HOLGONSI SOARES GONÇALVES SIQUEIRA (2)
Novembro de 2006
(1)
Texto
para discussão em aula, elaborado pela Prof.ª
Renata C. Chiarini Dallagnol (Faculdade
Assis Gurgacz -PR), a partir da conexão entre artigos do Prof. Dr. Holgonsi Siqueira, disponíveis em: www.angelfire.com/sk/holgonsi
(2)
Prof.
Adjunto do Depto. de Sociologia e Política- UFSM.
"As
rachaduras nos espelhos refletores da economia são abundantes; com grande
rapidez
bancos eliminam bilhões de dólares de dívidas incobráveis, governos ficam inadimplentes,
mercados
A
reestruturação pós-fordista, envolvendo novas
tecnologias, novos métodos de
gestão da
produção, novas formas de utilização da força de trabalho e novos modos de regulação estatal,
baseia-se
estão
1.
A globalização: produção, troca e circulação de mercadorias estão
globalizadas,
caracterizando
o escopo transnacional do capital;
2.
A efemeridade: o turn-over da produção e do consumo é extremamente
veloz;
aceleração
do tempo de giro na produção (produção flexível: pequenos lotes,
variedade
de tipos de produto e sem estoques), e redução do tempo de giro no
3.
A dispersão: geográfica da produção, feita através de uma mudança na
estrutura
ocupacional;
do trabalho (com as novas modalidades de empregos: temporários, de
tempo
parcial e a terceirização); do monopólio, num amplo conjunto de produção
Globalização,
efemeridade e dispersão, também estão presentes na reorganização do sistema
financeiro
global, o qual se tornando agora uma esfera autônoma, dirige os fluxos de
capital
desprezando as antigas noções de tempo e espaço, e "alcança tal grau de complexidade que
ultrapassa
Portanto
as novas atividades materiais de produção e consumo, e o novo sistema
financeiro
global caracterizam a economia pós-moderna diferenciando-a da economia fordista (ou de
escala).
Nesse processo, o "Estado do capital mundial" (Banco Mundial/FMI), ofusca a autonomia do
Estadonação,
hegemonia
é dada pelo
Para exercer esta hegemonia, instituições, empresas e especuladores, buscam
incessantemente
informação
operacional. Segundo
armazenados
no mundo representam informações
características
estratégicas, e o conhecimento das mesmas
em
tempo real, isto é, com a operação ainda em andamento. Isto
representa
ganho para uns e prejuízo para outros.
Siqueira,
em seu texto “O novo paradigma informacional”, cita Manuel Castells que
"...estamos vivendo um desses raros intervalos da história. Um intervalo cuja característica é
a
tecnológico
que
Lembra
que vivemos em uma sociedade, na qual, a presença das novas tecnologias de
informação, comunicação e entretenimento é cada vez maior, e com elas, os conceitos de
informação,
predomina
sobre
a energia, e
silos
ou os chaminés das
Calvino
nos apresenta a idéia deste
imagens
esmagadoras como prensas de
fluxo de informação que corre pelos circuitos
sob a
máquinas
de metal continuam a existir, mas obedientes aos bits
sem
acumulação
de informação é a força orientadora do capitalismo pós-moderno, assim
como
a acumulação do capital industrial foi do capitalismo moderno.
O
autor, em seu texto “Visões sobre novas tecnologias” afirma que a explosão das novas
tecnologias (de informação, de entretenimento e comunicação, de reestruturação do mundo do
trabalho
homem
pósmoderno.
Este
debate é marcado por duas visões; seguindo a classificação de D.Kellner,
temos a visão
dos tecnófilos e dos tecnófobos. Os primeiros fazendo uma apologia total às novas tecnologias,
são
os
possibilitam
aos
permitindo
que os mesmos
Sob
esta ótica, as novas tecnologias
usuários
para maximizar suas performances, e,
habilidades para usá-las.
Na
Filosofia da tecnologia, esta visão
tecnologia
não pode ser ruim, pois é puramente
suas
metas; sendo apenas um instrumento útil, é
pois
está associada exclusivamente à eficiência.
Por
outro lado, os tecnófobos são os pessimistas tecnológicos de plantão; para
eles o avanço
tecnológico
é de cunho elitista, conservador, autoritário e como sempre...
"neoliberal". Com sua
concepção
determinista sobre as novas tecnologias, vêem estas como "parte de uma
invenção
diabólica"
(M.Arroyo),
com um exacerbado poder deformador/destruidor das formas culturais
existentes.
