de lápis lazuli.
- Tu, o melhor corredor, o melhor de todos, o pastor escolhido,
- De todas as formas eu te acho capaz
- Que teu coração viva longos dias
- O que Anu decretou para ti, que não seja alterado.
- O que Enlil te concedeu - que não seja mudado.
- Tu és o favorito de Ningal. E eu, Inana, te quero muito
-
- Ninshubur, a serva fiel do templo sagrado de Uruk,
- Levou Dumuzi até os doces quadris de Inana, e falou:
- - Minha senhora, aqui está a escolha de vosso coração,
- O rei, vosso amado noivo.
- Que ele passe longos dias na doçura de vossos sagrados quadris.
- Concedei, pois também a ele um reinado favorável e glorioso
- Concedei-lhe o bastão de juslgamento dos pastores
- Concedei-lhe a coroa duradoura com o diadema nobre e radiante.
- De onde o sol surgir até onde o sol se por
- De Sul a Norte, dos Mares Superiores aos Mares Inferiores
- Da terra da Árvore de Hulupu à terra dos cedros
- Que o bastão de pastor de vosso noivo proteja toda a Suméria e Acádia.
- Como agricultor, que ele faça os campos férteis
- Como pastor, que ele faça os rebanhos se multiplicarem
- Sob seu reinado, que hajam os campos vais viçosos
- Sob seu reino que haja abundância de grãos.
- Nos campos do Sul, que os peixes e os pássaros se multipliquem
- Nos canaviais que os juncos novos e velhos cresçam alto
- Nas estepes, que as árvores mashgur cresçam viçosas,
- Nas florestas, que o veado e as cabras selvagens se multipliquem
- Nos pomares, que haja leite e vinho.
- Nos jardins, que as alfaces e os agriões cresçam alto
- No palácio, que haja longa vida.
- Que haja água para as cheias do Tigre e Eufrates
- Que as plantas cresçam alto nos seus bancos e encham os campos
- Que a Senhora da Vegetação empilhe grãos in montes e montanhas.
- Oh, minha Rainha do Céu e da Terra, Rainha de Todo Universo
- Que ele passe longos dias na doçura de vossos sagrados quadris!
- O rei foi de cabeça erguida até os quadris sagrados
- Ele foi de cabeça erguida até os quadris de Inana
- Ele foi até a rainha de cabeça erguida
- Ele abriu bem os braços para a alta sacerdotisa dos céus.
- Inana falou:
- - O rei foi de cabeça erguida até os quadris sagrados
Ele foi de cabeça erguida até os quadris de Inana
Ele foi até a rainha de cabeça erguida
Ele abriu bem os braços para a alta sacerdotisa dos céus.
- Inana falou:
- Meu amor, a delícia dos meus olhos, me encontrou. Juntos, fomos felizes.
Ele foi feliz comigo. Ele me trouxe para sua casa.
Ele me deitou no leito perfumado de mel
Meu doce amor deitou-se junto ao meu coração
E me cobriu de beijos
Meu adorado Dumuzi fez amor comigo cinqüenta vezes
- Agora, meu doce amor está saciado
Agora ele diz:
"Dê-me a liberdade, minha irmã, deixe-me livre
Você será como uma filhinha para meu pai
Ouça, minha irmã, eu quero sair do palácio
Deixe-me livre"...
- Inana falou:
- Meu amor que desabrochou, teu encanto foi doce
Meu amor que desabrochou no pomar das maçãs
Meu amor que me trouxe frutos no pomar das maçãs
Dumuzi-abzu, teu encanto foi doce.
Meu destemido, minha estátua sagrada
Minha estátua com diadema de lápis lázuli e espada
Como foi doce o teu encanto...
- 4- A DESCIDA DE INANA
- Das Grandes Alturas, ela abriu seus ouvidos para as Grandes Profundezas
- Das Grandes Alturas, a deusa abriu seus ouvidos para as Grandes Profundezas
- Das Grandes Alturas, Inana abriu seus ouvidos para as Grandes Profundezas
-
- Minha Senhora abandonou o céu e a terra para descer ao Mundo Subterrâneo
- Inana abandonou o céu e a terra para descer ao Mundo Subterrâneo
- Ela abandonou sua posição de sagrada sacerdotisa para descer ao Mundo Subterrâneo
-
- Em Uruk, ela abandonou seu templo para descer ao Mundo Subterrâneo
- Em Babtibira, ela abandonou seu templo para descer ao Mundo Subterrâneo
- Em Zabalan, ela abandonou seu templo para descer ao Mundo Subterrâneo
- Em Adab, ela abandonou seu templo para descer ao Mundo Subterrâneo
- Em Nippur, ela abandonou seu templo para descer ao Mundo Subterrâneo
- Em Kish, ela abandonou seu templo para descer ao Mundo Subterrâneo
- Em Akkad, ela abandonou seu templo para descer ao Mundo Subterrâneo
-
- Ela reuniu as Sete Medidas Sagradas
- Elas tomou as Medidas Sagrada em suas mãos
- De posse dos me, ela começou a se preparar
-
- Ela colocou a shugurra, a coroa das estepes em sua cabeça,
- Ela ajeitou os escuros cachos de cabelo na testa
- Ela colocou as pequenas contas de lápis lazuli ao redor de seu pescoço
- Ela deixou a fileira dupla de contas tocar seus seios
- E colocou as vestimentas reais sobre seu corpo.
- Ela pintou seus olhos com pintura chamada "Que ele venha, que ele venha!"
