Vou contar uma parte do meu caso, digo uma parte porque existem muitos detalhes que terão que ficar de fora, e espero poder ajudar quem está passando por isso, é difícil, eu ainda não estou curada, mas vale a pena!
Quando era pequena, até uns 12 anos, eu era muito magra, muito mesmo, comia e não engordava. Com 13 comecei a comer mais, porque achava que eu nunca iria engordar, eu nem sabia o que era isso. Foi na mesma época em que eu cresci e o meu corpo começou a se desenvolver. Acabei confundindo formas com gordura, não era mais um palito, mas nem cheguei perto de ser gorda.
Passei um tempo assim, sem fazer dieta, comendo muita "porcaria", e sem o meu peso mudar muito. Só que eu sempre achei liindo o corpo de modelo, reto feito uma tábua, corpo de anoréxica, como dizem, mas eu ainda não sabia como era essa doença.
Em Outubro de 99, com 15 anos, resolvi perder peso pela primeira vez, mas não queria que acontecesse comigo o famoso efeito sanfona (emagrece-engorda), e decidi nunca mais comer o que comia.
Não contei pra ninguém o que pretendia, porque sabia que iriam dizer: "Pra que, tu não precisa!". Mentira, eu pensava, eu tô uma baleia!!! Cortei tudo que podia cortar, só almoçava, muito pouco, e jantava um pão integral com uma folha de alface, quando jantava, o que resultava em menos de 500 calorias por dia.
Não fazia exercícios porque nunca gostei de fazer, queria passar o dia normalmente, só queria ver quanto tempo eu aguentava ficar sem comer. Eu me sentia muito bem quando ia dormir e sentia meu estômago vazio, era uma vitória, mais um dia tinha passado.
Em dois meses perdi 6 quilos, e já estava muito fraca, já que antes já estava com peso normal. Sentia dores no corpo, minha mãos e unhas ficaram roxas, tinha os olhos fundos, estava completamente enfraquecida.
Tive sorte, pois a minha mãe logo percebeu o problema e me levou a vários médicos, desde esse dia passei a frequentá-los. A doença foi diagnosticada e eu comecei um tratamento com um grupo de médicas, uma nutricionista, uma psicóloga e uma clínica geral.
No começo eu dava gargalhada quando diziam que eu estava doente, achava que elas estavam loucas, e em uma semana eu seria dispensada. Com o tempo entendi que não era assim.
Aos poucos foram incluídos os alimentos no meu esquema alimentar, para que eu aumentasse de 500 a 800g por semana. Perdi mais 3 quilos antes de começar a repor peso. Foi difícil, tenho que comer tudo, era vigiada, 24 horas com a minha mãe, ela me servia, me cuidava, como um bebê. Era assim que eu estava. Me irritava, chorava, esperneava, mas ela não dava bola e eu me sentia incompreendida, estava sendo envenenada pela minha família.
Mas desde o começo vi que não podia enganar a minha família, nem minha médicas, deixando de comer ou fazendo exercícios, que são proibidos, por isso nunca os fiz. Chorava muito, todos os dias, me sentia sozinha lutando contra todos, e ainda tendo que esconder das minha amigas, porque aquilo não parecia ser real.
Apesar de não querer comer, queria cozinhar, fazer banquetes, doces, "engordar os outros também". Via programas de receitas, colecionava livros de comida, decorei as calorias de tudo, não pensava em outra coisa. Só me de conta de como estava o meu corpo quando vi uma foto no meu aniversário, em Novembro, que eu estava parecendo morta, sem exageros! Imagine o que os outros achavam de mim!
Bom, agora aumentei 5 quilos, com custo, e ainda faltam alguns. Mas já tenho alguma liberdade, faço algumas refeições sozinha, e atividades normais, se não for exercício, claro! Mas mesmo assim, ainda hoje eu penso que quando eu estiver "livre" vou fazer tudo de novo, vou ficar um palito, mas bem longe daqui, onde ninguém possa me impedir. Acho que só assim posso ser como quero. É bobagem, mas...