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REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E A FORMAÇÃO DO NOVO TRABALHADOR*
Autora: Márcia Naiar Cerdote Pedroso
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Este
texto faz parte da monografia intitulada: “A reestruturação do trabalho e a
formação do trabalhador”. Defendida no Curso de Especialização em
Pensamento Político Brasileiro da UFSM, em 28.03.2006.
Orientador:
Prof. Dr. Holgonsi Soares Gonçalves Siqueira
"As
capacidades dos trabalhadores de ampliar seus saberes (...) tornam-se
uma
característica decisiva da capacidade de trabalho em geral. E não é
exagero
dizer que a força de trabalho apresenta-se cada vez mais como
força
inteligente de reação às situações de produção em mutação e ao
equacionamento de problemas inesperados".
Marie
Vincent
A sociedade contemporânea, particularmente nas últimas duas décadas,
presenciou fortes transformações. Entre os principais motivos dessas
transformações está, sem dúvida, a revolução tecnológica. Uma revolução
que atualmente não é mais de infra-estruturas, como ferrovia e telégrafo,
ou de máquinas como o automóvel e o torno, conforme as revoluções
anteriores, mas de sistemas de organização do conhecimento. É a própria
máquina de inventar e de renovar tecnologias que vem sendo revolucionada.
Nessa perspectiva Harvey (2002) acrescenta que o acesso ao conhecimento
científico e técnico sempre teve grande importância na luta competitiva,
mas atualmente se verifica uma renovação de interesse e de ênfase, já que,
num mundo de rápidas mudanças de gostos e necessidades (em oposição ao
sistema fordista estável e padronizado), o conhecimento da última técnica,
do mais novo produto, a mais recente descoberta científica implica
alcançar importante vantagem competitiva. O próprio saber se torna uma
mercadoria-chave a ser produzida e vendida para quem pagar mais.
Essas mudanças, juntamente com a globalização, têm colocado desafios que
testam tanto a capacidade da empresa de se manter no mercado quanto à dos
profissionais em se manter em condições aptas para desenvolver seu
trabalho, uma vez que esse novo padrão exige qualidade, flexibilidade e
maior produtividade. O ambiente globalizado caracteriza-se por possuir um
grau de modificação muito rápido, uma forte concorrência entre as empresas
e a violenta competição no mercado de trabalho.
As transformações ocorridas no sistema produtivo alteraram, de maneira
significativa, a organização das empresas que mudaram seus modelos
organizacionais para adaptarem-se às condições de imprevisibilidade
colocadas pela transformação econômica e tecnológica. Nesse sentido,
Castells acrescenta que:
(...) A principal mudança pode ser caracterizada como a mudança de
burocracias verticais para a empresa horizontal. A empresa horizontal
parece apresentar sete tendências principais: organização em torno do
processo, não da tarefa; hierarquia horizontal; gerenciamento em equipe;
medida do desempenho pela satisfação do cliente; recompensa com base no
desempenho da equipe; maximização dos contatos com fornecedores e
clientes; informação, treinamento e retreinamento de funcionários em todos
os níveis (2005, p. 221).
O processo de globalização da economia, bem como o acirramento da
competição dos mercados, alcançaram, em primeiro plano, o atendimento ao
cliente, seja em termos de qualidade dos produtos que são oferecidos ou em
termos de prazos de produção a serem cumpridos. A capacidade de adaptação
rápida dos produtos às exigências do mercado - a flexibilidade da produção
- tornou-se um diferencial importante para as empresas. Esses fatores,
adaptados a um novo padrão de uso do trabalho, que, para se adequarem à
flexibilidade da produção, os trabalhadores precisam desenvolver também a
capacidade de se adaptar de acordo com as mudanças contínuas do processo
produtivo. Devem, portanto, adquirir diferentes habilidades e capacidades
que possibilitem modificar continuamente suas atividades.
No que tange à organização do trabalho, como já salientei, ocorre nas
últimas décadas, a crise dos princípios tayloristas/fordistas de
organização e sua substituição por novos conceitos, baseados na integração
de tarefas e na flexibilidade de mão-de-obra. Nas condições atuais, o
processo de trabalho fordista torna-se cada vez menos adequado às
necessidades das grandes empresas e passa a ser substituído pela produção
enxuta, flexível, com elevada base técnica e altamente diversificada.
O novo sistema industrial caracterizar-se-á pela superação da organização
fordista do processo de trabalho e sua substituição por uma nova forma de
organização baseada no envolvimento dos trabalhadores com os objetivos
empresariais. Dessa forma, eu diria que os novos métodos de produção, no
qual se destaca o toyotismo, cumprem um papel que tende a incentivar a
participação crescente dos trabalhadores nos projetos de produtos e
processos de produção, pelo incentivo às sugestões para o aperfeiçoamento
dos mesmos.
Conforme Alves (2000), ao se utilizar o conceito de toyotismo, quer-se dar
uma significação particular, delimitando alguns aspectos essenciais: os
seus protocolos organizacionais (e institucionais) voltados para capturar
uma nova subjetividade operária[1]. O toyotismo traz a compreensão do
surgimento de uma nova lógica na produção de mercadorias, novos princípios
de administração da produção, de gestão da força de trabalho, cujo valor
universal é constituir uma nova hegemonia do capital na produção.