- Ela apertou junto ao peito o corpete chamado "Vem, homem, vem!"
- Ela colocou a pulseira de ouro ao redor de seu pulso
- E tomou em sua mão a linha e o bastão das medidas.
-
- Inana partiu para o Mundo Subterrâneo
- - Ninshubur, sua fiel serva, foi junto com ela.
- Inana falou a Ninshubur, dizendo:
- Ninshubur, meu constante apoio
- Minha primeira-ministra que me dá sábios conselhos
- Minha guerreira que luta ao lado meu
- Estou descendo para o kur, o Mundo Subterrâneo.
- Se eu não retornar,
- Comece um lamento por mim junto às ruínas
- Bata o tambor por mim nos locais de assembléia
- Faça um círculo completo ao redor da casa dos deuses
- Faça os sinais de luto ao redor dos olhos, da boca, de seus quadris,
- Vista-se com apenas uma peça de roupa, tal qual um mendigo
- Vá a Nippur, ao templo de Enlil.
- Quando chegares no altar sagrado, brade:
- "Oh, Pai Enlil, não deixai vossa filha
- Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
- Não deixai vossa prata de maior brilho
- Ser coberta com o pó do Mundo Subterrâneo.
- Não deixai vosso precioso lápis lazuli
- Ser quebrada como pedra para o pedreiro [trabalhar]
- Não deixai vossa perfumada caixa de madeira preciosa
- Ser partida como madeira para o madeireiro
- Não deixai a sagrada sacerdotisa dos céus
- Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
-
- Se Enlil não ajudar,
- Vá até Ur, ao templo de Nana.
- Chore ante pai Nana.
- Se Nana não ajudar,
- Vá até Eridu, ao templo de Enki.
- Chore ante pai Enki
- Pai Enki, o deus da Sabedoria, conhece o alimento da vida,
- Ele conhece as águas da vida
- Ele conhece os segredos.
- Com certeza ele não vai me deixar morrer.
-
- Inana continuou sua jornada para o Mundo Subterrâneo
- Então [num ponto], ela parou e disse:
- - Vá agora, Ninshubur
- E não esqueça as palavras que te recomendei.
-
- Quando Inana chegou junto aos portais exteriores de Mundo Subterrâneo
- Ela bateu com força no primeiro portal
- Ela bradou com voz forte:
- - Abra a porta, porteiro!
- Abra a porta, Neti!
- Eu sozinha quero entrar!
-
- Neti, o porteiro do Mundo Subterrâneo, perguntou:
- - Quem sois vós?
- Inana respondeu:
- - Sou Inana, Rainha dos Céus,
- A caminho do Leste.
- Neti disse:
- - Se sois realmente Inana, a Rainha dos Céus,
- A caminho do Leste,
- O que levou vosso coração a tomar a estrada
- Da qual caminhante algum retornou?
- Inana respondeu:
- - Por causa... pour causa de minha irmã, Ereshkigal.
- Seu marido, Gugalana, o Touro dos Céus, faleceu.
- Eu vim para testemunhas os ritos fúnebres
- Que a cerveja de seu funeral seja derramada numa taça
- Que isto seja feito.
- Neti falou:
- - Permanecei aqui, Inana. Eu falarei com minha senhora, dar-lhe-ei vossa mensagem.
- Neti, o porteiro-chefe do Mundo Subterrâneo,
- Entrou no palácio de Ereshkigal, a Rainha do Mundo Subterrâneo, e disse:
- - Minha Senhora, uma donzela,
- Tão alta quanto os céus,
- Tão ampla quanto a terra,
- Tão forte quanto as fundações das muralhas da cidade
- Espera fora dos portais do palácio.
-
- Ela traz consigo as sete medidas sagradas
- Elas as traz em suas mãos.
- De posse dos me, ela se preparou.
-
- Na cabeça, ela veste a shugurra, a coroa das estepes
- Na testa, seus cachos de cabelos escuros estão cuidadosamente penteados
- No pescoço ela traz as pequenas contas de lápis lazuli
- Sobre seus seios caem as duas correntes de contas
- Seu corpo está vestido com as vestimentas reais
- Seus olhos estão pintados com maquiagem chamada "Que ele venha, que ele venha!"
- Junto ao peito ela traz o corpete chamado "Vem, homem, vem!"
- No pulso ela traz a pulseira de ouro
- E em sua mão ela traz a linha e o bastão das medidas.
-
- Quando Ereshkigal, a Rainha do Mundo Subterrâneo, ouviu tal relato
- Ela bateu sua poderosa mão na coxa e mordeu o lábio inferior
- Ela considerou cuidadosamente os fatos, e então falou:
- - Neti, meu porteiro-chefe do Mundo Subterrâneo,
- Preste bem atenção às minhas palavras
- Feche os sete portais do Mundo Subterrâneo
- Então, um por um, abra um pouco cada portal,
- Deixe Inana entrar
- Quando ela entrar, remova suas vestes reais
- Deixe a alta sacerdotisa dos céus entrar aqui sem qualquer resquíscio de seu poder.
-
- Neiti prestou atenção às palavras de sua rainha.
- Ele fechou as sete portas do Mundo Subterrâneo,
- E então abriu o portal exterior (de cada uma)
- Ele disse para a donzela:
- - Vinde, Inana, entrai.
-
- Quando ela entrou pelo primeiro portal,
- Foi removida de sua cabeça a shugurra, a coroa da estepe.
- Inana perguntou:
- - O que é isto?
- Foi-lhe dito:
- - Silenciai-vos, Inana, os desígnios do Mundo Subterrâneo são perfeitos.
