Anorexia infantil
O Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo inaugurou há menos de um mês um serviço para tratamento de crianças com anorexia e bulimia. Doença psquiátrica que pode provocar graves conseqüências e levar à morte, a anorexia até poucos anos era encontrada somente entre adultos, geralmente mulheres jovens, de classe média. Aos poucos, porém, o perfil dos pacientes com esse distúrbio foi mudando. A doença passou a atingir pessoas cada vez mais jovens até chegar em crianças, de ambos os sexos.Pacientes com esses distúrbios alimentares têm em comum uma obsessão por emagrecer. Os primeiros sinais são regimes constantes e a prática exagerada de exercícios físicos. Nos pacientes adultos com anorexia, jejuns são constantes. Já na bulimia, o mais comum é que o paciente intercale jejuns com refeições onde tudo é permitido. Com medo de engordar, essas pessoas geralmente provocam vômito, logo depois dos acessos de compulsão alimentar.
Diante do aumento do número de casos infantis, o serviço multidisciplinar foi montado. Nele, crianças e seus pais são atendidos uma vez por semana.
Até agora, quatro crianças já foram aceitas para o tratamento. "Sabíamos que a procura seria grande", afirma o coordenador do Projeto de Atendimento à Infância e Adolescência com Transtornos Alimentares, Táki Cordás. O psiquiatra conta que começou a ver os primeiros casos de anorexia em criança há cinco anos. Em alguns países, o mesmo fenômeno foi constatado.
Para Cordás, não é difícil entender a razão. "~Há uma grande pressão social para que as pessoas mantenham a forma física", diz. E isso atinge tanto meninos quanto meninas. O médico explica que muitos garotos que vão a seu consultório contam ter iniciado o regime para poder melhorar seu desempenho nos esportes.
A erotização precoce também pode estar relacionada ao aumento do número de casos, principalmente no caso das meninas. "As meninas são incentivadas a se vestir como mulheres, a dançar como bailarinas e sonham em ganhar dinheiro como modelos, sempre muito magras." Questões genéticas também podem estar associadas. "Em algumas doenças, a manifestação dos sintomas pode aparecer mais precocemente de geração para geração."
Os distúrbios alimentares entre crianças apresentam algumas peculiaridades. "Ao que parece, as crianças não têm uma imagem deformada do corpo tão acentuada quanto os adultos", diz Cordás. Além disso, a adesão ao tratamento e os índices de melhora são sensivelmente maiores. "Como a personalidade ainda não está totalmente formada e a criança está sob orientação dos pais, fica mais fácil controlar o que ela come e como pratica exercícios." Quando a doença não é tratada precocemente, a criança pode apresentar osteoporose, baixa estatura, diminuição da fertilidade.
Reconhecer uma criança com os primeiros sintomas não é difícil. "Hoje grande número de pré-adolescentes faz regime." Mas, no caso de distúrbios alimentares, o exagero é evidente. Cordás lembra do caso de uma paciente que exigia que sua comida fosse feita em uma panela à parte, longe dos outros recipientes para evitar que óleo respingasse na sua refeição. No tratamento, é dada grande ênfase à terapia familiar. Para alguns pacientes, o uso de remédios, principalmente antidepressivos, é indicado.