Na verdade, o aspecto original do toyotismo é articular a continuidade da
racionalização do trabalho, intrínseca ao taylorismo/fordismo, de acordo
com as novas necessidades impostas pelo modo de acumulação capitalista.
Alves (2000) considera que o fordismo era uma espécie de "racionalização
inconclusa", que apesar de instaurar uma sociedade "racionalizada", não
conseguiu incorporar à racionalidade capitalista na produção as variáveis
psicológicas do comportamento operário, que o toyotismo procura
desenvolver por meio dos mecanismos de comprometimento operário. Assim,
pode-se afirmar que o toyotismo não possui a pretensão de instaurar uma
sociedade "racionalizada", mas sim uma "fábrica racionalizada".
Sob os aspectos institucionais do toyotismo, a racionalização do trabalho,
segundo Alves e Antunes (2004), se desdobra como uma espécie de inserção
engajada do trabalho assalariado na produção do capital (o que Coriat
denominou de "engajamento estimulado"). As novas tecnologias
microeletrônicas na produção, capazes de promover um novo salto na
produtividade do trabalho, exigem, como pressuposto formal, o novo
envolvimento do trabalho vivo na produção capitalista. Os autores ainda
argumentam que:
Se o fordismo expropriou e transferiu o savoir-faire do operário para a
esfera da gerência científica, para os níveis de elaboração, o toyotismo
tende a re-transferi-lo para a força de trabalho, mas o faz visando a
apropriar-se crescentemente da sua dimensão intelectual, das suas
capacidades cognitivas, procurando envolver mais forte e intensamente a
subjetividade operária. Os trabalhos em equipes, os círculos de controle,
as sugestões oriundas do chão da fábrica, são recolhidos e apropriados
pelo capital nessa fase de reestruturação produtiva. Suas idéias são
absorvidas pelas empresas, após uma análise e comprovação de sua
exeqüibilidade e vantagem (lucrativa) para o capital (Alves e Antunes,
2004, p. 346-347).
O toyotismo busca instaurar um novo consentimento operário, um maior
envolvimento do indivíduo no processo de produção, valorizando aquele
trabalhador participativo e inovador. Posso atribuir que, diferentemente
do taylorismo/fordismo - que tinham uma concepção muito linear, na qual a
gerência científica elaborava e o trabalhador executava - no modelo
toyotista, o saber intelectual do trabalhador assume um papel de
fundamental relevância. Um exemplo disso pode ser atribuído ao saber do
indivíduo que é transferido para as máquinas informatizadas, que se tornam
mais inteligentes, da forma que reproduzem parte das atividades a elas
transferidas pelo saber intelectual do trabalho.
Daquele saber do indivíduo que o fordismo expropriou e transferiu para a
esfera da gerência científica, para as esferas da elaboração, o toyotismo
vai se apropriar. Esse saber, essas habilidades e as virtualidades da
inteligência do indivíduo serão aprimorados no processo de produção de
forma que, além do seu trabalho forçado, esse indivíduo ainda poderia ser
útil usando de sua capacidade de raciocínio e inteligência.
Para Antunes (2002), um indivíduo que raciocina no ato de trabalho e
conhece mais dos processos tecnológicos e econômicos do que os aspectos
estritos do seu âmbito imediato é um indivíduo que pode se tornar
polivalente[2] - aquele trabalhador capaz de operar várias máquinas ao
mesmo tempo com capacidade de autonomia, de iniciativa e de renovação
contínua de seus conhecimentos. Esse é o fundamento das economias de
escala humanas, cada trabalhador pode realizar um número maior de
operações, substituir outras e coadjuvá-las.
O capitalismo compreendeu, então, que, ao invés de se limitar a explorar
apenas a força de trabalho muscular dos trabalhadores, limitando-os de
qualquer iniciativa e mantendo-os enclausurados nos moldes estritos do
taylorismo e do fordismo, podiam multiplicar seu lucro explorando-lhes a
imaginação, a capacidade de cooperação, os dotes organizativos e todas as
virtualidades de sua inteligência.
Esse fenômeno pode ser verificado concretamente em uma análise sobre o
caso brasileiro. A reestruturação produtiva que ocorre no Brasil nos anos
90 adquire um novo e mais potente controle da subjetividade operária se
comparado aos anos 80. O novo controle capitalista da produção, que surge
nesse contexto vinculado à lógica do toyotismo, passa pelo processo de
constituição de novas qualificações operárias. Segundo Alves (2000),
apesar de a perspectiva de novas qualificações operárias - ou seja, um
novo perfil da classe trabalhadora - ocorrer desde a década passada, é
apenas sob a era neoliberal que ela surge com maior intensidade em
decorrência do crescimento das novas tecnologias microeletrônicas na
produção. A tecnologia de hoje não é a mesma de anteriormente que
transformava matéria-prima em produtos manufaturados, mas sim aquela que
produz serviços: técnicas, idéias, novas formas de utilização de recursos.