- Eles não podem ser questionados.
- Quando ela entrou pelo segundo portal,
- Foram removidas de seu pescoço as contas de lápis lazuli.
- Inana perguntou:
- - O que é isto?
- Foi-lhe dito:
- - Silenciai-vos, Inana, os desígnios do Mundo Subterrâneo são perfeitos.
- Eles não podem ser questionados.
- Quando ela entrou pelo terceiro portal,
- Foram removidas de seu peito as correntes duplas de contas..
- Inana perguntou:
- - O que é isto?
- Foi-lhe dito:
- - Silenciai-vos, Inana, os desígnios do Mundo Subterrâneo são perfeitos.
- Eles não podem ser questionados.
- Quando ela entrou pelo quarto portal,
- Foi retirado de seu peito o corpete chamado "Vem, homem, vem!".
- Inana perguntou:
- - O que é isto?
- Foi-lhe dito:
- - Silenciai-vos, Inana, os desígnios do Mundo Subterrâneo são perfeitos.
- Eles não podem ser questionados.
- Quando ela entrou pelo quinto portal,
- Foi retirada de seu pulso a pulseira de outro.
- Inana perguntou:
- - O que é isto?
- Foi-lhe dito:
- - Silenciai-vos, Inana, os desígnios do Mundo Subterrâneo são perfeitos.
- Eles não podem ser questionados.
- Quando ela entrou pelo sexto portal,
- Foi-lhe retirado da mão o bastão e a linha das medidas
- Inana perguntou:
- - O que é isto?
- Foi-lhe dito:
- - Silenciai-vos, Inana, os desígnios do Mundo Subterrâneo são perfeitos.
- Eles não podem ser questionados.
- Quando ela entrou pelo sétimo portal,
- Foi-lhe retirado do corpo as suas vestimentas reais.
- Inana perguntou:
- - O que é isto?
- Foi-lhe dito:
- - Silenciai-vos, Inana, os desígnios do Mundo Subterrâneo são perfeitos.
-
- Nua, e rebaixada, Inana entrou na sala do trono.
- Ereshkigal ergueu-se de seu trono
- Inana caminhou na direção dela
- Os Anunaki do Mundo Subterrâneo cercaram-na
- Eles passaram uma sentença contra Inana
-
- Então Ereshkigal olhou para Inana com os olhos da morte
- Ela falou contra Inana uma palavra de ódio
- Ela pronunciou contra Inana um clamor de culpa.
-
- Ereshkigal bateu em Inana.
-
- Inana foi transformada num cadáver,
- Num pedaço de carne apodrecida,
- E foi dependurada num gancho da parede.
- Quando, após três dias e três noites, Inana não tinha retornado
- Ninshubur começou lamento por ela junto às ruínas
- Ela bateu o tambor por ela nos locais de assembléia
- Ela fez um círculo completo ao redor da casa dos deuses
- Ela fez os sinais de luto ao redor dos olhos, da boca, de seus quadris,
- Ela vestiu-se com apenas uma peça de roupa, tal qual um mendigo
- Sozinha, ela foi a Nippur, ao templo de Enlil.
-
- Quando ela entrou no altar sagrado, Ninshubur bradou:
- - Oh, Pai Enlil, não deixai vossa filha
- Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
- Não deixai vossa prata de maior brilho
- Ser coberta com o pó do Mundo Subterrâneo.
- Não deixai vosso precioso lápis lazuli
- Ser quebrada como pedra para o pedreiro [trabalhar]
- Não deixai vossa perfumada caixa de madeira preciosa
- Ser partida como madeira para o madeireiro
- Não deixai a sagrada sacerdotisa dos céus
- Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
-
- Pai Enlil respondeu irado:
- Minha filha tinha já as Grandes Alturas
- Inana agora queria as Grandes Profundezas
- Aquela que recebe as Medidas Sagradas do Mundo Subterrâneo não mais retorna
- Aquela que vai à Cidade da Escuridão deve lá permanecer.
-
- Pai Enlil não ajudaria Inana..
-
- Ninshubur foi a Ur, ao templo de Nana.
- Quando ela entrou no altar sagrado, ela bradou:
- - Oh, Pai Nana, não deixai vossa filha
- Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
- Não deixai vossa prata de maior brilho
- Ser coberta com o pó do Mundo Subterrâneo.
- Não deixai vosso precioso lápis lazuli
- Ser quebrada como pedra para o pedreiro [trabalhar]
- Não deixai vossa perfumada caixa de madeira preciosa
- Ser partida como madeira para o madeireiro
- Não deixai a sagrada sacerdotisa dos céus
- Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
-
- Pai Nana respondeu irado:
- Minha filha tinha já as Grandes Alturas
- Inana agora queria as Grandes Profundezas
- Aquela que recebe as Medidas Sagradas do Mundo Subterrâneo não mais retorna
- Aquela que vai à Cidade da Escuridão deve lá permanecer.
-
- Pai Nana não ajudaria Inana..
-
- Ninshubur foi a Eridu, ao templo de Nana.
- Quando ela entrou no altar sagrado, ela bradou:
- - Oh, Pai Enki, não deixai vossa filha
- Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
- Não deixai vossa prata de maior brilho
- Ser coberta com o pó do Mundo Subterrâneo.
- Não deixai vosso precioso lápis lazuli
- Ser quebrada como pedra para o pedreiro [trabalhar]
- Não deixai vossa perfumada caixa de madeira preciosa
- Ser partida como madeira para o madeireiro
- Não deixai a sagrada sacerdotisa dos céus
- Ser posta para morrer no Mundo Subterrâneo.
