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O armênio Petrossian, campeão mundial de 1963
a 1969, recebia freqüentes críticas da imprensa especializada em xadrez.
Segundo estas, não tinha espírito de luta, buscava muito o empate e preferia
um estilo negativo e defensivo. Mas ninguém se torna campeão mundial sem
uma grande dose de talento e habilidade, e o xadrez de Petrossian tem
elementos bastante instrutivos para o jogador comum.
Petrossian baseia seu estilo na tradição de Capablanca
e Nimzovitch. A ênfase recai nas manobras, nas lentas seqüências para
controlar casas chave e na transição para finais ligeiramente favoráveis.
É preciso nos cálculos e gosta de posições simples onde haja poucos ou
nenhum fator acidental ou ocasional. Prefere sacrificar para obter vitórias
límpidas e não para especular, como Tal ou Bronstein. Ao invés de se comprometer
com ataques prematuros, opta por tranqüilas vantagens espaciais onde pode
espremer gradativamente a posição adversária, até que o ataque decisivo
possa ocorrer sem riscos.
Trata-se de um estilo pragmático e profissional;
sabe-se que Petrossian foi o primeiro grande mestre russo a criticar a
ética oficial da "escola soviética", que - segundo consta -
prefere o xadrez ousado e combativo. Ele provou o valor de seu enfoque
ao derrotar Spásski no match mundial de 1966, embora tenha perdido para
o mesmo adversário três anos depois. Mas o ponto fraco do estilo de Petrossian
é que ele tende a conseguir boas colocações nos torneios, mas sem ir diretamente
aos primeiros prêmios. Na abertura e no meio-jogo, pode parecer puramente
negativo e antiesportivo, não fazendo nada e fazendo-o bem até o adversário
perder a paciência e enfraquecer sua posição.
Os aspectos mais úteis do xadrez de Petrossian
para o jogador comum são suas partidas de sufocamento, nas quais a atividade
das peças adversárias é gradualmente enfraquecida e sufocada, e seu final
favorito, onde uma torre e um cavalo ativo triunfam sobre uma torre e
um bispo tornados passivos por seus próprios peões.
Em primeiro lugar, um exemplo da técnica de sufocamento
- uma versão refinada da "profilaxia" de Nimzovitch. O tratamento
especial de Petrossian às posições bloqueadas inclui a transferência do
ataque de um flanco para outro, enquanto é adiado o roque. "Execute
o roque se quiser ou se precisar, mas não se apenas puder" é um bom
conselho no xadrez. Segundo a lógica de Petrossian, nas posições bloqueadas
a ação e a abertura de linhas - verdadeiros perigos para o rei - ocorrem
nos flancos. Assim, o procedimento comum, com o rei procurando um local
seguro longe do centro, é invertido.
A habilidade de Petrossian em imobilizar os bispos
adversários reflete-se em sua escolha de aberturas.
O final buscado por Petrossian consiste, geralmente,
numa torre e um cavalo ativo contra uma torre e um bispo passivo. Sua
técnica para explorá-lo é conduzir os peões inimigos para um flanco em
formação rígida e imóvel da mesma cor do bispo naquele lado do tabuleiro.
Isso significa, geralmente, que - com as brancas - ele tenta levar os
peões pretos do flanco do rei para as casas pretas e os do flanco da dama
para as casas brancas. Evita dar qualquer chance ao adversário de trocar
o bispo mau, mas troca as outras peças, principalmente o bispo ativo que
não está restringido pela cadeia de peões. O rei e o cavalo de Petrossian
podem assim infiltrar-se na posição adversária pelas casas de cor oposta
à do bispo mau.
Tudo isso pode soar um tanto complexo, mas as
partidas de Petrossian costumam demonstrar que o processo para a vitória
é quase automático.
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