"DINÂMICAS EPISTEMOLÓGICAS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA AS CIÊNCIAS SOCIAIS"

 

DINÂMICAS EPISTEMOLÓGICAS E SUAS IMPLICAÇÕES PARA AS

CIÊNCIAS SOCIAIS *

 

Holgonsi Soares Gonçalves Siqueira¹

Fátima Perurena²

 

 

* Comunicação apresentada no XVIII Congresso Internacional da ALAS -Setembro/2011 - GT 16: Metodologia e Epistemologia das Ciências Sociais

 

¹ Doutor em Educação. Professor Adjunto/4 do Departamento de Ciências Sociais-UFSM. Professor do Mestrado em Ciências Sociais-UFSM. Professor do Mestrado em Artes-UFSM. Líder do Grupo de Pesquisa/CNPq "Globalização e Cidadania em Perspectiva Interdisciplinar". holgonsi@uol.com.br

 

² PhD em Sociologia. Professora Associada/2 do Departamento de Ciências Sociais-UFSM. Professora do Mestrado em Ciências Sociais-UFSM. perurena@terra.com.br

                                  

 

 

RESUMO: Este trabalho analisa as problemáticas sobre a transição paradigmática nas Ciências Sociais, sendo delimitado sob a dimensão epistemológica desta transição. Refletindo sobre o paradigma clássico das ciências, evidenciamos sua crise  com a emergência de novas categorias, conceitos e interpretações resultantes de uma relação dialética com o contexto do capitalismo tardio. Assim, tendo por base um novo campo teórico e político marcado por hibridismos diversos, e com profundas implicações para as ciências, questionamos sobre como as possibilidades das dinâmicas relacionais estão repercutindo nas Ciências Sociais, e destacamos a metodologia interdisciplinar como instrumento para as articulações entre os novos conhecimentos, saberes e práticas. Trata-se de um trabalho teórico, o qual tem por embasamento central o pensamento de Boaventura Santos em suas análises sobre a ruptura epistemológica.

 

palavras-chave:  - crise paradigmática; - rupturas epistemológicas; - novas metodologias

 

 

 

 

INTRODUÇÃO

 

    Configurando-se nas últimas décadas do século passado, o novo estágio do capitalismo1 reorganizou, não somente as formas de produção econômica expressas na nova divisão global do trabalho, como também as formas de vida social e cultural. Profundas mudanças se processaram em todas as áreas, desconstruindo, reformulando e/ou criando categorias e conceitos, e também problemáticas de todas as ordens. Assim, nossas vidas, nossas manifestações políticas, artísticas/culturais, tecnocientíficas e filosóficas, se desenvolvem dentro daquilo que Jameson (1996) denominou de "novo e desconcertante espaço mundial".

   Tendo então por base as influências deste desconcertante contexto sobre a ciência, e portanto,  às formas de nos relacionarmos com ela, nosso trabalho tem como objetivo central, analisar as problemáticas sobre a transição paradigmática nas Ciências Sociais, delimitando-se sob a dimensão epistemológica desta transição.

    A emergência de um novo campo teórico e político, construído por novas categorias, conceitos e interpretações resultantes das transformações contemporâneas, nos faz questionar sobre como as possibilidades das dinâmicas relacionais estão repercutindo nas Ciências Sociais. Ao optarmos aqui pela categoria hibridismo como definidora deste novo campo e suas dinâmicas, destacamos a metodologia interdisciplinar como instrumento para as articulações entre os novos conhecimentos, saberes e práticas que se constroem nesta fase tardia do capital.

     Este trabalho, de cunho teórico-reflexivo, faz parte de um projeto maior de pesquisa2, no qual se discute o que se faz realmente, em termos de interdisciplinaridade, na prática científica das Ciências Sociais no Brasil. Nossa reflexão é ancorada pelo pensamento de Boaventura dos Santos, tendo por base suas análises sobre a questão da ruptura epistemológica.

 

 

CIÊNCIA CARTESIANA E TRANSIÇÃO PARADIGMÁTICA

   

     Nosso desconcertante espaçotempo, com suas marcas pós-modernas e globais, colocou em evidência os limites delineados pela modernidade em torno das áreas científicas. Estes limites revelaram-se insuficientes para o entendimento das novas configurações do mundo, da sociedade e do “ser/estar no mundo” do homem contemporâneo, e também para o entendimento e busca de soluções para as problemáticas resultantes das mudanças e suas novas configurações. Com isto, o paradigma científico instituído praticamente há três séculos, torna-se cada dia mais obsoleto no sentido de explicar o mundo atual, pois, o campo teórico no qual se está envolvido, metodologicamente falando, ainda é um campo que pode ser mapeado do século XVI aos primeiros anos do século XX, desde Newton a Freud, pasando por Descartes e Marx.

