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Polifonia Vocal e Instrumental

M. Augusta Jober

(Sono-Viso do Brasil)


Nos primeiros séculos o canto era homófono, isto é, todos os executantes cantavam a mesma melodia e os instrumentos apenas reforçavam o canto.

No século IX o órgão, então admitido nas igrejas, tocava também a melodia do canto, mas em breve foram fazendo combinações de sons.

O órgão tocava uma som prolongado sobre o qual era cantada a melodia gregoriana. daí surgiu, provavelmente, o sistema de canto a duas vozes chamado "órgano" no qual a uma voz principal, o tenor, cantava o trecho gregoriano e a segunda voz, "voz organal", entoava sons diferentes.

O órgano teve muita aceitação e seu ponto mais alto foi na escola de Notre Dame em Paris com os organistas e compositores Leoné e Perotin no século XII.

Leoné escreveu uma grande obra em estilo de órgano baseada no antifonário com a segunda voz muito mais livre.

Perotin, além do órgano, usou o discanto, sistema mais requintado no qual a voz principal, o "cantus firmus", ficava no baixo e a voz organal na parte superior desenhava movimentos paralelos e contrários.

Mais tarde Perotin, libertando das restrições desses sistemas, começou a escrever a três vozes: "Órgano triplo" e a quatro vozes: "Quadruplo".

Perotin é considerado criador da polifonia, canto à várias vozes. Usou ainda um novo processo: a "imitação" e fixou as regras do conductus e do moteto.

Nos séculos XII e XIII a denominação de conductus era dada a todas as peças polifônicas vocais escritas a maneira do órgano, mas cujo tenor, invés de ser tirado do canto gregoriano, era de livre invenção do compositor.

O conductus podia ser a duas, três ou quatro vozes.

O moteto resultou do enriquecimento do órgano e do conductus partindo de superposição de várias melodias diferentes tendo os polifonistas confiado um texto diverso a cada uma das vozes.

O tenor, tirado de um texto litúrgico, serve de base à composição. Simultaneamente desenvolve-se a voz organal camado moteto, contralto com texto diferente.

Freqüentemente um terceira voz, triplo, superpõe-se às outras duas cantadas com um novo texto às outras duas cantadas com um novo texto às vezes as duas partes inferiores são exercitadas por instrumentos como * neste de Felipe de Virtüi.

No século XV, época da polifonia vocal à capela, isto é, sem acompanhamento de instrumentos, o moteto teve grande desenvolvimento com os compositores da escola franco-flamenga entre os quais Josquim des Preés, autor deste * Ave-Verum”.

* Neste moteto podemos observar o processo de imitação. A segunda voz inicia com a melodia principal que é repetida pela primeira voz começando mais agudo (quinta acima).

Os ingleses foram os primeiros a usar o cânon ou cânone, processo de imitação que consta de uma única melodia cantada por todas as vozes. Começando uma após a outra a uma distância determinada sendo repetida várias vezes. O cânone mais conhecido popularmente é o francês “Frére Jaques”.

No século XIV com a influência dos trovadores os compositores passaram introduzir elementos populares em suas obras surgindo então novas formas entre as quais a caça. A caça é em geral a duas vozes em estilo imitativo obrigatoriamente ditado de um baixo quase sempre instrumental como * nesta do compositor italiano Guirarbelos executada por dois tenores.

A balada, que no tempo dos trovadores era uma canção dançada, aparece agora cantada a duas vozes.

* Nesta balada” do compositor italiano Francesco Landino a execução conta com um soprano, um tenor, viola, harpa medieval e flauta soprano. Contemporânea da balada é a frótola, dança italiana muito em voga no século XV.

* Esta e o grilo é de Josquim des Preés a frótola foi absorvida pelo madrigal e pela vilanela.

A vilanela ou cancioneta era uma forma vocal popular italiana como a frótola com a qual tem certos traços comuns era escrita a quatro vozes, mas feitura mais rudimentar tendo caráter ligeiro às vezes cômico.

O madrigal, a forma mais importante da polifonia vocal era originalmente a duas vozes, devendo a sua identidade a uma forma da poesia lírica usada pelos grandes poetas do século XIV. Petrarca e Bocaccio.

Desta época é * este madrigal de Jacopo de Bolonha cantado por soprano e tenor com alaúde e viola.

O madrigal evoluiu muito nos séculos XV e XVI tornando uma composição para cinco ou mais vozes sendo cultivados pelos maiores compositores da época.

Orlando de Lacis escreveu cento e quarenta e seis madrigais dentre os quais destacamos Matona Mia Cara a quatro vozes à capela, isto é, sem acompanhamento de instrumentos.

Lacis compôs, em igual número, cento e quarenta e seis canções francesas. Chanson forma contemporânea de madrigal italiano tendo cada uma delas influência da outra.

A canção francesa é em geral descritiva e caracteriza-se pela vivacidade e elegância como podemos observar nesta de Lacis: “Bonjour Monskier” sobre poesia de Pronssen.