-
- Pai Enki disse:
- - O que aconteceu?
- Que fez minha filha?
- Inana! A Rainha de Todas as Terras! A Sagrada Sacerdotisa dos Céus!
- O que aconteceu?
- Estou preocupado, estou cheio de tristeza.
-
- Enki tirou um pouco de sujeira de sua unha.
- Desta sujeira ele fez um kurgarra, uma criatura que não era nem macho, nem fêmea
- Enki tirou um pouco de sujeira de sua outra unha.
- Desta sujeira ele fez um galatur, uma criatura que não era nem macho, nem fêmea
- Ele deu o alimento da vida ao kurgarra
- Ele deu as águas da vida ao galatur
- Enki falou ao kurgarra e ao galatur, dizendo:
- - Vão ao Mundo Subterrâneo
- Entrem pelos portais tal qual moscas
- Ereshkigal, a Rainha do Mundo Subterrâneo, está gemendo
- Com os gritos de uma mulher que está para dar à luz.
- Nenhum lençol de linho cobre o corpo dela
- Os seios de Ereshkigal estão descobertos
- O cabelo de Ereshkigal parece-se com alho-poró
- Quando ela gritar "Ah, como me dói tudo por dentro!"
- Gritem também "Ah, como vos dói tudo por dentro!"
- Quando ela gritar "Ah, como me dói tudo por fora!"
- Gritem também "Ah, como vos dói tudo por fora!"
- A Rainha vai ficar agradecida
- E oferecer a vocês um presente
- Peçam a ela apenas pelo cadáver de Inana que está dependurado num gancho da parede
- Um de vocês irá dar a este cadáver o alimento da vida
- O outro irá dar-lhe as águas da vida
- Inana então irá se levantar.
-
- O kurgarra e o galatur seguiram à risca as palavras de Enki.
- Eles partiram para o Mundo Subterrâneo
- Como moscas, eles deslizaram através das aberturas dos grandes portais
- Eles entraram na sala do trono de Ereshkigal, a Rainha do Mundo Subterrâneo.
- Nenhum lençol de linho cobria o corpo dela
- Os seios de Ereshkigal estavam descobertos
- O cabelo de Ereshkigal parecia-se com alho-poró
-
- Ereshkigal estava gemendo:
- - Ah! Ah! Por dentro tudo me dói!
- Eles gemeram:
- - Ah! Ah! Por dentro tudo vos dói!
- Ela gemia:
- - Ahhh, por fora tudo me dói!
- Eles gemeram:
- - Ahhh, por fora tudo vos dói!
- Ela deixou escapar um lamento:
- - Minha barriga!
- Eles deixaram escapar outro lamento:
- - Ah, vossa barriga!
- Ela gemeu:
- - Ah! Ah! Minhas costas!
- Eles gemeram:
- - Ah! Ah! Vossas costas!
- Ela suspirou:
- - Ah! Ah! Meu coração!
- Eles suspiraram:
- - Ah! Ah! Vosso coração!
- Ela suspirou:
- - Ah! Ah! Meu fígado!
- Eles suspiraram:
- - Ah! Ah! Vosso fígado!
- Ereshkigal parou
- Ela olhou para eles
- Ela perguntou:
- - Quem são vocês...
- Gemendo, murmurando, suspirando comigo?
- Se vocês são deuses, eu os abençôo
- Se vocês são mortais, eu dar-lhes-ei um presente.
- Para vocês, irei dar o Dom das águas, o rio mais cheio.
- O kurgarra e o galatur responderam:
- - Não queremos este presente.
- Ereshkigal disse:
- - Dar-lhes-ei o Dom dos grãos, dos campos na colheita.
- O kurgarra e o galatur responderam:
- - Não queremos este presente.
- Ereshkigal disse:
- - Falem então! O que desejam?
- Eles responderam:
- - Desejamos apenas o cadáver pendurado no gancho da parede.
- Ereshkigal disse:
- - O cadáver pertence a Inana.
- Eles disseram:
- - Se o cadáver pertence à nossa rainha
- Se o cadáver pertence ao nosso rei,
- É o que realmente queremos.
-
- O cadáver foi dado a eles.
-
- O kurgarra deu ao cadáver o alimento da vida,
- O galatur deu ao cadáver as águas da vida.
- Inana se levantou....
-
- Inana estava prestes a ascender do Mundo Subterrâneo
- Quando os Anunaki, os juízes do Mundo Subterrâneo, prenderam-na.
- Eles disseram:
- - Ninguém ascende do Mundo Subterrâneo sem uma marca
- Se Inana deseja retornar do Mundo Subterrâneo,
- Ela deve providenciar alguém em seu lugar.
-
- À medida em que Inana ascendia do Mundo Subterrâneo,
- Os galla, os demônios do Mundo Subterrâneo, não desgrudaram de seu lado
- Os galla eram demônios que não conhecem alimentos ou bebidas
- Que não comem oferendas quer em forma de alimentos ou líquidos
- Que não aceitam presentes
- Que não gostam de fazer amor
- Que não têm crianças para beijar
- Eles tiram a esposa dos braços do marido
- Eles tiram o filho ou filha dos joelhos do pai
- Eles roubam a noiva do seu futuro lar.