   O mundo das relações sociais, objeto desde sempre das ciências sociais, parece, num primeiro momento, inexplicável, tamanha a rapidez com que mudam os comportamentos. A procura de respostas para o que se apresenta como caótico, insolúvel e "desencantado", tem sido uma constante, gerando-se, como insiste Zygmunt Bauman em seus principais trabalhos,  sensações de incerteza, medo e insegurança. Diferentemente da passagem da idade média para a idade moderna, o espaçotempo contemporâneo caracteriza-se pela intensidade destas sensações, construindo-se aquilo que Jameson (1996) chamou de um novo tipo de matiz emocional básico.

    Sob este matiz pós-moderno, perguntas simples, como as que formulou Rousseau (apud Santos, 1997), tornam-se bastante atuais, ou seja: como explicar a fragmentação de um indivíduo que se vê pertencendo a vários continentes, que vão desde o quase primitivismo das cavernas até a sociedade mais avançada tecnologicamente?  Como juntar os cacos de um ego que perdeu sua unidade, que se tornou múltiplo?  E, mais do que nunca, o indivíduo que habita este planeta faz a eterna pergunta: quem sou, de onde venho, para onde vou?

    Neste contexto, a palavra crise é uma das mais citadas. Crise global, que atinge  todas as instituições e os indivíduos, em todas as dimensões. O mundo inexplicável e ininteligível ao nosso redor parece ser o resultado de uma forma de fazer ciência alijada, alienada no sentido que Marx emprestava ao termo, do que caracteriza o ser humano, que é a sua capacidade criadora e imaginativa.

     Há quem sustente que é preciso pensar novas formas de imaginação e não nova forma de fazer ciência (Bohm, 1992).  Mas não há como negar a penetração da ciência em todas as esferas da vida humana, e, nesse sentido, concordamos com Harding, quando afirma que “Nas culturas modernas, nem Deus nem a tradição gozam da mesma credibilidade que a racionalidade científica”(Harding, 1996 A: 16).  Mas de que ciência e de que paradigma científico estamos falando? Ou, ainda, como estamos conceituando paradigma?

    Desenvolvemos nossa análise aqui, a partir do pensamento de Thomas Kuhn, o qual, ao abandonar de vez os critérios demarcacionistas, inaugura a importância das condições sociológicas no processo do conhecimento. Centrando seu pensamento no conceito de paradigma, afirma que “um paradigma é aquilo que os membros de uma comunidade partilham e, inversamente, uma comunidade científica consiste em homens que partilham um paradigma...Uma comunidade científica é formada pelos praticantes de uma especialidade científica.”(Kuhn, 1987: 219-220)

     A comunidade científica a que Kuhn refere-se é treinada nos mesmos moldes, filosofias, recursos metodológicos etc . Sendo assim, as pessoas envolvidas no processo científico, ou a comunidade científica, para usar o termo de Kuhn, apreendem os termos, os caminhos, a performance do paradigma e os seguem, por exigência dos pares, até que o mesmo entre em crise passando a existir outro paradigma em condições diversas do anterior mas com o mesmo propósito – estabelecer os caminhos para a produção de conhecimento científico.

    Utilizando-se do conceito kuhniano, Boaventura de Sousa Santos desenvolve uma obra voltada, entre outras coisas, para discutir dois grandes temas: a crise do paradigma cartesiano, instituído com a idade moderna, e sua consequente transição, bem como os moldes em que se formará o novo paradigma, suas condições societais e teóricas. Voltaremos mais tarde a este autor para desenvolvermos nossa análise sobre estas questões.

   Quem melhor conceitua esta ciência a que estamos nos referindo é o biólogo Edward Wilson, dizendo que a ciência “...é a empresa sistemática e organizada que produz conhecimento sobre o mundo e o condensa em princípios e leis testáveis”(Wilson, 1998:53).  Wilson dá, inclusive, as características do seu conceito de ciência com o propósito de distingui-la do que chama de pseudociências: repetibilidade, economia (maior quantidade de informação com o mínimo de esforço), mensuração, heurística e conciliação.  As disciplinas mais leais a este conceito são a astronomia , a biomedicina e a psicologia fisiológica.  As humanidades (forma como ele se refere às ciências sociais), por estarem presas a lealdades tribais, permanecem nos espaços folk.  Para ele as ciências sociais não desenvolvem categorias de previsibilidade dos fenômenos sociais.