A canção originaria dos trovadores apareceu no século XIV como a forma artística polifônica a principio para solo vocal, mas com instrumentação própria sendo depois escrita para coro à capela sem acompanhamento de instrumento.

Sua forma é muito variável. Há canções muito simples com um só período, mas geralmente constam de dois períodos ou duas melodias tipo A B.

Em algumas canções, depois do segundo período, volta-se ao primeiro para terminar tipo A B A.

No século XIV foi estruturada a forma máxima da polifonia católica: a missa.

Guilherm Machau escolheu entre as partes da missa o Kyrie, o Glória, o Credo, o Sanctus, o Benedictus e o Agnus Dei.

Compôs uma obra então durante as missas eram executados cantos esparsos de diversos autores sem qualquer ligação.

Todos os compositores dos séculos seguintes escreveram missas. Mas aos seguintes passaram a introduzir nas suas obras melodias e textos profanos que eram cantados simultaneamente com os textos litúrgicos.

No século XVI a música religiosa estava sento dão deturpada que ficou ameaçada de ser excluída do culto. Foi quando Palestrina escreveu a célebre missa Papae Marcelli para seis vozes a capela dentro das regras da polifonia e de acordo com as normas do culto católico. Esta missa dedicada ao Papa Marcelo II foi executada pela primeira vez na capela sixtina em vinte e sete de abril de mil quinhentos e sessenta e sete e ficou sendo modelo da polifonia católica.

Mesmo século, anos antes, apareceu uma nova forma: o coral. O coral, forma empregada por Lutero no culto protestante.

É sempre a quatro vozes, soprano, contralto, tenor e baixo. E baseado nas canções populares alemãs e com texto na língua do povo.

Para o culto protestante, Jonham Sebastian Bach escreveu grande número de corais que constitui o ponto mais alto desta forma musical.

Desde os fins do século XVI o termo “Richercar”, do italiano “Richercare”: procurar. Era usado para indicar peça instrumental oriunda do moteto escrito em contraponto imitativo.

O richercar foi uma dar primeiras formas compostas especialmente para instrumento, anteriormente as formas eram vocais embora tivessem execução instrumental. O richercar deu origem à fuga.

Na invenção, como no cânone as vozes entram sucessivamente com o mesmo tema que no decorrer da peça sofre modificações.

* Nesta invenção à duas vozes, de Bach, o tema é exposto pela primeira voz e repetida pela segunda voz a uma oitava abaixo.

A fuga, segundo Paulo Silva, é uma composição contrapontada de cunho imitativo.

Deve seu nome ao fato de uma voz para outra, como se estivesse fugindo. A palavra fuga durante muito tempo foi usada para indicar formas de estilo imitiativo.

No fim do século XVI os organistas e cravistas sistematizaram de uma forma fixa. A fuga tonal.

A fuga chegou ao seu apogeu no século XVIII com J. S. Bach com “O Cravo Bem Temperado” e a arte da fuga. Da qual consta uma série de fugas e cânones todos sobre o mesmo tema.

Observemos a construção do contraponto primeiro da * citada obra Inicialmente o sujeito, o tema principal é apresentado na voz do contralto.

Em prosseguimento o contralto executa o contra-sujeito enquanto o soprano entra com a resposta que é o tema com pequenas modificações ficando a fuga a duas vozes.

Continuando o contralto executa uma parte livre, o soprano o contra-sujeito e o baixo entra com o sujeito a uma oitava abaixo ficando a fuga a três vozes.

Com a entrada do tenor executando a resposta, o contralto e o soprano, partes livres, e o baixo o contra-sujeito, a fuga fica a quatro vozes.

Com estas quatro entradas sucessivas: sujeito – reposta – sujeito – resposta, fica concluída a exposição. Segue-se o episódio no qual são ouvidos o sujeito, a resposta e o contra-sujeito em tons vizinhos do principal separados por elementos chamados divertimentos.

A terceira exceção da fuga é o streto. Cânone formado com sujeito e a resposta entrando cada qual antes de terminar o anterior.

Denomina-se streto verdadeiro aquele em que a entrada da resposta fica mais próxima do princípio do sujeito como * nesta “Fuga nº 1” do “Cravo Bem Temperado” de Bach.

Além das obras citadas, J S. Bach escreveu muitas peças em estilo fugato e ainda fugas para órgão, instrumento do qual era exímio executante. Dentre suas obras para este instrumento destacamos a “Tocata e Fuga em ré menor”.

Como vimos a partir do século XIII os compositores começaram a escrever a três vozes dando origem à polifonia, canto a várias vozes. Com a polifonia surgiram novas formas como o moteto, o conductus, a caça, o madrigal, a vilanela e a chanson.

A balada, forma antiga, apareceu a duas vozes. Foi estruturada a forma missa que teve o seu ponto mais alto com Palestrina.

Com o desenvolvimento de instrumentos apareceram novas formas a eles dedicadas entre as quais a de estilo imitativo como a invenção e a fuga, a mais perfeita forma polifônica, teve seu apogeu com a obra de Bach.

* O texto se refere a fonogramas que não estão disponíveis neste site