CIRURGIAS DE CORPOS ESTRANHOS
CONCEITO
Corpo estranho em um organismo vivo, é qualquer substância alheia ao mesmo que venha, acidental ou intencionalmente, a penetrar e permanecer no interior dos tecidos, ou qualquer parte de um mesmo organismo que venha a se situar em condições diferentes das primitivas, provocando reações.
CORPOS ESTRANHOS MAIS COMUNS NO TRABALHO ODONTOLÓGICO
1 - Raízes e ápices dentais no processo alveolar.
2 - Raízes e ápices dentais fora do processo alveolar
3 - Materiais restauradores e de moldagem
4 - Instrumentos fraturados
5 - Outros corpos estranhos
PATOGENIA
1-Corpos estranhos biológicos - Considerar a possibilidade de infecções.
2-Corpos estranhos metálicos - Conceito atual: com a possível exceção daqueles localizados no olho, os objetos metálicos geralmente não produzem danos ao organismo.
3 - Cirúrgica - O princípio básico da cirurgia é não causar danos.
Não se pode por em dúvida que, em muitos casos, é completamente desnecessário retirar um corpo estranho metálico de uma região silenciosa ou inacessível. No entanto, é comum, que o portador de um corpo estranho, por medo de eventuais conseqüências, não aceite o fato de deixá-lo em seu lugar. Geralmente esta ansiedade é injustificada porque os fragmentos se mantém quase sempre in situ, aprisionados em um tecido cicatricial que se forma com rapidez.(MOOREHEAD).
DIAGNÓSTICO E LOCALIZAÇÃO
O diagnóstico compreende:
1 - Reconhecimento do corpo estranho
2 - Determinação do local que ocupa
3 - Conveniência de Retirá-lo
Os métodos usuais de diagnóstico e localização são:
1 - Exame clínico
2 - Exame radiográfico
3 - Utilização de guias
AVELING (1851) - agulha magnetizada.
BLUM (1919) e SMITH (1920) - agulha guia em radiografias
PA e L.
KAZANJIAN (1944) - idealizou a fixação da guia em uma banda ortodôntica.
da COSTA (1956) - inserção de filmes radiográficos nas incisões.
MALKIN (1962) - grampos de arame.
WELBORN (1965) - férula com fios de aço.
O PROBLEMA DAS AGULHAS DE ANESTESIAS FRATURADAS
"Não são as coisas que influem sobre nós, mas sim a idéia que fazemos sobre as coisas". (Um homem sábio).
PREVENÇÃO
Sempre tem sido a melhor conduta.
1 - Usar agulhas de calibre médio (não capilares) e longas,
2 - Não introduzi-las totalmente. Seja qual for o comprimento de uma agulha, ela deve ser introduzida no máximo dois terços de sua longitude.
3 - Uma vez inserida na profundidade desejada, não modifique a direção da agulha sem retirá-la quase totalmente.
A CONDUTA DO DENTISTA, FRENTE A UMA FRATURA DE AGULHA
1-Mantenha-se tranqüilo. Não entre em pânico, apavorando também o paciente.
2-Recomende ao paciente, que não se mova e não retire sua mão da boca do paciente. Faça-o manter a boca aberta, se necessário, mordendo alguma coisa de certa espessura que tiver a mão, ou mesmo parte de um guardanapo enrolado.
3-Observe se o fragmento está visível. Se estiver aparente, remova-o com uma pinça hemostática ou outro instrumento apropriado.
Se o fragmento não estiver visível:
4-Não faça incisões nem tentativas adicionais para remoção.
5-Informe o paciente do sucedido com toda tranqüilidade possível. Alivie o temor e a preocupação que possam surgir.
6-Anote o incidente em sua ficha com todos os detalhes necessários.
7-Conserve o fragmento proximal para futuras comprovações.
8-Encaminhe o paciente para um cirurgião bucal para consulta e não para extração do corpo estranho. O dentista, antes de enviar o paciente ao cirurgião bucal pode haver-lhe incutido sem querer algumas idéias perigosas. As radiografias dá uma imagem tão clara da agulha, permitindo supor que a remoção é fácil e o profissional tem o desejo de sanar o acidente do qual se sabe responsável. Portanto, pode transmitir ao paciente a idéia de que o fragmento deve ser removido e que tudo o que tenha a fazer é procurar um determinado profissional e que removerá rapidamente.
CONDUTA DO CIRURGIÃO BUCAL FRENTE AO CORPO ESTRANHO METÁLICO
Na atualidade é prática comum deixar in situ os corpos estranhos de metal que hajam penetrado acidental ou intencionalmente.
Na literatura tem sido apontadas as seguintes conseqüências da permanência de um corpo estranho:
1 - Migração ou "encravamento" em um nervo.