     A união ou a conciliação que ele deseja entre as disciplinas, na verdade, submete as ciências sociais às leis das ciências naturais.  O grau de previsibilidade que ele almeja que as ciências sociais atinjam, está ancorado naquilo que chama de regras epigenéticas – operações inatas do sistema sensório e do cérebro.  São regras de procedimentos baseadas na experiência que permite aos organismos apresentar soluções rápidas aos problemas encontrados no meio ambiente.   

   Se formos às origens deste paradigma científico, chegaremos aos gregos Platão e Aristóteles, principalmente; mas foram Copérnico, Kepler, Galileu e Newton que o consubstanciaram, com a efetiva sustentação filosófica de Bacon e Descartes, sobretudo deste último. Os fundamentos dualistas do cartesianismo tem suas raízes na antiga Grécia, e,  a filosofia desta época manifestava uma profunda somatofobia.

     Qual teria sido, então o (de)mérito de Descartes?  O que o pensamento cartesiano fez foi ter ido além dos antigos gregos.  Sua proposta, bem sucedida, foi ter separado o ser da natureza, sendo que apenas o corpo podia ser considerado parte desta, já que era governado por suas leis físicas; o seu sucesso foi ter ligado a mente a uma posição que estabelecia os próprios fundamentos do conhecimento, um vínculo que a coloca em um status de superioridade hierárquica sobre e acima da natureza, incluindo a natureza do corpo (Grosz, 1994).

   Aqui se entende o conhecimento como um processo socialmente construído, fruto de relações sociais contraditórias e inserido em um determinado momento histórico.  Descartes vivenciou uma situação trágica, de guerra de religiões que lutavam pela legitimidade de um dogma.  Era preciso buscar  outro tipo de certeza, uma certeza universal que valesse para todos.  Foi esse o mote que levou Descartes a sua filosofia da res cogitans separada da res extensa, dando precedência à primeira, mas calcada na matemática, único caminho que garantiria a certeza, a previsibilidade exigida por Wilson (1998), a única possibilidade de se fazer ciência.

     Ironicamente, esta ciência pretendida pelo establishment da comunidade científica, que se reivindica objetiva, neutra, racional e racionalizada, foi “pensada” através de sonhos que Descartes teria tido em novembro de 1619, e que são comentados em um texto pouco usado para o entendimento do pensamento cartesiano – As Meditações.  A leitura que o filósofo aceito como pai fundador da ciência moderna fez daqueles sonhos, e que para muitos pode soar como pesadelo, foi de que tais sonhos, apontavam a ele que a matemática seria a chave para o entendimento do universo.  A este respeito, Bordo afirma:

 

              "Quando nós,   filósofos,  ensinamos Descartes como   um ‘racionalista’, nós esquecemos que  foi uma  visão mística,  seguida  por  três  sonhos  vívidos   e   ameaçadores    que    o    convenceram     que  uma  ciência  matemática    universal    poderia    

 descobrir     os   funcionamentos   do universo.   Tanto no texto de As  Meditações, quanto em relação à própria vida de  Descartes,   o inconsciente   não   é   apenas  um  demônio  a  ser    expulso  pelo  método  correto,      ele  é  também um guia para o filósofo, um   aviso   de   que  o   caminho  para a luz se dá  através da escuridão” (Bordo,1999: 6).

 

    Contrário ao que pensavam os medievais, Descartes entendia a subjetividade como uma ameaça epistemológica, ameaça que se faz sentir até hoje.  Com efeito, o que se sabe, atualmente, através da arte, literatura, filosofia, da cultura enfim do período medievo é que a objetividade não fazia parte da sua cosmologia.  O que importava era a continuidade possível entre os reinos humano e físico, as interpenetrações, através dos sentidos, entre o eu e o mundo.  A objetividade, não mais o sentido, tornou-se a questão, e tanto mais o ser humano estivesse envolvido com a natureza e ligado a ela, tanto mais a objetividade se tornava impossível.  Kant, mais tarde, compreendeu a mensagem e apreendeu-a filosoficamente – para haver conhecimento é preciso que se separe sujeito de objeto.

    Assim, de um lado, tem-se um novo modelo de produção de conhecimento apoiado na pureza da mente e sua habilidade em transcender o corpo.  De outro lado, um projeto ontológico da ordem das coisas é remodelado.  Corpo e espírito passam a ser duas coisas distintas que não dividem qualidades, permitem interação,  não união, e são cada qual definidos exatamente em oposição ao outro.  Bordo  afirma:

 

                               "Para   o   modelo   de    conhecimento   no  qual  resulta,  nem  a resposta corpórea  (sensual ou emocional),   nem   o pensamento  associativo  pode nos   dizer alguma coisa sobre o objeto ‘mesmo’.  A exploração dos vários significados  pessoais  ou    espirituais  que o   objeto possa   ter para nós, só pode ser   entendida,  como   Gillispie afirma, ‘pela medida e não pela   compreensão’" “(1987: 99).

