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Estratégia Logística

O reconhecimento da logística

Por Antônio Wrobleski Filho - Presidente da Ryder do Brasil

A logística está no nosso dia-a-dia. Uma perua distribuindo cigarros ou outros produtos está fazendo logística. Existe a espinha dorsal, que é o projeto de logística em si, mas ele pode sofrer interferência de clima, forma de distribuição, tamanho de cidades, etc. Isso é logística. Para entender o que ocorre no Brasil, é preciso voltar um pouco no tempo, coisa de dez anos, quando começamos a falar em abertura econômica, seguida pela estabilização econômica. A abertura deu algo que o brasileiro tinha perdido: parâmetros. Não sabíamos o que era caro ou barato. Com a expansão das nossas importações, a grande coisa que fizemos foi aprender a comparar. Isso foi o prenúncio da logística de hoje.O segundo fator foi a estabilização econômica, que acabou com a famosa ciranda financeira, onde as empresas ganhavam por sorte. Era comum as grandes empresas construírem depósitos monstruosos para armazenar produto acabado e matéria-prima e ganhar na virada do mês. Com a estabilização, as indústrias começaram a pensar em melhorar a competência produtiva. O que é isso? É dedicar-se basicamente ao que se faz melhor - no caso da indústria é produzir. O que se faz para garantir competitividade é, entre outras coisas, disponibilizar o produto para venda.
Outro ponto importante é a revolução que ocorre hoje com as lojas de 24 horas. Estima-se que a capital paulista, por exemplo, tem atualmente algo como 200 a 250 supermercados 24 horas. Significa que a prateleira tem de ser abastecida o tempo todo. Isso está provocando uma metodologia de distribuição de produtos para atender o cliente. Nessa perspectiva, a logística possibilita à empresa aumentar sua participação no mercado. Há dois anos, pesquisa feita na Europa, Estados Unidos e Japão mostrou que somente 20% das empresas tinham um departamento ou uma divisão de logística. De lá para cá. O número talvez tenha crescido para 25%. Ou seja, um quarto das empresas do Primeiro Mundo está aplicando a logística. Coincidentemente, são as grandes empresas de ponta, como as fabricantes de veículos e toda a cadeia produtiva a eles ligada.
Junto com as montadoras há as companhias de alta tecnologia, como as fabricantes de computadores e softwares. Há suprimentos vindos da Ásia, do Brasil e da Europa sendo montados em várias fábricas dos Estados Unidos. Depois é feita a distribuição para o resto do mercado americano. No Brasil, confunde-se o conceito de logística com transporte. Transporte é parte da logística. Somente 0,5% das empresas brasileiras têm departamento de logística. Há ainda o custo do roubo de cargas. Estima-se que, só para gerenciamento desse risco neste país, as empresas gastem - nas grandes cidades - em torno de 6% da receita.As empresas de logística analisam as melhores rotas e modalidades de transporte (aéreo, terrestre, marítimo), tendo em vista custos e segurança. Calcula-se que o custo da logística (armazenagem, transporte e distribuição) representa 6% do valor do produto. Considerando-se nosso PIB industrial de US$ 200 bilhões/ano, chega-se à cifra de US$ 12 bilhões/ano. Esse é o mercado de logística do Brasil. Fica fácil entender por que o Brasil vem atraindo os grandes operadores logísticos internacionais.O que pode apressar um pouco o aumento da presença da logística no Brasil é a expansão do comércio eletrônico, setor já responsável, nos EUA, por 20% a 30% das vendas. O maior site brasileiro recebe 500 mil visitas diárias, enquanto um congênere argentino tem 4 mil visitas por dia. E aqui entra a logística de novo: a expectativa de quem compra por computadores é a rapidez no recebimento da mercadoria. E, para tanto, é imprescindível haver um processo logístico monstruoso.
É aconselhável que as empresas tenham as companhias de logística como seus parceiros. Estas precisam entender a estratégia daquelas, participar da definição da localização de fábricas, armazéns, estar interligadas à distribuição. O Mercosul fornece bons exemplos do potencial de aplicação da logística: grande parte do sucesso do bloco se deve às empresas que atuam principalmente entre Brasil e Argentina. Há empresas que mantêm um depósito na Argentina, outro na fronteira, chamado de facilitador, e a multimodalidade no transporte entre os países. Em dois anos, no máximo, os grandes operadores mundiais estarão atuando no Brasil, diversificando os setores em que já é significativa a presença da logística: veículos, indústrias de alta tecnologia, supermercados. Há algumas particularidades: entre nós, a multimodalidade está distante. A maior parte do transporte é feita por rodovias. Em compensação, como a logística e o comércio eletrônico estão enraizados nas companhias americanas e a presença delas no Brasil é destacadíssima, os negócios instalados aqui tendem a assimilar muito rapidamente os avanços tecnológicos.Dados do IBGE mostram que a produção industrial brasileira cresceu 6,6% no primeiro trimestre de 2000. Diante disso, as perspectivas da logística no Brasil são totalmente favoráveis. A formação de mão-de-obra especializada em logística é uma necessidade. No Brasil, não há faculdade de logística. Há cursos na Universidade de São Paulo e no Copead, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro. O profissional que se dedicar a essa carreira terá emprego garantido. Essa é uma atividade que tem todas as condições de contribuir para o desenvolvimento econômico do Brasil.

Transcrito: Jornal Gazeta Mercantil - 07/08/2000