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A DINASTIA DE SARGÃO II


Os reis sargônidos, ou os descendentes de Sargão II da Assíria, governaram a região por quase um século ininterrupto (704-609 ANTES DA NOSSA ERA), estendendo os limites do império e civilização assírios ao

seu ponto máximo. Entretanto, as guerras de Sennacherib, Esarhaddon e Assurbanipal deixaram o império fraco, bem diferente ao final das inscrições reais cheias de grandiosas expressões que temos disponíveis em tábuas de argila.

Ao final do reinado de Sargão II, os assírios dominavam direta ou indiretamente todo o Crescente Fértil, partes do Irã e Ásia Menor, ou seja, tinham uma janela no Mediterrâneo e outra no Golfo, controlavam todo curso dos rios Tigre e Eufrates, bem como as rotas de comércio através do deserto da Síria, Touro e Zagros. Supridos de todos os tipos de mercadorias e materiais por seus súditos, vassalos e aliados, eles viviam na prosperidade e poderiam Ter vivido em paz, se não fossem pelas crescentes revoltas provocadas por políticas opressoras, que no mínimo incentivaram revoltas na Palestina, Babilônia , Egito e Elam. A conquista do Egito por Esarhaddon e a destruição de Elam nas mãos de Assurbanipal causaram problemas: estas batalhas, na verdade, não foram frutos de medidas estratégicas, mas sim foram medidas defensivas tomadas pelos monarcas para pôr fim a situações graves de conflito. Nesta luta constante para sobreviver pela força, os assírios consumiram muito de sua energia, e fracassaram em prestar atenção suficiente no novo grupo que estava se formando, provindo do reino da Média, povo este que mais tarde vencerá e porá por fim o grande império assírio.


SENACHERIB

Senacherib não era o primogênito de Sargão II, mas por algum motivo que nos é obscuro, foi o escolhido para legítimo herdeiro de seu pai, levado à casa da Sucessão , onde foi investido a desempenhar as mais altas funções militares e administrativas, especialmente nas fronteiras ao Norte da Assíria. Senacherib foi bem preparado para suas funções reais quando subiu ao trono em 704 Antes da Nossa Era. Ao longo de seu reinado, as fonteiras leste e norte, teatro de tantas guerras de seu pai, mantiveram-se comparativamente calmas. As vitórias de Sargão no Kurdistão, na Armênia, e em Taurus haviam marcado Urartu e a Frígia, que não eram mais vistos como agressores em potencial. Estas regiões, além do mais, estavam sendo assediadas por um novo inimigo, os cimerianos, ou seja, um povo guerreiro do sul da Rússia, que ao final do oitavo século tinha cruzado o Cáucaso, e entrado na Ásia Oriental. Já nos últimos anos do reinado de Sargão II , os cimerianos se estabeleceram no local que hoje conhecemos como República da Geórgia, se revoltaram contra os Urartianos, infringindo a estes graves danos. A seguir, os urartianos estavam avançando na direção do Mar Negro, ameaçando a Frígia e o pequeno mas rico reino da Lídia. Ao mesmo tempo, outros cimerianos avançavam pelo norte, vindos do Irã, através de aliança com o reino de Medes e Manai. Senacherib, provavelmente informado destes avanços, não pode interferir em regiões tão distantes. As quatro companhas lançadas por ele no norte e oeste tiveram escala média, não sendo dirigidas contra os cimerianos ou Medes, mas para proteger vassalos: príncipes da região do centro de Zagros, do Kurdistão, governadores da Cilicia- provavelmente apoiados por tropas babilônicas - e um dos reis do Tabal. Na realidade, Senacherib estava mais preocupado com alguns revoltosos dos distritos do Mediterrâneo e da Babilônia, ao saber da morte de Sargão II. Na Fenícia e no Egito Palestino, propaganda tinha persuadido o rei do Sidão Lulê, o rei Sidka, rei de Ascalão, Ezequiel de Judá e os habitantes de Ekron a cortar os laços com Nínive. No quanto ano de seu reinado (701 ANTES DA NOSSA ERA),

Sennacherib venceu os rebeldes, colocou governadores simpáticos à Assíria e prosseguiu rumo à conquista da Judéia e Jerusalém. Um acordo, às portas de Jerusalém, foi firmado,sendo que os Assírios se retiraram da cidade, a um preço alto, entretanto, pago em tributos pelos judeus aos assírios.