-
- Os demônios não desgrudaram de Inana
- Os gallas pequenos que acompanhavam Inana
- Eram como juncos de pequenos cercados
- Os gallas grandes que acompanhavam Inana
- Eram como juncos de grandes cercados
-
- Aquele que caminhava à frente de Inana não era um ministro,
- Mas carregava um cetro
- Aquele que caminhava atrás de Inana não era um guerreiro,
- Mas carregava uma clava
-
- Ninshubur, vestida em saco da aniagem sujo
- Esperava fora dos portais do palácio
- Quando ela viu Inana rodeada pelos galla
- Ela atirou-se no chão, na poeira, aos pés de Inana.
-
- Os galla disseram:
- - Sigai em frente, Inana.
- Levaremos Ninshubur em vosso lugar.
-
- Inana gritou:
- - Não! Ninshubur é meu constante apoio
- Ela é minha primeira-ministra, minha sukkal, que me dá sábios conselhos
- Ela é a minha guerreira que luta ao meu lado
- Ela não esqueceu minhas palavras.
-
- Ela começou lamento por mim junto às ruínas
- Ela bateu o tambor por mim nos locais de assembléia
- Ela fez um círculo completo ao redor da casa dos deuses
- Ela fez os sinais de luto ao redor dos olhos, da boca, de seus quadris,
- Ela vestiu-se com apenas uma peça de roupa, tal qual um mendigo
- Sozinha, ela foi a Nippur, ao templo de Enlil.
- Sozinha, ela foi a Ur, ao templo de Nana
- Sozinha, ela foi a Eridu, ao templo de Enki.
- Por causa dela, minha vida foi salva
- Jamais darei Ninshubur a vocês.
-
- Em Umma, no templo sagrado,
- Shara, o filho de Inana, estava vestido com vestes sujas de saco de aniagem
- Quando ele viu Inana rodeada pelos galla
- Ele atirou-se no chão, na poeira, aos pés de Inana.
-
- Os galla disseram:
- - Sigai em frente, Inana.
- Levaremos Shara em vosso lugar.
-
- Inana gritou:
- - Não! Não Shara!
- Ele é o filho que canta hinos para mim
- Ele é o filho que corta as minhas unhas e penteia meus cabelos
- Jamais darei Shara a vocês!
-
- Em Babtibira, no templo sagrado,
- Lulal, o filho de Inana, estava vestido com vestes sujas de saco de aniagem
- Quando ele viu Inana rodeada pelos galla
-
- Os galla disseram:
- - Sigai em frente, Inana, rumo à vossa cidade
- Levaremos Lulal em vosso lugar.
-
- Inana gritou:
- - Não, não Lulal! Ele é meu filho
- Ele é um líder entre os homens
- Ele é meu braço direito, ele é meu braço esquerdo
- Jamais darei Lulal a vocês!
- Os galla disseram:
- - Sigai em frente, Inana, rumo à vossa cidade
- Iremos agora até a grande macieira de Uruk.
-
- Em Uruk, junto à grande macieira,
- Dumuzi, o esposo de Inana, estava vestido com suas cintilantes vestimentas das medidas sagradas
- Ele estava sentado em seu magnífico trono (e de lá não se moveu)
-
- Os galla pegaram-no pelos quadris
- Os galla derramaram leite em Dumuzi proveniente de sete baldes
- Eles quebraram a flauta de junco que o pastor estava tocando
-
- Inana lançou a Dumuzi o olhar da morte
- Ela falou contra ele uma palavra de ódio
- Ela proferiu contra ele um clamor de culpa:
- - Levem-no! Levem Dumuzi embora!
-
- Dumuzi deixou escapar um gemido
- Ele levantou suas mãos para o céu, para Utu, o deus da Justiça, e suplicou a ele:
- - Oh, Utu, tu és meu cunhado
- Eu sou o esposo de tua irmã
- Eu trouxe creme à casa de tua mãe
- Eu trouxe leite para a casa de Ningal
- Eu sou aquele que levou alimentos até o altar sagrado
- Eu sou aquele que trouxe presentes de casamento a Uruk
- Eu sou aquele que dançou nos joelhos sagrados, os joelhos de Inana.
- Utu, tu que és um deus justo, um deus misericordioso
- Transforma as minhas mãos nas mãos de uma serpente
- Transforma meus pés nos pés de uma serpente
- Deixe-me escapar de meus demônios
- Não deixe eles me pegarem!
-
- O misericordioso Utu aceitou as lágrimas de Dumuzi
- Ele transformou as mãos nas mãos de uma serpente
- Ele transformou os pés nos pés de uma serpente
- Dumuzi escapou de seus demônios
- Que não puderam prender Dumuzi.
- 5- O SONHO DE DUMUZI
- Seu coração estava cheio de lágrimas
- O coração do pastor estava cheio de lágrimas
- O coração de Dumuzi estava cheio de lágrimas
- Dumuzi cambaleava pelas estepes, chorando:
- - Oh, estepe, comece um lamento por mim!
- Oh, caranguejos do rio, fiquem de luto por mim!
- Oh, sapos do rio, chamem por mim!
- Oh, minha mãe, Sirtur, chora por mim!
-
- Se ela não encontrar os cinco pães,
- Se ela não encontrar os dez pães,
- Se ela não souber do dia da minha morte,
- Você, oh estepe, dirá a ela, dirá à minha mãe.
- Na estepe, minha mãe derramará lágrimas por mim
- Na estepe, minha mãe irá ficar de luto por mim.
-
- Ele se deitou para descansar
- O pastor se deitou para descansar
- Dumuzi deitou-se para descansar.