Embora o paradigma produtivo flexível seja mais concreto nos países
desenvolvidos e menos aparente em algumas áreas como no caso do Brasil e
precisamente toda a América Latina, Siqueira (2003) considera que a
tendência é que o mesmo acabe superando o que ainda resta do fordismo com
o predomínio do modelo flexível o que exige repensar a formação dos
indivíduos.
A partir desse momento, a idéia de "qualificação" passa a ter um novo
sentido - é menos considerado "um estoque de conhecimento/habilidades",
mas, sobretudo, competência ou capacidade de agir, intervir, decidir em
situações nem sempre previstas ou previsíveis - o que passa a exigir uma
postura operária pró-ativa ou propositiva.
Sobre isso, posso dizer que é algo adequado à lógica do toyotismo, ao
passo que vincula o envolvimento operário à valorização do capital
surgindo não apenas como procedimento técnico, mas principalmente como uma
poderosa operação ideológica, capaz de constituir uma nova ordem na
produção. É o que demonstram os critérios de seleção profissional adotados
pelas empresas no Brasil sob esse novo cenário da reestruturação
produtiva. As empresas passaram a exigir além da qualificação extra um
maior engajamento do trabalhador.
Desse modo, o trabalho assumiu uma forma mais ampla na vida do
trabalhador, como se pode ver na citação de Monteiro Leite apud Alves:
Os atributos destacados pelas empresas delineiam um tipo ideal:
responsável, maduro, equilibrado. Motivado, criativo, ágil de raciocínio,
dedicado, com facilidade de treinamento. Diferentemente do operário
padrão, a quem se pedia que "vestisse a camisa da empresa", parece
tornar-se mais importante a capacidade de "pensar com a cabeça da empresa"
(2000, p. 254).
Como já foi demonstrado, o novo paradigma produtivo que se estabelece é
sustentado no crescimento tecnológico, no modo de acumulação flexível e
pelo uso da força de trabalho polivalente, ágil, multifuncional com fins
de dar consistência a esse modelo que se baseia na economia de escopo,
sustentada na demanda. Nas palavras de Alves:
O toyotismo adotaria uma solução diversa para a organização da produção,
capaz, portanto de recompor uma nova racionalização (e intensificação) do
trabalho, pela "desespecialização dos trabalhadores qualificados", por
meio da instalação de certa polivalência e plurifuncionalidade dos homens
e máquinas, e do "tempo partilhado", baseado em tarefas múltiplas e
agradáveis, em padrões (de tempo e de trabalho) flexíveis (2000, p. 44).
Os trabalhadores deixam de ser profissionais especializados para se
transformarem em especialistas multifuncionais, qualificados, dotados de
uma maior realização no espaço de trabalho, o que vem a ser a
característica dessa nova fase mais apropriada a uma interação entre o
capital e o trabalho, e desse modo, superadora das contradições
constitutivas da sociedade capitalista.
Assim, considero a flexibilidade e a polivalência como elementos
condicionantes desse padrão de produção, o qual processa uma ruptura com o
modelo fordista que caracterizava a força de trabalho pela sua
especialidade. A rigidez do fordismo é substituída pela idéia de
flexibilidade e pela polivalência que o trabalhador deve desempenhar no
uso de suas funções.
Isso se torna o ímpeto para passagem a um regime de acumulação
inteiramente novo, associado a um sistema de regulamentação política e
social bem distinto. Essas transformações ocorrem, por um lado, da própria
concorrência intercapitalista e, por outro, da própria necessidade de
controlar o movimento operário e a luta de classe. Sua forma
organizacional, seu avanço tecnológico, sua capacidade de extração
intensificada do trabalho, bem como a intensificação do trabalho em
equipe, os mecanismos de envolvimento e o controle sindical eram vistos
pelos capitalistas como uma via possível de superação da crise.
Essa nova fase da Reestruturação Produtiva implica uma nova lógica baseada
na incorporação do conhecimento do trabalhador sobre a produção. A
introdução de máquinas tecnologicamente avançadas e a proliferação massiva
de informações fazem com que os sistemas relacionados ao processo
produtivo fiquem cada vez mais auto-suficientes ocasionando uma diminuição
do trabalho muscular nas operações necessárias na produção, e a força
produtiva direta passa a ser a nossa capacidade de processar símbolos e
informações. Cresce enormemente a importância dos recursos do cérebro
humano. As tarefas rotineiras e repetitivas tendem a desaparecer com a
automação, que dá lugar a máquinas pré-codificadas e programadas que
executam essas tarefas.
Nessa perspectiva, Castells (2005) mostra que as novas tecnologias da
informação substituem o trabalho que possa ser codificado em uma seqüência
programável e melhoram o trabalho que requer capacidades de análise,
decisão e reprogramação em tempo real, em um nível que apenas o cérebro
humano pode dominar. Em um sistema econômico, na qual a inovação é um
fator importantíssimo, a habilidade organizacional em aumentar as fontes
de todas as formas de conhecimentos torna-se a base da empresa inovadora,
"(...) A geração de conhecimentos e a capacidade tecnológica são as
ferramentas fundamentais para a concorrência entre empresas (...)"
(Castells, 2005, p. 165).
