Depoimento de Kevin Mitnick
Traduzido por: Ricardo Kleber
21 de Janeiro de 2000
Kevin Mitnick leu o relato mostrado abaixo sobre sua liberdade da prisão federal em Lompoc, Califórnia após quase 5 anos atrás das grades.
O Sr. Mitnick é proprietário dos direitos autorais deste relatório e dá autorização limitada de revisão e publicação sob a doutrina de direitos autorais usada nos Estados Unidos. Todas os outros direitos reservados.
Bom dia.
Obrigado a todos que gastam seu tempo para voltar a Lompoc hoje, meu primeiro dia de liberdade em quase cinco anos. Tenho um breve relato a ler e peço que possa fazê-lo sem interrupções.
Primeiro, gostaria de agradecer as milhões de pessoas que visiitaram o website kevinmitnick.com durante minha prisão, e que usaram seu tempo para demonstrar seu apoio durante esses cinco anos que passaram. Eu busquei forças neste apoio durante os 5 anos em que estive preso mais do que eles possam imaginar, e eu quero agradecer a todos do fundo de meu coração.
Como muitos de vocês sabem, eu tenho mantido virtualmente um completo silêncio durante minha prisão. Tenho recusado dúzias de pedidos para entrevistas de agências de notícias de todo o mundo, por razões muito óbvias - meus atos e a minha vida foram manipulados e grosseiramente deturpados pela mídia desde que eu tinha 17 anos, quando o Los Angeles Times violou o costume, se não a lei, que proíbe a publicação de nomes de adolescentes acusados de crimes.
As publicações envolvendo meu caso vão além, e continuarão a afetar outros nesta sociedade já que o poder da mídia ao definir o "vilão do mês" continua a aumentar.
Veja, meu caso é sobre a e força da mídia em definir o campo de jogo, bem como o declínio desse campo de jogo - e sobre o poder da mídia em definir a fronteira da "discussão aceitável" em alguma edição particular ou história.
Meu caso é sobre a extraordinária violação da ética jornalística como demonstrado por um homem, John Markoff, que é um jornalista de uma das mais poderosas organizações da mídia no mundo, o New York Times.
Meu caso é sobre a extraordinária ação dos Advogados-Assistentes dos Estados Unidos David Schindler e Christopher Painter em obstruir minha capacidade de defender-me todas as vezes.
E, o mais importante, meu caso é sobre o extraordinário favoritismo e complacência mostrado pela corte federal e pela promotoria federal que estava determinada a vencer a qualquer custo, chegando ao ponto de deter-me em uma solitária forçando-me a renunciar a meus direitos constitucionais. Se nos não podemos depender dos promotores dos tribunais de custódia no controle, de quem podemos depender?
Eu nunca me encontrei com o Sr. Markoff, e ainda o Sr. Markoff tem se tornado literalmente um milionário em virtude de suas reportagens caluniosas e difamatórias - e eu uso a palavra "reportagem" entre aspas - O Sr. Markoff tornou-se um milionário em virtude de suas reportagens caluniosas e difamatórias sobre mim no New York Times e no seu livro de 1991 "Cyberpunk".
Em 4 de Julho de 1994, um artigo escrito pelo Sr. Markoff foi publicado na primeira página do New York Times, sobre o assunto. Este artigo incluía nada menos que 60 (sessenta!!!) afirmações infundadas sobre mim declaradas como fato, e que se passassem no mínimo por um processo de checagem de fatos poderiam ser reveladas como sendo falsas ou não-provadas.
Neste artigo exclusivo de calúnia e difamação, o Sr. Markoff rotulou-me, sem justificativa, motivo, ou evidência sustentável, como "o mais procurado do ciberespaço" e como "um dos criminosos por computador mais procurados do país".
Em seu artigo difamatório, o Sr. Markoff insinuou falsamente que eu tinha "grampeado" o FBI - eu não tinha - que eu tinha invadido computadores em NORAD - que nem sequer são ligados a qualquer rede externa - e que eu era um "vândalo" de computadores, apesar do fato de que eu nunca danifiquei qualquer computador que acessei. O Sr. Markoff mesmo insinuando que eu era a "inspiração" para o filme "jogos de guerra" (War Games) quando uma simples chamada nas legendas desse filme teria revelado que ele nunca tinha me ouvido quando escreveu seu roteiro.
Em mais outra quebra de ética jornalística, o Sr. Markoff não conseguiu divulgar nesse artigo - e nem em todos artigos que se seguiram sobre mim - que nos tínhamos um relacionamento preexistente, em virtude da autoria do livro "Cyberpunk" do Sr. Markoff. O Sr. Markoff também não conseguiu divulgar em nenhum de seus artigos sobre este caso seu relacionamento preexistente com Tsutomu Shimomura, em virtude de sua amizade pessoal com o Sr. Shimomura durante anos antes de seu artigo de 4 de Julho de 1994 escrito sobre mim.
Por último, mas certamente não o menor, o Sr. Markoff e o Sr. Shimomura (ambos) participaram como verdadeiros agentes do governo na minha captura, violando as leis federais e de ética jornalística. Eles estavam ambos presentes quando três ordens em branco foram usadas numa busca ilegal em minha residência e minha prisão, e ainda, nenhum deles falou contra a busca ilegal ou contra a prisão ilegal.