Associada
à Teoria Substantiva(3), e aos pressupostos Heideggerianos, a visão dos
pessimistas nega a questão técnica como possibilidade para a mudança social, e afirma-a
como
do
homem e da
que
as novas tecnologias
dinâmica
invade e controla, autônoma
visão
está ganhando força no momento atual,
tecnociência
tornam-se mais evidentes.
Porém
uma visão efetivamente crítica/dialética das novas tecnologias, não ignora
que elas
estão saturadas de negatividades, mas também de positividades (ou vice-versa); não concebe
a
técnica
culturais,
e sim de
Isto
nos faz compreender
técnicos,
visão cartesiana que
constroem
um sistema aberto e
culturais,
e que tornam-se dispositivos pelos
O
campo das novas tecnologias é, como diz P.Lévy, "um campo aberto,
conflituoso e
parcialmente indeterminado, no qual nada está decidido a priori". Neste campo não há
imutabilidade,
educador,
o historiador ou o
ponto
de vista, e sim, "abrir-se a
Com
base no pensamento inicial de M.Foucault, e adepto das contradições e relações,
eu diria
que as novas tecnologias não são totalmente más, ou totalmente boas, mas complexas. Não
colocamnos
devemos
tomar
consolidação
de um poder
pela
democracia; podem colaborar na
igualitária.
Se,
somos sujeitos ativos neste processo, então "é mais útil apreender o
real que está
nascendo, torná-lo autoconsciente, acompanhar e guiar seu movimento de forma que venham
à
tona
inovações técnicas,
bem-estar
humano, embora
portanto
não deve deixar de fazer
Retomando
o texto sobre "O novo paradigma informacional", Siqueira afirma que a
microeletrônica constitui o novo modelo que se estabelece a partir das atuais inovações
tecnológicas
e
técnico
e afeta todos os
operação
e regulação dos
formas
de organização dos
educacionais,
etc. Esse novo paradigma tecnoeconômico
informação,
através do binômio trabalho-tecnologia, está
internacional
do trabalho"(M.Castells).
No
paradigma informacional, a tecnologia da informação é uma tecnologia
revolucionária, e
sobre
este ponto existe consenso. O desenvolvimento e a difusão abrangente da
tecnologia da
informação é a principal fonte de transmissão e aceleração do progresso técnico, e está
modificando,
tecnológicos
anteriores.
Com
esse novo paradigma, novas ocupações estão sendo criadas, novas oportunidades
se
abrem, novas habilidades (competências) estão sendo demandadas, surgindo, assim, uma d
iversidade
e
traz a idéia do
Estes
trabalhadores estão cada vez mais envolvidos nas chamadas "atividades
transacionais",
de
troca e de relacionamento com recursos imateriais, abstratos. No exercício de
capacidades
simbólicas, a matéria-prima por excelência é a informação, a qual torna-se forma constitutiva de
um
repensar
as
grupos
e das classes.
Ao
influenciar na reestruturação dos processos produtivo e do trabalho, o novo
paradigma
informacional também trouxe profundas mudanças nas concepções de tempo e de espaço,
gerando-se
qual,
os horizontes
comunicação
via satélite
variado.
A
comunicação em tempo real, propiciada pelas novas tecnologias de comunicação
e
informação, favorece o acesso quase que imediato aos valores de uso criados pelos geradores
de
em
uma
países,
entre espaços
Ao
novo paradigma informacional corresponde, portanto uma nova lógica industrial,
ou aquilo
que M.Castells chama de "novo espaço industrial", que se caracteriza pela separação do
processo
possibilitada pelas
tecnológica,
novas relações de
Por
todos estes aspectos, concordo com M. Castells que este novo paradigma não diz
respeito
a uma sociedade/economia da informação (uma vez que a informação, em sentido amplo, foi
crucial
a
estrutura
em redes, diz
informação,
mais do que
e
potencializa as desigualdades.
Neste
sentido, destaco a estreita relação destas questões com a nova cidadania, a
qual, na
sociedade/economia
informacional diz respeito, a um novo tipo de formação para o mundo do
trabalho,
ao direito da informação, aos conteúdos veiculados, e também a inclusão
digital
(democratização
do uso das novas mídias), e ao respeito e incentivo ao pluralismo cultural.