Uma característica fundamental dessa fase é a crescente importância que
vem sendo atribuída às idéias, hoje mais valorizadas que os ativos
físicos. A mente humana pode-se considerar a força de produção na qual a
capacidade de inovação está armazenada. Assim concordo com a afirmação de
Toni Negri (2005, p.2) em que ele considera que "o capital fixo mais
importante, o que determina os diferenciais de produtividade, doravante,
encontra-se no cérebro das pessoas que trabalham, é a máquina-ferramenta
que cada um de nós é portador. É essa a novidade absolutamente essencial
da vida produtiva atualmente". O conteúdo qualitativo do trabalho passa a
ter grande importância nesse momento e vão sendo abandonado o conteúdo
material e físico, e o trabalho passa a ser uma série de aplicações e
conhecimentos. Mas isso não significa que o trabalho material, pesado, o
trabalho dos operários, dos sujeitos com as mãos calejadas tenham
desaparecido. No geral, a tendência à valorização e, por isso, à expressão
do trabalho valorizador passa pelo trabalho intelectual. Trabalho
intelectual significa trabalho inteligente, ou, conforme o autor,
"trabalho do cérebro" - "é o trabalho em que o instrumento é o instrumento
que não se gasta, mas se reproduz cognitivamente" (Negri, 2003, p. 12).
Destaco, com base nesses fatos, que esse novo paradigma produtivo valoriza
a importância das profissões com grande conteúdo de informação e
conhecimento que parecem ser as principais fontes de crescimento e
produtividade na sociedade atual. Nessa direção, Siqueira (2003)
acrescenta que surgem novas ocupações, novas oportunidades são colocadas e
novas habilidades estão sendo demandadas - o que exige uma revisão no que
se refere à qualificação da força de trabalho - surgindo, dessa forma, uma
diversidade de carreiras relacionadas com a informação, trazendo a idéia
do surgimento de uma nova classe social: a dos trabalhadores do
conhecimento.
Dessa forma, o processo organizacional requer a participação intensa do
trabalhador no processo de inovação de maneira que não guarde para si seus
conhecimentos. O sistema produtivo valoriza a inversão em conhecimento,
fazendo com que o trabalhador melhor educado se encontre em situação mais
vantajosa, porquanto com melhor capacidade de organização política e de
participação da vida da empresa. O trabalhador precisa ter uma visão
global sobre o ambiente em que está inserido, com capacidade de avaliação
para melhoria de desempenho, na atualização permanente, na participação e
na inovação de práticas para efetivar o desafio da qualidade. Como diz
Pedro Demo (1994) em seu trabalho intitulado "O Futuro do Trabalhador do
Futuro" publicado pela OIT - Organização Internacional do Trabalho - "Mais
do que apropriar-se do conhecimento disponível é necessário se colocar na
vanguarda dele e participar de sua renovação interminável".
A nova organização flexível do trabalho aponta para a formação de um novo
tipo de trabalhador que tenha como requisitos fundamentais a habilidade em
transferir conhecimento de uma área para outra, facilidade em se comunicar
e entender o que lhe está sendo comunicado, capacidade de trabalhar em
grupo e com autonomia para tomada de decisões. Nesse sentido Siqueira
analisa que:
A acumulação flexível, no que se refere à organização do trabalho, diz
respeito a uma organização horizontal (em oposição àquela vertical
fordista), na qual surge a ênfase na co-responsabilidade dos
trabalhadores, cresce a importância da comunicação e os conhecimentos
podem ser comunicados entre os trabalhadores e entre os trabalhadores e a
empresa (...).
Este novo tipo de relação traz também novos tipos de exigência no que se
tange às competências dos trabalhadores. Em oposição à rigidez fordista, a
flexibilidade pós-moderna no trabalho exige habilidades para: analisar,
interpretar, criar, tomar iniciativas e decisões, corrigir instruções,
trabalhar em equipe, comunicar-se, aprender constantemente, trabalhar em
vários pontos da produção (polivalência e formação técnica geral) (2003,
p. 46).
Ainda, seguindo o mesmo raciocínio, considero importante destacar que, em
uma economia que produz, sobretudo, conhecimento, administração de
sistemas e capacidade de programação faz com que o trabalho baseado em
fatores tradicionais de produção - como a terra, o trabalho e o capital -
passe a um segundo plano. O trabalho passa a constituir-se basicamente da
manipulação de informação e símbolos destacando-se a importância dos
saberes e das novas competências.
O significado do termo competência, contrariamente ao que ocorria no
passado, não se limita à obediência de regras básicas ou normas técnicas,
mas toma forma a partir de um princípio segundo o qual o trabalhador deve
possuir, simultaneamente, atitudes difíceis de serem medidas, tais como
criatividade, sensibilidade, visão. Então o que significa ser competente?
Aquele que julga, avalia e pondera; acha a solução e decide, depois de
examinar e discutir determinada situação, de forma conveniente e adequada.
A competência exige o saber, o saber fazer e o ser/conviver. Quem sabe
fazer deve saber por que está fazendo desta maneira e não de outra. No
saber fazendo está subtendida a combinação entre conhecimentos,
habilidades e percepção dos resultados do trabalho relacionado ao contexto
em que o trabalho está sendo desenvolvido.[3] O adquirir competências
torna-se um processo contínuo e múltiplo, em suas fontes, em suas vias de
acesso, em suas formas.