2 - "Penetração " em um vaso sangüíneo ou no cérebro.
3 - Infecção. A agulha atuaria como um tubo de cultura para microorganismos patogênicos.
4 - Fibrose dos músculos mastigatórios com limitação da abertura da boca.
5 - Problemas psicológicos. O paciente desenvolve medo das possíveis conseqüências do acidente.
ROBINSON & LYTLE (1967) enviaram um questionário a respeito de corpos estranhos aos especialistas em cirurgia bucal dos EEUU. Receberam 57 respostas, que forneceram as seguintes informações:
a)36 cirurgiões conheciam casos em que os pacientes foram prejudicados pelas tentativas de remoção.
b)54 cirurgiões não verificaram prejuízos ao paciente, em casos de permanência do fragmento
c)3 cirurgiões sabiam de conseqüências adversas da permanência dos corpos estranhos. Foi pedido aos três detalhes desses casos para análise cuidadosas e até hoje não responderam.
d)De todos os casos operados, a indicação mais comum se deveu a pedido do próprio paciente.
e)Mesmo considerando a diversidade dos comentários recebidos, os autores não encontraram razão anatômica ou fisiológica concreta que justificassem a intervenção.
TÉCNICA DE REMOÇÃO
O princípio básico da cirurgia é não causar danos. Em última análise, para decisão final, devem ser estimados os riscos da intervenção em contraposição aos perigos que poderiam surgir da evolução natural do processo.
De acordo com a filosofia dos professores de cirurgia que ministraram o curso este ano, essa intervenção só deverá ser realizada alicerçada em dois fatores essenciais: localização real do fragmento e duração da intervenção.
Para localização, radiografia laterais (Técnicas de Parma - Chassis apoiado no ramo ascendente, ang. vert. -5º x 2 segundos x 15 miliamperes x 65 KV) e ântero-posteriores (Técnica de Zimmer, raio central dirigido ao ângulo interno do olho para a apófise mastóide x 2 ½ segundos x 15 miliamperes x 65 KV).
Após tomadas radiográficas, montar uma agulha em um crânio, na posição que julgar a verdadeira. Faze controle radiográfico pelas mesmas técnicas, modificando o guia até encontrar a posição real. Se possível, comprovar em peça anatômica com tecidos moles.
Quando da cirurgia, colocar a agulha guia na posição previamente determinada a fazer o controle radiográfico. Operar com o guia em posição.
A intervenção deverá ser limitada ao máximo de 30 minutos a contar da incisão. Se nesse tempo o fragmento não puder ser retirado, interromper a cirurgia. As conseqüências do prolongamento desse tempo tendem a ser piores que os benefícios da tentativa ou mesmo da retirada do fragmento.
A cirurgia deve estar estribada no planejamento cuidadoso e localização real. A limitação do tempo não deve ser usada como desculpa de nossas limitações, falhas ou imprudências.
APRESENTAÇÃO DE CASOS CLÍNICOS
CONCLUSÕES
Com o material moderno e os métodos atuais de fabricação o problema de fratura de agulhas torna-se uma eventualidade rara. Quando este acidente ocorre pode transformar-se um tragédia para o paciente, para o dentista responsável e para o cirurgião inexperiente. Analisando as razões dessa tragédia verifica-se que não derivam do metal sepultado nos tecidos mas da atitude do dentista e do paciente. A vida dos pacientes seria mais segura e tranqüila, se as agulhas fraturadas ou outros corpos estranhos fossem considerados com o mesmo critério. As fantasias existentes nas mentes dos pacientes e profissionais, estimulados por alguns advogados e por Côrtes de Justiça, teceram uma trama complicada, cuja as conseqüências são as intervenções desnecessárias a incapacidade e a morte (ROBINSON & LYTLE, 1967).
BIBLIOGRAFIA:
Livros:
1 - ARCHER, H. - Cirurgia Bucal. 2ª ed., Buenos Aires, Mundi, 1968, v. 2, p. 662-679
2- MEAD, S.V. - Cirurgia Bucal, México, UTHEA, 1948, v.1., p.609-625.
3- ROBINSON, M. & LYTLE, J. - In: McCarty, F.M. - Emergências em Odontologia. Buenos Aires, Ateneo, 1971, p. 252-267
Artigos:
1 - COSTA, W.T. da Remoção de Agulhas Fraturadas na região da espinha de Spix. Seleções Odontl., 11(63):32-36, nov.-dez., 1956
2 - MALDIN, M. - Um método para localizar apices radiculares y cuerpos extranos. Oral Hygiene, 33(1):9-12, ene. 1962
3 - WELBORN, J.F. - Prosthetic grid for locating foreing bodies and small bone lestions in edentulous jaws. J. Am. Dent. Assoc., 72(4):906-908, Apr. 1966.