Na Babilônia a situação era bem pior do que na Palestina, e a guerra entre os arameus e seus aliados elamitas continuou ao longo de quase todo reinado de Esarhaddon. O antigo rival de Sargão II, Marduk-apaliddina (Merodach-Baladan), ajudado por oficiais Elamitas e tropas, levantou os arameus do sul do Iraque contra os assírios, entrando na Babilônia e se proclamando rei da cidade. Semanas mais tarde, Senacherib liderou seus exércitos contra o invasor. Derrotado frente às muralhas de Kish, Merodach-Baladan escapou escondendo-se nos pântanos, onde dificilmente seria encontrado.

Senacherib saqueou seu palácio, capturou inúmeros prisioneiros, deportou 208,000 pessoas para a Assíria and deu a Babilônia para um rei de sua escolha, Bêlibni, filho de Merodach-Baladan, que havia sido criado e educado em Nínive. Três anos depois, Merodach-Baladan reapareceu em seu país natal, e causou problemas o suficiente para incitar a segunda intervenção da Assíria. Bêlibni, certamente culpado de ter cooperado com o traidor seu pai, foi substituído por outro filho de Senacherib, Ashur-nadinshum.

Seis anos de paz relativa se sucederam. Então, em 694 ANTES DA NOSSA ERA, Senacherib organizou uma intervenção por terra e mar para ter acesso à região do Golfo. Os elamitas foram derrotados, os assírios voltando com consideráveis saques de guerra. Neste interim, entretanto, houve retaliação de outros elamitas, que invadiram a Mesopotâmia, tomaram Sipar e fizeram com que lhes fossem entregue o governador da Babilônia, Ashur-nadin-shumi, como sabemos filho de Senacherib, que foi entregue aos elamitas e do qual não se teve mais notícia. O jovem príncipe deve provavelmente ter sido morto. Outra vez, uma grande batalha contra a Babilônia foi travada. Descrita como algo estrondoso,esta na realidade foi quase uma derrota. Cego de ódio, Senacherib fez o impensável: ele destruiu a cidade sagrada, a qual todos os seus antecessores haviam tratado com paciência e respeito.

Tal crime não poderia ser deixado impune. Em 681 ANE, Senacherib foi assassinado por un de seus filhos enquanto rezava em um templo. A lenda diz que foi morto por um dos touros alados que protegiam o templo. As guerras que Senacherib tinha travado foram brutais, lutadas por seus generais, todos severamente julgados pela história. Mas a Senacherib deve-se a construção do fabuloso palácio real de Nínive, e a um trabalho excepcional de esforço construtivo, de templos, canais e das cidades assírias propriamente ditas.


ESARHADDON

O assassinato de Senacherib mergulhou a Assíria numa violenta, mas curta crise dinástica. Esarhaddon conquistou pela espada seu direito ao trono que ele havia obtido legalmente. Esarhaddon era o filho mais jovem de Senacherib com Naqia, a Segunda e muito influente esposa deste. Mas o jovem príncipe, incentivado pelos augúrios dos deuses, entrou em triunfo em Nínive em março de 681, e conquistando seus plenos direitos. Os irmãos traidores tinham fugido para paradeiro desconhecido, mas os auxiliares destes os executaram, junto com seus herdeiros. O primeiro ato do novo monarca foi reabilitar a imagem de seu pai com os babilônicos através da reconstrução da cidade. No reinado do Esarhaddon, a cidade da Babilônia não foi apenas reconstruída, mas remodelada com grande magnificência. Estes trabalhos prosseguiram durante todo o reinado dele. Interessante é que se Esarhaddon podia perdoar, ele também podia punir com igual força. Quando houveram problemas na Fenícia, em 677 Antes da Nossa Era, Abdi-Milkuti, Rei do Sidão, foi pego e decapitado, e seu território dado à cidade rival de Tiro. Estas medidas drásticas deixaram Esarhaddon livre para lidar com problemas mais sérios ao longo das fronteiras nordeste e leste.

No começo de seu reinado, os Citians, povo nômade do sul da Rússia, haviam cruzado o Cáucaso e se juntado aos cimerians na Ásia Menor, Armênia e Irã. A chegada destas tribos guerreiras, fez os cimerians começarem novamente suas atividades guerreiras. Em 679 ANTES DA NOSSA ERA, os cimérios ameaçaram as montanhas de Taurus, ameaçando as guarnições assírias de Tabal e preocupando vassalos da Cilícia. Esarhaddon contra-atacou rapidamente, forçando os cimérios a se retraírem, mas cimérios e cítians caíram sobre o reino da Frígia, que os derrotou três anos depois, com ajuda de vizinhos de Urarte. Feliz por Ter livrado o reino dos invasores, Esarhaddon fez a paz com os cimérios, deu uma princesa Assíria em casamento a um chefe de Cítia e repeliu um fraco ataque de Rusas II de Urartu.