Nesse processo, o silêncio e a fragmentação de tarefas dão espaço à
comunicação e à interatividade, nas quais as habilidades como savoir-faire
e a capacidade subjetiva do indivíduo passam a ter grande destaque.
Aspectos antes desconsiderados, como os componentes cognitivos e os
componentes sócio-afetivos, passam a ser valorizados na formação e no
exercício do trabalhador.
As implicações do novo paradigma produtivo vêm assentadas em novas bases,
incorporando novos requisitos de qualificação, um conjunto de grandes
aptidões, capacidades e atitudes que só seriam compreensíveis ampliando-se
o conceito de qualificação para uma definição mais extensa que incorpore
não só o conhecimento técnico e formal, mas também o conhecimento tácito
informal, a escolaridade e, sobretudo, uma nova postura dos trabalhadores
em face ao trabalho. Sobre este viés, Leite justifica que:
(...) Esse novo conceito, para o qual a noção de competência vem sendo
considerada mais apropriada do que a de qualificação, sobrepõe às
exigências do posto de trabalho, passando a se referir a comportamentos e
atitudes. Na verdade, são novos atributos atitudinais o que passa a ser
valorizado, em que o destaque é colocado na responsabilidade e na postura
cooperativa, seja em relação aos colegas, seja em relação à empresa; no
engajamento ou envolvimento com os objetivos gerenciais; na disposição
para continuar aprendendo, se adaptar a novas situações, ter iniciativa e
solucionar problemas, o que remete mais aos componentes implícitos e não
organizados da qualificação, como o conhecimento tácito, social ou
informal (2003, p. 120).
Essas novas exigências apontariam para um novo homem que deveria ser mais
universalista, e não um jovem especialista enrijecido desde cedo e incapaz
de se adaptar a um mundo cada vez mais em movimento. Tais características
direcionam para um aprendizado crescente. O mundo hoje exige um
trabalhador mais flexível, versátil e educado para acompanhar a evolução
tecnológica.
Os critérios da qualificação profissional perpassam as exigências da
escolaridade formal, criando uma distância entre escola e o mundo do
trabalho. Habilidades como ler, escrever e calcular já não são suficientes
para qualificar um trabalhador para o atual mundo do trabalho. A mudança
tecnológica é um processo contínuo que exige sempre novas competências
aliadas à reclassificação de postos. Foi-se o tempo em que se seguiam os
passos profissionais de nossos pais, quando a vida era dividida em uma
cronologia clara, estudo primeiro, depois o trabalho e a aposentadoria.
Toda pessoa hoje precisa periodicamente voltar a estudar, sob pena de se
ver marginalizada, de não saber utilizar novos equipamentos que se
desenvolvem em todos os setores. Sob essa ótica, Rodríguez conclui que:
(...) três elementos básicos aparecen como resultado de estas nuevas
necesidades formativas establecidas: transferência de la responsabilidad
del aprendizaje al individuo, procesos formativos contínuos y ruptura de
la
perspectiva tradicional en torno a las fases de la vida (fractura de la
escisión fase de estúdios/fase de trabajo) (...) (2005, p. 9).
Ao exigir dos profissionais maiores competências e habilidades,
valoriza-se a formação geral, antes desprestigiada, uma vez que a formação
técnica e específica era prioritária, pois visava unicamente ao
aprendizado de um ofício. Hoje os ambientes de trabalho tecnologicamente
sofisticados requerem novos conceitos de eficiência dos funcionários.
A partir disso, também destaco que atualmente se valorizam a criatividade,
a flexibilidade e até mesmo a intuição, valores opostos aos padrões de
antigamente, quando um "bom profissional" era aquele que levava para casa
serviços extras e/ou trabalhava nos finais de semana. A formação de um
profissional que atenda aos padrões de competência, conforme descritos
anteriormente, deve proporcionar condições de torná-lo capaz de se adaptar
a novas situações e a diferentes funções. Esse novo trabalhador, além do
conhecimento profissional e técnico, deve dispor também de aptidão
intelectual para dominar outras técnicas, aprender valores diferentes dos
seus, entender e fazer-se entendido, trocar idéias e superar divergências.
Nesse momento, faz-se necessário adotar um novo tipo de educação
profissional já que as organizações produtivas consideram existir uma
tendência nas quais os recursos econômicos, como matéria-prima, capital e
recursos naturais, perderão espaço para o "ouro moderno" (termo utilizado
por Kyrillos) - o conhecimento. Conhecimento este que está em constante
mudança, que foge a qualquer conceito de estabilidade; dinâmico, ágil,
permanentemente reconfigurado e reconstruído, disponível em uma
multiplicidade de meios e fontes, num contexto de mediação tecnológica
jamais visto anteriormente em termos históricos.
Nessa perspectiva, considero importante destacar o registro que traz o
Jornal Zero Hora do dia 1º /05/2005 que diz o seguinte: "antigas
profissões encolhem, mas no lugar surge um mercado impulsionado pela
tecnologia e pelo conhecimento. A evolução tecnológica e de conhecimento
cria, reinventa ou mesmo põe fim a atividades em uma velocidade cada vez
maior" (Jornal Zero Hora, 1ª/05/2005, p. 01-03).