Apesar das descrições insultuosas e caluniosas do Sr. Markoff sobre mim, meus crimes foram simples crimes de transgressões. Eu estou convencido desde a minha prisão em fevereiro de 1995 que os atos que eu praticava eram ilegais, e que eu cometia invasões de privacidade - eu mesmo me ofereci para confessar-me culpado por meu crimes logo em seguida a minha prisão. Mas sugestionar sem motivo ou prova, como fez o Sr. Markoff e os promotores deste caso, que eu havia cometido qualquer tipo de fraude que seja, são simplesmente mentiras, não fundamentadas pelas evidências.
Meu caso é um caso de curiosidade. Eu queria conhecer tanto quanto eu pudesse descobrir sobre como as redes de telefonia trabalhavam, e todos os "pormenores" sobre segurança de computadores. Não há qualquer evidência que seja neste caso, e certamente nem intenção de minha parte a qualquer momento, de fraudar qualquer pessoa de qualquer coisa.
Apesar da ausência de qualquer intenção ou evidência de qualquer esquema de fraudes, os promotores Schindler e Painter recusaram-se a procurar um argumento aceitável - de fato, a sua primeira "oferta" para mim incluía a condição de que eu confessasse uma fraude de $80 milhões de dólares, e que eu concordasse em nunca divulgar ou revelar os nomes das empresas envolvidas no caso.
Você já ouviu falar em algum caso de fraude onde os promotores tenham tentado encobrir a existência da fraude? Eu não. Mas este era o método utilizado neste caso - manipular a quantidade de perda neste caso, exagerar nos danos alegados, cobrir informações sobre as empresas envolvidas, e solicitar as empresas envolvidas neste caso a divulgação de "danos" falsos colaborando com a falsa reputação criada pelos artigos caluniosos e difamatórios do Sr. Markoff sobre mim no New YorkTimes.
Os promotores David Schindler e Christopher Painter manipularam todos os aspectos deste caso, da minha reputação pessoal a capacidade de meu advogado de defesa em apresentar uma moção a tempo, ou mesmo exibir uma lista extensa de 1700 itens arquivados imediatamente antes do julgamento. Era intenção dos promotores deste caso obstruir a justiça em todas as instâncias, usando ilimitados recursos do governo e a mídia para esmagar um acusado que literalmente não teve artifícios como quais pudesse montar um defesa.
O fundamental é o seguinte: que eu nunca privei as empresas envolvidas neste caso de qualquer coisa. Eu nunca cometi fraudes contra estas empresas. E não há uma única parte das evidências sugerindo que eu assim fazia. Se houvesse qualquer evidência de fraude, você realmente acha que os promotores deste caso teriam me oferecido uma proposta de negociação? Certamente nao.
Mas os promotores Schindler e Painter nunca teriam sido capazes de violar meu Direitos constitucionais sem a colaboração do sistema federal de tribunais dos Estados Unidos. Todos nós sabemos, eu sou o único acusado na história dos Estados Unidos a quem negaram uma audiência de fiança. Recentemente, Sr. Painter afirmou que tal audiência teria sido "negada" porque, na sua opinião, o juiz deste caso não teria garantia de fiança.
Isto significa que o juiz deste caso era inclinado contra a mim, e que fez o que tinha em mente antes de ouvir testemunhos relevantes? Ou isto significa que Sr. Painter acredita ser correto que ele determine que Direitos Constitucionais serão permitido aos acusados ter, e que direitos seriam negados a eles?
O juiz deste caso consistentemente recusou-se a prender os promotores por algum tipo de promotor modelo que sejam, e rotineiramente recusou-se a ordenar aos promotores o fornecimento de cópias de evidências contra mim por quase quatro anos. Para aqueles de vocês que são novos neste caso, eu fui preso em pré-julgamento, sem uma audiência de fiança e sem fiança, por quatro anos. Durante aqueles quatro anos, nunca me permitiram ver evidências contra mim, devido aos promotores obstruírem nossos esforços em obter descobertas, e o juiz deste caso recusou-se a ordenar-lhes a buscar evidencias contra mim até que completasse o tempo. Eu era repetidamente forçado a esperar meu direito a um julgamento mais rápido porque meu advogado não podia se preparar para um julgamento sem ser capaz de analisar as evidências.
Por favor me perdoem por tomar tanto do seu tempo. As publicações deste caso são muito mais importantes do que eu, elas são muito mais importantes do que um jornalista sem ética para o New York Times, elas são muito mais importantes do que os promotores sem ética deste caso, e elas são mais importantes do que o juiz que recusou-se a garantir meus Direitos Constitucionais. As publicações deste caso preocupam nossos direitos constitucionais, a certeza de todos nós estarmos protegidos de um assalto da mídia, e sermos protegido de promotores que acreditam ganhar a qualquer custo, incluindo o custo de violar os direitos constitucionais fundamentais de um acusado. O que fizeram comigo poderia ter sido feito a qualquer um de vocês.
Para encerrar, me deixem lembrar que nas prisões dos Estados Unidos existem mais pessoas que em qualquer outro país da terra.
Mais uma vez, obrigado pela interrupção temporária de suas vidas para virem esta manhã a Lompoc, e obrigado a todos por seu interesse e seu apoio.