- Quando ele se deitou entre os botões e arbustos
- Ele teve um sonho
- Ele acordou por causa do sonho
- Ele tremeu frente à visão do sonho
- Ele esfregou os olhos, aterrorizado.
-
- Dumuzi chamou:
- - Tragam... tragam-na.... tragam minha irmã
- Tragam minha Geshtinana, minha irmãzinha
- Minha escriba que tudo sabe
- Minha cantora de muitas canções
- Minha irmã que conhece o significado das palavras
- A jovem e sábia mulher que conhece o significado dos sonhos
- Devo falar com ela.
- Devo contar-lhe meu sonho.
-
- Dumuzi falou a Geshtinana, dizendo:
- - Um sonho! Minha irmã, ouça o meu sonho:
- Galhos se levantam ao meu redor; galhos crescem espessos ao meu redor
- Um único junco que cresce treme por mim
- Os juncos são removidos, primeiro um, depois o outro,
- Eles que cresciam juntos
- No bosque, o terror das árvores mais altas levantou-se contra mim
- Água começou a se derramar da minha lareira sagrada
- O fundo dos meus baldes [de leite] caiu
- Minha taça caiu de seu lugar costumeiro
- Meu bastão de pastor desapareceu
- Uma águia pega uma ovelhinha do rebanho
- Um falcão pega um papagaio sobe a cerca de juncos
-
- Minha irmã, tuas cabras jogam suas barbas de lápis na poeira
- Tuas ovelhas arranham a terra com suas patas dobradas
-
- Os baldes de leite estão silenciosos,
- Nenhum leite é derramado neles
- A taça está quebrada; Dumuzi não mais existe
- Os rebanhos são dados aos ventos.
-
- Geshtinana falou:
- - Dumuzi, não me contes teu sonho
- Dumuzi, não me fale de tal sonho.
-
- Os galhos que se erguem ao teu redor,
- Os galhos que crescem ao teu redor,
- São teus demônios, que irão te perseguir e te atacar
-
- O junco que cresce solitário e que treme por ti
- É nossa mãe: ela irá lamentar por você
-
- Os juncos duplos, que são removidos um depois do outro,
- São tu e eu: primeiro um será levado, depois o outro.
-
- No bosque, o terror das árvores altas que se ergue contra ti
- São os galla: eles descerão sobre os rebanhos.
-
- Quando o fogo for apagado da tua lareira sagrada,
- Os rebanhos tornar-se-ão a casa da desolação
-
- Quando o fundo de teus baldes de leite se soltar
- Serás preso pelos galla
-
- Quando tua taça cair do lugar de costume
- Irás cair na terra, nos joelhos de tua mãe
-
- Quando teu bastão de pastor desaparecer
- Os galla farão tudo fenecer
-
- A águia que pega uma ovelha do rebanho,
- São os galla que irão tocar tua face
-
- O falcão que pega um papagaio sobre a cerca de juncos
- São os gala que subirão a cerca para te levar
-
- Dumuzi, minhas cabras irão arrastar suas barbas de
- lápis na poeira
-
- Meus cabelos erguer-se-ão até os céus por ti
- Minhas ovelhas irão arranhar a terra com as patas dobradas
- Oh, Dumuzi, farei os sinais de luto na face por ti!
-
- Os baldes de leite estão silenciosos; nenhum leite é servido
- A taça está em estilhaços; Dumuzi não existe mais
- Os rebanhos são dados aos ventos....
-
- Mal havia Geshtinana falado tais palavras,
- Quando Dumuzi gritou:
- - Minha irmã! Rápido, suba à colina!
- Não vá até lá com passos vagarosos e nobres!
- Irmã, corra!
- Os galla, odiados e temidos pelos homens,
- Estão chegando em barcos
- Eles trazem madeira para atar minhas mãos
- Eles trazem madeira para prender meu pescoço
- Irmã, corra!
- Geshtinana subiu a colina.
- O amigo de Dumuzi subiu com ela.
- Dumuzi perguntou:
- - Você consegue vê-los?
- O amigo respondeu:
- - Eles estão vindo:
- Os grandes galla que carregam madeira para atar o pescoço
- Eles estão vindo para pegar você.
- Geshtinana urgiu:
- - Rápido, irmão! Esconde tua cabeça na grama.
- Teus demônios estão vindo!
-
- Dumuzi disse:
- - Minha irmã, não diga a ninguém do meu esconderijo,
- Meu amigo, não diga a ninguém do meu esconderijo
- Vou me esconder na grama
- Vou me esconder entre as pequenas plantas
- Vou me esconder entre as grandes plantas
- Vou me esconder nos fossos de Arali.
-
- Geshtinana e o amigo de Dumuzi responderam:
- Dumuzi, se dissermos teu esconderijo,
- Que os cães nos devorem,
- Os cães pretos do pastoreio
- Os cães pretos da realeza
- Que eles nos devorem!
- Os pequenos galla falaram para os grandes galla:
- - Vocês, galla, que não têm mãe, ou pai
- Que não têm irmão, esposa ou filhos
- Vocês, que voam pelos céus e a terra como guardiões
- Que não concedem favores
- Que não conhecem o bem ou o mal
- Digam-nos
- Quem já viu a alma de um homem amedrontado viver em paz?
- Não vamos procurar por Dumuzi na casa de seu amigo
- Não vamos procurar por Dumuzi na casa de seu cunhado
- Vamos procurar por Dumuzi na casa de sua irmã, Geshtinana.
-
- Os galla bateram palmas alegremente
- Eles foram procurar por Dumuzi
- Eles foram até a casa de Geshtinana. Eles gritaram:
- - Mostre-nos onde está teu irmão!
