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DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

CURSO DE DIREITO

CADEIRA DE SOCIOLOGIA

Agosto/96

Docente : Ricardo Prado Oliveira

RESUMO DO CADERNO DE SOCIOLOGIA DA UNICAMP ENTITULADO

"A CRISE DE PARADIGMAS NA SOCIOLOGIA"

sumário

1. Problemas de Explicação ........................................... 3

2. Três Épocas do Pensamento Sociológico ................... 5

3. Teoria e Paradigma .................................................... 7

1. PROBLEMAS DE EXPLICAÇÃO

Na atualidade, fala-se em decomposição dos modelos sociológicos clássicos tais como família, sociedade, capitalismo, divisão de trabalho social, consciência coletiva, classe social, consciência de classe, nação, revolução. Preconiza-se a sistêmica, estrutural, neo-funcionalista, fenomenológica, etnometodológica, hermenêutica, do individualismo metodológico e outras. Discute-se que o objeto da sociologia deveria ser o indivíduo, o ator social, a ação social, o movimento social, a identidade, diferença, cotidiano, a escolha racional.

Cita-se que

"Os sociólogos não deviam despender todas as suas energias na procura de generalizações amplas, leis universais e uma compreensão total da sociedade como tal. Talvez cheguem lá mais tarde se souberem esperar. Nem recomendo o caminho arenoso das profundezas do turbilhão dos fatos, que enchem os olhos e ouvidos até que nada possa ser visto ou ouvido claramente."

Os críticos contemporâneos da sociologia tradicional, tais como Touraine, costumam comentar que

"Na realidade, o que esta sociologia denomina sociedade não é senão a confusão de uma atividade social, definível em termos gerais - como a produção industrial ou o mercado - e de um Estado nacional"

Trata-se de um modelo clássico de representação da vida social acompanhada da formação de um novo modelo a partir do qual se pode desenvolver uma orientação sociológica mais específica e mais coerente. No conjunto, discutem-se problemas relacionados tanto ao método como ao objetivo da sociologia. Discutem-se as prioridades, ou acomodações, quanto à indução quantitativa e qualitativa, à análise sincrônica e diacrônica, ao contraponto das partes e o todo, à dinâmica e à estabilidade sociais, ao indivíduo e a sociedade, ao objetivo e ao subjetivo.

A controvérsia entre os clássicos e os contemporâneos, em certos casos, envolve a tese de que a sociologia é uma ciência pouco amadurecida. Todo sociólogo precisa demonstrar um conhecimento de primeira mão daqueles que deixaram a sua marca na sociologia.

O primeiro argumento baseia-se na idéia de que a sociologia deveria pautar-se pelo modelo paradigmático das ciências naturais. Supõe que a lógica do conhecimento científico é única. As possibilidades da pesquisa, experimentação, descrição e explicação, abertas pela ciência da natureza, pouco servem para o estudo da realidade social. Os conceitos, tendências, efeitos, e outros, só se constituem à medida em que se colhem as configurações e os movimentos da realidade social.

O segundo argumento, é o que discute o objetivo da sociologia, bem como das outras ciências sociais. Diz respeito a seres dotados de vontade, querer, ideais, ilusões, consciência, inconsciência, racionalidade, irracionalidade. Os fatos e acontecimentos sociais são sempre materiais e espirituais, implicando indivíduos, família,, grupos, classes, movimentos, comportamentos, fantasias, valores, realidades, utopia, ideologia, sofrimento, resignação, etc.

O terceiro, o que analisa a sociedade burguesa, industrial, capitalista, moderna, informatizada, que modifica-se ao longo do tempo. O dilema indivíduo-sociedade continua essencial na necessidade de entendimento das relações sociais, espaços, liberdade e condições de opressão. No entanto, nem a ciência nem a técnica alteram a natureza essencial das relações, processos, apropriação, distribuição, dominação ou poder. Cada cientista social tende a descrever e estudar o seu universo social de acordo com os fatos e os valores da sua época.

2. TRÊS ÉPOCAS DO PENSAMENTO SOCIOLÓGICO

São três as épocas de principal interesse para o estudo sociológico, razoavelmente nítidas em termos de teorias, modelos, paradigmas, ciência normal, revoluções científicas, caráter cumulativo do conhecimento científico, rupturas epistemológicas. Assim, cada época pode revelar-se uma polifonia.

Uma época fundamental da história da teoria sociológica compreende os nomes TOCQUEVILLE, COMTE, SPENCER, MARX e DURKHEIM, além de SAINT-SIMON, PROUDHON, ESPINAS, TARDE, LORENZ von STEIN e outros. Estes são autores que fundam a sociologia, delimitando o seu objeto e formulando o seu método. São os denominados CLÁSSICOS. Os seus principais temas foram : ordem e progresso, evolução e diferenciação, normal e patológico, racional e irracional, racionalização e burocratização, sagrado e profano, povo e cidadania, classe e luta de classes, movimento social e partido político, revolução, contra-revolução, dentre outros. As teorias clássicas envolvem conceitos, categorias, leis, generalizações e previsões que podem servir de base ao espírito crítico e da imaginação criadora.