O mecânico sem graxa na roupa, a operária à vontade com máquinas
informatizadas e a secretária que domina técnicas de gestão para atender
às novas exigências da profissão são exemplos das mudanças que a
tecnologia, o ensino e a concorrência trouxeram para a maioria dos
trabalhadores do século XXI. As mudanças atingiram a todos: o operário, o
técnico e o executivo. Não há praticamente nenhuma atividade que tenha
passado sem ter sido afetada por essas mudanças do sistema produtivo.
Assim, percebo que ter um diploma de nível superior já foi um referencial.
A graduação segue importante, mas hoje não diferencia ninguém: "Nos
últimos 10 anos, o número de pessoas com diploma em curso superior
aumentou 119 %. Ser graduado se tornou básico, não diferente. E isso exige
buscar outros diferenciais" (Jornal Zero Hora, 1º/05/05, p. 4).
O saber institucionalizado, adquirido depois de anos de esforços, de
pesadas horas passadas nas cadeiras dos cursos universitários, não
significa mais o acesso irrestrito ao conhecimento de uma área de atuação
profissional determinada. O saber sólido e imóvel não existe mais. Diploma
não é certeza de saber atualizado já que os saberes devem ser
permanentemente reconstruídos. Isso indica que, depois de conquistar uma
vaga no mercado de trabalho, o profissional ainda terá de permanecer se
atualizando. O grande fluxo de informações é que ocasiona a incessante
construção de novos saberes, saberes estes de reorganização de velhas
certezas, que se transformam em novas perguntas, que buscam e estruturam
ainda outras informações.
É preciso atualizar-se sempre, acompanhar o movimento incessante, rápido e
intenso, pois tornou-se necessário acompanhar as constates modificações
das técnicas e dos saberes. Para isso, o trabalhador deve informar-se mais
- o que não significa necessariamente conhecer mais, mas pode significar
adquirir elementos para a construção do conhecimento - para não correr o
risco de usar na produção, seja ela material ou imaterial[4], suposições
descartadas como comprovadamente falsas ou manter como proposição aquilo
que já é certeza.
Evidencia-se hoje uma nova era que requer um novo tipo de trabalhador
participativo, político e dinâmico o que vem exigir um novo tipo de
educação profissional que se faça adequada aos novos desafios para o
trabalho, porém o dilema que se apresenta é que as escolas e universidades
nem sempre conseguem adequar sua disciplinas às necessidades do dia-a-dia.
As instituições de ensino não conseguem formar profissionais que atendam
às necessidades impostas por essa nova realidade, na mesma velocidade com
que a tecnologia avança, particularmente a da informação. Não poderia
deixar de lado o que kyrillos relata: "(...) as instituições de ensino não
devem se restringir ao simples ato de treinar, uma vez que esta atitude
cerceia a criatividade, reduz as possibilidades de autonomia e, como
decorrência, enseja a falta de flexibilidade do trabalhador" (kyrillos,
2002, p. 3).
Nesse tópico se faz interessante a observação de Siqueira (1998) a
respeito das idéias de Gramsci nas quais o mesmo almejava a formação
"onilateral" do homem (integral, técnica e política). Uma educação
crítica, flexível que se volte para o estudo e o aprendizado dos métodos
criativos (para a ciência e para a vida). O método de ensino para o 2ª
grau e universidades deveria consistir "na investigação, no esforço
espontâneo e autônomo do discente, e no qual o professor exerce uma função
de guia amigável" (Gramsci apud Siqueira, 1998, p. 2).
O sentido de educar hoje toma um rumo mais amplo no mundo globalizado,
significa formar indivíduos capazes de atuar numa sociedade moderna em
constante movimento. Assim, vejo a necessidade de uma educação que prepare
os indivíduos com as competências necessárias para atuarem no mundo do
trabalho, para que os mesmos possam participar ativamente de todas as
esferas da vida, sejam elas econômicas, políticas ou socioculturais, tanto
como produtores ou como consumidores críticos.
Porém, deve-se ressaltar que essa educação não seja apenas direcionada
para uma minoria ter acesso a uma melhor qualificação, sendo a maioria
excluída do mercado de trabalho. Essa educação deve ser incondicionalmente
para todos, fazendo com que o progresso técnico e o avanço do conhecimento
sejam levados da esfera privada para o controle democrático da esfera
pública para que todos tenham a possibilidade de obter uma formação de
qualidade.
Assim, preparar para o trabalho, nesse novo contexto, significa preparar o
intelecto para uma função mais ativa e inteligente diferente da ação
padronizada e repetitiva da linha de produção fordista. A nova formação
passa, necessariamente, pela substituição da perspectiva direcionada para
o aprender a fazer por outra que permita o aprender a aprender[5]. Passa
por uma nova matriz que envolva a nova maneira de trabalhar a informação,
o domínio de funções conexas, de linguagens diferenciadas, da capacidade
de lidar com várias situações e de aproveitar e transferir conhecimentos
adquiridos em outras experiências.
