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O
SÃO PAULO
SEMANÁRIO
DA ARQUIDIOCESE DE SÃO PAULO
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| Em
28/06/2000 |
Tive
frio e você me agasalhou!
O inverno deste ano
promete ser rigoroso. Isto faz pensar, a quem tem um mínimo de
sensibilidade, nas milhares de famílias que, nesta cidade imensa,
desajeitadamente se ajeitam em barracos de madeira e papelão. Faz
pensar na população de rua - crianças, adultos e velhos - que vai
se embrulhar em trapos sob pontes e marquises e se aquecer com
improvisadas fogueiras lá onde a vigilância permite.
O pensar nas vítimas
do frio deve levar ao agir em seu favor. E é isto que dom Cláudio
Hummes quer da comunidade católica e dos homens de boa vontade desta
cidade de São Paulo. Tanto que, como no ano passado, uma grande
campanha de agasalhos foi lançada. Aquele cobertor fora de uso,
aquela manta desbotada mas inteira, aquela blusa de lã que só ocupam
espaço em nossos guarda-roupas agora têm novo dono, os pobres. Os
agasalhos que não servem mais em nossas crianças – elas cresceram
- estão na medida exata de tantas crianças que estão pela cidade
afora precisando agasalhar-se. Aquele paletó, aquele sobretudo,
aquele pijama de flanela que parecem tão fora de moda estão na última
moda para os pobres que precisam aquecer-se a qualquer custo.
A sabedoria popular
cunhou uma expressão que fala da Providência Divina: "Deus dá
o frio conforme o cobertor". Ao dizer isso afirmamos que Deus
colocou em nós uma capacidade imensa de ajustarmo-nos às situações
adversas. Que este dito popular, porém, não se transforme em
desculpa para a omissão diante do frio que ameaça tantas vidas.
Deus quer, isto sim,
que o cobertor que vai agasalhar os pobres seja conforme o frio que se
espera. E Deus quer mais: que aqueles que experimentam seu amor, sua
bondade, sejam sinais deste amor no meio do mundo. E o sinal deste
amor no inverno é a partilha com os pobres dos meios de combate ao
frio. Que eles saibam que Deus dá o cobertor conforme o frio e que
este cobertor chegue aos pobres por meio de nós. Que cada pessoa
necessitada, ao receber o dom de um agasalho, possa dizer no seu coração:
"Que bom que Deus me mandou este irmão. Eu estava com frio e ele
me aqueceu".
Melhor será ainda a
nossa Campanha do Agasalho se cada paróquia ou cada comunidade
projetar seu gesto fraterno para além dos seus limites geográficos.
Pode ser que com poucos agasalhos se aqueçam os pobres de uma paróquia.
Mas são necessários muitos agasalhos para aquecer os pobres de toda
a cidade. O nosso gesto generoso, caloroso, fraterno deverá abraçar
todos os pobres da cidade, os vizinhos e os distantes de nós.
Uma coisa é certa.
Na festa de Corpus Christi que retratamos nesta edição, a passagem
do sacerdote com o Santíssimo Sacramento sobre tapetes de roupas e
cobertores que depois seriam distribuídos aos pobres mostra que
nossas comunidades já entenderam o pedido de dom Cláudio Hummes e
permite avaliar antecipadamente que a Campanha do Agasalho do ano 2000
será um sucesso.