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Há pouco tempo, eu queria escrever muito. Editar meu primeiro livro, que ainda não editei, e, depois, muitos outros. Mas, às vezes, tenho a impressão de que não adianta, que não vai ajudar ninguém, porque eu não sou capaz de ajudar sequer as pessoas que convivem comigo a viverem melhor. E depois até penso: “não é minha obrigação, nem minha para com eles, nem deles para comigo.” Mas, alguma coisa me diz que pode não ser obrigação, mas é um importante elemento da nossa felicidade. Eu não entendo as pessoas, aliás, não entendo nem eu mesmo muitas vezes. A gente quer melhorar, quer realizar coisas para ser amado, para ter amigos, e para poder estar com quem amamos, mas, muitas vezes, abandonamos pessoas que amamos e que nos amam em função de poder realizar coisas. Tem um verso de uma canção do Tom Jobim do qual eu me lembro sempre: “de que valem as flores que nascem pelo caminho, se o meu caminho sozinho é nada?! “Deus é amor.” Porque não é esse ou aquele, é todas as formas de amor. O ser humano limitado tem uma estúpida necessidade de controle. Por isso, nomeia e define todas as coisas e todas as gentes, limitando-as a essas suas formas pobres de poder, seus rótulos e suas palavras. E o absurdo é que, depois, pensa conhecer as coisas e as gentes simplesmente naquilo que ele deu conta de nomear, como se a fantasia de ter tomado posse das coisas e das gentes tivesse sido realizada. Esse mesmo tipo, em seu delírio de poder, acha que é capaz de possuir até deus. E diz que o colocou em um único livro, que chama de bíblia. Deus não é o que a bíblia diz, não é o que os padrecos dizem, não é o que os pastores charlatães dizem, nem é o que eu digo. Porque todos que disserem mais do que “deus é” estarão dizendo que ele é o que melhor lhes convém, ou, no caso mais puro, que é aquilo que eles puderam compreender de deus. A bíblia é mais um instrumento de controle das massas, escrito por homens. Comete, em seus textos, uma reprodução de preconceitos e conceitos e autoridades meramente humanos, não mais que isso. Não entendo como as pessoas se sujeitam tanto aos seus autores. Inspiração divina está em toda ação em prol do benefício de todos. E, como sabemos, há muita boa ação que depois de um tempo não serve mais, ou que realmente sai pela culatra. Uma vez, minha prima, religiosa, me disse que “não questiona assim sua fé cristã senão deixa de acreditar. E, se deixar de acreditar, acaba saindo de controle.

Tem coisas que eu não entendo. Talvez, você não entenda esta.

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