Em seu texto “Nova cidadania: um conceito pós-moderno”, Siqueira afirma que a nova cidadania
está
influências
Entre
elas destaca: novos desafios econômicos, sóciopolíticos
e
eles
associados e as indefinições que cercam as suas
soluções (exemplo
obras
de Giddens, os riscos de grande conseqüência, os
quais na medida em que
a
exigir soluções, não teremos conhecimento de seus possíveis
resultados); a insuficiência
dos partidos e do Estado tradicional em lidar com estes problemas, e com situações
complexas
e
atores
sociais e sistemas
(destaco
aqui suas problemáticas de
problemas
mais específicos que precisam ser
dos
indivíduos ( e sob este aspecto torna-se necessário
que
"o Estado-nação tornou-se pequeno demais para os grandes
para
os pequenos problemas da vida");
o pluralismo (de todos os tipos)
essência
o direito de ser diferente; e por fim, a emergência de um novo tempo-espaço
tecnológico (o ciberespaçotempo) que altera radicalmente nossas maneiras de ser, viver, e
fazer
A
partir disto podemos observar num primeiro momento (da política
pós-moderna),
que a nova
cidadania está diretamente relacionada aos novos movimentos sociais representados por
inúmeros
reconstituindo
gradualmente os
inserção
dos indivíduos. Isto é o que a torna
indivíduos
tomarem parte principal no seu
Com
a abertura de novas possibilidades de participação para grupos antes excluídos,
a nova
cidadania
habilita novos aspectos da vida social para se tornarem parte do processo político,
reconfigurando as formas de ação e o campo da política. Sob a ótica dos novos movimentos,
de
um
nova
cidadania,
forma
autônoma; de
de
conquistas, relacionando-se
é
conquista".
Num segundo momento (eu diria sob uma ótica hiper-pós-moderna ao invés de
pós-pósmoderna),
exercício
de uma
informação.
Sob esta ótica a nova
ciberespaçotempo
todas as autoridades e "auras" são postas
expressão
para todos e pela transcendência virtual dos aspectos territoriais
Destaca
aqui o impacto político da Internet, que ao descentralizar os sistemas de
comunicação
fez do novo cidadão não somente um consumidor, mas igualmente um produtor de informação
e
natureza
consome
Já
no que se refere a questão da esfera pública (central em qualquer conceito de
cidadania), é
no
ciberespaçotempo que a nova cidadania é exercida, e por isto o termo "público",
e todo o
entendimento tradicional de participação, ação política e democracia devem ser
desconstruídos.
Para
sendo
privilégios de uma minoria, a
da
inclusão digital.
Não
obstante não explicitarem o termo, vários outros teóricos já
trabalharam/trabalham com
este novo enfoque de cidadania, dos quais destaco: C.Castoriadis (o qual sempre se
preocupou
com a
quanto
os outros"-,
tradicional
- dimensão do poder
fragmentação entre os novos
pós-modernidade
como um contexto
caracterização
pela ação/reação de novos
política
tradicional); A.Heller, e A.Giddens (ambos na
“política
de contexto” (Heller) e a “política geradora” (Giddens)
nova
cidadania). Já no que diz respeito à nova cidadania no
somente
tem analisado as inúmeras possibilidades das novas
desenvolvido
vários projetos contra o que hoje está sendo chamado de
Como
todo o conceito pós-moderno, o de nova cidadania não têm um significado nem
conteúdo
rígidos, pois estes são redefinidos nas "especificidades dos contextos
e de cada luta política"
A
nova cidadania não se esgota mais no direito de voto e a outros direitos
formais
garantidos por via externa (característica da cidadania tradicional, na qual o Estado sempre foi
o
da
política).
reconhecendo
novos
determinismo,
podemos
Retomando
o texto anterior, o autor afirma que educar, nesta sociedade, mais que
treinamento
para a capacitação tecnológica, significa "desenvolver" as competências dos indivíduos, das
quais
autônomos
que
apenas
consumi-los. Uma
mesmo
não foi projetado para esta
desta
sociedade/economia no trabalho com o
colocam
como exigência novas ações por parte de todos
Finaliza
assim, que como a sociedade/economia informacional se realiza em rede, os
projetos
educacionais e socioculturais devem ter por base ações interdisciplinares, incluindo nestas a
questão
conhecimento,
de
Siqueira
afirma que dentro deste contexto, ganha quem for mais rápido no gatilho. Rápido
no
acesso à informação atualizada e na tomada de decisão. Por outro lado essa mesma rapidez
torna
os
lema
é:
uma
flexibilidade
Conclui
que numa economia pós-moderna, dirigentes sofrem a tensão do desempenho, e a
"estafa psicológica num ambiente turbulento" (D.Harvey) aliada à corrida pelo poder gera
excelentes
quem
arca com as
desempenho
econômico com
desempenho
social e ético. Um exemplo
(A.Kandir),
"tomou-se uma série de
substituída
pela estética, e a retórica da
justifica
o empobrecimento crescente. O que
(3)
A
pergunta proposta pela Teoria Substantiva é se a tecnologia parece mais com a
religião ou mais com o
(4) Ver texto sobre Globalização e desterritorialização