 

    É esta ciência cartesiana que molda, ainda, nossas perguntas e respostas, que encaixa nossos pensamentos mais imaginativos e criativos em formas estabelecidas que favorecem a reprodução, e se tornam obstáculos científicos à produção. Este modelo de ciência também nega legitimidade aos tipos de conhecimento que não se enquadram em seus esquemas metodológicos e epistemológicos, portanto, em seu paradigma, e se defende fundamentalmente de dois inimigos a serem derrotados – o senso comum e os estudos humanísticos – todos dois “cheirando” a irracionalidade.

   Sob este aspecto, perguntamos se existem razões verdadeiramente fortes para que transformemos o nosso conhecimento vulgar, puro senso comum, sobre a natureza e a sociedade, em objeto de uma ciência produzida por poucos para ser usufruída por poucos?  Resolverá a ciência o fosso abismal entre teoria e prática?  Como dar conta do fato que a maioria esmagadora da população mundial vive às expensas do simples senso comum, não tendo a menor idéia do que seja ciência, e menos ainda das maravilhas que ela proporciona?  Por outro lado, como defender um paradigma de ciência que é responsável, entre outras coisas, pela destruição ecológica do planeta?

    Estamos assim, criticando a ciência ocidental, desenvolvida através de epistemologias internalistas (Harding, 1998), travestida de uma racionalidade  constituída como processo e consequência da chamada revolução científica do século XVI, e que se originou no campo das ciências naturais, para só no século XIX ser estendida às então emergentes ciências sociais. Os questionamentos à ciência conceituada por Wilson, estão vindo de seus próprios foros, mas especialmente da física (Bohn, 1992; Prigogine, 1996; Prigogine & Stengers, 1997, entre tantos outros).

     Santos (2000) entende que vivemos um momento de transição paradigmática em que coexistem várias dimensões, sendo que ele ressalta apenas duas: a epistemológica e a societal.  A primeira transita do paradigma dominante da ciência moderna para o paradigma emergente que ele designa por “paradigma de um conhecimento prudente para uma vida decente”.  A segunda, mais opaca, portanto, bem menos visível, “...ocorre do paradigma dominante – sociedade patriarcal; produção capitalista;consumismo individualista e mercadorizado; identidades-fortaleza;democracia autoritária;desenvolvimento global desigual e excludente – para um paradigma ou conjunto de paradigmas” (Santos, 2000:16), do qual, ou dos quais, ainda não conseguimos sentir senão suas vibrações.

     Sob o enfoque delimitado para nossa análise, trataremos somente do que o autor em questão chama de  transição paradigmática em sua dimensão epistemológica,  porém levantamos aqui a seguinte questão: se entendemos o ser humano a partir de uma totalidade fluida que compreende corpo-mente-alma-espírito, inserida em um determinado meio social, e que, a sociedade só existe porque existem relações sociais entre estes mesmos seres humanos (que por sua vez são promotores de transformações sociais - onde se inclui, naturalmente, o desenvolvimento científico); se da dimensão societal só se podem sentir as vibrações; se as experiências históricas tem mostrado o quanto o autoritarismo (entendido aqui não apenas no seu sentido político, mas afetivo, simbólico, etc) só traz sofrimento, então como  podemos pensar, ou até mesmo avistar, um paradigma epistemológico desvinculado daquela dimensão societal? Ou Seria melhor afirmarmos o contrário, ou seja, que as transformações inseridas nesta dimensão societal é que deveriam dar a nota do ritmo da dimensão epistemológica?  Acreditamos que nem uma coisa, nem outra.

     Teorias ou paradigmas, desvinculados da prática, epistemologias separadas dos processos sociais, são meros instrumentos sem aplicação, portanto inúteis.  O que estamos querendo dizer, é que tanto a dimensão epistemológica quanto a societal devem andar de mãos juntas.  Nossas melhores teorias só fazem sentido quando nos dizem respeito, quando respondem por nossas perguntas.  A este respeito, lembramos a afirmação de Rouanet: “Temos de reformular a frase de Goethe: ‘cinzenta é toda teoria, e verde apenas a árvore esplêndida da vida’. Verde é toda teoria que liberta a vida, e cinzenta toda vida que se fecha à razão”. (Rouanet, 1987:20) . Diríamos, parodiando Rouanet, que verde é toda teoria que liberta a vida, e cinzenta toda vida que se fecha à razão, à emoção e à intuição.