Enquanto que obtinha por uma combinação de força e diplomacia uma paz precária com a Babilônia, com a Fenícia e ao longo de 2.000km e ao longo de suas fronteiras nordeste e leste, Esarhaddon estava se preparando para seu grande projeto, a conquista do Egito. Em 679 Antes da Nossa Era ele havia capturado a cidade fronteiriça de Azsrzan, havia tentado conseguir a amizade dos árabes, por esta época estabelecidos em grandes números no deserto sírio, uma vez que sem a cooperação destes, não poderia ser realizada nenhuma operação militar de larga escala no sudoeste do império assírio. Finalmente, na primavera de 671 Antes da Nossa Era, quando sentiu que todas as fronteiras estavam seguras e de que detinha a amizade dos árabes ou a neutralidade destes, Esarhaddon levou seus exércitos até a Síria, e cercou Tiro. A cidade resistiu, e Esarhaddon a deixou, seguindo na direção do Egito, passando por Gaza e cruzando o deserto de Sinai. Após consideráveis dificuldades, eles entraram no Egito. O faraó Taharqa e seus exércitos resistiram, mas a conquista deste vasto país ocorreu com rapidez surpreendente para os assírios. O Egito, entretanto, não foi presa fácil. Dois anos depois, Taharqa volta do sul para onde tinha fugido, recupera Mênfis e fomenta uma rebelião contra os assírios no Delta do Nilo. Esarhaddon, novamente a caminho do Egito, fica doente em Harran e morre em 669 ANTES DA NOSSA ERA.

Três anos antes, em Maio de 672, na presença de nobres e do exército da Assíria, embaixadores estrangeiros e representantes de estados vassalos, Esarhaddon havia solenemente proclamado seu filho Assurbanipal como o herdeiro legítimo de seu trono, e apontado outro de seus filhos, Shamash-shum-ukin, vice-rei na Babilônia. No mesmo dia, os príncipes-vassalos assinaram um longo tratado de lealdade ao príncipe herdeiro. O vice-rei da Babilônia também prestou voto de lealdade a Assurbanipal. Esarhaddon, o bravo e sábio rei da Assíria, não deixou nada à sua sorte, tendo assegurado que sua dinastia não entraria em crise com a sua morte.


ASSURBANIPAL

A mudança de reinado ocorreu sem problemas e os dois príncipes ascenderam a seus respectivos tronos. Assurbanipal em Nínive e Shamash-shum-ukin na Babilônia um ano depois, O império, entretanto, não estava dividido. Provavelmente, o objetivo destes arranjos feitos por Esarhaddon era satisfazer seus súditos babilônicos in Babilônia, garantindo a eles a soberania, apesar de ser sabido que Assurbanipal tinha precedência sobre seu imão. O rei da Babilônia tinha toda autoridade dentro de seus domínios, enquanto que Assurbanipal governava a Assíria e seus vassalos, além de ser responsável pela condução de guerras e a política externa do império. Esta foi uma solução estranha, mas pareceu funcionar bem por dezesseis anos.

Assurbanipal também herdou de Senacherib a tarefa de acabar com a revolta dos Egípcios. Os assírios venceram a batalha e recuperaram a cidade de Mênfis, mas a cidade de Taharqa, tal qual o havia com Esarhaddon, escapou de suas mãos. Com novo exército formado por assírios, fenícios, sírios, cipriotas e egípcios dissidentos, o delta egípcio foi conquistado, mas foi interrompido a caminho de Tebes, pelas notícias de que os príncipes do Baixo Egito também haviam-se revoltado contra a Assíria. Tendo sido traídos, os assírios sabiam que não poderiam prosseguir, deixando para trás tantas revoltas a 2000 km de sua terra natal. A única solução foi perdoar os reis do Delta, para que permanecessem em paz. Assurbanipal então libertou os prisioneiros, concedendo-lhes ricos presentes.

