"NOVO PARADIGMA INFORMACIONAL"*

Holgonsi Soares Gonçalves Siqueira

*Artigo Publicado no Jornal "A Razão" em 10.12.2003


"...estamos vivendo um desses raros intervalos da história. Um intervalo cuja característica é a transformação de nossa "cultura material" pelos mecanismos de um novo paradigma tecnológico que se organiza em torno da tecnologia da informação..." (Manuel Castells)

Vivemos em uma sociedade, na qual, a presença das novas tecnologias de informação, comunicação e entretenimento é cada vez maior, e com elas, os conceitos de informação, conectividade e interatividade. A informação, crescendo continuamente, predomina sobre a energia, e a imagem de representação é dada pelo computador, ao invés de turbinas, silos ou os chaminés das fábricas. Ao trabalhar poeticamente a proposta da leveza, Ítalo Calvino nos apresenta a idéia deste novo paradigma ao dizer que neste mundo "não temos imagens esmagadoras como prensas de laminadores ou corridas de aço, mas bits de um fluxo de informação que corre pelos circuitos sob a forma de impulsos eletrônicos. As máquinas de metal continuam a existir, mas obedientes aos bits sem peso". Agora, a acumulação de informação é a força orientadora do capitalismo pós-moderno, assim como a acumulação do capital industrial foi do capitalismo moderno.

A microeletrônica constitui o novo modelo que se estabelece a partir das atuais inovações tecnológicas e configura uma rede complexa que vai além das transformações de caráter técnico e afeta todos os aspectos de nosso sistema cultural como, por exemplo as formas de operação e regulação dos mercados; a organização do sistema bancário e de créditos; as formas de organização dos trabalhadores e de outros grupos sociais; as questões educacionais, etc. Esse novo paradgima tecnoeconômico somado ao fácil acesso da informação, através do binômio trabalho-tecnologia, está organizando "a mais nova divisão internacional do trabalho"(M.Castells).

No paradigma informacional, a tecnologia da informação é uma tecnologia revolucionária, e sobre este ponto existe consenso. O desenvolvimento e a difusão abrangente da tecnologia da informação é a principal fonte de transmissão e aceleração do progresso técnico, e está modificando, para melhor ou para pior nosso estilo de vida, como aconteceu com progressos tecnológicos anteriores.

Com esse novo paradigma, novas ocupações estão sendo criadas, novas oportunidades se abrem, novas habilidades (competências) estão sendo demandadas, surgindo, assim, uma diversidade de carreiras relacionadas com a informação, o que muda a natureza das ocupações e traz a idéia do surgimento de uma nova classe social, a dos trabalhadores do conhecimento.

Estes trabalhadores estão cada vez mais envolvidos nas chamadas "atividades transacionais", de troca e de relacionamento com recursos imateriais, abstratos. No exercício de capacidades simbólicas, a matéria-prima por excelência é a informação, a qual torna-se forma constitutiva de um processo de decisão de complexidade crescente. Como conseqüência, somos obrigados a repensar as formas de construção das experiências sociais e da identidade das pessoas, dos grupos e das classes.

Ao influenciar na reestruturação dos processos produtivo e do trabalho, o novo paradigma informacional também trouxe profundas mudanças nas concepções de tempo e de espaço, gerando-se um novo movimento de "compressão do espaço-tempo"(D.Harvey), segundo o qual, os horizontes temporais da tomada de decisão se estreitam, ao mesmo tempo que a comunicação via satélite possibilita a difusão imediata dessas decisões em um espaço amplo e variado.

A comunicação em tempo real, propiciada pelas novas tecnologias de comunicação e informação, favorece o acesso quase que imediato aos valores de uso criados pelos geradores de informação e também possibilita descentralizar as tarefas e, ao mesmo tempo, coordená-las em uma rede interativa independente da distância espacial, ou seja, isto pode ocorrer entre países, entre espaços localizados na mesma cidade, ou entre os andares de um mesmo prédio.

Ao novo paradigma informacional corresponde portanto uma nova lógica industrial, ou aquilo que M.Castells chama de "novo espaço industrial", que se caracteriza pela separação do processo produtivo em diferentes localizações e, ao mesmo tempo, sua reintegração possibilitada pelas tecnologias da informação. Um espaço no qual interagem inovação tecnológica, novas relações de trabalho e ação social conflituosa.

Por todos estes aspectos, concordo com M.Castells que este novo paradigma não diz respeito a uma sociedade/economia da informação (uma vez que a informação, em sentido amplo, foi crucial a todos as sociedades), mas sim a uma sociedade/economia informacional, que se estrutura em redes, diz respeito a um processo tecnológico, político e sociocultural, e na qual a informação, mais do que necessária, tornou-se uma fonte de poder, cujo acesso gera conflitos e potencializa as desigualdades.

Neste sentido, destaco a estreita relação destas questões com a nova cidadania, a qual, na sociedade/economia informacional diz respeito, a um novo tipo de formação para o mundo do trabalho, ao direito da informação, aos conteúdos veiculados, e também a inclusão digital (democratização do uso das novas mídias), e ao respeito e incentivo ao pluralismo cultural.

Educar, nesta sociedade, mais que treinamento para a capacitação tecnológica, significa "desenvolver" as competências dos indivíduos, das quais entre as inúmeras, destaco o "aprender a aprender", para que possamos ter indivíduos autônomos que sejam capazes de produzir informações e conhecimentos novos, aos invés de apenas consumi-los. Uma das grandes problemáticas de nosso sistema educacional, é que o mesmo não foi projetado para esta sociedade/economia informacional. Porém, as influências desta sociedade/economia no trabalho com o conhecimento e na re-elaboração da cultura, colocam como exigência novas ações por parte de todos aqueles que trabalham com educação.

Como a sociedade/economia informacional se realiza em rede, os projetos educacionais e socioculturais devem ter por base ações interdisciplinares, incluindo nestas a questão da técnica, a qual está influenciando por demais nossos modos de trabalhar com o conhecimento, de pensar e de viver no mundo pós-moderno.


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