     A teoria marxista, enquanto  teoria crítica clássica , tinha uma proposta de emancipação social, mas uma proposta que para emancipar a humanidade precisava, antes, emancipar uma classe – o proletariado. O que Marx e Engels ignoraram foi que, o que era considerado emancipação, poderia facilmente transformar-se em regulação, o que de fato acabou acontecendo na sua vertente mais fascista quando se tentou implantar o socialismo via revolução.

   Concordamos com Santos, que nos dias de hoje “...deixou de ser possível conceber estratégias emancipatórias genuínas no âmbito do paradigma dominante já que todas elas estão condenadas a transformar-se em outras tantas estratégias regulatórias” (Santos, 2000:16). Aceitando-se que relações sociais são sempre relações de poder, acrescentamos que qualquer paradigma que se proponha emancipatório, à medida que se transforma em hegemônico, constrói em suas entranhas os germens do seu caráter regulatório, uma vez que é alimentado por tais relações.

    Assim como a teoria marxista pensou em uma forma de emancipação social a partir de dados que tinha em mãos naquele momento, e chamou para si esta tarefa, estava transformando-a, também, paralela e paradoxalmente, em atos regulatórios.  Se a teoria marxista se reconhecia como a única capaz de proporcionar a redenção da humanidade é fácil concluir que não havia espaço para outras propostas. 

    Isto não significa dizer que Marx e Engels estivessem errados, ou então, que devemos cruzar os braços e aceitarmos o conforto de certas correntes pós-modernas para quem se não há soluções modernas é provável que nunca tenha havido problemas modernos, e, consequentemente, promessas feitas pela modernidade (Santos, 2000). O que Marx e Engels fizeram, de um lado, foi propor uma teoria com os dados que tinham em mãos à época, para aquela sociedade situada historicamente.

    Teria sido possível que aqueles pensadores sequer imaginassem que aquela proposta de emancipação pudesse vir a se transformar numa proposta que de alguma forma vislumbrasse algum rasgo de regulação?  É bem provável que não.  Quando estamos convictos de nossas idéias elas são sempre as melhores, nossa teoria é a “boa” teoria, ela que é racional, esquecendo-nos, como diz Maturana, que “Todo argumento sem erro lógico é obviamente racional para aquele que aceita as premissas nas quais o mesmo está baseado”. (1998: 36)

     Santos defende que precisamos de uma teoria crítica nova, que, com base em uma crítica radical do paradigma dominante, e, alavancada pela imaginação utópica, venha “...desenhar os primeiros traços de horizontes emancipatórios novos em que eventualmente se anuncia o paradigma emergente”(Santos, 2000:16).  Entendemos assim, a constituição de uma nova dinâmica epistemológica sob a qual a ordem é redefinida em harmonia com o caos,  a incerteza e o movimento são valorizados em detrimento da certeza positivista, configurando-se assim as possibilidades para o predomínio das trocas, da dialógica e das interações, no lugar da visão e práticas  restritivas, dicotômicas e fragmentadas que marcaram a modernidade.

     Uma nova dinâmica epistemológica caracterizada pela "complexidade" (Morin), que seja capaz de tratar a crise e os problemas contemporâneos em suas multidimensionalidades, e que, conforme Morin, seja capaz de visualizar o contexto e a complexidade planetária. Portanto uma epistemologia "animada por um princípio de pensamento que nos permita ligar as coisas que nos parecem separadas umas em relação às outras" (Morin, 1977:20).      

      Com base em nossa análise, aceitando-se as proposições de Santos em relação à transição paradigmática, bem como os principais traços que levantamos aqui como característicos de uma "epistemologia complexa", questionamos sobre como esta nova dinâmica epistemológica (que nominamos aqui como "dinâmicas relacionais"3) - que se manifesta interacionalmente com um contexto contemporâneo  de complexidade, e já se concretiza em diversas áreas/disciplinas (física, matemática, biologia, artes, ciências da informação e comunicação, entre outras), através de hibridismos e trocas de naturezas diversas -, está repercutindo nas Ciências Sociais no Brasil?

      Sob o ponto de vista de quem financia a produção científica das ciências sociais no Brasil, afirmamos que não existe nenhuma repercussão, pois na verdade, a chamada transição paradigmática é desconsiderada. As agências de fomento à pesquisa em ciências sociais, especialmente a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior), são muito claras nas suas exigências para que a pós-graduação se coloque como uma instituição séria e respeitada, científica, em última instância.  De acordo com documentos desta agência, o professor vinculado a um curso de pós-graduação só pode publicar em periódicos dentro da sua área de atuação. 