Porém, o caráter da produção dessa nova fase de reestruturação produtiva
acaba gerando um forte contraste, na qual Siqueira (2003) reconhece que o
novo padrão tecnológico e produtivo é contraditório por excelência: de um
lado, abre novas possibilidades, valorizando significativamente a formação
e o reconhecimento dos saberes dos trabalhadores. As novas exigências dos
modelos de competências, assim como a quebra da rigidez hierárquica com
relações mais horizontalizadas entre os trabalhadores, repercutem
positivamente na autonomia dos indivíduos. Já, por outro lado, se acentuam
a insegurança e a exclusão daqueles trabalhadores que não estão preparados
para
enfrentá-las.
Nessa perspectiva, originou-se, de um lado, em escala minoritária, o
trabalhador "polivalente e multifuncional" da era informacional, capaz de
operar com máquinas de controle numérico e de, por vezes, exercitar com
mais intensidade sua dimensão mais intelectual, de outro lado, há uma
massa de trabalhadores precarizados[6], sem qualificação, que hoje
presencia as formas de part-time, emprego temporário, parcial, ou então
vivenciando o desemprego estrutural.
Nessa linha, Mattoso (1994) também contribui expondo que os resultados dos
requisitos tecnológicos do novo paradigma de produção industrial de massa
de bens diferenciados e do sistema integrado de produção flexível
apontariam para a figura de "um novo trabalhador", mais escolarizado,
participativo e polivalente (em contraposição aos trabalhadores
especializados, parcelizados, desqualificados da produção fordista). No
entanto, uma outra face desse processo aponta para direção diferente. Em
contrapartida ao surgimento daquele "novo trabalhador" surge uma crescente
massa de trabalhadores que perdem seus antigos direitos e, não se
inserindo de forma competitiva no novo paradigma tecnológico, tornam-se
desempregados, marginalizados ou trabalham sob "novas" formas de trabalho
e de qualificação, em relações muitas vezes "precárias" e
"não-padronizadas".
Um fenômeno que contribui para esse tópico é o comportamento do desempenho
das indústrias japonesas em especial no setor automobilístico. No processo
produtivo japonês, ocorre um duplo movimento que dá origem a uma profunda
segmentação do mercado de trabalho. De um lado, observam-se formas de
organização do trabalho satisfatórias, baseadas no trabalho qualificado e
bem-pago composto por "trabalhadores estáveis" e de outro, os
"trabalhadores periféricos" que concentram a força de trabalho baseada em
contratos de trabalho parcial e temporário. E, com efeito, há não só uma
significativa diferença em relação às condições de trabalho entre os
trabalhadores estáveis que constituem o núcleo da força de trabalho e os
trabalhadores periféricos, mas também entre aqueles trabalhadores que
pertencem ao núcleo e à periferia da força de trabalho das diferentes
empresas, de acordo com o lugar que elas ocupam na cadeia de produção.
Nessa direção, Leite demonstra que:
Enquanto nas empresas-mãe e nas fornecedoras de primeira linha a maior
parte da força de trabalho tende a ser formada por trabalhadores estáveis,
bem pagos e qualificados que constituem o núcleo e para os quais a
possibilidade de carreira e o treinamento contínuo são considerados
elementos essenciais, nas fornecedoras - que produzem as peças
tecnologicamente menos sofisticadas do processo produtivo como um todo - a
maior parte da mão-de-obra é constituída de trabalhadores pouco
qualificados e instáveis, nos quais as empresas pouco investem (2003, p.
42).
Desse modo, o autor ainda coloca que a flexibilidade das empresas parece
se dar em função desse duplo arranjo a qual permite não só que elas
disponham de seus trabalhadores periféricos de acordo com as flutuações do
mercado, garantindo assim a estabilidade do núcleo, mas também que joguem
sobre os fornecedores o peso de tais flutuações por meio da divisão do
trabalho no conjunto da cadeia. Cabe ainda considerar que esse tipo de
arranjo, que garante o trabalho estável e qualificado do núcleo a expensas
da força de trabalho instável, barata e desqualificada da periferia
implica uma polarização dos trabalhadores acarretando fortes
discriminações sociais.
A flexibilização do trabalho[7] é uma das mais importantes mudanças
impostas pelo processo de reestruturação produtiva o que faz com que se
ampliem as relações e formas de trabalho díspares. Assim, produz-se uma
forte segmentação do mercado de trabalho e do conjunto da força de
trabalho na base da relação com o processo produtivo. Nessa estrutura
produtiva torna-se incompatível um mercado de trabalho unificado e com um
conceito universal de direitos sociais, pois este é formado por um núcleo
relativamente reduzido de trabalhadores estáveis e por uma força de
trabalho completamente móvel e privada de garantias trabalhistas.
O resultado desse processo é uma estrutura de mercado de trabalho bastante
segmentada que, segundo Harvey (2002) - com o qual também concorda Leite -
é dividida em dois grupos: o centro e a periferia. O centro - grupo que se
reduz cada vez mais se compõe de trabalhadores em tempo integral, gozando
de maior segurança no emprego, boas perspectivas de produção e de
reciclagem e de uma pensão, um seguro e outras vantagens indiretas
relativamente generosas. Esse grupo deve atender às expectativas de ser
adaptável, flexível e, se necessário, geograficamente móvel. A periferia
abrange dois subgrupos distintos. O primeiro é constituído por
trabalhadores em tempo integral facilmente disponíveis no mercado de
trabalho como pessoal do setor financeiro, secretárias, trabalho manual
menos especializado. Com menos acesso a oportunidades de carreira nesse
grupo, geralmente, há uma alta taxa de rotatividade. O segundo grupo
periférico oferece uma flexibilidade ainda maior e inclui empregados em
tempo parcial, contrato de trabalho por tempo determinado, temporários,
subcontratação, empregados casuais, tendo menos segurança no emprego do
que o primeiro grupo periférico.
