Eu pedi pros meus pais escreverem alguma coisa sobre a anorexia, no meu caso e tal, como foi pra eles.. Acho que é uma boa mostrar os outros lados da história, já que a nossa visão é "meio" equivocada.. hehe :) Se alguém quiser falar com algum deles manda um e-mail pra mim e diz no assunto pra quem é, tá? Então, aí está:
Tudo aconteceu muito rápido; a Rê resolveu fazer regime e não comer mais doces e nem porcarias. Já fiquei de olho nela porque não gosto de regimes feitos por conta própria e logo vi que ela não deixou de comer só doces mas tudo que ela achava que engordava: pão, massa, arroz, feijão, frituras... Fiquei preocupada e levei a Rê numa endocrinologista pra ver se ela seguiria uma dieta balanceada e saudável. Não adiantou nada, ela só comia alface e carne de panela no almoço, e mais nada. Ela nunca esteve gorda e, entre o começo do regime, a consulta e os exames que a médica pediu, se passou um mês e a Rê já estava muito magra, pele e osso, abatida e fraca. Me apavorei com a aparência dela e pedi ajuda a uma psiquiatra que eu conhecia, contei o que estava acontecendo e ela me disse que tudo indicava que a Rê estava anoréxica e que eu tinha que agir rápido e urgente. Me indicou uma clínica que tratava desse problema e disse que eu tinha que ser muito firme e forte com a Rê, eu tinha que lutar contra essa doença de qualquer jeito, forçar a Rê a comer a toda hora, brigar se necessário e nunca desistir. Eu tinha que mostrar pra ela que ela não ia conseguir me fazer desistir de jeito nenhum.
Foi isso que eu fiz. Levei a Rê pra fazer o tratamento à força, briguei pra ela comer de 3 em 3 horas todos os dias, na maioria das vezes literalmente enfiando comida goela abaixo. Foi horrível. Brigava com ela o tempo todo, não saía mais de casa, grudei nela 24h por dia. Brigava com ela pra comer, tinha que ser muito dura e firme mas por dentro estava morrendo.
Quando ela dormia eu chorava, olhando pra minha filha tão amada, eu não conseguia entender por que ela estava se matando, por que ela não se importava se podia morrer? Meu Deus, eu não sabia e nunca vou saber por que tudo isso aconteceu com ela. Mas sempre soube que se eu sofria demais com tudo isso, quem mais sofria era ela. Tudo que queria era ver minha filha saudável e feliz de novo.
Agora ela está bem melhor, não corre mais risco de vida, mas ainda não está curada. Continua em tratamento e eu sempre de olho nela pra ver se ela está mais magra. A luta continua depois de 2 anos e nem que seja pra toda avida eu não vou desistir, nunca vou desistir de ver a Rê curada.
Só peço às mães que fiquem de olho nos seus filhos, principalmente os adolescentes e que não desprezem os sinais de alarme que eles dão, como regimes, ginásticas exageradas e por aí vai. Prestem atenção nos seus filhos porque às vezes quando se percebe alguma coisa já é tarde de mais. É melhor pecar por exagero a perder um filho pra uma doença tão horrível.
Gostaria também de aproveitar esse espaço para alertar os pais dos outros jovens para que eles não se iludam, achando que a mania de não comer é apenas uma fase na vida dos adolescentes, pois muitas vezes quando eles abrem os olhos já é tarde demais. Eu falo por experiência própria, já que também tive muita dificuldade em admitir que minha filha tinha essa doença. Parece incrível, mas a gente custa a acreditar que uma pessoa sinta fome e não queria comer, porque nós não somos assim e não entendemos o que não conhecemos.
Graças a Deus minha esposa se conscientizou logo e rapidamente tomos as providências corretas na hora certa, pois quanto mais cedo se inicia o tratamento, maiores são as chances de cura.
É uma luta diária, em que todos da família têm que participar ativamente e sem desanimar, dando todo o apoio e carinho, mas sem fraquejar, já que no começo tudo tem que ser feito à força, empurrando garganta abaixo a comida prescrita pelo médico, pois ela é o remédio que vai salvar a vida do doente.
Não sei se conseguirei expressar o que se sente ao saber que sua filha corre sério risco de vida, pois é algo que só dá pra avaliar quando se passa por isso, mas é algo terrível, uma angústia, um medo, um pavor de não cosneguirmos salvá-la, ela que é o bem mais precioso de nossas vidas, razão do nosso viver.
Dedicação ao extremo e muito, mas muito amor, aliados ao tratamento clínico e psíquico, são a melhor maneira de ajudarmos aos que estão passando por esse problema.
Desejo a todos os pais do mundo que não passem nunca por essa experiência, mas não posso esquecer que realmente essa doença existe e que, se não for tratada a tempo, ela mata. Por favor, fiquem de olhos bem abertos e a qualquer sinal de que possa ser anorexia, tal como magreza repentina, olheiras, palidez, queda de cabelos, regime por conta própria, não perca tempo, consulte um médico e tire suas dúvidas.
Renata, quero te dizer também que sinto muito orgulho de ser teu pai, pois tu és a melhor filha que um pai pode ter. TE AMO D+!!!
Quando a Rê me pediu pra escrever sobre a anorexia pra página dela eu me assustei um pouco. Não sou muito de escrever e acho muito difícil conseguir colocar em palavras tudo o que passei com ela. Mas vou tentar porque espero poder ajudar outras mães que vivem o mesmo pesadelo que eu.
Querida filha, em primeiro lugar eu gostaria de felicitá-la por tu teres melhorado muito em relação a esta doença, resultado da grande força interior que ti tens, pois bem sei o quão difícil é esta luta contra a anorexia. És uma pessoa muito especial e sei que tu vais se sair bem nessa batalha.