     Assim, um professor ligado a um curso da área de ciências sociais não deve publicar em um periódico da psicologia,  do direito, da medicina, e assim por diante. Além das exigências das próprias agências de fomento, normalmente os editores argumentam que o texto não se enquadra nesta ou naquela disciplina.  Caso ocorra uma publicação nesta direção, a mesma não pontuará para o programa do qual o autor faz parte. Recorrendo aqui aos princípios da "visão fechada", da pureza e da ordem modernas, diríamos que são publicações com "as idéias fora de lugar".

   Os programas de pós-graduação, por sua vez, para responderem adequadamente às avaliações da CAPES, legitimam esta exigência, e, para isto, se submetem e impõem ao quadro docente, uma "cultura da produtividade" orientada pelos princípios do produtivismo e da competitividade do capitalismo tardio/pós-moderno.

      Sob este enfoque, e compreendendo-se que as dinâmicas epistemológicas atuais são por excelência dinâmicas relacionais, reafirmamos que o controle institucional ostensivo sobre as fronteiras das ciências sociais, torna-se um obstáculo para que estas ciências desenvolvam uma efetiva discussão epistemológica orientada pelo pensamento complexo. Como consequencia, enquanto os grandes problemas da vida se tornam globais e cada vez mais multimensionais, nossas relações com o conhecimento abrem possibilidades para a continuação do reducionismo, o que pode resultar em práticas científicas descontextualizadas em relação à complexidade do mundo, da vida e do homem contemporâneo.

       Consideramos estas problemáticas, contradições não-produtivas relacionadas ao processo de transição paradigmática, e como tal, criam as condições para o surgimento de profundos questionamentos associados à nossa crítica ao paradigma científico moderno/tradicional. Em outras palavras, os esforços para o reconhecimento e aceitação desta transição paradigmática e sua nova dinâmica epistemológica, estão relacionados, dialeticamente, com uma nova concepção metodológica, que caracterizamos aqui como interdisciplinar.

    Entendemos a metodologia interdisciplinar como um instrumento político crítico que possibilita as articulações os novos conhecimentos, saberes e práticas que emergem do conjunto das transformações contemporâneas e das configurações de uma epistemologia complexa, pois essa metodologia é constituída de categorias e conceitos voltados para as inter-relações, e assim, para uma recusa radical da hiperespecialização4.

   Portanto, baseando-nos, de um lado, na indissociabilidade entre a nova dinâmica epistemológica e a metodologia interdisciplinar, e de outro, nas práticas institucionais restritivas originárias dos órgãos de avaliação e praticadas pelos cursos de pós-graduação no Brasil, fomos instigados a pesquisar5 se a interdisciplinaridade está sendo trabalhada pelos professores. A partir dos resultados desta pesquisa, concluiremos então sobre  o envolvimento dos professores de ciências sociais no Brasil com a questão da transição paradigmática, bem como possíveis indicações sobre a efetividade (ou não) daquelas práticas restritivas nos trabalhos dos professores.

     Nossa análise dos dados encontra-se ainda em andamento, porém, com base     nos critérios iniciais desta análise, podemos afirmar que mesmo vários anos após o surgimento e os debates sobre esta temática, a interdisciplinaridade continua uma palavra esvaziada de seu sentido efetivamente crítico. Exemplificando, destacamos os seguintes aspectos: - inúmeros grupos de trabalho com pequenas variações da mesma temática (entre as três áreas, mas também na mesma área); - a maioria dos grupos, é formada por professores da mesma área/disciplina; - muitos grupos com participantes da mesma instituição.

     Estes pontos relativos à constituição dos grupos, são um forte indicativo de que, mesmo em áreas, cujos grupos estão trabalhando em torno de temáticas emergentes - expressivas da nova dinâmica epistemológica, e que por isso demandam, efetivamente, práticas e metodologia interdisciplinares -, estas temáticas acabam sendo trabalhadas de forma disciplinar e fragmentadas, pois cada grupo se fecha sob o enfoque de sua respectiva área/disciplina6, situando-se os professores em uma região bem determinada e autônoma do saber. Nega-se assim, uma das principais características das práticas e metodologia interdisciplinares, ou seja, o entendimento destas como ato de reciprocidade entre as diferentes áreas do conhecimento.

     Podemos visualizar a reprodução deste tipo de trabalho fechado e fragmentado, nos cursos de graduação, principalmente no momento em que os alunos começam as suas produções científicas, quando os mesmos então são orientados a "definir" a área, enquadrando suas temáticas sob o enfoque "ou" da antropologia, "ou" da sociologia, "ou" da ciência política.