Quero salientar aqui que essas mutações deram origem a uma classe
trabalhadora mais heterogênea, fragmentada e complexificada, dividida
entre trabalhadores qualificados e desqualificados, do mercado de trabalho
formal e informal, estáveis e precários. Tornou-se mais qualificada em
vários setores, como na siderurgia, onde houve uma relativa
intelectualização do trabalho, mas desqualificou-se e precarizou-se em
diversos ramos, como na indústria automobilística, onde o ferramenteiro
não tem mais a mesma importância, sem falar na redução dos inspetores de
qualidade, dos trabalhadores da construção naval, etc.
O mundo hoje segue um processo infindável de transformações/mudanças em
que a qualificação dos trabalhadores e a predominância permanente da
reconstrução dos saberes e das novas competências tornam-se a base para a
construção do conhecimento de uma forma contínua e integrada por diversos
meios. Porém, para o trabalhador que não se inserir nesse novo perfil
criativo, dinâmico e inovador, com o domínio das novas tecnologias,
sobretudo a informática, o que resta é a exclusão social, o desemprego, a
miséria, em outras palavras, a precarização de suas condições.
Notas
[1] "(...) Sob o toyotismo, a eficácia do conjunto do sistema não é mais
garantida pela rapidez da operação do operário individual em seu posto de
trabalho, tal como no fordismo, mas pela integração ou pelo `engajamento
estimulado´ da equipe de trabalho com o processo de produção. O que
pressupõe incrementar a manipulação por meio da supervisão e do controle
operário, exercido pelos próprios operários (...)
(...) Em virtude do incentivo à competição entre os operários, cada um
tende a se tornar supervisor do outro. `Somos todos chefes´ é o lema do
`trabalho em equipe´ no toyotismo.(...) Eis, portanto, o resultado da
captura da subjetividade operária pela lógica do capital, que tende a se
tornar `mais consensual, mais envolvente, mais participativa, mais
manipulatória´. (...) Não é apenas o `fazer´ e o `saber´ que são
capturados pela lógica do capital, mas a sua disposição
intelectual-afetiva que é constituída para cooperar com a lógica da
valorização. O operário é encorajado a pensar `pró-ativamente´, a
encontrar soluções antes que os problemas aconteçam (...)" (Alves, 2000,
p. 53-54).
[2] "De acordo com a Organização Internacional do Trabalho - OIT, a
formação polivalente é definida como modalidade destinada a dar aos
participantes a mais ampla formação em vários ofícios relacionados com a
profissão escolhida, a fim de ajudá-los a adaptar-se às características do
trabalho. Também tem por objeto prepará-los a adaptarem-se à evolução
técnica futura, assim como as outras oportunidades profissionais que
poderão apresentar-se e abrir-lhes perspectivas de carreira" (Silva, 1999,
p.14).
[3] Não basta simplesmente fazer bem uma coisa para falar de saber fazer,
como explica Siqueira: "(...) é preciso que o ator saiba por que faz as
coisas de uma certa maneira, o que hoje esta sendo chamado de
`fazer-sabendo´ e que supera a fragmentação e a descontextualização que,
muitas vezes, envolve o saber-fazer. O indivíduo que não sabe porque esta
fazendo algo carrega consigo dificuldades que obstaculizam a emergência de
novas idéias e projetos de suas competências, pois age mecanicamente
seguindo princípios e determinações que lhe são exteriores" (2003, p. 71).
[4] Trabalho imaterial pode-se ser definido como aquele trabalho dotado de
maior dimensão intelectual. Aquele trabalho que produz bem imaterial como
serviço, produto cultural, conhecimento ou comunicação. O avanço do
trabalho em atividades de pesquisa, na criação de softwares, marketing e
publicidade são exemplos do trabalho imaterial na sociedade atual (Negri,
2003).
[5] Significa estar sempre aberto ao aprendizado, á transmissão de saberes
e à produção de conhecimentos.
[6] A definição de trabalho precário adotada por Galeazzi (2002) contempla
pelo menos duas dimensões: a ausência ou redução de direitos e garantias
do trabalho e a qualidade no exercício da atividade. São exemplos desta
categoria os trabalhadores subcontratados, trabalho por tempo determinado
e os trabalhadores informais. No próximo capítulo será explicado de uma
forma mais especificada a denominação de trabalho precário.
[7] De acordo com Alves (2000), esta flexibilização é entendida com base
na racionalização de custos, desverticalização produtiva, especialização
das atividades econômicas, subcontratação, uso da força de trabalho
temporária, jornada de trabalho parcial e jornada de trabalho modulada,
muitas vezes, negociadas com os sindicatos operários.