-
- Geshtinana nada disse.
-
- Eles lhe ofereceram o Dom das águas
- Ela recusou
- Eles lhe ofereceram o Dom dos cereais
- Ela recusou
-
- O céu se aproximou
- A terra se aproximou
- Geshtinana nada falou
-
- Eles rasgaram as roupas de Geshtinana
- Eles derramaram piche na vulva dela
- Geshtinana nada falou.
- Os pequenos galla disseram para os grandes galla:
- - Quem, desde o princípio dos tempos,
- Soube de uma irmã que revelasse o esconderijo de seu irmão?
- Venham, vamos procurar por Dumuzi na casa de seu amigo.
-
- Os galla foram à casa do amigo de Dumuzi.
- Eles lhe ofereceram o Dom das águas
- Ele aceitou
- Eles lhe ofereceram o Dom dos cereais
- Ele aceitou.
- Ele disse:
- - Dumuzi escondeu-se na grama,
- Mas não sei onde ele se encontra.
-
- Os galla procuraram por Dumuzi na grama
- Mas não o encontraram.
- O amigo disse:
- - Dumuzi escondeu-se entre as plantas grandes,
- Mas não sei onde ele se encontra.
-
- Os galla procuraram por Dumuzi entre as plantas grandes
- Mas não o encontraram.
- O amigo disse:
- - Dumuzi escondeu-se nos fossos de Arali,
- Dumuzi caiu nos fossos de Arali.
-
- Nos fossos de Arali, os galla pegaram Dumuzi
- Dumuzi empalideceu e chorou
- Ele gritou:
- - Minha irmã salvou minha vida
- Meu amigo causou minha morte
- Se o filho de minha irmã vaguear pelas ruas
- Que a criança seja protegida
- Que esta criança seja abençoada
- Se o filho de meu amigo vaguear pelas ruas
- Que esta criança se perca
- Que tal criança seja amaldiçoada.
-
- Os galla rodearam Dumuzi
- Eles ataram suas mãos, eles ataram seu pescoço
- Eles bateram no esposo de Inana
- Dumuzi ergueu seus braços para o céu, para Utu,
- O deus Sol, o deus da Justiça, bradando:
- - Oh, Utu, tu és meu cunhado
- Sou o esposo de tua irmã
- Sou aquele que carregou alimentos até o altar sagrado
- Sou aquele que trouxe presentes de núpcias a Uruk
- Eu beijei os lábios sagrados
- Eu dancei sobre os joelhos sagrados, os joelhos de Inana
-
- Transforme minhas mãos nas patas de uma gazela
- Transforme meus pés nas patas de uma gazela
- Deixe-me escapar de meus demônios
- Deixe-me fugir para Kubiresh!
-
- O misericordioso Utu aceitou as lágrimas de Dumuzi
- Ele transformou as mãos de Dumuzi nas patas de uma gazela
- Ele transformou os pés de Dumuzi nas patas de uma gazela
- Dumuzi escapou de seus demônios
- Ele fugiu para Kubiresh.
-
- Os galla disseram:
- - Vamos a Kubiresh!
-
- Os galla chegaram a Kubiresh
- Dumuzi escapou de seus demônios
- Ele fugiu para [onde estava] a Velha Belili
-
- Os galla disseram:
- - Vamos até a Velha Belili!
-
- Dumuzi entrou na casa da Velha Belili. Ele disse a ela:
- - Velha senhora, eu não sou um mero mortal
- Sou o esposo da deusa Inana
- Sirva água para eu beber
- Prepare a farinha para eu comer.
-
- Após a anciã Ter servido a água
- E haver preparado a farinha para Dumuzi
- Ela deixou a casa.
-
- Quando os galla viram-na partir, eles entraram na casa
- Dumuzi escapou de seus demônios
- Ele fugiu para onde estava o rebanho de sua irmã Geshtinana
-
- Quando Geshtinana encontrou Dumuzi entre o rebanho, ela chorou
- Ela abriu sua boca e gritou tão alto quanto os céus
- Ela trouxe a sua boca o mais próximo da terra
- Sua dor cobriu o horizonte tal qual uma veste
-
- Ela fez os sinais de luto nos olhos
- Ela fez os sinais de luto na boca
- Ela fez os sinais de luto nos quadris
-
- Os galla subiram a cerca de juncos
- O primeiro galla bateu na face de Dumuzi com um prego pontudo
- O segundo galla bateu na outra face de Dumuzi
- com o bastão do pastor
- O terceiro galla espatifou o fundo do balde de leite
- O quarto galla arrancou a taça do seu lugar de costume
- O quinto galla destruiu o balde de leite
- O sétimo galla gritou:
- - Levante-se, Dumuzi!
- Esposo de Inana, filho de Sirtur, irmão de Geshtinana,
- Suas cabras foram pegas! Suas ovelhas foram pegas!
- Seus filhotes foram pegos!
- Tire a coroa sagrada de sua cabeça
- Dispa as vestes das Medidas Sagradas de seu corpo
- Que o cetro real caia por sobre a terra!
- Tire as sandálias sagradas dos pés
- Despido, você vem conosco!
-
- Os galla pegaram Dumuzi
- Eles o rodearam
- Eles prenderam suas mãos. Eles prenderam seu pescoço.
-
- Os baldes de leite silenciaram.
- Nenhum leite foi neles derramado
- A taça foi estilhaçada. Dumuzi não existia mais
- Os rebanhos foram dados aos ventos.
