"SIMULACRO:VERDADE OU MENTIRA PÓS-MODERNA ?"*
Holgonsi Soares
Professor Assistente do Depto. de Sociologia e Política- UFSM
*Publicado no jornal "A Razão em 29.03.96
"É sempre uma questão de provar o real através do imaginário, de provar a verdade pelo escândalo, de provar o trabalho por intermédio da greve, de provar o capital pela revolução" (BAUDRILLARD).
A autenticidade ou a origem: duvidosas; a reprodução do real é perfeita, e na maioria das vezes melhor - o conjunto é trabalhado com talento, "aparentemente" não deixa nada a desejar. Os detalhes? Isto interessa a alguém? Falta "consciência crítica" para perceber, pois somente ela faz uma leitura profunda e questionadora dos mesmos.K.MARX, sobre isto acertou no alvo: "a ideologia faz a consciência perder a autonomia". J.BAUDRILLARD fundamenta sob este aspecto da ideologia, o segundo estágio da representação, no qual a realidade é pervertida e mascarada. Desta forma, o consumo está garantido; a consciência direcionada paga pela falsificação, mas tem a certeza de uma aquisição autêntica.
Análise cartesiano-iluminista (verdade = autenticidade), dirão os pós-modernos de carteirinha ( e, levando a discussão exclusivamente para o campo das artes, o espaço aqui seria muito pequeno) , mas W.BENJAMIN não concorda com a crítica, e ao trabalhar a questão em "A Obra de Arte na Época da Reprodutibilidade Técnica", influenciará demais BAUDRILLARD (tido como o teórico do regime do simulacro), e F.JAMESON quando este analisa o capitalismo multinacional e fala sobre a "cultura sem profundidade". É sem profundidade não só, mas também porque nela não existe mais a distinção entre alta-cultura e cultura de massa. Consequência direta da reprodução, a qual ao simular o real, dá acesso ilimitado, através do falso. E o referente? MARX e ENGELS respondem (relembrados por M.BERMAN):"tudo que é sólido desmancha no ar". Junto com o referente diluiu-se também a linha que demarcava real/irreal; autêntico/falso; original/cópia; em suma: verdade/mentira.
Como estamos no quarto estágio da representação, a "hiper-realidade" a tudo falsifica na época pós-moderna.No que tange a cultura ,o simulacro coloca-a como uma esfera de completa autonomia, e nela são jogados os sujeitos descentrados, os quais devido ao acúmulo de imagens e simulações possuem apenas uma experiência a compartilhar, que é "a alucinação desestabilizada e estetizada da realidade"(BAUDRILLARD).
No domínio da política, a simulação é total. Os políticos abandonam por alguns instantes o preconceito, e a maquiagem esconde rugas e o cansaço das caravanas. Isto é o mínimo; o pior vai acontecer agora na tela, no tradicional comício, e nas visitas às favelas: muito "pó de arroz" no discurso que apresenta um programa perfeito; a definição ideológica, melhor ainda. Através de um estofo, especialmente colorido, Estado, classe e poder são coisas "autênticas". O público, não é cego nem surdo, mas as vezes fica mudo, e até aplaude a "originalidade" do espetáculo. É S.CONNOR quem chama atenção: "todas as respostas são pré-programadas, igualmente disponíveis e podem ser ativadas de imediato". Portanto, cuidado. No mundo dos simulacros, tudo é uma questão de provar a política pela "falsa política"; de provar o programa político e os discursos, pela "falsa promessa"...
Se hoje o conceito de arte está ampliado, é uma arte desvendar os simulacros.