A segunda fase que se deu em fins do século XIX e início do século XX, oriunda de uma crise mais fecunda de efervescência intelectual, buscou alternativas para o evolucionismo, o positivismo, o empirismo, o historicismo e o marxismo, em função das novas dimensões da realidade que o pensamento clássico parecia não contemplar. Foi então que DILTHEY, RICKERT, SIMMEL, WEBER, TONNIES, PARETO, ALFRED MARSHALL, COOLEY, MEAD, BERGSON, WILLIAM JAMES, PIERCE, FREUD, HUSSERL, SAUSSURE e outros produziram as suas contribuições. Essa foi, sem dúvida, a revolução mais importante na história da sociologia, depois de sua fundação em meados do século XIX. Recriam a sociologia, lançando-a em outros horizontes, quanto ao objeto e método. Desvendam novos temas e iniciam diversas perspectivas teóricas. Estão mais atentos às situações sociais emergentes, não racionais, inconscientes. Debruçam-se sobre o indivíduo, o grupo primário, a construção social do eu, a vida, existência, memória, duração, libido, hedonismo, ação social, sentido, espírito, cultura.

A terceira fase, a sociologia contemporânea, coloca-se mais na esteira dos revolucionários do que dos clássicos . Dentre seus principais nomes podemos citar PARSONS, MERTON, LAZARSFELD, GOFFMAN, GARFINKEL, DAHRENDORF, MORENO, SCHUTZ, LÉVI-STRAUSS, TORRAINE, BOURDIEU, BOUDON, GIDDENS e ELSTER, entre outros. Estes propõe recriar a sociologia, libertando-a mais ou menos dos clássicos, sem deixar de buscar contribuições ocasionais, isoladas, fragmentadas daqueles. São inspirados nas sugestões de filósofos, historiadores das ciências, cientistas, dentre os quais destacam-se HEIDEGGER, SARTRE, MERLEAU-PONTU, BACHELARD, FOUCAULT, WITTGENSTEIN, POPPER, KUHN, FEYERABAND e JAKOBSON, entre outros. Baseiam-se em reflexões compreendidas nos debates sobre paradigmas, ciência normal, revoluções científicas, caráter cumulativo do conhecimento científico, epistemologias globais ou integrais, epistemologias regionais, rupturas epistemológicas, epistemes. Revalorizam o inconsciente, as estruturas invisíveis, as bricolagens, surpreendidas nos discursos escritos e falados, místicos e sonhados.

O que se sobressai, no entanto, das contribuições contemporâneas, são o funcionalismo, e principalmente, o estruturalismo, este codificado por LEVI-STRAUSS, e retomado por continuadores ortodoxos ou não.

3. TEORIA E PARADIGMA

Os requisitos lógicos fundamentais da interpretação na sociologia dizem respeito à historicidade do social. A controvérsia sobre paradigmas clássicos e contemporâneos passa pelo problema da historicidade da realidade social. Trata-se de aperfeiçoar, de desenvolver a teoria sociológica, sem perder a dimensão histórica da realidade social. A influência dos paradigmas emprestados das ciências físicas e naturais tem levado certos sociólogos a uma espécie de pasteurização da realidade social, o que evidentemente se expressa no conceito, na interpretação. O declínio da perspectiva histórica é algo relativamente generalizado na sociologia e no pensamento social contemporâneos. Aos poucos as tecnologias da pesquisa, matemáticas, informáticas, invadem o objeto e o método da sociologia. São vários os momentos lógicos da reflexão sociológica em termos de aparência e essência, parte e todo, singular e universal, qualidade e quantidade, sincrônico e diacrônico, histórico e lógico, passado e presente, sujeito e objeto, teoria e prática. Entretanto, a multiplicidade das teorias não implica, necessariamente, na multiplicidade de epistemologias.

As teorias sociológicas do passado e do presente organizam-se, em última instância, com base em princípios explicativos fundamentais, que constituem os fundamentos dos paradigmas conhecidos na sociologia. Neste ponto é que a controvérsia sobre os paradigmas precisaria demorar-se mais. Aí o debate sobre a crise de paradigmas na sociologia tem muito a realizar, se quer elucidar os fundamentos da questão.

Na linguagem da sociologia, um paradigma compreende a articulação dos momentos lógicos essenciais da reflexão - aparência, essência, parte e todo, etc. - que se traduzem interpretativamente. A noção de paradigma deixa de lado a acepção que privilegia o conjunto de hábitos comuns aos que se dedicam ao ensino e pesquisa, as codificações estabelecidas em manuais, os laços institucionais e o jargão próprio de cada grupo de sociólogos reunidos em centros, instituições, departamentos e outros lugares.

Podemos dizer que as teorias sociológicas contemporâneas lidam com alguns princípios explicativos fundamentais, comuns. As teorias multiplicam-se. Vista assim, em certos aspectos, a controvérsia sobre paradigmas, bem como teorias e paradigmas, ajuda a explicar determinadas singularidades da sociologia, como ciência social.

O primeiro deles, que a sociologia pode ser considerada uma ciência que se pensa criticamente, todo o tempo.

O segundo, cabe reconhecer que o objeto da sociologia é a realidade social em movimento, formação e transformação.

O terceiro, a sociologia é uma forma de autoconsciência científica da realidade social, que tem raízes nos impasses, nos problemas, lutas, ilusões.

O quarto, diz respeito à relação entre ciência e arte, teoria e prática, conhecimento e poder, ou teoria e prática. O pensamento sociológico clássico sempre tem algo a ver com a prática.

O quinto, na sociologia o sujeito do conhecimento é individual e coletivo. O sociólogo dispõe de todas as condições de estabelecer o seu objeto de estudo, e evidencia o estilo pessoal do autor no escrito e na interpretação, e ora expressa o conhecimento como individual ora como do conhecimento geral, alternando os sujeitos eu e nós.


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