    Ora, entendendo-se que as relações sociais, como o  objeto das ciências sociais,  é um objeto complexo, perguntamos:  como contribuir, nesse sentido, para o desenvolvimento da ciência se - para falar apenas das três grandes disciplinas: antropologia, sociologia e política -, não podemos transversalizar métodos, categorias, conceitos e/ou referências entre as áreas e disciplinas? Uma das consequencias das práticas hiperespecialistas será (como já começa a acontecer), o desmembramento dos cursos de ciências sociais em graduações específicas de antropologia, sociologia e ciência política, isolando ainda mais as ciências sociais do seu meio, e de um espectro muito amplo e rico de formas de conhecimento.

     Se existe uma resistência em hibridizar a própria área, tornam-se ainda mais intensas as recusas no que tange às disciplinas de outras áreas, caracterizando-se a verdadeira guerra entre as ciências e deixando ainda mais distante o entendimento e a concretização de uma transição paradigmática em sua plenitude. Criticando o entendimento de Giddens sobre a maneira como o mesmo propõe as relações entre as duas tradicionais/grandes áreas, Santos (1989: 65), enfatiza que,

 

 

                         "Não basta que os cientistas sociais estejam atentos ao desenvolvimento nas ciências naturais e que os cientistas naturais estejam atentos ao desenvolvimento das ciências sociais. É necessário estabelecer os critérios, os limites e as possibilidades da fertilização cruzada entre os dois campos científicos, critérios que permitam distinguir entre o que há de futuro e de passado nesses desenvolvimentos de modo a rentabilizar seletivamente as dinâmicas futurantes".

  

 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

   Se criticamos os limites do paradigma cartesiano, manifestados através de uma epistemologia e metodologia da simplicidade (fechamento, fragmentação e hiperespecialização), e se concordamos com uma idéia central desenvolvida por Santos (1980) de que "todo o conhecimento é contextual", aceitamos então que as intensas transformações socioculturais globais estão intrínsica e dialéticamente associadas a uma nova epistemologia, a qual, com suas novas categorias e conceitos acentua os contextos, as relações/interações e as totalidades.

     Os hibridismos que se desenvolvem, tanto em contextos societais como em áreas do conhecimento científico, são reveladores da importância/necessidade desta nova epistemologia para que possamos compreender o mundo, o nosso lugar no mundo, e, principalmente o nosso agir sobre este mundo. Uma epistemologia ancorada na explicação da complexidade como produto final da ciência, no lugar da simplicidade determinista e reducionista.

   Esta transição epistemológica através de suas dinâmicas relacionais, apresenta possibilidades para uma reintegração do conhecimento, para uma compreensão mais global do mundo e para uma construção produtiva de nossos futuros. Porém, contraditoriamente, esta transição se dá sob o conservadorismo de estruturas que politicamente  se  tornam fortes limitadores ao seu desenvolvimento.

       No caso de nosso objeto de análise - as ciências sociais-, afirmamos que a transição paradigmática apresenta-se ainda como um grande desafio para as mesmas, afastando de nosso campo do conhecimento, as dinâmicas relacionais, ou, como diria Santos, as dinâmicas futurantes. Novos conhecimentos, saberes e práticas, são "impuros", pois continuam sendo vistos pelas ciências sociais, sob um paradigma que obstaculiza uma compreensão abrangente do contexto em que as mesmas estão inseridas.

        A falta de uma dialógica (tanto internamente - ou seja: entre as grandes disciplinas das ciências sociais -, como entre as formas de conhecimento - conhecimento científico vs. senso comum, ou como entre as duas tradicionais áreas - sociais vs. naturais), preserva as dicotomias da modernidade tradicional, conservando as desarticulações entre os modos de conhecimento e de experiência.

       Alguns professores têm se preocupado com este debate, construindo e/ou marcando seus grupos/linhas de pesquisa, através de temáticas que, ao emergirem deste contexto de transição paradigmática, estruturam-se com base em categorias e conceitos indicadores da nova dinâmica epistemológica. Porém esta prática tem se mostrado paradoxal, pois essas temáticas têm sido trabalhadas de forma isolada, faltando assim uma efetiva interação, tanto na própria área, como entre as outras grandes áreas/disciplinas do conhecimento.

    Portanto, continuamos "fazendo ciência" nos moldes cartesianos, ou seja, de forma hiperespecializada,  através da qual o professor/pesquisador, isolado em sua área de conhecimento, impede qualquer tipo de troca e ações comunicativas, fechando as disciplinas sobre objetos fragmentados, e negando-se a importância dos diferentes saberes na construção do conhecimento. Estes aspectos são reveladores das dificuldades que ainda persistem para um produtivo envolvimento com a metodologia interdisciplinar.