Dois anos mais tarde, com a morte de Taharqa no exílio em 664 ANTES DA NOSSA ERA, seu filho Tanutamun (Tandamane para os assírios) entrou em Tebes e marchou para Mênfis, facilmente derrotando os poucos egípcios que encontrou em seu caminho. Mas os assírios novamente derrotaram Tandamane, bem como os fenícios, e estas deram a Assurbanipal alguns anos de descanso, nos quais novamente ele voltou suas atenções às fronteiras norte e oeste da Assíria. A cronologia de seu reinado é incerta, mas a ceca de 665 e 655 ANTES DA NOSSA ERA deve ser colocada a campanha contra os Medes que consta dos registros históricos, também vencida pelos assírios.

Mas a sorte de Assurbanipal começa a mudar no meio do século sétimo, quando o Delta do Nilo começou a se revoltar e a abandonar definitivamente a Assíria. A cerca de 655 ANTES DA NOSSA ERA Psamtik (Psammetichus I) levantou a bandeira da independência na reigão, com a ajuda de mercenários de Iona e de Cária, expulsando os assírios do Egito e perseguindo-os até a Palestina. Devemos estas informações a Herodotus, o historiador grego. O Egito escapou então das mãos assírias. Houve, entretanto, a vitória assíria sobre o Elam, onde o rei foi morto em batalha, e seu corpo levado a Nínive, onde, conforme famoso baixo-relevo, seu corpo foi enforcado em meio a grande regozijo numa árvore do palácio real de Nínive. O Elam foi dividido. O Elam foi dividido entre dois membros da família de Urtaki: Humbanigash e Tamaritu. A guerra contra os Elamitas tinha recém acabado quando a Babilônia se revoltou contra a Assíria.

Por 16 anos Shamash-shum-ukjn tinha-se comportado como um irmão leal, mas gradualmente o vírus do nacionalismo babilônico tomou conta dele. Em 652 ANTES DA NOSSA ERA o rei da Babilônia fechou os portões de Sipar, Babilônia e Borsipa para os Assírios, juntando-se a uma coalizão de forças compreendendo a Fenícia,os filisteus, os judeus, os árabes do deserto sírio , os caldeus do sul do Irque, os Elamitas e até mesmo a Lídia e o Egito. Se todos estes povos houvessem atacado a Assíria ao mesmo tempo, ela teria sido arrasada. Felizmente, os planos foram descobertos a tempo. Assurbanipal tinha como agir.

Mas os Babilônicos não serenaram, e o rei da Assíria marchou contra seu irmão por três anos. Só então Shamash-shum-ukjn desistiu. A lenda diz que ele ateou fogo em seu próprio palácio e pereceu nas chamas (648 ANTES DA NOSSA ERA). Suméria e Ágade foram pacificadas e Assurbanipal colocou no trono uma figura obscura chamada Kandalanu. Logo depois, Assurbanipal começou a punir outros rebeldes e então ficou envolvido numa guerra contra os árabes, que não apenas tinham apoiado Shamash-shumukin , como também seguidamente saqueavam os estados vassalos do leste. Este foi outro conflito vencido pela Assíria, que entretanto pagou novamente um preço alto.

Os árabes se retraíram. Assurbanipal mandou suas tropas contra seu antigo protegido, o rei de Elam, que havia aceitado suborno do rebelde rei da Babilônia. Os problemas da longa guerra contra os elamitas e as armações e revoluções que esta causou levou três príncipes à sucessão em Susa. Suficiente dizer que em 639 ANE os Assírios venceram a última batalha. Toda a região de Elam foi destruída e a capital totalmente saqueada. O zigurate de Susa foi destruído, os templos profanados e saqueados. Os Elamitas praticamente foram varridos da face da terra.

Logo após o saque de Susa, Assurbanipal festejou seu triunfo. Este magnífico mas duro monarca pode contemplar o mundo a seus pés. Mas a vitória teve um gosto amargo. Nunca, na realidade, tinha o império assírio tão forte e tão fraco ao mesmo tempo, com a conquista do Egito fora do alcançe, o Elam em ruínas, a Babilônia devastada, e, com uma pequena exceção da população a seu favor. Cheios de ódio pelos assírios, os fenícios, escravizados e perdendo sua soberania marítima, tendo os gregos como rivais e como vassalos príncipes assírios pouco confiáveis, tendo além do mais seu exército exaurido por um século de guerras sangrentas, surge ainda para a ameaça dos inimigos de Medes. O grande império Assírio, mesmo se estendendo por uma vasta região, apesar das aparências, estava com seus dias contados e mais vulnerável do que já havia sido.

Fonte principal: Roux, Georges (1992) Ancient Iraq. London, Penguin Books. (c)Todos os direitos do autor. Texto traduzido aqui apenas como auxiliar o estudo e pesquisas.

 

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