-
- 6- O RETORNO
- Um lamento fez-se ouvir na cidade:
- - Minha senhora chora amargamente pelo seu jovem esposo
- Inana chora amargamente por seu jovem esposo.
- Ela está cheia de pesar por seu esposo! Ela está cheia de pesar por seu jovem amado!
- Ela está cheia de pesar pelo palácio! Ela está cheia de pesar pela cidade!
-
- Dumuzi foi levado cativo de Uruk
- Ele não mais vai se banhar em Eridu
- Ele não mais irá se lavar no altar sagrado
- Ele não mais irá tratar a mãe de Inana como se fosse sua mãe
- Ele não mais irá cumprir seus doces deveres
- Entre as donzelas da cidade.
-
- Ele não mais irá competir com os jovens da cidade
- Ele não mais irá erguer sua espada mais alto do que os altos sacerdotes
- Grande é o pesar daqueles que choram por Dumuzi!
-
- Inana chora por Dumuzi:
- - Foi-se o meu esposo, meu doce esposo,
- Foi-se o meu amor, o meu doce amor.
- Meu amado foi levado da cidade.
- Oh, moscas das estepes,
- Meu adorado noivo foi tirado de mim
- Antes que eu pudesse envolvê-lo numa mortalha adequada.
-
- O touro selvagem não mais vive,
- O pastor, o touro selvagem não vive mais
- Dumuzi, o touro selvagem, não vive mais.
-
- Eu pergunto às colinas e vales:
- Onde está meu esposo?
- Eu digo a eles:
- Não mais posso servir-lhe alimentos,
- Não mais posso servir-lhe bebidas.
-
- O chacal se deita no leito que era dele
- O corvo mora entre seu rebanho
- Você me pergunta a respeito da sua flauta de junco de Dumuzi?
- O vento toca por ele.
- Você me pergunta sobre as doces canções de Dumuzi?
- O vento deve cantá-las por ele.
-
- Sirtur, a mãe de Dumuzi, chora por seu filho:
- - Meu coração toca a flauta de junco da saudade (do luto)
- Outrora meu menino andava livre pelas estepes,
- Agora ele está cativo
- Outrora Dumuzi andava tão livre pelas estepes
- Agora ele está preso
-
- [Como] a ovelha-mãe desiste de seu filhote
- [Como] a cabra desiste de seu rebento
- Meu coração toca a flauta de junco da saudade.
-
- Oh, estepe traiçoeira!
- No lugar onde ele disse uma vez:
- 'Minha mãe irá pedir por mim'
- Agora ele não mais pode mover suas mãos
- Ele não mais pode mover seus pés.
- Meu coração toca a flauta de junco da saudade,
- Eu irei até ele,
- Eu irei até meu filho.
-
- A mãe de Dumuzi caminhou para o local desolado
- Sirtur andou até o lugar onde Dumuzi se deitava
- Ela disse:
- - Oh, meu filho, vejo tua face, mas teu espírito não está mais aqui!
-
- Há luto na casa
- Há profundo pesar nos aposentos internos.
-
- A irmã de Dumuzi também vagueava pela cidade, chorando por seu irmão.
- Geshtinana vagueava pela cidade, chorando por Dumuzi.
- - Oh, meu irmão! Quem é tua irmã?
- Eu sou tua irmã.
- Oh, meu irmão! Quem é tua mãe?
- Eu sou tua mãe.
- O dia que amanhece para ti, também amanhece para mim.
- O dia que você vê, eu também o verei.
- Eu vou encontrar meu irmão! Eu irei consolá-lo!
- Eu vou compartilhar seu destino com ele!
-
- Quando ela viu o pesar da irmã
- Quando Inana viu o pesar de Geshtinana,
- Inana falou a ela gentilmente?
- - A casa do seu irmão não mais existe
- Dumuzi foi levado pelos gala
- Eu te levaria até ele
- Mas não sei onde ele está.
-
- Então uma mosca apareceu.
- A mosca sagrada voou acima da cabeça de Inana e falou:
- - Se eu vos disser onde está Dumuzi, o que ireis me dar?
-
- Inana disse:
- - Se você me disser,
- Deixarei você freqüentar as cervejarias e tavernas
- Deixarei você viver entre as conversas dos sábios
- Deixarei você viver entre as canções dos menestréis.
-
- A mosca falou:
- - Erguei vossos olhos para os confins das estepes
- Erguei vossos olhos para Arali
- Lá vós encontrareis o irmão de Geshtinana
- Lá vós encontrareis o pastor Dumuzi.
-
- Inana e Geshtinana foram até os confins das estepes
- Lá encontraram Dumuzi chorando
- Inana então tomou a mão de Dumuzi e disse:
-
- - Irás para o Mundo Subterrâneo por meio ano
- Tua irmã, uma vez que foi seu desejo, irá para lá pela outra metade.
- No dia em que fores chamado, naquele dia serás levado
- No dia em que Geshtinana for chamada, neste dia serás posto em liberdade.
-
- Inana coloca as mãos de Dumuzi e Geshtinana nas mãos de Ereshkigal, a Eterna.
- Sagrada Ereshkigal! Graças vos sejam dadas!
- Sagrada Ereshkigal! A vós eu canto!
- Fonte:
- Wolkstein, Diane e Kramer, Samuel Noah (1983). Inanna: Queen of Heaven and Earth - her stories and hymns from Sumer. Harper and Row, New York.
-
- VOLTAR PARA BABILÔNIA-BRASIL
|