    Reconhecemos a dificuldade de se falar em transição paradigmática, nova dinâmica epistemológica, metodologia interdisciplinar, e as demais categorias e conceitos que giram em torno destas (e demais) profundas mudanças da contemporaneidade. As dinâmicas relacionais exigem uma reconstrução da forma tradicional de como se entendia a ciência, nos colocando frente às limitações das construções científicas tradicionais. Exigem que consideremos a coexistência entre continuidades e rupturas, e portanto a superação da hegemonia dos processos lineares. Seguindo um princípio fundamental, base das reflexões de Edgar Morin e Boaventura Santos,  pontuamos que as dinâmicas relacionais exigem que trabalhemos com a unidade na diversidade, e com a diversidade na unidade.

     Devido a estas exigências - somadas aos obstáculos institucionais-,  acreditamos que constitui-se um grande desafio aos professores/pesquisadores trabalharem sob o viés de uma abordagem multirreferencial, caminhando no sentido de um tecido conceitual heterogêneo e aceitando que as áreas/disciplinas, os conceitos, as noções e as práticas  em inter-relações entre as várias áreas do saber, não se constituem como obstáculo, e sim, como possibilidades para uma reconstrução contextual das ciências sociais.

     Como aceitamos os espaços multiculturais,  bem como a ideia de uma ciência multicultural, aceitamos portando as novas dinâmicas relacionais. Isto jamais implica em uma defesa de alianças consensuais, pelo contrário, nossa aceitação destas dinâmicas, expressa respeito e valorização das diferenças, pois acreditamos que somente assim podemos construir embates produtivos, condição sine qua non  para o avanço das ciências.

 

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NOTAS



1   Para o qual são atribuídas diversas denominações, entre as quais: capitalismo tardio/multinacional, capitalismo globalizado, capitalismo pós-industrial, pós-fordismo. (Cfme: Fredric Jameson In: Pós-modernismo - a lógica cultural do capitalismo tardio, Ática, 1996, e David Harvey In: Condição Pós-moderna, Loyola, 1992).

 

2   Nosso projeto analisa os últimos cinco encontros das associações científicas das três grandes áreas das Ciências Sociais: ABA, SBS e ABCP. Tendo por base as categorias centrais referentes a uma medotologia interdisciplinar, buscamos elementos, nas constituições dos GT's dessas associações, que caracterizem a efetivação de estratégias interdisciplinares. O trabalho encontra-se em fase final.

 

3   Utilizamos esta expressão como sintetizadora das principais categorias de uma epistemologia complexa: dialógica, multidimensionalidade, interdependência, sendo que, a construção de cada uma delas, exige um conjunto de relações, ou, para usarmos uma denominação mais contempôranea, hibridismos epistemológicos.

 

4   Destacamos aqui que o problema não está na existência de disciplinas, mas sim na maneira de se trabalhar com as mesmas, recusando-se a tecer relações entre elas. Isto gera o que chamamos de hiperespecialista. Neste sentido, portanto,  também não negamos os avanços propiciados pela especialização, mas criticamos e não concordamos com  a intensidade da mesma, chegando a "hiperespecialização" com seu total fechamento às áreas/disciplinas diferentes, o que implica por sua vez à uma negação da importância das outras ciências.

 

5   Pesquisa conforme a descrição na nota nº 02. Inicialmente, constatamos em inúmeros artigos, relatos de experiências e realizações de encontros, realizados por professores universitários da área de ciências sociais em diversas Universidades brasileiras, o uso dos termos: multidisciplinar, interdisciplinar, e em alguns casos até transdisciplinar. A maioria destes professores, ligados a programas de pós-graduação, que, como referimos em nossa análise, policiam, através dos critérios de publicação, as fronteiras das ciências sociais. Este paradoxo se constitui em nosso ponto de partida.

 

6   Não faz parte dos objetivos deste artigo apresentar e interpretar detalhadamente dos dados de nossa pesquisa. A menção feita aqui, é apenas para embasar alguns aspectos de nossa análise e para o encaminhamento da conclusão do artigo. Com término previsto para o final do ano de 2011, passaremos então a partir daí à apresentação/relatos da mesma.

 

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           REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

 

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           ROUANET, Sérgio Paulo. As razões do iluminismo. São Paulo, Companhia das Letras, 1987.

           SANTOS, Boaventura de Sousa.  Um Discurso sobre as ciências.  Porto, Edições Afrontamento, 1997. 9ª ed.

           ____________________________  A crítica da razão indolente. Contra o desperdício da experiência.  São Paulo, Cortez ed. 2000.

           ____________________________  Introdução a uma ciência pós-moderna. Rio de Janeiro, Graal, 1989.

           WILSON, Edward O.  Consilience. The unity of knowledge.  New York. Alfred A. Knopf., 1998.

 

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