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BOAVISTA FUTEBOL CLUBE

Jaime Pacheco motivador e enigmático para o "derby"

"Este jogo com o FC Porto pode decidir muita coisa"

Embora sem ter alterado a substância do seu discurso quanto aos objectivos do Boavista, Jaime Pacheco introduziu ontem, com prudência e calculismo, uma "nuance" subtil no conteúdo da mensagem. Interrogado sobre se considerava este próximo compromisso com o FC Porto o jogo da época para as aspirações boavisteiras, o treinador "driblou" a questão, optando por qualificá-lo de "fundamental", uma vez que - acrescentou - "pode decidir muita coisa".

"Neste fim-de-semana é o primeiro lugar no Campeonato que está em causa. Além de definir a liderança, este jogo pode, em termos futuros, decidir muita coisa. Isto engloba, também, o Benfica que segue no nosso encalço e que poderá tirar dividendos deste resultado, caso vença o Alverca", declarou, sem vacilar nas suas convicções quanto às reais possibilidades da sua equipa. "Embora com a perspectiva de sempre encarar um jogo de cada vez, temos a certeza de que temos condições para ganhar este encontro. O FC Porto, neste tipo de situações, costuma arregaçar as mangas e criar muitas dificuldades, até porque é servido por excelentes jogadores com experiência internacional e acostumados a pressões que normalmente rodeiam os jogos difíceis. Trata-se de uma equipa talhada para os jogos de alto risco, pelo que é previsível que nos crie muitas dificuldades".

"Por vezes jogar feio é jogar bem" Sem sobranceria e com a sinceridade do costume, Pacheco foi pragmático em nome do "realismo dos pontos". "O Boavista também já não tem medo das pressões e fará da motivação a sua principal arma. Antevejo, portanto, um desafio musculado, com muita luta e entrega. Não vamos abdicar de jogar bem, como é óbvio, mas teremos de ter a consciência que nem sempre isso é possível, pois terá de haver, acima de tudo, o tal realismo dos pontos. Temos de ser práticos e realistas. Sem querer antecipar desculpas, há que reconhecer que há nesta equipa, bem como na do FC Porto, atletas com muito trabalho nas pernas, o que, por vezes, retira lucidez e discernimento em campo. Seja como for, uma coisa é certa: estes jogadores vão dignificar a camisola que vestem e a importância do próprio jogo, lutando pela vitória", garantiu.

Sem rodeios, admitiu a necessidade de recorrer à astúcia, sempre que as condições a isso obriguem, recordando que o FC Porto já conquistou títulos jogando um futebol por vezes não muito bonito, mas fundamentalmente fácil e objectivo. Portanto - alertou - nada de preciosismos, como aconteceu em Braga. "No lance que antecedeu o golo do Braga, Luís Manuel tinha a bola controlada a meio-campo e, em dificuldade, quis dar de trivela, com o pé direito, para o Quevedo, que, apesar do esforço, não evitou que a bola saísse pela lateral. Do respectivo lançamento, resultou um cruzamento e o golo do empate. Ora é este tipo de procedimentos que quer evitar no futuro. Por vezes jogar feio é jogar bem", exemplificou.

O técnico boavisteiro reconheceu que este "derby" portuense, frente ao campeão em título, é "fundamental" para a formação do Bessa, que, se vencesse, ascenderia ao primeiro lugar, o que constituiria um estímulo adicional para a fase derradeira da prova. A esperança de que é possível cumprir as restantes jornadas de forma idêntica ao que tem vindo a suceder nesta segunda volta é outra das linhas-força do pensamento de Jaime Pacheco, que não deixou de pôr água na fervura do entusiasmo com que esta partida já está a ser vivida. "Nestes seis jogos, vencemos cinco e empatámos um e nós temos confiança de que é possível continuar neste rumo até final do campeonato. Mas não seria justo pedir aos meus jogadores algo mais que não fosse a Europa", reiterou.

  "Não abdico de três avançados" O encontro de ontem com os jornalistas teve fases de boa disposição, consentâneas, aliás, com o ambiente que se respira, actualmente, no Bessa. A dada altura, questionado sobre se, em sua opinião, o FC Porto se deslocaria ao Bessa pressionado pelo facto de ter a sua liderança ameaçada, Jaime Pacheco pôs a mão em concha no ouvido e fez algum humor: "Pressionado ou impressionado? Olhe, sinceramente, acho que as duas coisas", retorquiu, antes de acrescentar: "Vamos jogar com as caneleiras em cima, pitons de alumínio e mangas arregaçadas. Ou seja, vamos jogar para ganhar e ao ataque, pois não abdico de actuar com três avançados. Aliás, tenho sido mais afortunado quando jogo ao ataque logo de início. Na Madeira armei uma equipa de contenção e foi uma vergonha. Se porventura, no domingo, ganharmos e conseguirmos atingir, desde já, a Europa, então talvez possa dizer mais qualquer coisa. Mas não pensamos em nada mais que não seja no FC Porto e na melhor maneira de marcar o Jardel e marcar golos ao Vítor Baía. Cada jogo que temos de fazer já é muito para nós. Uma coisa de cada vez".

Justificando ainda essa sua tendência ofensiva, Pacheco teve outra tirada bem à sua moda para explicar que nem sempre as coisas correm como seria desejável: "Por vezes, grito para os meus jogadores subirem no terreno, mas quando a confiança não é muita dá-se um passo à frente e dois atrás. No jogo com o Campomaiorense, estava tudo como se fosse namorar pela primeira vez. Em Braga, ao intervalo, apeteceu-me virar o quadro ao contrário a ver se eles escorregavam, pois parecia que o campo era a subir... Isso aconteceu comigo nos meus tempos de jogador e, quando não estava bem, encostava-me ao adversário para que não me passassem a bola. Há é que apelar ao que de mais profundo existe nos jogadores, motivá-los, pois a motivação é a nossa principal arma. Sabem uma coisa? Até eu gostava de jogar no domingo, com o FC Porto, mas não posso".

publicado no jornal "o jogo" em 24/02/1999.