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BOAVISTA FUTEBOL CLUBE

TIMOFTE entre o sagrado e o profano

"Se formos campeões estão todos convidados para a festa!"

Quem esperava por um depoimento solene, cheio de formalidade e salpicado de lugares-comuns próprios da circunstância, enganou-se. Solicitado ontem, depois do treino, na sala de imprensa do Bessa, Ion Timofte acedeu a tecer algumas considerações sobre o "derby" de domingo e fê-lo à sua moda: com seriedade, respeito pelas camisolas azuis e brancas que já foram suas, algum desassombro e muito humor. Mas também com o à vontade próprio de quem sabe ocupar um estatuto elevado nesta equipa do Boavista, na qual tem desempenhado um papel preponderante pelo que joga, pela dinâmica que imprime ao colectivo e, claro está, pelos golos que tem marcado, alguns dos quais decisivos nas vitórias axadrezadas.

Por isso e também pela sua larga experiência nestas andanças competitivas, o médio romeno encara este confronto com o FC Porto tranquilamente e com muita confiança nas possibilidades deste Boavista teimoso e brigão, metediço em questões até agora quase impensáveis. E aqui chegado, já em final de conversa e depois de se referir, uma vez mais, às repisadas questões europeístas, Timofte, em jeito de despedida, não resistiu ao convite-apelo, que pareceu trazer água no bico, a provar que o pensamento continua, afinal, a ser livre como o vento: "Se formos campeões estão todos convidados para a festa!"

Em tom mais circunspecto, começou, contudo, por realçar o poderio do adversário e a sua capacidade de se regenerar de fases aparentemente menos positivas. "É sempre um jogo extremamente difícil, e já nem vale a pena falar muito nisso, até porque já não há jogos fáceis. No entanto, considero que temos argumentos para, em nossa casa, conquistarmos os três pontos". Concretizando, Timofte foi mais explícito: "Quando falo em argumentos refiro-me ao que temos vindo a evidenciar nos últimos desafios: uma boa organização de jogo, uma excelente entreajuda de todos os jogadores e também a estrelinha que, verdade seja dita, nos tem aparecido ultimamente".

Questionado sobre se a equipa não estará neste momento parecida com um limão espremido, a rodar nos limites e sem o fulgor manifestado em jornadas menos recentes, o atleta retorquiu: "Gostaria muito que assim fosse, pois, quando voltássemos a jogar a cem por cento, então é que seríamos invencíveis". "Se Jardel tivesse uma pequena contratura..." Entre defender a liderança do campeonato, lutando pelo "penta" - como é o caso do FC Porto - e pugnar por um lugar ao sol a culminar uma campanha a todos os títulos notável - exemplo seguido pelo Boavista - onde morará a maior ansiedade? Timofte, peremptório, "matou" duas perguntas de uma vez só: "A maior pressão está do lado do FC Porto, não há dúvidas. Eles vêm de uma série de resultados menos bons com exibições igualmente um pouco descoloridas. Aliás, trata-se de uma equipa dotada de um orçamento de vários milhões de contos e favorita na luta pela conquista do título. Pela nossa parte, vamos tentar ganhar. No Estádio do Bessa, em onze jogos, conseguimos dez vitórias e um empate. Portanto, queremos manter o nosso reduto inexpugnável".

Quanto às metas que se perfilam no horizonte boavisteiro, Timofte foi desportivamente correcto: "A realidade do clube obriga-nos a pensar jogo-a-jogo, porque sejamos sinceros: se assumíssemos uma coisa dessas [candidatura ao título ou ao segundo lugar, o que permitiria o acesso à Liga dos Campeões] e depois não chagássemos lá, daríamos a imagem de uma época menos conseguida, o que não é o caso. Portanto, vamos com calma. Se ganharmos este encontro, quanto a mim a Europa ficará garantida. E se, no final, formos campeões, estão todos convidados para a festa".

Quando lhe foi perguntado se quereria deixar uma mensagem a Vítor Baía, numa clara alusão aos 13 golos de que foi autor ao longo desta época, Timofte atirou sorridente: "Já falei algumas vezes com o Vítor desde que regressou ao Porto, é um grande amigo, mas domingo vai ser um adversário. Espero conseguir manter esta veia goleadora e marcar-lhe um golo, pois trata-se de um dos poucos guarda-redes portugueses que ainda não consegui bater". Conservando o mesmo tom humorístico, o médio do Boavista rematou com outra tirada bem disposta, quando questionado sobre qual dos dois guarda-redes - Vítor Baía ou Kralj - preferia ver na baliza contrária. "O Vítor tem alinhado nos últimos jogos, tem estado bem, enfim, é um grande jogador que faz parte de uma equipa muito forte. Se tivesse de escolher alguma coisa... talvez uma pequena contratura no Jardel, na manhã do jogo..."

  publicado no jornal "o jogo" em 26/021999